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A pressão e a sedução que pessoas e grupos fazem sobre a escola é tão antiga como ela. Política e religião têm sido forças "clássicas", com tendência a articular-se, e, por isso mesmo, estudadas e denunciadas.
No passado século, a sociologia da educação fez, nessa matéria, um trabalho de grande mérito. Foi acompanhada pela filosofia da educação que insistiu no altruísmo, atitude que deve caracterizar todo o acto educativo, sendo, nessa medida, contrária ao doutrinamento, e insistiu até ao limite na finalidade última da educação: conduzir à (indefinível) liberdade.
A educação escolar tem de ser, pois, orientada, não por interesses particulares, por muito justificados que se afigurem, mas por aquilo que é o "bem" para os educandos. E não é a dificuldade de definir este "bem" que nos deve demover de o conceptualizar e perseguir.
Acontece que tanto a sociologia da educação como a filosofia da educação são áreas que não "interessam nada" a políticos, tecnólogos, empreendedores e a mais uns quantos grupos de gente despachada e pragmática que empurra o mundo no sentido que lhe é conveniente, vendo nas crianças e nos jovens o apetecível "capital humano".
Como muitos leitores saberão, estas duas disciplinas, absolutamente fundamentais na organização do pensamento educacional, desaparecem dos currículos de formação de professores e de outros educadores. E isso faz toda a diferença: deixa-se de ter pontos de apoio para se perceber o que é certo e errado que se ensine e que rumo deve tomar o que se ensina, primeiro, nos contextos académicos e escolares e, depois, na sociedade.
Assim, além da influência directa na estrutura escolar da política e da religião - no sentido da imposição de facções partidárias ou religiosas - assiste-se e, mais, apoia-se a influência de organizações da mais variada natureza. Toda a organização internacional, nacional ou regional, muito macro ou muito micro, que aposte em singrar, entra na escola.
Deixemos as mais recentes de parte e concentremos-nos nas "clássicas".
Foi notícia recente a demonstração da infiltração de tendências políticas regionalistas no sistema educativo de um país europeu (aqui), de resto conhecida, e também da infiltração de tendências religiosas no sistema educativo de um pais situado entre a Europa e a Ásia, igualmente conhecida. A este propósito foi recordada a mesma situação, que se arrasta sem solução à vista, nos Estados Unidos da América (ver, por exemplo, aqui e aqui).
Estamos, no momento, em Portugal longe deste quadro que, parecendo gigantesco, é minimalista?Não estamos. Temos todas as portas abertas, a entrada é fácil, sendo tentada (e conseguida) com frequência.
Que portas são essas? Uma delas, a maior e que se encontra escancarada, é a que referi acima: o desaparecimento dos pilares em que a educação escolar tem de assentar e que não pode dispensar, sob pena de se tornar um vasto campo ideológico. Outra, é o discurso político vigente, no qual sobressaem entre outras ideias, só na sua aparência razoáveis, as seguintes:
- a necessidade de substituição urgente do "conhecimento enciclopédico" por "competências" funcionais;Infelizmente, a afirmação que se segue, que legitima essas ideias num país estrangeiro, não é estranha aos nossos olhos e ouvidos e até somos muito capazes de concordar com ela:
- a dificuldade (inata?) que os alunos têm de compreender conceitos, acontecimentos... complexos e, portanto, tudo o que é visto como menos linear vai-se adiando para o ano seguinte, o ciclo seguinte;
- a falta de pertinência de levar os alunos a conhecerem factos (históricos, científicos, etc.), pois o que importa é a sua criatividade e crítica. E, acima de tudo, como recentemente tornou explícito, a sua felicidade.
“Temos a noção de que se os nossos estudantes não têm os conhecimentos para compreender as premissas e as hipóteses, ou se não têm uma moldura científica e o conhecimento necessário, não irão conseguir compreender algumas das questões polémicas, portanto deixamo-las de fora.”
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