Li no Rerum Natura o post "A Escola pública é um Inferno?" e na sequência deste fui ler um artigo de Alexandre Homem Cristo que podem ler aqui.. Deixo alguns excertos:
“O que se passa nas nossas escolas? Maria Filomena Mónica (MFM), num livro recentemente editado pela Fundação Francisco Soares dos Santos, responde. E a sua resposta não poderia ser mais incisiva: retratou um inferno, identificou factores para o insucesso e concluiu que a escola pública é má. Nada de surpreendente. Afinal, as conclusões a que chega não diferem das que tinha à partida, e que lhe conhecemos de outras intervenções públicas. Conclusões, aliás, alinhadas com as críticas habituais dos que desconfiam das escolas do Estado - a indisciplina reina, a exigência é baixa, os programas das disciplinas são todos péssimos e os miúdos não aprendem sequer o elementar. Acontece que essas conclusões são muito discutíveis. Principalmente, por três razões. A primeira deriva da própria natureza da obra. Ao basear-se em relatos de uma dúzia de professoras e alunas, MFM sujeita-se a uma certa tentação pelo insólito, na medida em que só é digno de relato o que escapa à norma (i.e. o que não acontece normalmente). Construir generalizações a partir desses relatos é, por definição, abusivo. E apesar de não se tratar de um estudo científico, como aliás MFM tem referido nas suas entrevistas, não se pode deixar de realçar o óbvio: para além de um problema de representatividade da amostra, a obra sofre de um problema de fiabilidade. (...)Ora, não é porque há escolas onde tudo corre mal que todo o sistema está comprometido. Tal como não é porque há escolas onde tudo corre bem que não há espaço para melhorias. Certezas, há uma. Só se promove a melhoria a partir de diagnósticos correctos. E apesar dos aspectos interessantes da obra, a base do diagnóstico de MFM não o está."
Não conheço o livro de Maria Filomena Mónica. Em tempos comprei um livro seu “Bilhete de Identidade” e confesso que esperava mais da autora das crónicas que por vezes vezes lia e continuo a ler. A tal ponto me desiludiu que, um dia, um amigo pediu-mo emprestado e eu dei-lho porque não tinha nenhum interesse especial em tê-lo na minha estante. Mas, voltando ao livro que não conheço, procurei outras referências na Net e reproduzo excertos de uma crítica que podem ler aqui:
A socióloga Maria Filomena Mónica andou meses a procurar resposta para a pergunta "O que se passa dentro das nossas salas de aula?" e as respostas que obteve, a partir dos diários de duas professoras, quatro alunas e uma mãe, confirmaram os seus piores receios. "É uma escola criminosa, indigna, estúpida. ". E a culpa, aponta Maria Filomena Mónica é dos sucessivos ministros. "Os pais que não se convençam que aquilo só se passa nas escolas públicas. Conheço miúdas das privadas que me fariam relatos igualzinhos ou piores", Sem soluções prontas a aplicar, Maria Filomena Mónica aconselha o ministro Nuno Crato a deixar de tratar os professores "como uns estafermos incapazes". " Por acreditar que os professores precisam de se sentir acarinhados "quer pelo poder, quer pela sociedade", a socióloga considera que o melhor que Nuno Crato podia fazer pela escola pública era deixar os professores em paz. "Deixá-los preparar lições, dar aulas e corrigir os exames dos alunos, em vez se os pôr a preencher relatórios que não servem para nada". "Os culpados, segundo Maria Filomena Mónica, “são todos os ministros que se sucederam na pasta depois de 1974”, porque “foram eles, e não os professores, que não souberam enfrentar o problema da massificação da escola; foram eles, e não os professores, quem elaborou os programas; e foram eles, e não os professores, quem levou as classes médias a retirarem os filhos do ensino público”.
Se em muitos aspectos estou em total concordância, noutros discordo e confesso que não pude deixar de ficar arrepiada com a frase "É uma escola criminosa, indigna, estúpida." Quão descabida é esta generalização!
Já por mais que uma vez me pronunciei no mesmo sentido que o excerto que o último parágrafo citado.:
Há muito mais a enumerar. Mas antes quero deixar uma constatação.
