sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Carlos Poças Falcão

Dois Poemas de Carlos Poças Falcão, extraídos do livro “O Número Perfeito”, editado na década de 80. Alguns poemas do poeta estão também no livro “Verbo — Deus como interrogação na poesia portuguesa”, editado recentemente pela  Assírio e Alvim.

A obra do aedo está, em grande parte, reunida em "Arte Nenhuma", livro que tem a chancela da Opera Omnia. O amor, a religião e a ciência são temas basilares na sua arte.



1
Alguém se aproxima, alguém me vai falar.
Procuro as formas de me dar. Que sabemos
das duplas estrelas? Que sabemos
de toda a gravitação? Nem a luz

podemos ver de outro cérebro, nem
a cintilação interior de outro olhar.
Dois cofres de pele. Nós os dois. Um abismo
atmosférico. Palavras rápidas a abrir
uma úlcera no ar, Uma voragem.
Eis o verbo abrir. Eis o verbo fechar.

2

Pesar-me. Ter sessenta quilos
e perguntar porquê. Silêncio de balança.
Porque sinto o peso daquilo que me cansa
o mundo que se expande na cabeça
os dias adiados, longos anos
a lentidão que avança com os anos
a respiração, o esforço de viver
para cima quando tudo está a ceder.
Porque dentro peso muito. E ao contrário
da força de atracção do corpo pela terra.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...