quinta-feira, 11 de julho de 2013

Impostos e injustiça

O leitor nunca se perguntou por que razão a legislação tributária é tão, tão complexa, que quem paga tudo isso -- nós -- não conhecemos os seus meandros? Nunca se perguntou por que razão só quem tem tanto dinheiro que pode pagar a um contabilista profissional consegue usar todos buracos legais para pagar menos impostos? Nunca se perguntou como é possível permitir que um país democrático, supostamente feito a pensar na justiça, use o que mais importa à generalidade da população, que é o seu dinheiro, para fazer o que interessa sabe-se lá a quem mas não à população? Pois é. E que tal se a legislação tributária fosse simples e transparente, e sem as mil excepções, que permitem quem mais ganha pagar menos? Sabe o que aconteceria? No nosso país, não sei; mas nos EUA, onde a pressão dos impostos é muitíssimo menor, a simplificação e o fim das excepções labirínticas significa isto: arrecadando o estado a mesma tributação, as pessoas comuns pagariam menos 44% de impostos. Em Portugal, os números devem ser bastante superiores. Mas, enfim, não sonhemos com um país tributariamente justo, até porque quem mexe nessas leis é precisamente quem tudo tem a ganhar com o labirinto das excepções opacas ao cidadão comum. Mas leia-se este artigo, para fazer pensar.

18 comentários:

João Pires da Cruz disse...

Concordo com tudo, Desidério, menos com a conclusão. A história mostra que os impostos nunca chegaram para manter a república portuguesa. Nunca. E estamos a falar de amplitudes no montante de impostos cobrados que correm ordens de grandeza.

E depois, há sempre a máxima, se fossem justos não eram impostos...

José Batista disse...

Caro Desidério. As perguntas, essas ou outras parecidas, suponho que já as fiz muitas vezes. Solução para o problema é que eu não vislumbro nem conheço ninguém, morto ou vivo, que se tenha dela aproximado.
Mas com o que eu concordo acima de tudo é com a conclusão que extrai.
Até me faz lembrar um esperto que, tendo poder, "dividia" com um bem intencionado uma certa quantia, contando: nota a ti, nota a mim e a mim nota; a mim nota, nota a ti, nota a mim e mim nota, etc.
De tal forma que o povo não só elege para as organizações de poder, por exemplo autarquias, indivíduos que roubam descaradamente, como ainda diz por graça que "quem parte e reparte e para si não guarda a maior parte ou é burro ou não tem arte".
E é isto.
E é isto que eu acreditei que a escola pudesse burilar, pelo menos um bocadinho. Mas, hoje, até os diplomas são dados a esmo, de modo fraudulento, a indivíduos que se gabam de os obter, como se fora um direito fundamental.
Donde, cada vez sei menos.

Ildefonso Dias disse...

Deixo umas citações do Professor Bento de Jesus Caraça.
Elas são uma perfeita antítese daquilo que nos deixam aqui os senhores Professores Desidério Murcho, José Baptista e João Pires da Cruz. São para estes professores uma boa lição. Assim espero.




“O que o mundo for amanhã, é o esforço de todos nós que o determinará”

“O homem desiludido e pessimista é um ser inerte, sujeito a todas as renúncias, a todas as derrotas – e derrotas só existem aquelas que se aceitam.”

“[…]
Os espíritos moços, como sempre, viviam os acontecimentos com intensidade, despertavam para as preocupações mais fundas, auscultavam o futuro cheios de optimismo, uniam-se para pensar. Foi desse ambiente que nasceu a União Cultural «Mocidade Livre».
O futuro imediato não correspondeu às aspirações e impaciências desses espíritos juvenis e ardentes. O desenvolver da vida social europeia seguiu por caminhos que haviam de provocar a revisão de muitos optimismos fáceis e, em contrapartida, fazer abrir muitos olhos para realidades cruéis, em suma, proporcionar grandes lições.
Tudo isso fez que se amortecessem alguns entusiasmos das primeiras horas. Que importa? É essencial que tenham existido! Mas foram mais algumas ilusões perdidas, dir-se-á. Não. As ilusões nunca são perdidas. Elas significam o que há de melhor na vida dos homens e dos povos. Perdidos são os cépticos que escondem sob uma ironia fácil a sua impotência para compreender e agir; perdidos são aqueles períodos da história em que os melhores, gastos e cansados, se retiram da luta, sem enxergarem no horizonte nada a que se entreguem, caída uma sombra uniforme sobre o pântano estéril da vida sem formas.
Benditas as ilusões, a adesão firme e total a qualquer coisa de grande, que nos ultrapassa e nos requer. Sem ilusão, nada de sublime teria sido realizado, nem a catedral de Estrasburgo, nem as sinfonias de Beethoven. Nem a obra imortal de Galileu.”

perhaps disse...