Nos últimos anos tenho visitado dezenas de escolas, a maior parte públicas, mas também algumas privadas. Do que tenho visto não deteto grandes diferenças e as que deteto têm a ver essencialmente com:
- A diferença do número de alunos por turma ( genericamente maior no público que no privado),
- O nível sócio-cultural dos alunos (genericamente melhor no privado ).
Mas vamos aos factos e refiro apenas dois que, só por si, revelam problemas das escolas e dos professores.
1º facto.
Sei de um aluno do 1º ciclo, numa escola pública, cuja professora, ainda nova, sempre o caracterizou como uma criança irrequieta (não no sentido de travessa, mas significando precisamente o ter dificuldade em estar quieta), desconcentrada, um pouco infantil, mas meiga e educada (o que corresponde à realidade).
A forma que esta professora encontrou para atenuar a irrequietude foi retirar-lhe, por vezes durante semanas seguidas, todos os intervalos (inclusive o de almoço) e obrigá-lo, sempre que podia gozar do intervalo, a falar e brincar apenas com meninas, ficando impedido de conversar com os colegas do sexo masculino.
Não teve sucesso com nenhuma das práticas mas insistiu sempre até que o encarregado de educação, que várias vezes a abordou no sentido de repensar tais atuações, optou por mudar a criança de escola. Para além disso, a segunda prática gerou um comportamento de delação por parte das meninas, sempre que o aluno falava com rapazes.
Face à infantilidade, uma das medidas que adotou foi colocar-lhe uma chupeta na boca, dentro da sala de aula, humilhando-o perante todos os colegas.
A professora tem tido muito sucesso com a aprendizagem de conteúdos por parte dos alunos, incluindo o aluno em causa. Isso não faz dela uma boa professora. Esta professora precisava urgentemente de uma formação para evitar que continue a adotar práticas aberrantes com os seus alunos. E provavelmente quem a “formou” precisaria também de formação..
Trata-se de uma escola pública mas conheço relatos de situações diferentes, mas tão graves quanto estas, que têm lugar em escolas privadas.
2º facto.
Sei de professores que trabalham em mais que uma escola do mesmo Agrupamento, por vezes distantes umas das outras, que lecionam várias disciplinas em vários níveis, são diretores de turma, dão aulas de apoio. No caso de serem professores de áreas experimentais, têm que passar horas nos laboratórios a otimizar as atividades que irão ser levadas a cabo quer por si, quer pelos alunos. Só quem foi professor nos ensinos básico e secundário tem consciência da tarefa ciclópica destes professores. Mas a tudo isto há que somar reuniões sobre reuniões, relatórios sobre relatórios, na esmagadora maioria das vezes, sem qualquer interesse.
Se houvesse uma vontade séria de melhorar a qualidade da educação, far-se-iam investimentos na formação e dar-se-iam condições de trabalho a quem trabalha. E por muito que o que sugiro possa parecer retrógrado, exercer-se-ia uma "fiscalização" séria e isenta, relativamente às práticas de escolas e professores, para detetar necessidades (de formação e outras) e de seguida atuar em conformidade.
Mas as opções dos últimos ministérios tem sido outras que nada têm a ver com a melhoria pretendida..
E os portugueses assistem, impotentes, à asfixia da escola pública que durante muitos e muitos anos foi o "baluarte "do ensino de qualidade em Portugal .
Regina Gouveia
13 comentários:
Caríssima Professora Regina Gouveia;
Eu tenho a ideia de que, no Ensino, o que deve ser verdadeiramente discutido são os assuntos de carácter pedagógico. Depois, o que sobra?! Sobram os temas de carácter “doméstico” se assim lhe podermos chamar que nada têm que ver com pedagogia.
E pelo que leio daquilo que escreve MFM ou o Alexandre Homem Cristo, à semelhança de muitos outros opinadores, o que estes fazem é reportarem-se aos aspectos relacionados apenas com a “má-criação” dos alunos. E é só isso. São pessoas generalistas e de conhecimento vago, que procuram protagonismo, mas são desprovidas de conhecimento cientifico das matérias e por consequência e inerência do aspecto pedagógico; Aquele conhecimento só ao alcance de algumas pessoas (poucas).
