segunda-feira, 17 de julho de 2017

Pentateuco de 1487


Informação recebida e Paulo Mendes Pinto:

Reprodução ‘fac-similada’ do Pentateuco impresso em Faro, em 1487

O “Pentateuco”, impresso nas oficinas de Samuel Gacon, em Faro, no ano de 1487, é o mais antigo livro impresso em Portugal. A editora “Sul, Sol e Sal” entendeu evocar esse acontecimento histórico lançando, na passagem dos 530 anos sobre essa data, uma reprodução ‘fac-similada’ do exemplar depositado na British Library.
A publicação resulta da coincidência de vontades e do esforço conjunto daquela editora e do Círculo Teixeira Gomes – Associação pelo Algarve.
A presente edição é acompanhada por um estudo introdutório de Manuel Cadafaz de Matos, da Academia Portuguesa da História, que contextualiza a edição de Faro do “Pentateuco” na história da imprensa incunabular hebraica portuguesa.
Associou-se ao evento a Fundação Portuguesa das Comunicações e o Agrupamento de Escolas Afonso III. 
(Fonte: Jornal do Algarve)

O PENTATEUCO E A EDIÇÃO DE 1487
(por Manuel Cadafaz de Matos)

1- A edição do Talmud e a imprensa em Portugal
teve as suas origens em Faro

Falamos sobre a edição do mais antigo livro impresso (até agora conhecido) no nosso país, ainda em língua hebraica, em 30 de Junho de 1987[1]. Trata-se da obra Tora [Pentateuco], e a sua impressão ficou a dever-se a Samuel Gacon [leia-se Samuel Porteiro] que, na sua oficina tipográfica de Faro editou, no último quartel do século XV, pelo menos, mais dois tratados, ambos com comentários de Rashi[2] – e incorporadas num mesmo volume do Talmud, dito babilónico: Guitin [Tratado do Divórcio] e Shevu’ot [Tratado dos Juramentos] (1492?).
O cólofon daquela edição do Torah dá-nos a data precisa do final da composição da obra: “Acabou-se aqui em Faro, a 9 do mês de Ramuz, no ano Feliz do justo, que gozará o fruto das suas obras! [Isaías, 3, 10, i.e., 247 = 30 de Junho de 1487], por ordem do nobre e alto Dom Samuel Gacon[3]. Que o seu Criador e Redentor o proteja”[4].
O Pentateuco é, efectivamente, o mais antigo livro que se conhece impresso em Portugal. O Sacramental [de 1488?], de Sanchez de Ver­cial[5] – que em 1988 estudámos na Biblioteca do Rio de Janeiro[6] –, bem como o Tratado de Confissom, cuja edição [de 1489] em boa hora foi descoberta e (inicialmente) dada a conhecer através das páginas do Diário de Notícias[7], foram dados ao prelo, como se viu, não muitos meses depois.
Enquanto o Sacramental e o Tratado de Confissom são obras em lín­gua portuguesa, o Pentateuco, produto saído de uma das (porventura pri­meiras) tipografias hebraico-portuguesas implantadas neste recanto da península, é impresso com caracteres hebraicos[8]. Ele materializa – e é testemunho – (d)esse apego judaico à arte tipográfica, designadamente em Portugal. Dá conta do significado da preservação, em documentos escritos, da Lei do Talmud, de forma a que a palavra dos antigos sábios pudesse, ininterruptamente, ser transmitida de pais para filhos ao longo dos tem­pos, de sucessivas gerações.
O único exemplar que hoje se conhece deste Pentateuco (de Faro), encontra-se depositado na British Library, em Londres. É o primeiro grande marco da implantação das artes tipográficas hebraicas no nosso país no século XV.

2- Das primícias da acção tipográfica na Europa
à vigilância censória

Vejamos, assim, como se implanta a Tipografia em Portugal – tarefa em que desempenham incialmente um papel primordial os Judeus – e como daí até à publicação do primeiro incunábulo (em caracteres hebraicos) na cidade de Faro, vai apenas um passo.
As artes tipográficas tornaram-se, logo a partir dos alvores da imprensa no século XV, tanto servidoras como “inimigas” da acção expan­sionista da Igreja. Por um lado, graças aos avanços registados nas artes tipográficas (que com Gutenberg haviam conhecido, entre 1440 e 1450, a descoberta dos caracteres móveis), passaram-se a editar obras de carácter bíblico em profusão. Mas foi também graças a essa mesma imprensa que os inimigos da própria Igreja, os autores hereges por assim dizer, passa­ram também a ser divulgados sem limite.
Essa foi uma das primeiras razões por que, para a Igreja como sólido suporte do poder instituído – importava agir taxativamente nesse sentido. Impunha-se coagir aqueles autores, cujos métodos abusivos e pre­varicadores, postos ao serviço da interpretação dos textos sagrados, punham a própria Igreja (e os seus dogmas) em risco. Era essa a função da censura, instituída no nosso país muito antes da implantação do Tribu­nal do Santo Oficio, e cuja acção já remonta – senão mesmo antes – à terceira década do século XIV, ao final do reinado de D. Dinis[9].
No caso concreto Portugal, situa-se já em 1324 (pelo menos) a primeira manisfestação de defesa da Igreja e do poder instituído contra os vários perigos que os afrontavam ou contra esses ditos hereges. A censura pré­-inquisitorial e a censura inquisitorial, depois, actuam, assim, cumprindo a “piedosa missão” para que foram criadas, salvaguardando os interesses da Igreja, antes de mais, e em sua consequência os interesses (aparentes?) da colectividade.
Pelo que se depreende de abalizados estudos sobre a censura levados a cabo por António Baião ou I. S. Revah, uma das motivações imediatas, para a reorganização da actividade censória fora em meados do século XV aquela descoberta de Gutenberg.
Autores como Henri-Jean Martin, Roger Chartier, José V. de Pina Martins e Artur Anselmo têm-se questionado em França e em Portugal, quer sobre a data efectiva da implantação das primeiras oficinas tipográficas na Europa Central, quer sobre as primeiras que passaram a actuar em Portugal.
Desde os anos cinquenta e sessenta do século XV, principiaram, com efeito, a proliferar as mais variadas oficinas tipográficas por toda a Europa, designadamente na Península Ibérica. E a Igreja, zelosamente militante pela preservação dos dogmas do Cristianismo, não só vigiava com atento rigor – graças à sua apertada máquina censória – a produção dita herética como, mais do que isso, sempre que podia mandava queimar tais obras como os seus próprios autores, em pessoa ou em efigie. E isso passava-se pela via da teatralização religiosa, a encenação do auto-de-fé, incentivando as populações anónimas (iletradas por excelência) a comete­rem contra tais intelectuais o maior somatório de atentados, que culmina­vam na maior parte dos casos com a própria morte.

