sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Camões (450 anos)

 


Camões (450 anos)

por Eugénio Lisboa

 

Grão poeta da condição humana,

exímio acrescentador da língua,

cultor da vida sagrada e profana,

soube viver e morrer sempre à míngua

 

de excesso, como fazem os poetas

enormes, contra ventos e marés,

indiferentes às normas obsoletas,

andando sempre com os próprios pés!

 

grão lírico, antigo e moderno,

a sua grandeza é a sua vanguarda

que nos visita em abraço fraterno,

 

vivamos em palácio ou mansarda.

meu irmão legítimo ou bastardo,

és para sempre nosso eterno bardo!

2 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Ricardo Soares disse...

Luís de Camões tem uma aura de tal modo rica, plurifacetada e inspiradora que, à medida que o tempo avança, vai ganhando novas qualidades. Nem estou a referir-me especificamente à sua obra notável, embora esta faça do seu autor o vulto que ele nunca teria sido sem ela, mesmo para aqueles que não a leram.
O saberem que existiu um homem, nas condições em que viveu Luís de Camões, que se dedicou com paixão à dura e dificílima arte da escrita de uma obra poética da dimensão que lhe é reconhecida, já faria dele uma figura humana modelar e admirável.
Mas ler a sua obra é um exercício vastíssimo, que ninguém pode fazer pelo leitor, que seria tão duro e difícil como escrevê-la não fosse o facto de o leitor poder ler de muitas formas mais fáceis do que foi escrevê-la. Em comum com o poeta Camões, o leitor tem essa criatividade e imaginação necessária para entrar e se aventurar num universo em que, embora sozinho, nunca deixa de estar acompanhado activamente pelos próprios pensamentos e revivências.
E têm ainda em comum a paixão e o preço de renúncia às fortunas da vida, senão às vãs glórias, que fazem de Camões um personagem de uma história que é muito sua, um herói de si mesmo, um protagonista ímpar dos enredos que efabulou para si mesmo, logrando triunfar à sua maneira, e de que maneira!, sobre os antagonismos e os antagonistas a que deu batalha por motivações que estes não compreendiam ou lhes pareciam estranhas, senão fúteis.
As virtudes de um herói de si mesmo, ou anti-herói, não se medem pela bitola comum do sucesso e das realizações pessoais e sociais elevadas aos pódios ruidosos do venal aplauso.

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