Como “exemplo” do que seria falar de um assunto sobre pedagogia, deixo um excerto de um texto do Professor Sebastião e Silva. Queira a ex.ma senhora professora Regina Gouveia fazer o favor de o ler. E depois meditar para si, se porventura os escritos dessas pessoas generalistas são acerca da pedagogia... certamente que concordará que não são pedagógicos, são de outra índole, e prendem-se quase que exclusivamente com “má-criação”. A questão da “má-criação” podia-se resolver. Se para isso adoptasse-mos a norma de que, não deve andar na Escola quem realmente não quer estudar.
“Só utilizando, como aconselha Klein, o método intuitivo e genético, será possível evitar as tão frequentes atitudes de incompreensão e, mesmo, de rebelião, a respeito da Matemática, e despertar no aluno o amor desta ciência. Tem-se afirmado que a aplicação integral desse método tornaria o ensino mais lento. Embora seja a experiência que, neste ponto, deva ditar a última palavra, eu creio que só de começo haveria uma aparente perda de tempo – perda que seria depois amplamente compensada pelo à vontade, a consciência e o interesse com que o aluno passaria a encarar os diferentes assuntos. E em tudo isto, a intuição, que desempenha um papel dominante, como guia poderoso, na fase da redescoberta, cederia depois o lugar a uma lógica rigorosa, na consolidação dos resultados. É claro que tal aperfeiçoamento lógico não será sempre possível ou vantajoso, no liceu – mas acontece que muitas vezes é possível, e fácil, e proveitoso. Nos casos restantes, devemos conformar-nos com a base intuitiva – que, no ensino da Matemática, é seguramente preferível a uma base autoritária e, ainda mais, a uma base de mistificação.
Eu sei o que muitas pessoas, com prática de ensino secundário (devo dizer que também tenho alguma) costumam responder a observações semelhantes às anteriores: «Fantasias! Tudo isso é muito bonito, mas a verdade é que os alunos são incapazes de acompanhar um ensino com esse nível. A praticazinha desfaz muitas ilusões!» Tese na verdade muito cómoda, mas tese desanimadora – tese perigosa! E pouco lisonjeira para os estudantes portugueses. (Mas serão incapazes todos os alunos? E, vendo bem, onde estará muitas vezes a incapacidade?) Fantasia, sonho, delírio – essas palavras não me assustam: já as conheço bem. São palavras que se fazem ouvir, todas as vezes que é preciso incomodar S. Ex.a, a Rotina.” [J.S. e Silva – Textos Didácticos, Vol. III pág. 272. FCG]
P.S.: Repare-se e reflicta-se sobre esta interrogação do Professor Sebastião e Silva “Mas serão incapazes todos os alunos?”
Caro Ildefonso Dias
Não percebi muito bem o que intuiu do meu texto. O mesmo tinha um preâmbulo que não foi publicado mas que poderá ler no meu blogue www.docaosaocosmos.blogspot.com. Aí poderá ler muitas outras mensagens e avaliar sobre o meu conceito de educação.
Sou um acérrima defensora da escola pública e, como digo no texto, não aceito de modo algum que seja uma escola criminosa, indigna, estúpida.
Regina Gouveia
Regina
Concordo: é topete ajuizar a escola com tais atributos; mas pode que a indignação tenha levado a senhora; ou que seja uma forma de chamar a atenção para; no entanto, devo dizer que há aspectos em que os três me parecem aplicáveis:))
Felizmente, não existem escolas “onde tudo corre bem ou tudo corre mal”.
Tem graça porque vi o novo livro de Maria Filomena Mónica – pessoa que desconheço e de quem só li o livro infanto-juvenil, O Filho da Rainha Gorda – como uma oportunidade para reabilitar a escola que temos e não para a negar. Às suas críticas, que são afinal dados de pouca gente entrevistada (facto que desconhecia), julguei eu, os professores deviam até um certo reconhecimento, não podemos emendar se não detectamos o erro. E nem me pareceu que o dito seja nado e criado na população docente. Ao contrário, sugeriu-me que, mesmo quando se aponta o professor se aponta também o motivo que está além dele, verdadeira causa de. Mas se quisermos vir numa de paladinos da missão de ensinar e não olharmos a profissão friamente, perpetuamos o status. E a escola pública, concordo em pleno, não está bem. E sim, está pior que a privada. E não, os problemas não são os mesmos – a escola pública abre-se aos alunos TODOS: os que têm necessidades educativas especiais e nem tentam a privada; os que ela deita fora por terem mau aproveitamento ou pior comportamento; os que não têm poder económico para a sua frequência. O ensino privado agarra as esferas da população mais salutares económica e culturalmente falando; ou seja, gera melhores alunos porque, entre outras coisas, parte com muito avanço na matéria prima.
