A distância que, durante séculos, a Escola manteve em relação à Sociedade tem sido, nas última décadas. questionada, esbatida e, em alguns casos, abolida. E, neste caminhar, subvertida.
A acusação de que a Escola se fecha em si mesma, que se encontra distante da Sociedade, que não prepara os sujeitos para a Sociedade, para a vida que a Sociedade requer, constituiu um dos pontos fortes dum manifesto ideológico que se fez ouvir, com toda a força, no mundo ocidental, no passar do século XIX para o XX; mas é no passar do século XX para o XXI que conseguiu conquistar os louros que reclamava.
Instalada uma promiscuidade entre as diversas instituições sociais, por via de um pensar pós-moderno - que tudo admite, justifica e aceita - e, sobretudo, de pressões neo-liberais - de grupos económicos comprometidos com o poder político, ou o contrário -, a Escola não foi capaz de manter uma certo de afastamento da Sociedade. O afastamento estratégico, não total, bem entendido, mas necessário para exercer, com serenidade, a liberdade de pensamento face ao conhecimento, que é uma das suas principais referências na Modernidade.
Não importa que a Escola e a Sociedade não andem a par, desde que a Escola ande à frente, constituindo uma referência para a Sociedade, uma fonte de inovação para a Sociedade, um ambiente protegido de preparação para a Sociedade. E isto para que a Sociedade não estagne, não regrida; antes progrida.
Infelizmente, a Escola, temendo juízos pejorativos - o insulto que é chamar-se-lhe a "torre de marfim" e a vergonha que é assumir-se como tal - e, certamente, achando razoável dar mais atenção à Sociedade, escancarou as portas, não tanto para deixar sair conhecimento para a Sociedade, mas sobretudo para deixar entrar as mais diversas e, até comezinhas, exigências da Sociedade.
Tudo o que a Sociedade não sabe, não pode ou não quer assumir remete para a Escola.
Esta dissertação ocorreu-me a propósito duma notícia que dá conta que uma Escola do nosso país - no caso uma universidade - vai acolher julgamentos reais de "qualquer tipo de caso, desde que haja as necessárias autorizações", ou seja, aqueles julgamentos que se fazem nos Tribunais. Lembro que foi uma conquista - ainda recente - da própria Justiça que os julgamentos passassem a fazer-se nesta instituição e só nela.
O protocolo entre o Conselho Superior da Magistratura, o Ministério da Justiça, o Ministério Público e o Tribunal Judicial da zona dessa universidade já foi assinado.Todos os intervenientes parecem muito satisfeitos, os jornalistas que deram conta não questionam nada.
Serão menos custos para a Justiça e, nas palavras de uma professora responsável pelo projecto, "afirma a nossa interação com a sociedade e prepara melhor os alunos e os investigadores para a vida real".
Duas boas razões para nos calarmos.
sábado, 26 de outubro de 2013
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