"Quando há dias me deparei com a resposta do Sr. Guilherme Valente a uma crítica minha ao sr. Ministro da Educação, logo me lembrei da conversa que tive há mais de 30 anos com um dos meus alunos, em que me ele me dizia que geria com real dificuldade uma empresa editora e tipógrafa. Nela, os tipógrafos não aceitavam ordens, nem conselhos, por se julgarem sábios, já que tipografavam em várias línguas que não entendiam. Infelizmente, a empresa faliu.
Também GV pensa dominar vários saberes. Julga.se ainda capaz de classificar como ignorante qualquer um que o critique com base num qualquer texto de jornal limitado em palavras. Claro que há quem consiga passar a diversas cadeiras universitárias com base na discussão de uns artigos de jornal. Aconteceu com Miguel Relvas mas, julgo, que a GV não passaria ninguém com a mesma base. Fiquei por isso surpreso com o à vontade com que declarou urbi et orbi que eu era "ignorante em História, Filosofia, Antropologia, Educação, Literatura,... um domínio insuficiente da língua portuguesa". Trata-se na verdade só de alguém que se julga sabedor de tudo e capaz de avaliar qualquer "magala da educação". Não me admirei também que julgue como errado o que sai fora dos seus clichés ou melhor bordões críticos, como é o eduquês, palavra que importou de França.
Nós, os magalas da educação, temos sido sempre levados ao engano ao coagidos pelos generais da educação, verdadeiros criadores do eduquês, a marchar desalinhados e desordenados. Somos por isso obrigados a cumprir ordens e a obedecer a quem sabe menos do que nós. Basta recordar a "criação da componente não lectiva" por parte de Maria de Lurdes Rodrigues, para perceber como os professores foram obrigados a gastar tempo com coisas mal pensadas pela senhora e seus apoiantes. Também o discípulo de GV, Nuno Crato, descobriu que já se pode aumentar o número de alunos por turmas sem qualquer estudo pedagógico e higiénico que o suporte. Tudo faz como amigo fiel dos troikanos e em nome da redução de gastos financeiros
Felizmente, a História da Educação ensina-nos que se trata de algo recorrente, pois em 1918, António Augusto Gonçalves, professor da Escola Brotero, escreveu (1):
De mal a pior, um inquérito actual desvendaria como, nesta epopeia de 30 anos, acidentada e trágica, a ruína atinge as proporções de inevitável liquidação de falência..." E tinha acontecido por "para obstar ao desabamento começaram então as reformas sucessivas, elaboradas à toa, de mero palpite e de bambúriio, sem ciência, nem consciência."
Também agora se torna urgente determinar as culpas dos generais da Educação, já que a culpa não é de Rousseau, de Comenius, de Pestalozzi e outros, mas de quem os desconhece com atrevimento e arrogância. Nunca dos magalas.
É nesse debate que quero entrar. E só nesse."
Aires Antunes Diniz (professor)
(1) Revista Industrial, Coimbra, 1/9/1918, ano 1, n.º 9, p. 2
4 comentários:
Ó professor, agora e aqui fiquei triste. Sou professora primária, africana e venho de uma família mesmo pobre. Estou habituada a pseudonazis... Tudo o que possa insinuar não me atinge porque faço o culto da personalidade, da auto-estima, da indiferença e estou familiarizada com línguas cientificamente bífidas. Aprendi com os animais a topografar. São como são, só não sabem sorrir.
Apesar disso, gosto da sua fragilidade e dos seus óculos.
Senhor Professor Aires Diniz:
Quem é que o senhor se julga?
Deus?
É que para contestar a autoridade máxima anti-eduquêsa na Terra - o Papa Anti-Êduques Guilherme Valente - só Deus.
Por favor, remeta-se à sua insignificância de mero e humilde humano: «não vá rabecão além da chinela», diz o povo.
Guilherme Valente diz, é Lei. Cumpra-se!
Excepto na sua casa, na Gradiva, onde, depois do excepcional e pioneiro trabalho de divulgação científica que fez ao longo de décadas, mais do que o próprio Ministério da Educação, agora abriu uma nova linha de publicação «kitch» com José Rodrigues dos Santos.
Deve ser o seu contributo para recentrar a Literatura nos seus valores perenes – os clássicos – que tanto defende nos curricula oficiais do ensino.
Ou será efeito do eduquês (qual hidra de 7 cabeças) a entrar até nas editoras sérias?
Vê-se mais depressa um mosquito nos olhos alheios do que um boi nos próprios, não é?.
Sobre a qualidade da obra de literatura «light» rodriguiana, ver a excelente análise de António Araújo no blog Malomil.
Deixo-vos o link:
http://malomil.blogspot.pt/2014/01/a-direita-portuguesa-contemporanea.html?showComment=1390068723285
Fiquei mesmo baralhado. Não falei de saber de topógrafos. Só de tipógrados e tenho muito respeito por eles. Fizeram muito, e apesar das gralhas, pela Cultura.
Caro amigo
Já dei uma volta pelo texto recomendado. Mas, é demasiado grande par o ler agora. Quando tiver tempo, vou imprtimi-lo e lê-lo.
obrigado pela atenção
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