terça-feira, 3 de dezembro de 2013

UNIVERSO PROGRAMADO. Uma alternativa ao darwinismo e à religião - Nota Introdutória


Introdução ao livro "Universo Programado" de Miguel Ribeiro:

Não me lembro por que razão comprei, excepcionalmente, um exemplar da revista National Geographic (20, Nov. 2006). O que me intrigou no artigo de Carl Zimmer foi perceber que o material genético para uma inovação, tal como a cabeça, a flor ou a pena, já existia em espécies precursoras sem essas estruturas. O facto de não conseguir enquadrar esta informação naquilo que eu considerava ser o âmbito da evolução darwinista incomodou-me durante um dia ou dois, após o que se me varreu do pensamento — nessa altura a fotografia e a minha prática médica quotidiana monopolizavam os meus interesses e preocupações.

No final de 2007, decidi sequenciar fotografias a preto e branco em filmes curtos, com música. Para preencher as longas horas de digitalização dos mais de mil negativos, dediquei-me a documentários e a literatura sobre vida animal, evolução e cosmologia, e fui-me apercebendo, a pouco e pouco, da inimaginável complexidade das coisas e, em particular, da vida.

Descobrir que o universo é regido por princípios matemáticos pareceu-me inconciliável com o modelo aleatório. Em contradição com este modelo estavam, também, várias teorias baseadas no papel central da informação no universo que, na sequência do «it from bit» de J. A. Wheeler, têm vindo a ganhar aceitação crescente nos últimos anos. Na verdade, o modelo aleatório, longe de corresponder a uma necessidade intrínseca da cosmologia, teve a sua origem na extrapolação automática da evolução neodarwinista — se a vida emergiu e se desenvolveu como um fenómeno aleatório, o universo que a alberga será, também, necessariamente, aleatório.

Contudo, a emergência da vida representou uma mudança de paradigma, incompatível, portanto, com um universo que se desenvolve pelo acaso. E o padrão da evolução para a complexidade, antes ou depois da emergência da vida, manteve-se inalterado, indiferente à seleção natural. Por outro lado, o programa da célula parece estar inevitavelmente contido no «ADN-lixo», o que o coloca fora do alcance da mesma seleção natural. Para além de tudo, a evolução por mutação aleatória é matematicamente irrealizável, dada a dimensão do genoma.

Enquanto estas premissas fermentavam e insensivelmente ganhavam forma no meu pensamento, aconteceu- me ler The Goldilocks Enigma de Paul Davies — numa lista de possíveis origens do universo, a exclusão de todas elas, uma após outra devido ao postulado aleatório, produziu o repentino «clique».

Assim, considerando estas e outras premissas, avancei a hipótese de habitarmos um universo programado e lancei-me numa reflexão pessoal e numa revisão da literatura — a começar por Nicole King, W. Jeffery, e outros autores citados no referido artigo da National Geographic, subitamente reavivado — com vista a testar a suposição de que a mutação é, de facto, programada, e o acaso, em larga medida, uma ilusão. Estávamos então em inícios de 2010 e senti-me compelido a coligir as minhas ideias, originariamente com a intenção de elaborar um artigo.

A mutação programada abre portas a um universo teleológico e, especificamente na linha de pensamento aqui traçada, a um mundo de informação por oposição à religião e ao darwinismo. Apesar da possível implicação criacionista2, e em sintonia com esse mundo de informação a que conduziu o exercício racional que este livro representa, eu, que desde a adolescência sou cético e agnóstico assumido, continuo sem inclinação mística ou religiosa.

Através dos tempos, desde há longínquos milénios, todo o ser humano ter-se-á repetidamente interrogado sobre a sua origem e destino, e os do mundo que habita.

 Apesar da cultura tecnológica e do materialismo atual, cerca de 90% da população continua a procurar respostas na religião ou nalguma forma de teísmo. E porque a questão das origens tem resistido à verificação científica, a objetividade tende a dar lugar a crenças que são fruto de influências socioculturais e de uma variedade de ideias preconcebidas, nomeadamente a esperança num ser sobrenatural e protetor e num mundo melhor existente algures.

Curiosamente, a correspondência e a literatura que consultei para este livro mostraram-me que, possivelmente influenciados pela pressão de pares, os próprios cientistas não são menos suscetíveis aos preconceitos e à emotividade, no que toca a este tópico polarizado e ardente.

 Porém, embora ciente de que o assunto está para muitos encerrado à discussão, este livro apresenta a minha interpretação e os meus argumentos.

Miguel Ribeiro

1 comentário:

Ricardo Porto disse...

"material genético para uma inovação, tal como a cabeça, a flor ou a pena"
Grande pérola... se o livro for igual ao resumo do autor...
Já agora, não se esqueçam a seguir de publicitar também o livro do Luis Portela.
Ài Rerum Natura quem vos viu q quem vos vê.

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