Centro-me no slogan e, de imediato, penso que talvez seja bem conseguido: três pequenas palavras dão a entender que uma entidade tão importante, como o Estado de um país, preocupa-se com cada um dos seus cidadãos. Reconforta.
Entende-se que é com todos os cidadãos que o Estado se preocupa, mas, destaca-se que é (só) "comigo", que o Estado se preocupa. Reconforta mais ainda.
O cidadão sente-se no centro de alguma coisa: é a "mim" e parece que "só a mim" que o Estado se dirige. E, depois (ou antes) há a palavra "mais": o Estado faz "mais" por "mim". Não se sabe o quê, mas faz, e o que faz não é menos; é mais! Reconforta absolutamente.
"Embalado" neste raciocínio, pode o cidadão descansar adormecer ou... estremecer
Estremecerá (eu estremeci) se perguntar de si para si: um Estado deve dirigir-se a cada um ou a todos? Deve ser impreciso ao ponto de usar um slogan que, em rigor, nada diz? Deve prometer, ainda que imprecisamente, o que a realidade diz que não pode ou não quer cumprir?
E estremecerá ainda mais se se detiver no índice desse tal Portal.
Eu e...Reparará o leitor que esse Estado, que promete "mais por si" e "mais por mim", usando sempre a primeira pessoa do singular, para que assumamos cada tópico por referência a nós mesmos, infiltra-se, na nossa casa, no nosso emprego, na nossa educação... na nossa família, nos nossos tempos livres, no nosso dinheiro... infiltra-se na nossa privacidade...
a minha Casa
o meu Emprego
a minha Educação
os meus Impostos e Contribuições
o meu Veículo
a minha Família
a minha Segurança
a minha Cidadania
Eleições
Vida Associativa
Ambiente
Consumo
Legislação e Regulamentação
os meus Documentos
os meus Tempos-Livres
o meu Dinheiro
a minha Saúde
E isto sem que, como Estado, cumpra os deveres públicos fundamentais que lhe cabem para com todos os cidadãos.
A mistificação é uma marca dos tempos. Quanto a isso não sei o que se poder fazer.
4 comentários:
Dra. Helena Damião
Genericamente leio, com muito agrado, os seus textos aqui publicados. Hoje não resisto a agradecer-lhe o ter-nos brindado com esta mensagem (bem como com a anterior).
Regina Gouveia
Pode-se demiti-los se não cumprem com as funções, se vivem de palavras vazias, se confundem a realidade com a retórica, se, enfim, não são políticos.
Por que há-de representar a Pólis quem não a serve e foi eleito para servi-la? Não é esta a era da eficácia e da ciência? Não temos nós todos de cumprir objectivos que nem sequer delineámos, com que não concordamos? Os deles estavam definidos à partida. Falharam. RUA!
Dever público é fundamental .
a democracia refina teias de escravidão!
paulatinamente uma sombra cobre o chão
rouba o sol desta terra onde cumpro meus dias.
na subserviência de formulários inócuos
alimento o monstro por labirínticas vias
ganho comodidades funcionais. não pensar
a cada manhã, sete dias! a roupa que levar
se está frio ao sair à rua nas estúrdias
liberdades: respirar, existir ajustado
amanhã, vender-me-à ouro em fantasias.
e dir-me-à num arroubo de bondade
se almoço ou janto, ébrio de liberdade.
AJ
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