domingo, 18 de fevereiro de 2018

Um debate sobre a educação escolar à escala mundial

Na coluna de opinião do jornal Público de anteontem, foi publicado um texto assinado pelo grupo de consultores do Projeto da OCDE Future of Education and Skills 2030, a saber: João Costa, Secretário de Estado da Educação, Portugal; Suzanne Dillon, Subinspectora-geral, Departamento de Educação e Competências, Irlanda; Kan Hiroshi Suzuki, Consultor Executivo do Ministério da Educação, Desporto, Cultura, Ciência e Tecnologia, Japão; Moonhee Kim, Ministra, Delegação Permanente da República da Coreia na OCDE, Coreia do Sul; Jørn Skovsgaard, Conselheiro Sénior de Educação, Ministério da Educação, Dinamarca. Assina também "em colaboração com a OCDE" Andreas Schleicher, Director de Educação, OCDE

O texto intitulado Educação para um mundo melhor: um debate em curso a uma escala global deve ser lido com a maior atenção por todos aqueles que têm responsabilidades directas na educação escolar, em especial os professores e os directores. Aí se explica o rumo que foi, há muito, traçado para essa educação, ainda que só em tempos mais recentes se tenha dado conta efectiva dele.
"Estamos todos convidados a perguntar qual o melhor modelo de aprendizagem que ajudará os alunos a ter sucesso no desenho do mundo sobre o qual agirão.
Enfrentamos hoje desafios sem precedentes — sociais, económicos e ambientais — provocados por uma globalização em aceleração e por um muito mais rápido desenvolvimento tecnológico. Paralelamente, estas forças conferem uma miríade de novas oportunidades para o desenvolvimento humano. O futuro é incerto e não o conseguimos predizer; mas é preciso estar disponível e preparado para esse futuro. 
As crianças que entram nos sistemas educativos em 2018 serão jovens adultos em 2030. As escolas têm de os preparar para empregos que ainda não foram criados, para tecnologias que não foram ainda inventadas, para resolver problemas que ainda não foram antecipados. Aproveitar oportunidades e encontrar soluções será uma responsabilidade partilhada. 
Temos a responsabilidade de educar estas crianças, tornando-as competentes, equipadas com o conhecimento, as capacidades, as atitudes e os valores que os tornam capazes de ser os construtores de um futuro melhor. 
Estamos todos convidados a perguntar qual o melhor modelo de aprendizagem que ajudará os alunos a ter sucesso no desenho do mundo sobre o qual agirão.  
Através do projeto da OCDE O futuro da educação e competências 2030, 29 países e economias estão a colaborar para a encontrar perguntas para duas perguntas prementes:
- De que tipo de conhecimentos, capacidades, atitudes e valores vão necessitar os estudantes para ter sucesso e modelar o seu mundo? 
- Como podem os sistemas educativos desenvolver esse conjunto de competências? 
O projeto não procura estabelecer uma abordagem uniforme para os sistemas educativos, porque isso não ajudaria a responder a estas questões. Pelo contrário, fornece uma plataforma para o desenvolvimento de uma compreensão partilhada sobre desenho curricular. 
Estudantes preparados para o futuro precisam de ser agentes ativos quer na sua própria educação, quer na sua própria vida. Ser agente implica um sentido de responsabilidade para participar no mundo e, assim, influenciar pessoas, eventos e circunstâncias para o que é melhor. Ser agente assenta no poder de modelar um propósito e identificar ações para o conseguir. 
Uma educação de sucesso prepara jovens que pensam por si só e trabalham e vivem com os outros. Isto implica desenvolver a capacidade de resolver problemas complexos, de questionar a sabedoria estabelecida, integrando conhecimento emergente, de comunicar eficientemente e de promover o bem-estar. 
Os jovens precisam do conhecimento que é adquirido sem o recurso único a rotinas de memorização. Formas múltiplas de avaliação, metodologias ativas de ensino e aprendizagem, trabalho interdisciplinar, trazendo o mundo real para dentro da sala de aula — estes são ingredientes nucleares para este objetivo de promover uma aprendizagem melhor e mais profunda. 
A partir das Competências Chave (desenvolvidas no projeto OCDE DeSeCO – Definição e Seleção de Competências), o projeto Educação 2030 identificou três categorias adicionais, conhecidas como Competências Transformadoras:- Criar novos valores: é necessário pensar criativamente, desenvolver novos produtos e serviços, novos empregos, novos processos e métodos, novas formas de pensar e viver, novas empresas, novos setores, novos modelos de negócio e novos modelos sociais. Cada vez mais, a inovação não emerge de indivíduos que pensam e trabalham sozinhos, mas da cooperação e colaboração que permitir criar novo conhecimento a partir do conhecimento existente. - Reconciliar tensões e dilemas: é hoje necessário pensar de forma mais integrada para impedir conclusões prematuras e reconhecer interconexões. Num mundo de interdependência e conflito, os indivíduos assegurarão com sucesso o seu bem-estar, o das suas famílias e das suas comunidades, somente através do desenvolvimento desta segunda competência transformadora: a capacidade de reconciliar os seus próprios objetivos com as perspetivas dos outros.- Assumir responsabilidade: lidar com a novidade, a mudança, a diversidade e a ambiguidade assume que os indivíduos podem pensar autonomamente e trabalhar com os outros. De igual modo, a criatividade e a resolução de problemas requer a capacidade para considerar as consequências futuras das ações de cada um, para avaliar risco e recompensa, e para aceitar a responsabilização pelos produtos do trabalho desenvolvido. Isto sugere um sentido de responsabilidade, e maturidade moral e intelectual, com a qual uma pessoa pode refletir sobre as suas ações e avaliá-las à luz das suas experiências e dos objetivos pessoais e da sociedade, à luz dos que lhes foi ensinado e dito, e à luz dos que está certo ou errado. 
Muitos atores são chamados a desempenhar um papel para que estas competências possam ser desenvolvidas. Para ajudar a desenvolver o compromisso e a capacidade de ser agente naqueles que aprendem, precisamos não só de reconhecer a sua diversidade individual e o seu potencial, mas também de reconhecer que o conjunto mais largo de relações que influenciam a sua aprendizagem — com os seus professores, os seus colegas, famílias e comunidades.  
Um conceito fundamental que subjaz a este modelo de aprendizagem é, portanto, o de “co-construção” — as relações interativas de suporte mútuo que ajudam os alunos a progredir em direção aos seus objetivos. Neste contexto, todos devemos considerar-nos aprendentes, não apenas os alunos, mas também os professores, as escolas, os decisores políticos, as famílias e as comunidades. Se a aprendizagem está no centro, é crítico o desenvolvimento de comunidades de aprendizagem."

