segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

A capacitação dos professores para tomarem decisões

São cada vez mais as entidades que "oferecem" cada vez mais guiões, manuais, referenciais, planificações, estratégias, actividades... aos professores. 

Temos, à cabeça, as editoras de manuais escolares e de recursos informáticos, mas outras empresas, associações, fundações e serviços da mais diversa natureza estão a ganhar terreno. Há que contar, ainda, com as academias, as equipas e os centros de investigação, sem esquecer, claro, o Ministério da Educação.

Virtualmente, toda gente, tenha ou não estudado alguma coisa de pedagogia, parece sentir-se habilitada para dizer aos professores como devem exercer o seu ofício (ver um exemplo absolutamente extraordinário aqui). Ora, por princípio, os professores são, tal como os médicos, os juristas, os engenheiros, profissionais capazes de fazer isso de forma autónoma e responsável.

Para assim continuarem é preciso proporcionar-lhes formação, tanto de carácter inicial como contínuo, baseada em conhecimento confiável, que lhes permita tomar decisões isentas e adequadas. 

Isto mesmo é dito no artigo que se pode ler aqui e de onde tirei a seguinte passagem.
(...) não significa dizer aos professores o que devem fazer (…), trata-se de os capacitar, liberando-os de governos, ministros e funcionários que muitas vezes são muito rápidos a emitir orientações com base nas suas ideias, que acreditam serem excelentes. (...) Ninguém do governo deve dizer aos médicos o que eles devem prescrever, mas esperamos que os médicos sejam capazes de tomar decisões informadas usando as melhores e mais recentes evidências disponíveis sobre a eficácia de certos tratamentos. Eu acho que os professores podem estar na mesmo posição (...). A crença implícita é que um método novo e caro é necessariamente melhor (…) métodos são usados para reduzir o absentismo, ensinar matemática, reduzir gravidez na adolescência e um monte de outras coisas mas não há evidências sólidas para afirmar se são benéficos.

7 comentários:

regina disse...

Dra Helena
Há muito que ando para escrever sobre este tema no meu blogue. Um dos meus netos está no 7º ano. Há dias, a propósito de umas dúvidas que apresentava em Ciências Naturais, consultei o livro e vários complementos de apoio ao professor. Fiquei horrorizada...
Acredito na boa intenção dos autores, cuja competência não ponho em dúvida, mas pergunto:
Os professores são tão incapazes que precisam que lhes apresentem:
-Planificações a médio prazo, planos de aula, atividades de desenvolvimento, de recuperação, estruturantes da aprendizagem, para aulas de substituição,....num total de mais de 250 páginas?
Que espaço resta para a criatividade do professor? E lembrei-me de imediato de textos fantásticos de Ruben Alves, enfatizando que cada professor deve ter "seu jeito" de ensinar.
Pergunto ainda:
Os professores estão de tal forma anestesiados (com toda a burocracia que os envolve) que aceitam este "protecionismo" quase infantilizante?
Obrigada por nos trazer esta reflexão
Regina Gouveia

Anónimo disse...

Por mais voltas que demos, acabamos sempre por ir parar à nefasta filosofia do aprender a aprender que insidiosamente tem vindo a corroer os alicerces em que assenta o edifício, já muito instável, do ensino secundário em Portugal.
Indo diretamente ao assunto, também comigo, licenciado em Física pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, tiveram a indelicadeza de me oferecerem um manual, “para uso exclusivo do Professor”, onde estão escarrapachadas, tim-tim por tim-tim, todas as resoluções de todos os problemas e exercícios propostos no manual dos alunos!
Começou-se pela infantilização dos alunos, depois os meninos tornaram-se altamente violentos e indisciplinados; nessa fase, os doutores das ciências da educação intervieram dizendo que, antes de procurar resolver o problema das agressões entre alunos e alunos e professores, era mais importante a organização de colóquios onde, pelo método da discussão democrática, chegássemos a um consenso sobre o que se entende por indisciplina e por violência, e suas semelhanças e diferenças em contexto escolar, porque sem definirmos claramente o objeto da discussão correríamos o risco de estarmos a perder o nosso tempo e a balbúrdia continuar nas salas de aula; finalmente, estamos a chegar à menorização e proletarização completa dos professores – coitadinhos, já precisam que os ensinem a resolver os exercícios que antigamente se destinavam aos alunos!
Não posso dizer que me sinto sozinho a clamar no deserto, porque ainda ouço com muito agrado as vozes poderosas de Helena Damião, Noccio Ordine, Michael Young, e tantos outros, que continuam a afirmar, implícita, ou explicitamente, que a verificação de que os alunos não são todos igualmente inteligentes, não pode ter por consequência que na escola se ensinem apenas os conceitos acessíveis à compreensão dos alunos intelectualmente menos dotados. Este nivelamento por baixo é mau para todos!
João Silva