3- Das primeiras tipografias com caracteres hebraicos em Portugal

Não se torna hoje muito fácil a elaboração de um rigoroso e exaustivo catálogo das obras impressas em Portugal, dado que, certamente, muitas delas não terão chegado até aos séculos mais próximos. É hoje possível, no entanto, estabelecer que as primeiras tipografias criadas neste recanto da Península estiveram associadas a famílias judaicas e laboraram com caracteres (móveis) hebraicos, pelo menos desde 1487.
Um dado porém a não esquecer é que para o funcionamento dessas tipografias de caracteres hebraicos nesse último quartel do século XV se tornava imprescindível a observância de quatro vectores ou vertentes fundamentais:

I- uma técnica de grafismo – vocacionado para a iluminura – e de impressão capaz de responder às necessidades de ilustração dos textos, com frequente alusão aos textos bíblicos;
II- a existência de caracteres hebraicos (diversos conjuntos de carac­teres importados de países onde esse modelo tipográfico estivesse mais avançado);
III- uma mão-de-obra (minimamente) especializada que, tanto num plano de impressão como de conceptualização e realização de gra­fismos, pudesse corresponder aos desejos e interesses dos editores;
IV- a existência de significativos stocks de papel – provenientes das fábricas já existentes em território nacional[10] – em que se pudesse fazer a respectiva impressão.

Detenhamo-nos, assim, em primeiro lugar, sobre essa hipótese, atrás formulada, de uma teoria da importação, e consequente difusão nacional, dos conjuntos de caracteres móveis hebraicos. É por demais sabido, com efeito, que as famílias judaicas que viviam em Portugal no século XV se dedicavam, em particular, ao comércio, transaccionando não apenas den­tro das fronteiras do nosso território, mas com outras firmas sediadas em várias cidades da Europa como Toledo, Gibraltar, Paris, Livorno, Génova, Nápoles, Antuérpia, Bruges, Amesterdão, Roterdão e Hamburgo. Nessas cidades situavam-se então algumas das comunidades judaicas, denotado­ras de uma identidade cultural fortemente enraizada, de que chegou notí­cia até aos nossos dias.
Terá sido nas suas incursões comerciais ao estrangeiro que esses comerciantes judaico-portugueses e espanhóis terão trazido até à Penín­sula, quer alguns conjuntos de caracteres móveis de impressão, quer os métodos de manufactura dos mesmos e, consequentemente, conhecimentos e técnicas acerca da rudimentar arte de impressão.
A introdução dos caracteres tipográficos em Espanha antecedeu, ao que se presume, em cerca de uma década, a verificada no nosso país. Assim, se o Pentateuco (algarvio) acabou de se imprimir em Faro – sob os cuidados de Samuel Gacon – em 30 de Junho de 1487, o marco de lança­mento da primeira obra tipográfica em Espanha nesse tipo de caracteres se deveu a Solomon b. Moses b. Alcabiç Halevi, em Guadalajara, por volta de 1476 (e não em 1482 em que esse mesmo impressor editou, na mesma localidade, os Comentários ao Pentateuco, de David Kimchi).
O dado mais concreto de que hoje se dispõe, a este respeito, é apresen­tado, porém, na Geschichte des Spanishen Frühdruckes in Stammbaümen, de Konrad Haebler, onde se refere que já em 1483 o castelhano Alfonso Fernandez de Córdoba procedia ao fabrico de caracteres móveis hebraicos, porventura utilizados nas oficinas de Hijar e de Guadalajara.

4- Judeus portugueses impressores no nosso país e no exílio

No que respeita às primícias da arte tipográfica com caracteres hebrai­cos, executados por judeus portugueses no exílio ou em Portugal, importa reter, numa primeira análise, os nomes de Moses b. Shem Tob Ibn Habib e de Samuel Gacon. Ambos viverem em Portugal no último quartel do século XV, tomando, as suas vidas, a partir de uma dada altura, rumos diferentes dos da sua família espiritual do Algarve.
Moses Ibn Habib foi um poeta hebreu, filósofo, tradutor e gramático que nasceu no século XV em Lisboa[11], em data que não se torna possível precisar. Este autor terá vivido, ao que refere Posnanski[12], durante algum tempo no Levante. Esteve no sul de Itália, designadamente em Nápoles, vindo a morrer nos começos do século XVI.
Foi precisamente na cidade italiana de Nápoles que circulou em 1484 a sua gramática Perah shoshan, preparada nesse ano e sobre a qual tra­balhámos, há alguns anos, na British Library de Londres, seguindo regis­tos de Amzalak[13]. Esta obra, dividida em sete secções, cada uma divi­dida em vários capítulos, foi iniciada em 23 de Sivan A. M. 5244, no calendário hebraico (16 de Junho de 1484) e terminada em 27 Kislev A. M. 5244 (15 de Dezembro do mesmo ano).
Quanto ao outro judeu português atrás referenciado, Samuel Gacon, ele já se situa, com mais precisão, nos primórdios da arte tipográfica por­tuguesa[14] em território nacional. Samuel Gacon, cuja data de nascimento também não conhecemos, não teve de optar pela via do exílio. Sabe-se, apenas, que no ano de 1487 vivia em Faro. Foi precisamente nessa cidade que, em 30 de Junho desse mesmo ano – três anos depois de Ibn Habib ter feito divulgar em Nápoles a sua gramática – concluiu a edição do Pentateuco, que Pina Martins[15] considera “a primeira obra impressa em Portugal em caracteres hebraicos”[16].