3 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

Quando o problema é Educação, Ensino, Aprendizagem, todas as propostas de solução estão viciadas pela "necessidade" de solução. É um problema que não tem solução, vai existir sempre e, quanto mais difícil, melhor. É para isso que existem a Educação, Ensino, Aprendizagem e os fazedores de receitas de "culinária" impossível. Os excelsos mentores têm o condão raro de fazer as receitas para os famintos fazerem o jantar. Missão impossível. Já ninguém lê as receitas. Quanto ao jantar, faz-se o que se pode.

Anónimo disse...

É isso, digam-lhes apenas a verdade sobre a Educação, a Escola, o Ensino, o "Deep State", etc. A Educação, é em tudo igual à discussão sobre o controlo de armas nos EUA, ambas as questões nos chegam de lá, e em ambas, o objectivo é controlar as pessoas (população), que o diga Charlotte Iserbyt.

Anónimo disse...

Estas orientações sobre políticas educativas são muito vagas!
Nas sociedades desenvolvidas do ocidente, o sistema educativo já não funciona como um elevador social. Nas terras atafulhadas de doutores de Educação Gestão, Direito, Psicologia, Sociologia e demais generalidades, a saída para os cientistas e engenheiros portugueses é ir trabalhar para o estrangeiro. Entretanto, o sistema entretém-se com a escola inclusiva e de sucesso obrigatório até aos 18 anos!

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