Porém, quem escreve um livro sobre…não tem que esgotar assunto. Como quem visita escolas (uma ou duas vezes o mesmo estabelecimento, imaginemos) as sabe tanto quanto as visitas domésticas sabem da vida da casa que visitam igual número de vezes.
Os dois exemplos apresentados no final do post são interessantes. O primeiro porque aponta no mesmo sentido de Maria Filomena Mónica, a proficiência em pedagogia não é nunca acabada, o professor não pode descansar no como de estar e ensinar. Mas trata um caso talvez único, específico, portanto.
O segundo caso é sobejamente conhecido de todos os professores e da vida dos agrupamentos. Decorre directamente de uma legislação de poupança absurda e não inóqua. Que ainda custa acreditar tenha vingado em alguma cabeça de juízo. E é, infelizmente, universal não no sentido de que atinja todos os professores mas no de que existem muitos casos idênticos nos agrupamentos de escolas de todo o país.
Os ministros esquecem muito rapidamente o seu ser de professores. O português tem a triste mania de ser estanque, repartição.
BFS
Caro BFS
Digo na mensagem que concordo com muito do que li em excertos do livro de MFM, nomeadamente com o que é referido no último parágrafo que transcrevi. Quanto ao seu comentário concordo plenamente quando refere algumas razões justificativas de diferenças entre ensino público e privado, nomeadamente no que respeita à abertura a TODOS ou apenas a ALGUNS. Precisamente porque a escola pública é para todos, eu sou uma defensora da mesma
Regina Gouveia
A Maria Filomena Mónica também criticou as escolas privadas, aliás, até disse que eram piores que as escolas públicas. Por isso não vejo como é que ela tinha uma premissa (a de que a escola pública é má e a privada é que é boa) e trabalhou os dados de forma a que provassem essa premissa.
Senhora Professora Regina Gouveia;
A Escola pública que a senhora defende é em regime de monopólio do Estado ou em regime de livre concorrência, com o controle do Estado?
Ou de outra forma, “são os pais obrigados a mandar os filhos às escolas públicas, ou é-lhes reconhecido o direito de os enviarem àquelas escolas privadas que quiserem, embora sujeitando-se às normas gerais oficiais, quanto a validade de diplomas?”
São ideias que eu retiro da conferencia “Escola Única” do Professor Bento de Jesus Caraça.
Mas que se note bem, que nela está escrito que à causa da divisão de seres humanos perante a Escola, no que diz respeito ao privilégio que representa a desigualdade de situação económica, contrapôr-se-à a gratuitidade do ensino em todos os graus. E isso é que muitas vezes não é entendido.
Por isso lhe quero perguntar, é a senhora professora Regina Gouveia uma acérrima defensora da gratuitidade do ensino em todos os graus? O que já escreveu acerca disso?
BFS: Bom Fim de Semana:)
Caro José Cristóvão
Em parte alguma da minha mensagem lê o contrário do que afirma no seu comentário.Se ler com atenção verá que escrevi (sic) "em muitos aspectos estou em total concordância cm MFM". Para além disso, esta mensagem tinha um preâmbulo que lhe foi retirado. Se a quiser ler na íntegra poderá ir ao meu blogue www.docaosaocosmos.blogspot.com
Regina Gouveia
Senhora Professora Regina Gouveia, infelizmente a conclusão a que chegou MFM é muito realista.
Depois a senhora diz, em comentário " ... no que respeita à abertura a TODOS ou apenas a ALGUNS. Precisamente porque a escola pública é para todos, eu sou uma defensora da mesma.". Esta sua afirmação é que me parece que não é realista!!!
Repare a Senhora Professora nisto "(...) Acresce ainda que os sistemas de bolsas colocam os que as recebem na dependência dos que as dispensam, o que pode levar a arbitrariedades na sua distribuição. O direito à cultura deve ser realmente reconhecido como um direito inerente ao homem, e não como um favor, mais ou menos disfarçado, da administração pública.