5- Da impressão (em 1487) do Pentateuco

Ao longo dos últimos anos, tem-se tentado estabelecer uma teoria das ligações dos principais núcleos tipográficos espanhóis do último quartel do século XV com outros existentes, quer em Portugal (sobretudo em Faro, Lisboa e Leiria) quer no Norte de África (onde, a partir do século XV, floresceram também importantes comunidades judaicas provenientes de Espanha e do nosso país).
Embora não se possa ainda admitir correcta­mente a sua região de origem, na zona arábico-andaluza, não podemos deixar de lembrar que é sensivelmente neste período da edição do Penta­teuco – ou seja, cinco anos depois, por altura do decreto de expulsão dos judeus de Espanha – que parte para o Norte de África o grande teórico e humanista Yossef Alachkar, dito El-Rkyèse – que depois de 1502 se esta­belece em Tlemecen, onde desenvolve obra intelectual assinalável, no estudo da Bíblia e do Talmud.
Samuel Gacon (em Faro), David Kimchi e Solomon AI-Kabiç (em Gua­dalajara) e Yossef Alachkar (em Tlemecem, no Norte de África), afiguram­-se-nos, assim, peças importantes de um mesmo “puzzle” que importa des­montar, reconstituir a analisar até às suas mais ínfimas partes constituintes.
De Samuel Gacon chegou até aos nossos dias a primeira obra de que há notícia ter sido impressa em Portugal. Trata-se de um trabalho que se nos apresenta em 110 fólios, com composição de 30-32 linhas.

Ilustração – Legenda:
Frontispício do Pentateuco
ficheiro da ilustração: “Pentateuco – 1487 – Frontispício.JPG”

Tendo, no nosso país, sido primeiramente divulgada a sua existência por Proença e Anselmo[17] a notícia da sua existência já havia, no entanto, sido feita, segundo adverte Artur Anselmo, nas Origens da Imprensa em Portugal, por Steinchneider, entre 1852 e 1860.
O Pentateuco (de Faro) cuja realização tipográfica se concluía em 30 de Junho de 1487, foi impresso precisamente um mês depois de ser editada em Itália, nas oficinas de Francesco del Tuppo, a obra Apologia de Picco della Mirandola. Não pode, porém, ainda hoje considerar-se como provada documentalmente a hipótese de António Ribeiro dos Santos de os caracteres tipográficos móveis hebraicos terem inicialmente chegado a Por­tugal provenientes de Itália[18].

6- Dos três núcleos de produção hebraica
quatrocentista portuguesa (Faro, Lisboa e Leiria)

Se o Pentateuco de Faro constitui a primeira obra editada em caracteres hebraicos no nosso país, a edição do Séfer Abudraham, ou seja Novas da Lei ou Comentários sobre o Pentateuco, de Moisés ben Nahman, é, na opinião de Pina Martins, “o primeiro livro impresso na capital portuguesa em caracteres hebraicos”, já objecto de reedição, em fac-simile, no nosso país[19].
Marque ou não essa edição o início de uma venturosa época (porém de não muito longa duração) de intensa actividade dos impressores hebraicos em Portugal, sabemos que ela se expandiu entre nós na década de 1487-97 por diversos outros pontos do país. Assim, e mesmo que em 1489 (pelo testemunho de Pina Martins) ou porventura em 1488 – a confirmar-se a hipótese de Rosemarie Erika Horch em relação ao Sacramental, – já laborassem em Portugal tipografias com caracteres em língua portuguesa como a de Chaves, é facto provado que neste período a tipografia hebraica conhecia, já uma significativa fase de implantação entre nós.
Faro pode hoje, como efeito, orgulhar-se – justificadamente – de ter sido o berço, da primeira Imprensa hebraica portuguesa e, daí, o local de realização da mais antiga obra – em caracteres hebraicos – de que (até agora) há notícia na História da Imprensa no nosso país.
Não restam hoje dúvidas – depois das desenvolvidas pesquisas de Artur Anselmo (e contrariando o que escrevera Joshua Bloch) – que Samuel Gacon e Samuel Porteiro foram uma única e mesma pessoa. Tal não invalida que Offenberg tenha no índice final de Hebrew Incunabula (p. 187) – distinguido Samuel Gacon de Samuel Porteiro, referindo que o segundo imprimiu em Faro até por volta de 1496.
Nessa altura os seus filhos levaram o prelo (ou componentes do mesmo) para Pesaro, em Itália (onde, segundo Anselmo sobreviveram “vestígios de caracteres tipográfi­cos” da sua oficina “na qual só havia tipos quadrados de dois tamanhos, embora as vogais-pontos só apareçam na matriz maior”). Também elemen­tos da mesma família dos Gacon foram descobertos por Joshua Bloch em Constantinopla.
Leiria por sua vez foi testemunha, em 1496, da publicação do Almanach Perpetuum celestius motuus. Foi esta obra escrita pelo judeu e astrólogo Abraão Zacuto, destacada figura na corte de D. Manuel[20].
Importa, pois, que se estabeleça o “rol” de publicações surgidas em cada um dos núcleos tipográficos judaicos portugueses nesse último quar­tel do século XV:

