domingo, 31 de agosto de 2014
OS REITORES, A FCT E O MINISTRO
A tentativa em curso de destruição de metade do sistema científico português mostrou a fragilidade do Conselho de Reitores da Universidades Portuguesas (CRUP), que não quis ou não foi capaz de contrariar o Presidente da FCT e o ministro. O modo como o protesto dos Reitores foi acolhido assim como o modo como foram indeferidas as reacções dos Reitores quanto a novos cortes que se somam aos antigos mostram a impotência do CRUP tal como está hoje organizado e dirigido. Já alguém notou que a debilidade da reacção do CRUP à FCT talvez se explique por o Presidente do CRUP ser colega de Faculdade do Presidente da FCT. Quanto à continuada aceitação dos cortes orçamentais impostos pelo Ministério da Educação e Ciência não consigo encontrar explicação. Protestam, protestam e depois...
Contudo, o processo de "avaliação" da FCT mostrou uma interessante mudança do poder nas universidades portugueses. António Cruz Serra, reitor da Universidade de Lisboa (que resultou da fusão da Clássica e da Técnica, uma das maiores mudanças no ensino superior português nesta legislatura, uma mudança que veio das bases e que o governo devidamente encaminhou) não teve papas na língua no que respeita à prepotência da FCT. Em Agosto, a grande subida da Universidade que dirige no ranking de Pequim veio reforçar o seu poder entre nós (os rankings valem o que valem, mas valem!). Há, portanto, a Universidade de Lisboa, uma grande universidade de investigação, e há poucas outras, como Porto e Coimbra, que competem por isso. Talvez essas - e não todo o CRUP, que obviamente não tem poder - possam dizer o que pensam sobre a questão, bastante relevante, da avaliação da investigação e, já agora, da relação que deve existir entre a ciência e ensino. A FCT quer ser reguladora única e exclusiva da avaliação da ciência, deixando os reitores a falar sozinhos. Nesse quadro, quer obrigar à viva força um número considerável de docentes-investigadores a abandonarem a investigação. Era bom saber o que os reitores de Lisboa, Porto e Coimbra pensam sobre essa posição, claramente expressa por António Coutinho, mas que é provavelmente secundada por Miguel Seabra e Nuno Crato.
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