Um jornalista da agência Lusa recolheu uma opinião minha sobre o Nobel da Física deste ano. Fica aqui o resgisto (em cima a capa do livro de Lederman e Teresi que originou o título "Partícula de Deus"):
O físico da Universidade de Coimbra Carlos Fiolhais considerou hoje que a atribuição do Nobel aos cientistas que teorizaram o Bosão de Higgs é a “melhor recompensa para a melhor resposta que surgiu a uma boa pergunta”.
“Porque é que as partículas são diferentes umas das outras, tendo umas massa e outras não?”, recordou Carlos Fiolhais sobre a pergunta-chave.
O Prémio Nobel da Física foi hoje atribuído ao belga François Englert e ao britânico Peter Higgs pelo seu trabalho sobre o Bosão de Hig
gs, uma partícula considerada elementar, anunciou o júri.
“É o triunfo do génio humano e da sua capacidade para compreender a realidade antes de a ver. A partícula foi vista pela mente antes de ser vista com os olhos. Foi vista com equações, com matemática. É o fantástico triunfo de uma previsão humana e a melhor recompensa para a melhor resposta a uma boa pergunta sobre os constituintes mais fundamentais do mundo”, disse Fiolhais à agência Lusa.
Englert e Higgs, de 80 e 84 anos, foram distinguidos pelos seus trabalhos “sobre a descoberta teórica de um mecanismo que contribui para a compreensão da origem da massa das partículas subatómicas, que foi recentemente confirmada”, disse hoje o comité Nobel, em comunicado.
Carlos Fiolhais recordou que foi preciso esperar 50 anos para se ver o Bosão de Higgs, já que o gigantesco acelerador de partículas do Centro Europeu de Investigação Nuclear (CERN) demorou anos a desenvolver e envolveu milhares de pessoas.
“É o maior esforço científico internacional de sempre, no qual Portugal também entra”, disse Carlos Fiolhais. O Bosão de Higgs foi observado por duas equipas que envolvem mais de 3.000 pessoas de todo o mundo.
Doutorado em Física Teórica, Carlos Fiolhais explicou que esta teoria surgiu em artigos independentes de vários físicos e salientou a importância da matemática para a teoria proposta.
“Vale a pena acreditar na mente humana no sentido de ser muitas vezes real aquilo que consegue criar com a ajuda imprescindível da matemática. O que eles fizeram foi, no fundo, antecipar através da matemática a constituição e funcionamento do nosso Mundo”, concluiu.
O mecanismo Brout-Englert-Higgs foi proposto pela primeira vez em 1964 em dois artigos independentes, publicados o primeiro pelos físicos belgas Robert Brout e François Englert, e o segundo pelo britânico Peter Higgs. Brout, porém, faleceu há dois anos.
Este mecanismo, explicou Carlos Fiolhais, confere massa às partículas fundamentais: “Sem o Higgs as partículas não teriam massa e andariam todas à velocidade da luz. Não estaríamos aqui.”
O “campo de Higgs” de que o bosão de Higgs é um bloco, explicou Carlos Fiolhais, enche todo o espaço atravessado por todas as partículas. E é um campo indispensável porque sem ele as partículas não teriam massa e, portanto, não poderia haver nem estrelas, nem planetas, nem vida. Nem seres humanos que colocam e respondem a perguntas.”
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