O barbarismo da nossa época é ainda mais estarrecedor pelo facto de tanta
gente não ficar realmente estarrecida”.
Teilhard de Chardin (teólogo e filósofo francês, 1881-1995).
Teilhard de Chardin (teólogo e filósofo francês, 1881-1995).
Antes da
independência deste país do Índico, a Sociedade de Estudos de Moçambique era
ex-libris do meio cultural
africano e de outras partes do mundo com instalações dignas, funcionais, de
grande beleza arquitectónica e com um historial de valioso reconhecimento em
Portugal : “Instituição de Utilidade Pública”, “Oficial da Ordem Militar de
Santiago de Espada”, “Oficial da Ordem de Instrução Pública”, “Medalha de Ouro
de Serviços Distintos da Cidade de Lourenço Marques” e, last but not least“, “Palmas de Ouro da Academia de Ciências de
Lisboa” que a distinguiu com uma das 25 medalhas de ouro por si atribuídas.
Foi, portanto,
com natural orgulho da minha parte que a Educação Física moçambicana entrou nessa instituição
pela porta grande, através de duas conferência por mim aí proferidas:
“Educação Física: Ciência ao Serviço da Saúde Pública” (1971) e “Os pesos e
halteres e a função cardiopulmonar segundo o teste de aptidão do doutor Cooper”
(1973). O impacto destas conferências fez com que eu fosse nomeado
vice-presidente da respectiva Secção de Ciências e seu bibliotecário (1973) e,
no ano seguinte, ascendesse à respectiva e honrosa presidência.
Na primeira das
conferências supracitadas, “Educação Física, Ciência ao Serviço da Saúde
Pública” (publicada no respectivo Boletim, vol. 174, Jan./Dez 1973) para
justificar o respectivo título fiz, inicialmente, a seguinte e provocatória pergunta:
“Será a Educação Física uma Ciência?”
Em resposta,
apresentei esta argumentação:
O polifacetismo
e a complexidade de que se reveste hodiernamente a Educação Física,
polifacetismo de natureza anatómica, envolvendo, como tal, o estudo morfológico
dos órgãos e dos sistemas humanos e a complexidade de âmbito fisiológico, pelo
respectivo conhecimento funcional; a aceitação da importância da máquina humana
que Kant, na “Crítica da Razão” (1787), diferenciava das outras máquinas por
estas palavras: “a máquina não pode reconstituir-se por si, se sofre uma
avaria, o que, pelo contrário, podemos esperar da natureza organizada”; o
conhecimento das leis que presidem ao funcionamento das máquinas simples
(alavancas), no que diz respeito ao aspecto locomotor, e das máquinas
complexas, no que se relaciona com as grandes funções orgânicas, conhecimento
subordinado aos princípios da Mecânica, mas agravado pelas implicações
neuropsicológicas a ele atinentes; o difícil domínio da Química relacionada com
a contracção muscular; o importante papel que cabe à Educação Física na
formação da juventude, denunciado pelo congressista norte-americano Woods
Hutchinson ao afirmar, no encerramento do Congresso das Associações Americanas,
perante membros responsáveis do governo “ser preferível uma campo de jogos sem
uma escola a uma escola sem campo de jogos”; a avassaladora força da Educação
Física, finalmente, e sem pretensões de esgotar o assunto, bem pelo
contrário, o contributo que a Educação Física presta à Saúde Pública,
facto tomado em conta em países que ministram cursos universitários de Educação
Física, justificam, em absoluto, a escolha do tema e os parâmetros em que a
mesma se vai desenvolver por a Educação Física ter assumido no mundo
hodierno foros de cidadania científica.”
Em Dezembro do ano passado, a Faculdade de Desporto do Porto (FADEUP),
segundo a primeira edição do
ShanghaiRanking’s Global Ranking of Sport Science Schools Departements,
divulgado recentemente pelo Center for World-Class Universities da Universidade de Jiao Tong de Xangai, foi
considerada a 23.ª melhor escola do Desporto do Mundo e a décima da Europa. Apraz-me
registar que, por concurso público (1975), fui nomeado docente do respectivo corpo docente inicial.
Com o fim da Sociedade de Estudos de
Moçambique,criada em 1930 ( em cujas instalações passou insolitamente a
funcionar, como sói dizer-se, em
passagem de cavalo a burro, um luxuoso estabelecimento particular de ensino primário: o “Colégio Nyamunda”) jazerão, em prateleiras carcomidas pela inexorável
passagem do tempo, páginas em defesa da Educação Física e,
concomitantemente, das actividades
do malfadado CORPO e sua ligação relativamente a outras disciplinas científicas
integradas na respectiva Secção de Ciências.
Algumas dessas disciplinas científicas de parceria, trinta e dois anos volvidos, com estudos universitários ministrados nos então Estudos Gerais Universitários de Moçambique. Ou seja, a extinção da Sociedade de Estudos de Moçambique deveria pesar na consciência dos seus algozes que, possivelmente, terão tido, como escreveu o imortal Eça. “como cultura física , indigência igual à cultura mental”!
Algumas dessas disciplinas científicas de parceria, trinta e dois anos volvidos, com estudos universitários ministrados nos então Estudos Gerais Universitários de Moçambique. Ou seja, a extinção da Sociedade de Estudos de Moçambique deveria pesar na consciência dos seus algozes que, possivelmente, terão tido, como escreveu o imortal Eça. “como cultura física , indigência igual à cultura mental”!
Na foto: Fachada da antiga Sociedade de Estudos, actual Colégio Nyamunda.
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