Foram as pedras e os fósseis, que muitas delas trazem dentro, que nos deram a conhecer a origem e a evolução da Terra e da Vida, ao longo de centenas de milhões de anos (Ma). Foi nesta evolução que matéria inerte, como são os átomos de oxigénio, hidrogénio, carbono, azoto e outros como fósforo e enxofre, em muito menores percentagens, se combinou a ponto de gerar a vida e, através do cérebro humano, adquirir capacidade de pensar.
O Homem, feito dos mesmos átomos (herdados de outras estrelas) de que são feitos os minerais, as plantas, os outros animais e tudo o mais que existe, é matéria que conquistou capacidade de se interrogar, de se explicar e de intervir no seu próprio curso e no da Natureza que lhe deu vida e berço.
As pedras, todos sabemos de experiência feita, são ocorrências naturais, rígidas, coesas e duras. Surgem assim, tal qual, na natureza, não se dobram nem se amolgam, não se esboroam nem se esfarelam, e fazem mossa onde quer que batam. Sendo matéria, têm massa e, como tal, estão sujeitas à gravidade, ou seja, têm peso.
O pensamento é um produto imaterial do cérebro, não tem dimensão física. Não tem volume nem massa, nem peso, nem cor, não é quente nem frio e não ocupa espaço. Para ele não há gravidade nem distâncias, nem fronteiras materiais. É ubiquista, podendo estar, ao mesmo tempo e a qualquer momento, aqui e nos quasares mais longínquos, nos confins do Universo, a milhares de milhões de anos-luz. Não surgiu da noite para o dia, por obra e graça divina (no meu entender, claro). É o culminar de uma evolução da matéria gerada com o começo do Universo, há cerca de 13 800 Ma.
Foram pedras ou rochas, como as que nos caem do céu (meteoritos), que, há cerca de 4570 Ma, se aglutinaram (a chamada fase de acreção) dando origem ao corpo planetário (protoplaneta) que é o nosso. Este corpo que, por razões já explicadas noutros posts, se transformou numa “bola de fogo”, acabou por arrefecer em superfície, gerando, assim, as primeiras rochas, que apelidamos de magmáticas, porque nasceram da solidificação de um banho fundido (magma), como acontece no basalto, ou ígneas porque imaginamos esse banho incandescente à semelhança da lava que sai da cratera do vulcão.
Foi a erosão destas rochas que gerou os primeiros sedimentos. Durante as primeiras centenas de milhões de anos, num planeta ainda sem vida, estes sedimentos foram-se acumulando, compactando e endurecendo (litificando), edificando rochas que, logicamente, apelidamos de sedimentares e dizemos estéreis, isto é, sem fósseis. É a partir de um patamar da história geológica, ainda não seguramente fixado, mas datado de há cerca de 3500 Ma, que as pedras nos começaram a desvendar a história da Vida. Num folhear de “páginas” ou seja, de camadas de rochas sedimentares, que totalizam alguns quilómetros de espessura, está escrita grande parte (há, ainda, muitas lacunas) da evolução da biodiversidade, a começar em bactérias primitivas e a terminar no superpredador e superpoluidor, que somos nós.
E é aqui que, por vaidade deste auto designado “Homo sapiens”, surge o pensamento.
O cérebro, cuja estrutura vai sendo a pouco e pouco desvendada, é matéria que atingiu o superior patamar do pensamento, criando e combinando ideias a partir das percepções que os sentidos lhe fornecem do mundo físico que o rodeia. O pensamento é, assim, a expressão mais complexa de uma dinâmica própria da evolução da matéria. Por outras palavras é a manifestação mais elaborada da realidade física do mundo que conhecemos, na qual foi consumida a quase totalidade do tempo do universo.
Na opinião de alguns historiadores, terá sido entre os gregos que começou a audácia e a grande aventura do pensamento. É hoje consensual que a filosofia, como superior elaboração do pensamento, nasceu, por volta do século VII a.C., da recusa ao carácter sobrenatural dos mitos, que então dominavam as crenças, não só da sociedade grega, mas de toda a Ásia Menor. Para eles, a filosofia inaugurou o discurso abstrato e universal, amparado na reflexão e argumentação, ou seja, no pensamento. Daí que filósofos e pensadores são duas maneiras de dizer a mesma coisa.
A. Galopim de Carvalho