Anónimo disse...

Desde há muitos anos que eu costumo dizer, meio a brincar e meio a sério: os professores têm sido tratados como atrasados mentais e acabaram por se convencer de que o são. Por isso exigem continuar a serem tratados como tal.
Será que exagero?

Anónimo disse...

No meu comentário supra, onde se lê "Noccio" deve ler-se "Nuccio".
Apresento as minhas desculpas, tanto ao grande intelectual e humanista que é o professor Nuccio Ordine, como a todos os elementos da vasta e fiel audiência que nunca me negou o apoio, fossem os meus comentários mais ou menos infelizes!
Neste caso, fui ao google tradutor e verifiquei que "noccio" quer dizer "avelã" em italiano.
João Silva

Anónimo disse...

Ex.mo Senhor Anónimo de 5 de fevereiro às 23:00,Vossa excelência coloca muito mal a questão!
É evidente que, abarcando a classe dos professores e educadores de infância tanta gente em Portugal, há educadores ricos, há professores pobres, alguns são muito espertos e outros são atrasados mentais, mas V.Ex.a exagera quando lança o ferrete da deficiência mental indiscriminadamente sobre todos os docentes e educadores de infância.
Uma esmagadora maioria dos professores do ensino secundário não são atrasados mentais, mas o processo revolucionário em curso no verão quente de 1975 começou por lhes retirar o prestígio e pouco poder que tinham, enquanto filhos da pequena burguesia, obrigando-os a unirem-se aos educadores de infância e professores primários, para chegarem, hoje, à triste situação de não mandarem em nada e serem obrigados a obedecer cegamente às diretivas elaboradas pelas doutoras da educação do ministério, que só querem que todos os alunos, espertos ou burrecos, sejam aprovados com altas classificações, doa lá a quem doer!

Os professores e educadores de infância unidos jamais serão vencidos!

João Silva

Anónimo disse...

Pena que não tenha compreendido o que eu escrevi.
Anónimo das 23:00

Helena Damião disse...

Agradeço aos leitores os comentários deixados ao meu pequeno texto. Vejo neles alguma esperança no que respeita à afirmação e dignificação da função docente. Afirmação e dignificação que tem de (re)começar nos próprios professores e naqueles que são responsáveis pela sua formação.
Mas, como diz a Professora Regina Gouveia, os professores parecem estar anestesiados: é a burocracia, são os discursos dissonantes, é o controlo dos encarregados de educação e das avaliações, são as mudanças curriculares… E os formadores de professores, sejam eles das áreas científicas sejam das áreas pedagógico-didácticas, nem sempre têm em mente a ideia do professor como um profissional intelectual. Sei bem do que falo pois trabalho e investigo há muito tempo, talvez há tempo demais, na formação de professores.
Então, o que fazer? Na verdade, não sei. Rejeitar, como os leitores referem, a infantilização do professor é, na medida das nossas possibilidades, uma atitude que devemos adoptar. Explicar delicadamente a quem tem a indelicadeza de nos oferecer manuais, programas, planos, testes, actividades que não podemos aceitar. E, já agora, não ter a indelicadeza de faz manuais, planos, programas, testes para outros professores.
Cordiais cumprimentos,
Maria Helena Damião

UM TIPO DE CENSURA DE LIVROS AINDA SEM DESIGNAÇÃO

Não sabemos ao certo, mas podemos colocar a hipótese, muito plausível, de a censura da expressão humana, nas suas mais diversas concretizaçõ...