I- Faro
1.1487- Pentateuco (Samuel Gacon)
2.1492(?)- Talmud Babilónico. Comentário de Rashi (Samuel Gacon)[21]
3.1494- Tratado do Divórcio (Samuel Gacon)[22]

II- Lisboa            
1.1489- Novas da Lei ou Comentários ao Pentateuco, de Moisés ben Nahman (Elieser Toledano)[23]
2.1489- Comentário à Ordem das Orações[24], de David Abudarham (Elieser Toledano)
3.1490(?)- Livro de Orações (Elieser Toledano)[25]
4.1490(?)- Caminhos do Mundo, de Josué Levi
4.1.idem- Livro do temor, de Ionah Gerondi
4.2.idem- Segredos da Penitência, de Ionm Tovb (os três trabalhos, reunidos num só volume, da responsabilidade também de Elieser Toledano?)
5.1491- Pentateuco, em versão de Onkelos e com comentário de Rashi (Elieser Toledano)
6.1492- Provérbios de Salomão. Comentário de David Ben Salomão ibn Iaachia (Elieser Toledano)
7.1492- Isaías e Jeremias. Comentário de David Kimchi (Elieser                Toledano)[26]
8.1492(?)- Leis da Matança, de Moisés ben Maimon (Maimónides) (Elieser Toledano?)[27]

III- Leiria [prelo da família Ortas[28]]
1.1492- Provérbios de Salomão. Comentário de Menahem ha-Meiri e Levi ben Gershom (Samuel d’Ortas e filhos)[29]
2.1494- Profetas Primeros. Comentários de Levi ben Gershom e Davi Kimji (Samuel d’Ortas e filhos)[30]
3.1495- Caminhos da Vida, de Jacob ben Asher (Abraão d’Ortas)
4.1496- Almanach perpetuum celestius motuus, de Abraão Zacuto

A estas obras bibliográficas judaico-portuguesas do século XV poder-se-ão acrescentar, no entanto, ainda alguns “fragmentos de outros espécimes” que, segundo A. Anselmo “podem ter sido impressos em Lisboa e Leiria entre 1490 e 1495”. Entre tais trabalhos contar-se-ão, seguramente, alguns já referenciados em 1971 no censo geral de incunábulos hebraicos organizado por Herrmann Mezer.

Ilustração - Legenda:
Trecho do Arco de Triunfo de Maximiliano: brasões dos rei de Maiorca, Sevilha, Sardenha, Córdova, Córsega, Múrcia, Jaen, Algarve, Algeciras, Gilbraltar-e-Canárias, Índias-e-ilhas-do-mar­-oceano, Quinze ilhas, a esquerda; e desenho das armas do reino do Algarve, muito inspirado no da Carte nouvelle de la parte meridionale du royaume de Portugal et des Algarves, por Jean Couveus e Corneelle Mortier, impresso em Amesterdão (entre 1665 e 1706, segundo S. Alves de Azevedo), à direita.
Ver AZEVEDO, Francisco Simas Alves de (1984).
ficheiro da ilustração: “Pentateuco - Brasão Algarve.JPG”

Outra conclusão que será licito tirar é que, nos dois últimos decénios do século XV, enquanto em Faro se destacava a acção tipográfica desen­volvidas por Samuel Gacon, em Lisboa se notabilizava, nesse mesmo contexto a de (entre outros) Elieser Toledano. Este último, no primeiro ano da sua actividade entre nós (1489), fez editar obras como Novas da Lei ou Comentário ao Pentateuco e Comentário à Ordem das Orações, a última das quais, segundo Amzalak, foi adquirida no começo da década de vinte, pela Biblioteca Nacional de Lisboa, na Alemanha. Poder-se-ia concluir, ainda, que na tipografia judaica de Leiria – e algumas investigações entretanto já realizadas apontam que ela se situaria não muito longe do castelo da cidade e numa ruela a que tais oficinas chegaram mesmo a dar o nome – Samuel d’Ortas terá sido o grande “obreiro” neste tipo de activi­dade. Tal “mester”, afinal, passá-lo-ia depois (ao que era tão frequente no espírito corporativo da época) aos seus próprios filhos. Desconhecemos, no entanto, o laço de parentesco – estrito embora, é certo – entre Samuel d’Ortas (responsável em 1492 pela edição dos Provérbios de Salomão) e Abraão d’Ortas que em 1495 (três anos depois, portanto), fez sair dos seus prelos a obra Caminho da Vida. Será que Abraão era pai de Samuel e incutiu a este – bem como a outros filhos – os segredos, o rigor e o “cui­dado” da sua Arte?
Tivesse também em Leiria a produção tipográfica hebraica sido mais ampla (ou não) do que hoje se conhece, é um facto que aí os impressores, à semelhança do que sucedia em Lisboa e em Faro, sentiram uma natural e justificada inclinação para editar e, sobretudo, comentar o Pentateuco.
Nesses fins do século XV era naturalmente seguida, pela sua impor­tância, a Biblia dos Setenta. Assim, também os judeus exegetas – segundo o testemunho de Joaquim Carreira Marcelino das Neves[31] – estavam em crer que “os 72 anciãos, reunidos por Ptolomeu com o fim de traduzirem o Pentateuco, actuavam sob o carisma da inspiração divina. Filão de Ale­xandria diz explicitamente que os tradutores dos LXX não são apenas tradutores, mas hierophantes et prophétes: ces hommes qui ont pu suivre par des expressions transparentes la pensée si pure de Moïse”. Esta tra­dição é conservada no Talmud Babilónico.
Tendo debatido exaustivamente esta problemática, Marcelino das Neves acaba por concluir que “os LXX não são apenas uma tradução, mas também uma recriação e interpretação do original hebraico. Também é verdade que o Novo Testamento usa destas interpretações para exprimir o mistério de Cristo. Mas nunca esqueçamos que os LXX são antes de mais uma actualização do original hebraico com um fim bem determinado: con­solar os fiéis, os pobres, os justos e a diáspora judaica e levar-lhes a certeza da próxima redenção do jugo inimigo e dos mais judeus que o dirigiam”.
Admita-se que só nas três cidades de Faro, Lisboa e Leiria actuassem, numa primeira fase, essas mesmas tipografias hebraicas. Somos levados a concluir, assim, que da região do litoral tais técnicas – e consequentemente as acções daí resultantes – passassem assim, a ser dirigidas para o interior do País, presumivelmente entre 1488 e 1495. Nesse modelo de penetração técnico-cultural desempenharam, em particular, um decisivo papel, a um nível endogâmico e a um nível exogâmico, três intervenientes precisos:

- o rico comerciante judaico;
- o almocreve (inicialmente ligado, também, ao culto judaico);
- e o aristocrata em viagem.

Quanto ao “rico comerciante judaico”, esse indivíduo (ou grupo) está associado, a nosso ver, à importação das primeiras “impressoras”, rudi­mentares, já se vê. Ele estava motivado, antes de mais, pela mira do lucro. A introdução do “novo” aliciava-o a agir nesse sentido, com as “portas” verdadeiramente franqueadas[32].
Um lugar não menos decisivo ocupou, então, sobretudo num contexto de ruralidade, o almocreve. Era ele – e alguns estudos de especialistas como Humberto Baquero Moreno atestam nesse sentido – o grande elo de ligação intercomunitária, ligando espaços rurais a espaços rurais, ou espa­ços urbanos a espaços rurais e vice-versa.
O almocreve – para além dos produtos de comércio (utilitário domésti­cos) que transportava, designadamente, azeite, tecidos, botões ou, ainda, novas técnicas como o fogão de barro, uma forma primitiva de tesoura, e agulhas, etc. – é também um elemento intermediário e de propaganda, de difusão ou contágio. Não era ele, apenas, que transportava as novas, como também divulgava o conceito de novo, ao nível das novas técnicas surgidas.
O almocreve desempenhou também, de facto, um papel decisivo no que respeita à chegada à aldeia, à micro-comunidade regional, dos espécimes bibliográficos (mesmo que ele fosse analfabeto, como em muitos casos, se não mesmo na sua esmagadora maioria, se verificava.) A cultura da escrita sobrepunha-se, assim, a essa arcaica cultura oral-empírica e que muito tardaria a ser suplantada. É evidente que esse atraso se deveu, fundamentalmente, à falta de amplas medidas tendentes à alfabetização popular.
Só neste século, em certa medida, é que o conjunto de analfabetos principiou a atingir índices menos gritantes (embora, naturalmente, ainda não satisfatórios).
O terceiro componente a que atrás fazíamos referência é o aristocrata em viagem. Ele faz chegar ao interior do País – sobretudo junto da aris­tocracia reinante, descentralizada, nos contextos de ruralidade da época –, durante as suas incursões de tipo comercial ou de mero carácter recreativo (designadamente venatório), como prolongamento da sua cultura, muitas vezes obras de imitação dos clássicos, designadamente Marco Túlio Cícero ou Séneca[33]. Tais obras normalizam, por vezes, a conduta social do nobre, disciplinam a sua actividade em termos de vida social, num plano de exercício em comunidade – os jogos, os torneios, partidas recreativas – ou em privado, designadamente no que respeita à educação dos filhos nobres, à maneira de se comportar à mesa, de negociar um casamento, ou falar ao coração de uma donzela.

7- A penetração das tipografias judaicas no interior do país

Ao longo da última década do século XV, a acção tipográfica judaica, nas cidades de Faro, Lisboa e Leiria foi sendo, gradualmente, objecto de intensificada vigilância. Já nos primeiros tempos do reinado de D. Manuel, mesmo antes do tão conhecido decreto, de 1496, da expulsão do povo judaico, a gente de Nação passou a sentir não só as mais vivas represálias, como a mais acesa perseguição.
À semelhança do que sucedia em Lisboa, também nas judiarias das cidades do Sul do país, como Évora, Beja e Faro, essa perseguição não deixou de ser uma afrontosa realidade. Estamos em crer que foi na sequên­cia de tal situação que os filhos de Samuel Gacon Porteiro partiram de Portugal para o Levante, mais concretamente para Itália e Constantino­pla. E, ignorando-se também se o pai daqueles técnicos partiu com eles, podemos hoje, no entanto, afirmar, que à semelhança do que já no século XIII fora Moses ben Nahman, Samuel Gacon foi, pelo menos, um editor do Talmud com os olhos postos no Oriente.
Para aqueles que em 1495 ainda não tinham partido, a perseguição era efectivamente feroz. Isso verificava-se, pelo menos, na cidade de Évora, o que levou a Rainha D. Leonor a escrever uma carta – datada de 24 de Outubro desse ano, e dirigida a D. Fernando de Castro, Conde de Lemos e Trastâmara – em que incumbia aquele dignitário “de proteger a comuna judaica, então ameaçada de expoliações e violências”[34] .
Em relação à vida dos judeus, nesses últimos decénios do séc. XV, em Beja e Faro, ela decorreria também – à semelhança do que se verificou em relação à comunidade eborense – também em moldes de uma mani­festa segregação ou, mesmo, ao nível de uma auto-marginalização. Existe documentação apropriada que permite estabelecer, para este período, um nítido traço de união entre a comunidade judaica de Beja e a de Faro. Mais importante que isso é, porém, o facto de se poder admitir – embora a falta de documentos precisos nos impeça de o afirmar categorica­mente – uma identificação de um tal “Gagim Judeu morador” da cidade de Faro, com Samuel Gacon (ou Porteiro), impressor do Pentateuco, na mesma cidade, em 1487.
Esta hipótese de identificação foi aventada, pela primeira vez, por Alberto Iria, académico e um dos mais distintos investigadores da História do Algarve, na conferência “os Judeus no Algarve Medieval e o Cemitério Israelita de Faro do século XIX, História e Epigrafia...”[35], pronunciada em 24 de Novembro de 1983 na Academia das Ciências de Lisboa.
Segundo Alberto Iria “em Beja, a 9 de Novembro de 1489, el-Rei D. João II confirmava a Abraão Alegria, morador em Faro (faarão), a carta de aforamento que, nesta vila algarvia, lhe fizera Fernão de Espa­nha, contador da Casa Real e, por especial mandado régio, contador neste Regno do algarue, em 8 de Agosto de 1488.

