quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

O FUTURO DE XI JINPING E OS “MISTÉRIOS DO...OCIDENTE”


Publicado no Expresso de sábado passado, este é um artigo de opinião de Guilherme Valente e José Rocha Diniz* sobre a China:
"É mais fácil desintegrar um electrão que destruir um preconceito"
(Atribuída a Einstein)
A recente viagem de um bem preparado Macron à China (um exemplo para os nossos políticos) permitiu iluminar o desenho da política chinesa e o quadro em que os seus líderes se movem. Revelando, designadamente, o erro da generalidade das previsões sobre o futuro de Xi Jinping.
Na variedade estelar de grupos humanos e culturas há na civilização chinesa uma força centrípeta, com vários elementos, que une a China e os Chineses. Pode-se, por isso, generalizar o seguinte:
"A China é a religião dos Chineses". É pragmática e persistente. A História (e o culto dos antepassados) tem um valor “sagrado” para a China. A História é um elemento nuclear inscrito num processo sem princípio e interminável**, que determina todas as manifestações da mundivivência chinesa e onde tudo, bem e mal, verso e reverso, é componente necessário. A paz social e a integridade do território são para os Chineses obsessivos. Sentiram na pele a sua falta, marca "genética" várias vezes milenar, desde os tempos das invasões de bárbaros (ver o filme A Grande Muralha.)
O orgulho nacional (que não se realiza penalizando o "outro"*) foi e é a força mobilizadora do processo de ressurgimento pós decadência, iniciado antes mesmo de 1911.
Enquanto o PCC garantir a integridade do território, a unidade, a paz social, o progresso económico, a dignificação da China, terá o apoio da população.
Inscreve-se neste registo o combate mortal, nunca houve em país nenhum, contra a corrupção (sobretudo no interior do Partido), ameaça maior ao sonho de regeneração da China e... ao regime.
Ao assumi-la (levando nela, mas por arrasto, alguns adversários), Xi reforçou a legitimidade do poder do PC e a sua imagem.
Para se perceber a China, a política, o discurso dos líderes, tem de se ter presente estes traços civilizacionais.
Nas vésperas e no rescaldo do Congresso Nacional, que coincidiu com o termo do primeiro dos dois mandatos não renováveis dos actuais PR e PM, a generalidade dos comentadores decretou: Xi está a preparar a continuidade no poder. Um novo Mao, chegaram a escrever.
Com ele, assim, iria ser quebrada daqui a cinco anos a regra do exercício de dois mandatos. Regra bem sucedida, desenhada e praticada por Deng que pôs com ela termo de facto ao regime imperial. (Não confundir imperador com figuras tutelares, figuras históricas constituintes inapagáveis, acrescentadas pelo imaginário chinês aos antepassados míticos - uma das razões para Mao continuar a ser encomiado.)
Acontece que tudo aponta, interna e externamente, para o contrário: daqui a cinco anos a China terá um novo PR e um novo PM.
O primeiro SG e PR a ser designado sem a influência de Deng, coube a Xi continuar o desenho do mapa para o "rejuvenescimento" da China que Deng traçara e fora percorrido. Definir as novas etapas do percurso, começar a percorrê-lo, procurar garantir, como fizera Deng, que depois dele o percurso prosseguirá.
É isso que tem feito com grande sucesso interno e externo. Para isso continuará a colocar, a deixar dirigentes da sua confiança no Estado e na Administração. (Algo que os Chineses querem evitar no novo modelo político que procuram é, aliás, a descontinuidade de projecto de governo cujo efeito nefasto observam nas nossas democracias.)
Terminados os segundos mandatos, Xi retirar-se-á, provavelmente para o retiro de Zhongnanhai, daí procurando influenciar para que continue a ser percorrido o troço de percurso que lhe coube desenhar e começar a percorrer na rota para o "rejuvenescimento" da China. Prolongando, previsivelmente, a presidência da Comissão Militar Centra
Ser um novo Deng é pois a sua ambição possível.
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*Director do semanário A Tribuna, Macau.
** Inscrito no começo do pensamento filosófico chinês . Ver F. Jullien, Entrer dans une pensée, e, fundador, O Livro das Mutações.

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