Razão têm, de sobejo, aqueles trogloditas da burguesia que clamam – a escola será de classe enquanto o rico pagar o ensino que lhe ministram. E a isto pode acrescentar-se – e no dia em que o rico não pagar, isto é, em que for instituída a gratuidade, estará criada uma condição necessária, notem V.Ex.as bem, apenas necessária, para que a Escola deixe de ser de classe.”[Bento Caraça]
Assim, eu pergunto à Senhora Professora Regina Gouveia o seguinte: quando foi que a Escola pública deixou de ser de classe?
Eu inclino-me a dizer que NUNCA! Que eu saiba nunca deixou de ser de classe (pois!!!, e então as propinas, e as famílias sem condições de manter os filhos na Escola, etc. não existem!!)
Primária 1985-2014- Veja as Diferenças!!!???
Para quê ensinar depressa?
Somos pais de uma aluna do 1º ano.
Partilhamos a nossa indignação para com o programa nacional para o 1º ciclo.
Sem qualquer preocupação em estruturar o pensamento, as nossas crianças são obrigadas desde a mais tenra idade a viver velozmente, sob pressão e stress, sem tempo para ser o que são: Crianças.
Em catadupa, são descarregadas matérias e conceitos, sem que estes sejam minimamente apreendidos e consolidados.
De facto, sumariza-se matéria, estragam-se livros com respostas mal copiadas do quadro, sem que nada se aprenda...
E quem quiser, que aprenda em casa... compre outros livros... faça fichas extra...
E perguntam vocês: De quem será a culpa?
Será dos professores?
Obviamente que não:
- Com turmas lotadas com 26 alunos...
Programas extenssíssimos para cumprir...
Destituídos de autoridade e por isso sem forma de repreender e impor o respeito na sala de aula...
Sem tempo para aprofundar e consolidar as matérias...
Desmotivados pelos brutais ataques do poder...
Será dos alunos?
Obviamente que não:
Alunos cada vez mais agitados e pouco concentrados (normalmente confundido com imaturidade...) enclausurados numa escola desde as 9h até as 17h30...
Como poderão ganhar gosto pela 1ªclasse, quando há um com um corte radical nos hábitos com a pré ?
Expressão plástica, corporal e artística são praticamente postas de lado, por não haver tempo para as realizar convenientemente.
A criatividade das crianças fica comprometida, e o ensino torna-se aborrecido: desaparece toda a magia da 1ª classe... (que recordámos com saudade do nosso tempo)
Desapareceram da sala de aulas carimbos, sólidos geométricos, calendários... o ensino é teórico, num ano em que a criança só consegue aprender com base em objectos concretos...
a objectividade é a base da pedagogia de ensino: a criança aprende a visualizar e a experiênciar...
Será dos pais?
Obviamente que não:
Estes veêm-se desesperados com falta de tempo, com horários laborais cada vez maiores, com mau ambiente e competição desenfreada....
Numa sociedade em que o tempo é cada vez mais escasso, os pais são cada vez mais responsabilizados pelo acompanhamento dos trabalhos de casa... é um contrasenso...
Neste momento de final do dia, que deveria ser de lazer, descanso e convívio familiar, os pais verificam que os seus filhos não são capazes de fazer absolutamente nada sozinhos.... não são nada autónomos...
Verificam então que, apesar de ter ouvido falar nos conceitos e matéria sumariados, falta a interiorização dos mesmos... (confirmada pela falta de autonomia na realização dos Trabalhos de casa...)
Perante este drama, e como não é suposto os pais fazerem os trabalhos pelos seus filhos, têm de parar, ensinar a matéria em questão, e pressiona-los a fazer os TPC
Pô-los a pensar e a trabalhar sozinhos não é tarefa fácil: estão habituados a fazer as coisas a correr, ou a copia-las atabalhoadamente do quadro, caso não as tenham feito no reduzido tempo possível...
Volto a salientar que este método de ensino é o único possível para cumprir o pesado e enfadonho programa , roubando às crianças o tempo confortável para pensar, aprimorar e ter gosto na matéria aprendida...
Será da escola?
Obviamente que não:
Todas as escolas têm obrigatoriamente de cumprir o programa nacional.