Neste aforamento, Fernão de Espanha fez saber que por díuida que huū manuel (?) gagim Judeu morador na dita villa deuia ao dito Senhor [Rei] da parte que teue das Remdas do Amoxarifado da dita uylla o anno passado de lxxxiiijº (sic) lhe foram tamadas (sic) hūas casas que por ello tinha dadas a fiamça da dita Remda ho dito anno o dito abraão elegria (sic) seu cunhado.

“Metidas estas casas em pregão, só Abraão Alegria licitou, pelo que lhe foram aforadas por 400 reais de foro anual, enfatiota, a pagar em Janeiro, já no ano de 1489”, sublinha ainda o autor de “Os Judeus no Algarve medieval”...
As casas estavam localizadas na própia “Judaria”: as quaes [casas] estam dentro de judaria da dita uilla E partem com casas de jsaque tolle­dano e com casas de Joham de dios e com Rua pruuica...
Mas Abraão Alegria ficou com a obrigação de pagar bem e despacha­damente vimte Reaees de prata destes de vimte Reaees o Real que fazem catorze e ctmco oytauas e huūa homça por dia de Janeiro em cada huū anno...
Este aforamento – constante do Livro II de Odiana, a fl. 217 v.º – foi feito em Faro por Fernão Gonçalves, porteiro dos contos por Fernão Vieira, seu escrivão.
É plausível na óptica de Alberto Iria (e corroborando a opinião já expressa por Artur Anselmo) que Samuel Gacon, já referido, “tivesse tam­bém exercido em Faro as funções de porteiro dos Contos, por nomeação régia que, infelizmente, não chegou até nós”.
Estas são algumas das considerações que se nos oferecem fazer no respeitante quer à implantação da tipografia em Portugal, no último quar­tel do século XV, quer às primeiras tantativas de “pôr a circular” pelo interior do País, o produto cultural saído do labor desses mesmos artífices (tipógrafos hebraicos, ou de credo judaico).
Assumiu, de facto, uma enorme importância para a cultura portuguesa de fins da Idade Média e do Renascimento a introdução da Arte tipográ­fica em Portugal, por intermédio da impressão de obras como o Penta­teuco, em 1487 em Faro. A esta comunidade estiveram, aliás, ligadas várias famílias judaicas, até há poucas décadas (Ver APÊNDICE DOCUMENTAL IV).
Foi essa mesma motivação que levou, em 1489, os judeus, estabeleci­dos em Lisboa, a imprimir a mais antiga obra que se conhece, Novas de Lei ou Comentário ao Pentateuco. Ou, ainda, a motivação daqueles impressores cristãos que, nesse mesmo período, imprimiram, em linguagem, o Sacramental (1488?), ou o Tratado de Confissom (1489).
O Pentateuco comemorou, em 30 de Junho de 1987, o quinto centená­rio da sua publicação. E atinge tal relevância a evocação desse remoto acontecimento (artístico-tipográfico) para o Portugal de hoje – quanto ela permite, também, fazer a evocação do passado dos portugueses nos mares, ou lembrar à Europa e ao mundo o peso da Cultura lusíada já nesse tempo.





