Prosseguiu o ciclo de conferência na Fundação de Serralves sobre O Estado das Coisas / As Coisas do Estado, tendo como comissário Paulo Cunha e Silva.
Luís Braga da Cruz referiu que esta Conferência deveria ser com dois ex-ministros da Educação em tempos distintos, mas como Veiga Simão foi sujeito a uma intervenção cirúrgica, e não sendo fácil a substituição, foi possível, dados os laços familiares, obter a colaboração de Manuel Braga da Cruz.
Paulo Cunha e Silva deixou a pergunta: haverá uma educação para a crise?
O moderador Manuel Carvalho afirmou que esta Conferência está a ser realizada num tempo de crise, independentemente de termos progredido muito na educação. Deixou a pergunta a ambos os oradores: se neste contexto poderemos sofrer um retrocesso, com todos os cortes que estamos a sofrer, também no sector da Educação?
Maria de Lurdes Rodrigues afirmou que sem educação não há futuro e que, em crise, o futuro é ainda mais incerto. A Educação fornece-nos elementos e recursos para ultrapassar os tempos difíceis. Claro que existem riscos acrescidos do modo como hoje estão a ser geridas a Educação e a Ciência. Desde 1974 investiu-se muito na escolaridade obrigatória. Será sempre indispensável completar a escolaridade obrigatória, contrariando o insucesso. Várias são as razões para esse insucesso, entre as quais o deficit de educação dos adultos, que não estão preparados pela escola e, portanto, para passar a escolaridade aos seus filhos. O ponto de partida em 1974 era muito baixo, mas fez-se um caminho com esforço, que tem que ser continuado. Todos os alunos podem continuar a aprender, mesmo concluída a escolaridade obrigatória. È necessário melhorar a qualificação dos adultos, incentivando-os ao contacto com as escolas, até para as conhecer melhor. Apesar do desemprego juvenil em licenciados ser um facto hoje em dia, estes são os que mais facilmente conseguirão emprego. Estudar vale a pena, dado que o retorno é sempre maior, comparativamente com quem o não faça.
Manuel Braga da Cruz, por seu lado, afirmou que a Educação é fundamental para a saída da crise. A crise deve-se ao Estado ter gasto durante décadas acima das suas possibilidades. Sendo que a crise é também de valores, e só com Educação é possível recuperar esses valores. As crises servem, também, para corrigir erros do passado. Hoje a população em vários sectores desvaloriza a Educação. Mas esta tem que ser apoiada por todos e não apenas pelo Estado. É importante responsabilizar toda a sociedade pela Educação. Há um grande desinteresse de muitos pais pela Educação dos filhos, pela escola dos filhos. A sociedade tem que sentir as escolas como suas. E precisamos de investir mais na Educação, um investimento que deve ser também da sociedade, e não só do Estado. As escolas devem gerir-se por valores e para valores, têm que ter identidade e cultura. Defendendo a liberdade do sistema educativo, que deve ir além daquele tutelado pelo Estado. O Ensino Superior, em particular, cresceu ao sabor de interesses corporativos e regionais. E fez-se uma dispersão do Ensino Superior, que, favorecendo a mobilidade, prejudicou a qualidade.
No tempo de Perguntas e Respostas, Maria de Lurdes Rodrigues esclareceu que a crise que hoje vivemos não se deveu ao aumento da despesa pública, mas antes a toda a desregulamentação financeira global. O Estado tem que gastar menos, mas tem que continuar a contribuir, via impostos dos cidadãos, para a educação.
Manuel Braga da Cruz, por seu lado, afirmou que ao criar-se a liberdade de escolha, promover-se-á também a igualdade.
Uma interessante conferência. Até na Educação, o futuro não está nada fácil.
Augusto Küttner de Magalhães
5 comentários:
Concordo plenamente. Qualquer ser sem educação converte-se numa personalidade vagabunda, num sujeito independente, animado por um sopro espiritual desviante, um sujeito vivo com existência irreal - um ser para e por aí. É fundamental participar na atmosfera espiritual da educação dotada de poderes ativos e de forças criadoras que não se esgotam em si. É preciso fazer obra, fazer ciência, fazer arte, pão nosso de cada dia, para preencher este vazio estomacal e cada um de nós aprofundar-se, cultivar seu o talento para que fique enriquecido o simulacro social.
Que todos os desprovidos augustos do mundo frutifiquem, lubrifiquem as insignificantes almas no movimento ascendente e ininterrupto das forças progressivas e construtivas do conhecimento humano.
"ao criar-se a liberdade de escolha, promover-se-á também a igualdade." continuo sem perceber como é que ao bipolarizar-se o ensino e , desse modo a sociedade, se pode falar em igualdade. Onde é suposto esses dois pólos,depois, encontrarem-se e conviverem , permitindo a ascensão social? Ou é,exactamente, para a evitar?
Enfim...
Anonimo, pena o ser ANONIMO!! E NÃO IDENTIFICADO...... e tambem não entendo...mas foi dito!!!!!
É cada vez mais necessário e aqui o CARLOS FIOLHAIS tem vindo a fazer um meritório serviço: debatermos a CULTURA, a EDUCAÇAO, a CIÊNCIA. O FUTURO!!!!!!
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