Então de quem é a culpa? Então quem é que estamos todos a seguir? Quem é o iluminado que carrega a candeia, a quem cegamente seguimos?
Quem é que está por trás de todo esta palhaçada? Quem passa por cima dos professores, faz dos alunos cobaias, deita ao lixo todo um trabalho de décadas? Quem arruina a Escola Pública, ousando até propôr a abertura de escolas privadas em caso de maus resultados?
É esta a escola democrática, que leva alunos, pais, professores e funcionários até à exaustão moral e física?
1. Com tantos professores no desemprego, quem define que as turmas deverão estar superlotadas com 26 alunos?
2. Com tantas pessoas para contratar, porquê que não há o nº mínimo de auxiliares para o seu correcto funcionamento? Mascara-se este facto com funcionários contratados pelos próprios pais (chamando de prolongamento de horário)...
3. Quem dita os longos, salteados e apressados programas, que não focam e consolidam as importantes bases, dissipando as ideias, conteúdos e pensamento????
4. Porquê abandonar o antigo programa, comprovadamente de sucesso (nos idos anos 80), e
colocar as crianças obrigadas a dar matérias do 2º ciclo antecipadamente?
1. Desculpem-me a franqueza, mas segmentos de recta, interpretação de gráficos, problemas de lógica, palavras esquisitas (poliedro, poligonos, quadrilateros, entre outros) poderiam bem esperar pelo 2ºciclo, como sempre foi. Para quê apressar a matéria?
Por favor, foquemo-nos no essencial: visualizar, conceptualizar e praticar muito, estar à vontade com os números e os cálculos mentais e saber utilizar bem o seu pensamento.
Não satisfeito com isto, o fantástico ideólogo pôs a carroça à frente dos bois, antecipando ainda conceitos que poderiam ser bem leccionados no 2ºciclo.
Está-se a passar a ideia que o ensino está melhor, que os alunos são mais evoluidos, e que os alunos aprendem mais... a realidade é bem diferente, essa ideia é completamente errada.
Os manuais têm apontamentos salteados de várias matérias, e os alunos acabam por ouvir falar de vários assuntos, sem estar verdadeiramente à vontade em qualquer um deles. Acredito que quem não tenha conhecimento acerca do programa antigo e do novo, seja iludida acerca da mais valia deste último, mas apresentarei uma comparação esquemática, de forma a provar veementemento o oposto.
Em Conclusão:
Quem estabelece as directrizes dum programa curricular não deveria pugnar pelo respeito à criança, que é um Ser Livre, Curioso, Criativo, que têm de ter tempo para Crescer Humanamente?
O importante não será formar Seres Humanos Felizes, Honestos, Dignos e bem Formados?
Estaremos nós a acabar com o límpído sorriso das crianças, que já começam nesta tenra idade a conhecer a palavra Stress? A palavra Pressão? A frase “Falta de tempo”?
A transmitir desde a 1ª classe uma sociedade robotizada...desumanizada...descaracterizada...
É na verdade um Crime contra as gerações futuras, e com o nosso silêncio, nos predispomos a compactuar....
Afinal o que se pretende com o Ensino?
Qual o verdadeiro objectivo desta pressa em descarregar conceitos? Quem está por detrás dos bastidores deste terrível drama?
Os principais interessados (as crianças) deparam-se com um ensino enfadonho, intensivo, sem qualquer fio condutor, e desmotivam-se...
Será Justo?
Ensinar depressa ou devagar?
Li o livro e não penso que a autora passe a ideia de que a escola pública é má e a privada é boa. Qualquer pessoa que esteja de algum modo ligada ao ensino (seja como professor, seja como pai) consegue identificar-se com muito do que é dito com base dos diários de professoras e de alunas. Não é representativo mas, de qualquer modo, espelha bem o enorme disparate e até mesmo os actos criminosos que estão a ser cometidos na escola pública. Sinceramente penso que a Maria Filomena Mónica coloca o dedo na ferida: a culpa é maioritariamente de um Estado centralizador e dos 28 péssimos Ministros da Educação que tivemos desde o 25 de Abril. Isto não quer dizer que concorde com todas as posições da autora, mas considero que se trata de um testemunho sério, construído a várias vozes, que deve ser tido em conta.
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