[1] A passagem desta data, em relação à História da Imprensa portuguesa, foi assinalada, fundamental­mente, com a criação, por parte do Estado português, de uma Comissão para as Comemorações do Quinto Centenário do Livro Impresso, presidida pelo Prof. Doutor José V. de Pina Martins. A mesma data motivou o aparecimento, na imprensa escrita, de alguns artigos. Cfr. MATOS, Manuel Cadafaz de, (1987 a; b), p. 25; pp. 6-7.
[2] Rashi, isto é, Salomão ben Isaac, que viveu entre 1040 e 1105.
[3] Ver-se-á, adiante, o significado de Porteiro, quer a um nível de comunidade cristã, quer a nível de comunidade judaica.
[4] ANSELMO, Artur, (1981), pp. 427-428.
[5] HORCH, Rosemarie Erika (1956), pp. 283-285.
[6] Rosemarie Erika Horch, na sequência das pesquisas que desenvolveu nesta biblioteca brasileira em particular durante a preparação do catálogo (referido na nota anterior) – escreveu um artigo para a revista Prelo, da Imprensa Nacional (Lisboa), onde defende tratar-se do mais antigo livro impresso em linguagem portuguesa.
[7] Diário de Notícias de 25 de Maio, de 1965. Oito anos depois Pina Martins veio a editar, em fac-simile, o Tratado de Confissom.
[8] Continua hoje a desconhecer-se qual a oficina de fundição em que foram produzidos os carateres hebraicos utilizados em Faro por Samuel Gacon.
[9] MATOS, Manuel Cadafaz de, (1986 / 1987), pp. 256-285 / pp. 291-312.
[10] Esse papel, no entanto, chegava também a Portugal (entrando por portos como os de Faro, Lisboa, Porto, Setúbal e Viana do Castelo), proveniente de regiões do ocidente europeu como da Galiza, do oeste e norte de França, e da Itália mediterrânica. Cfr. LARES, Maria Manuel Fernandes Pinto (1989).
[11] AMZALAK, Moses Bensabat (1928), p. 10-11.
[12] POSNANSKI, S. (s.d.), p. 125.
[13] AMZALAK, Moses ben (1941), pp. 1-4.
[14] No campo de autores judaico-portugueses que se auto-exilaram neste período, conta-se, ainda, David Ibn Yahia Ben Solomon que nasceu em Lisboa em 1440. Autor de uma gramática, Leshon Linundim, ele optaria mais tarde por partir (em data que não se tornou possível precisar) para Constantinopla, onde veio a falecer em 1506.
[15] MARTINS, José V. de Pina (1973), p. 12.
[16] O “único" exemplar que se conhece do Pentateuco é, segundo Amzalak (op. cit.) o que se encontra depositado no “British Museum”, Londres. Sobre esta obra trabalhámos na capital britânica nos anos setenta, altura em que formulámos a intenção de a divulgar em edição fac-similada por altura do seu quinto centená­rio. FERNANDES, Leão (1935-1936), p. 44. Este último autor refere, a tal propósito, conhecer que “o único exemplar conhecido guarda o British Museum, de Londres”. Também Alberto Iria chamou a atenção (em conferência na Academia das Ciências em 1983) para a necessidade de uma nova edição do Pentateuco de Faro.
[17] PROENÇA, Raul e ANSELMO, António J (1920).
[18] MARTINS, José V. de Pina (1971), p. 208. Francesco del Tuppo terminou a sua edição da Apologia, de Giovanni Pico della Mirandola, precisamente em 31 de Maio de 1487. Curiosamente António Ribeiro dos Santos, apresentou, já há várias dezenas de anos – e acerca da vinda de caracteres hebraicos de Itália para o nosso país esta hipótese: “Ela [a tipografia] nos veio transplantada da Itália, e por mãos dos Hebreus, que eram os únicos naqueles tempos que a estabeleciam e propagavam por toda a parte, porquanto os Judeus, maiormente os alemães da cidade de Spira, que haviam passado à Itália, tinham levantado os seus primeiros prelos nas cidades de Socino (sic), de Piobe (sic), de Pesaro, de Bolonha e de Ferrara; e destes vieram alguns a Portugal, para onde muito os atraía e convidava a grande quantidade que cá tínhamos de Judeus estrangeiros e nacionais e a esperança do grosso lucro que lhes prometia o muito fervor com que então se tratavam os estudos de literatura sagrada nas sinagogas deste Reino”, in SANTOS, António Ribeiro dos (s.d.), p. 17.
[19] MARTINS, José V. de Pina (1972), apêndice documental, gravura 2. Desta obra, Comentários ao Pentateuco, foi feita uma nova edição, em fac-simile, da responsabilidade de Edições Távola Redonda, Lisboa, 1989, com estudo introdutório de Manuel Cadafaz de Matos. Tendo nós, no estudo introdutório que preparámos para essa edição, apresentado (baseados em Artur Anselmo) os exemplares de tal obra existentes em várias bibliotecas e arquivos mundiais, fomos informados, em carta, por Offenberg, que essa relação pode ser hoje ampliada com estes novos dados: Amsterdam, UB, BRos 1(-3 últ. ff) (Burger; IDL); Berlin (Ocid.), SB 1(VB; Schmitt); Budapest, BN 1(-) (IBH); Cambridge, Clare CL 1(-) (Cohen; Goldstein); Cambridge, UL 2(1-, var) (Cohen; Oates; Goldstein); Cambridge, Mass., HCL, HoughtL l(-) (Goff); Chicago, NewbL l(-) (Goff); Cincinnati, HUCL 1(-fl) (Marx; Goff); Copenhagen, KB 2(1-26ff; 1 frag de 1f) (Madsen); Frankfort/ M., StUB l(Fr.; Ohly-Sack); Jerusalem, JNUL 3(1-1f) (TishbyIsr); Jerusalem, SchockInst 1(-74ff) (TishbyIsr); Leningrad, BAcad, InstOrSt 2(1-9ff; 1-) (Wiener; Chwolson; Jakerson); Lisbon, BN 1(-) (BiblPort; Anselmo; Sul Mendes); London, BritL 1(2ff esq.) (Zedner; Pr.; STCSp-Port; Goldstein); London, JewsCL l(-) (Wild; Goldstein); London, ValmTr l(p.c.); Moscow, Lenin B 2(Kiselev; Verusalimsky; Jakerson); New Haven, YaleUL 2(-) (Goff); New York, HispSocAm l(Goff); New York, JTSL l(Goff); New York, NYPL l(Goff); New York, PML l(Goff); New York, YeshUL 1(Goff); Ottawa, NLCan 1(Hill); Oxford, BodIL 2(St.CB; Pr.; Cowley; Goldstein); Oxford, ChrChurchL l(Goldstein); Paris, BMaz 1(p.c.); Paris, BN 1(-5ff) (Adler; CIBN); Parma, BPal l(TamaniParma; IGI); Philadelphia, RosFound 1 (Goff); Piacenza, BC l(-) (TamaniPiacenza; IGI); Provo, BrYoungUL l(Goff); Reggio Emilia, BM 1(-) (IGI); Rome, BApostVat l(Tishby Vat); Rouen, BM l(Doublet); San Juan, CasadLibro 1(-) (Goff); San Marino, HuntL l(-)(Mead; Goff); Strasbourg, BNU l(Catane); Turin, BN 1(Artom; IGI); Uppsala, UB l(Coljnl Uppsala); Vila Viçosa, PaçoDuc 2(1-) (BiblPort; Peixoto; Anselmo) (exemplar por nós seguido em 1989, no essencial); Warsaw, ZydlnstHist l(Weil); Washington, LC l(Goff); Zürich, ZB l(-) (p.c.).
