Recentemente, o povo da Praia de Mira uniu-se para limpar os jacintos-de-água da barrinha e das lagoas vizinhas.
V.S.Naipaul, escritor de Trinidad e Tobago, no seu romance A Curva Do Rio descreve o dia-a-dia de Salim numa ex-colónia da África Central. Este último vive numa aldeia, situada na curva do rio que atravessa o país, e os jacintos-de-água, amiúde, invadem-lhe os olhos:
Vindos
do sul, de paragens que ficavam muito longe da curva do rio, passavam a todo o
momento os jacintos-de-água, negras ilhas flutuantes no escuro rio, dançando ao
sabor das águas. Era como se a chuva e o rio tivessem arrancado aquele mato ao
coração do continente e o levassem até ao oceano, que ficava a tantas milhas
dali. Mas o jacinto-de-água era fruto do rio, e não da Terra. A enorme flor
lilás tinha aparecido no rio havia apenas alguns anos, e na linguagem local não
existia qualquer palavra para a designar. As pessoas chamavam-lhe ainda «aquela
coisa nova» ou «aquela coisa nova do rio», e para eles o jacinto-de-água era
muito simplesmente mais um inimigo. Os seus ramos e folhas, muito elásticos,
formavam espessos emaranhados de vegetação que se colavam às margens do rio e
atrancavam os canais. O jacinto crescia depressa, mais depressa do que os
homens o podiam destruir com os meios que dispunham. Os canais que conduziam às
aldeias tinham de ser constantemente limpos. Mas o jacinto-de-água voltava,
vindo do sul, voltava sempre, espalhando sementes e alargando os seus
tentáculos ao sabor das águas do rio.
Esta planta invasora, símbolo das
sociedades modernas, atravessa o romance desde a nascente até ao estuário.
Para o próximo ano, o povo da
Praia de Mira tem de voltar a pôr as mãos nos jacintos-de-água.
2 comentários:
Para as populações locais os jacintos-de-água devem ser uma praga. Do que entendi do excerto, e porque "atravancam os canais", serão nefasta flor.
Talvez seja melhor ler A Curva do Rio. Ficou-me uma imagem poética acerca de uma flor lilás que nasce das águas. Desfazê-la com a realidade. É isso. Aprendemos com a história que os invasores quase sempre deixam maior mal que bem.
Mas o povo de Mira é perseverante. Há-de derrotar a planta.
Não serão as populações locais jacintos-de-água?
Os canais atravancam as plantas e há de deixou caiu a ligação.
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