[20] Vide SILVA, Armando Carneiro da (1955). O Almanach Perpetum, segundo Artur Anselmo “documenta a única impressão gótica saída dos prelos hebraicos” (op. cit., 1983, p. 116).
[21] ANSELMO, Artur, (1981), p. 88, referencia esta obra (além da grande maioria de todas as outros).
[22] Este espécime bibliográfico é descrito (designadamente com reprodução em fac-simile, de um dos fólios, in AMZALAK, Moses ben (1922), p. 20-21, Estampa II.
[23] No cólofon desta obra, que é apresentado por Artur Anselmo (in op. cit., secção “Registo Catalográ­fico”, afirma-se: “... por um homem justo e pobre, R. Elieser, que, entre as balanças (i. e. prensas), trabalhou e imprimiu a Lei com o targum e o comentário de R. Salomão que é a luz dos olhos. Acabou-se em Lisboa, no ano 251 (= 1491), no mês de Av, adicionando (aos 251) três mil e dois mil (3000 + 2000 + 251 = 5251). Seja Deus, que o assistiu, exaltado com harpas, órgãos e címbalos.”
[24] No cólofon deste Comentário à Ordem das Orações, de David Abudarham, refere-se, designadamente: “Impresso em Lisboa, no meio da qual está situada a sinagoga que é o amparo e a mãe de todas as principais sinagogas.”
[25] Do Livro de Orações temos conhecimento directo do espécime existente no Seminário Teológico Judaico de Nova Iorque (de que até há pouco, pelo menos, era bibliotecário o dr. Menahem Schmelzer). Veja-se a respeito desta obra hebraica (e outras). MEZER, Herrmann (1971), vol. 8, cols. 1319-1344. Deve-se a Artur Anselmo (in op. cit.) a primeira referenciação desta obra em edição portuguesa.
[26] No cólofon desta obra refere-se, designadamente: “Impresso em Lisboa, em casa do sábio R. Elieser, no ano Ele voltará radiante de alegria, com as suas gavelas (Salmos, 126, 6), segundo a Criação.”
[27] Sobre este pensador judaico medieval remetemos para Romano David (1986) e R.D.B. (1967), pp. 174-175. Este tratado sobre as Hilkhot Shechitali (Leis sobre o Abate Ritual de rezes), publi­cado presumivelmente em 1492, contém, na expressão de Artur Anselmo “os preceitos da degola dos animais, de acordo com as instruções do Talmud” (op. cit., ed. 1981, p. 262).
[28] Sendo hoje certo que Samuel d’Ortas teve filhos que (também) se dedicaram às artes tipográficas, há quem defenda a tese que ele (o impressor de “Provérbios de Salomão”) e Abraão d’Ortas (o impressor de “Caminho da Vida”), são uma e a mesma pessoa, que se chamaria precisamente Samuel Abraão d’Ortas.
[29] No cólofon desta edição dos Provérbios de Salomão afirma-se: “Executado na oficina impressória do honrado Dom Samuel d’Ortas, num país distante... (com a ajuda do seu hábil filho Abraão (e à custa de) Samuel Kolodro. Acabou-se no primeiro dia do mês de Av (= 25 de Julho)... no ano E eles chegarão a Sião com Júbilo (Isaías, 51, 119...)”.
[30] No cólofon desta edição dos Profetas Primeiros refere-se: “Por ordem textual de pessoas eminentes e das autoridades residentes na comunidade de Lisboa, cidade feliz sob todos os aspectos, a composição foi feita pelos três irmãos, dos quais o pai é o chefe e rei, na vila chamada Leiria, situada na margem do rio do mesmo nome. Acabou-se no ano de (5)254..., na terceira semana do mês de Shevat, perícopa sabática de Mishpatim.”
[31] NEVES, Joaquim Carreira Marcelino das, OFM (1973), pp. 278-280.
[32] Os Judeus tiveram uma particular preponderância em negócios do reino e, também, na benéfica introdução de novas técnicas, designadamente no que respeita à tipografia e ao primeiro fabrico de papel. Nesta época de transição da Idade Média para o Renascimento, a arte tipográfica – e outras formas de arte – contribuíram, ao que é sabido, para a introdução do ideal do Renascimento no nosso país. Importaria, a nosso ver, estudar hoje em detalhe o que concerne à introdução no nosso pais dessas mesmas técnicas científicas e artísticas.
[33] Vide, por exemplo, as edições do Infante D. Pedro, em pleno século XIV, XV, intituladas O Livro da Virtuosa Bemfeitoria (a partir de Beneficiis, de Séneca) ou o Livro dos Ofícios (a partir de De Oficcii, de Cícero).
[34] CAETANO, Oliveira e CARVALHO, José Alberto Seabra (1990), p. 11.
[35] O texto desta conferência veio a ser publicado no tomo XXV das Memórias da Academia das Ciências de Lisboa (Classe de Letras), Lisboa, pp. 293-334 (ver em particular, pp. 320-321).

1 comentário:

Anónimo disse...

Penso tratar-se de reedição da edição de 1991 pelo Governo Civil de Faro, a qual teve circulação muito limitada.
Faço votos de que esta edição tenha circulação muito mais ampla.

José Quaresma Neto

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