Não me parece que Bento de Jesus Caraça "desacorde".

Anónimo disse...

Ele Há Dias Que Não Tomam a Medicação.....ups
no dererum já ponderaram abrir uma secção de psiquiatria? há mercado :)

Ildefonso Dias disse...

Caríssima perhaps;

Porque hesita naquilo que acabou de escrever! Ou, o que é que desconhece, que não lhe permite ajuizar com segurança os pensamentos explícitos?

Se o disser, talvez alguém aqui no DRN lhe possa ser útil.

Mas eu creio que - e na justa medida das suas [perhaps] necessidades - não será tarefa fácil.

Cordialmente

Ildefonso Dias disse...

"(...) uma grande parte da extraordinária vitalidade de Sebastião e Silva foi consumida, sob a forma de desgaste psíquico e nervoso, em permanente luta contra o meio, na superação dos embates que a sua estatura de gigante suscitava na modorra do meio cainho onde lhe era imperativo viver.

Nunca me esquecerei de que, visitando-o uma vez durante o inverno de 1949/50, no seu apartamento da Rua do Século onde o retinha uma gripe, lhe ouvi dizer, apontando para um frasco de comprimidos que tinha à mão: estes não são para a gripe, são para eu dormir melhor e sossegar os nervos afectados pelo mal-estar em que vivo, permanentemente, no ambiente em que trabalho.

O matemático português que já então honrara Portugal no Mundo com a criação da sua teoria dos funcionais analíticos, ali estava, aos 35 anos, a engolir comprimidos tranquilizantes que lhe proporcionassem condições de resistência à agressiva hostilidade do meio em que o destino geograficamente o mergulhara."

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

No DRN ? directorado regional norte?

o camarada komissar deve ter dias muito nublosos neste verão quente

o bento de jesus só sobreviveu economicamente graças às máfias republicanas da 1ª república e das suas editoras, prelos e loggias ass sucia das

Porque hesita naquilo que acabou de escrever! merecia mais um ponto de interrogação

pois de cabrões paternalistas que se admiram com os erros ou indecisões de outros
está a história cheia

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

ou seja era um neurótico e um drogado....

ao menos não era um cocainómano né mano.....lavaste o aventale?

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

o buril é instrumento do operariado

não manches a pureza ardente

com o bafo da escura voz

já te arreformaste ó burilador de cegos

senão conde condandeiro?

enfronhado em cavaleiro?

João Pires da Cruz disse...

Caro Ildefonso,

Deixe-me dizer-lhe, primeiro, que não sou professor, nem barão, pelo que não carece de título. Depois que em nada daquilo que escrevi foi minha intenção passar pessimismo ou desilusão. E há maior sonho que a sociedade livre, sem imposições?

Ildefonso Dias disse...

Caro João Pires da Cruz,

Que ninguém sonhe em viver numa sociedade com direitos e sem deveres.

Mas que não se apregoe o fatalismo em história. Isso é que não. E é contra isso que se deve lutar, e a escrita é importantíssima.
Compreenda estas palavras de Bento de Jesus Caraça e ponha-as nos seus escritos.



“Não há fatalidade em história. O que acontecerá... é sempre determinado pelo jogo dos elementos em presença. Em cada momento, o homem age sobre o meio que o cerca e o meio age sobre o homem – o que sai dessa acção reciproca é o que ela determinar e não o que, em obediência a um escuro misticismo fatalista, se considera como aquilo que tem de ser. Aquilo que tem de ser não é ainda, e, como tal, pode vir a não ser. Quanto muito, pode falar-se duma tendência do movimento de marcha, mas essa tendência não tem aqui maior âmbito e valor do que tem o principio da inércia nos movimentos reais do mundo físico – é preciso, a cada momento, vencer a resistência das forcas de atrito para que o movimento perdure. Não, o fatalismo em história não é mais do que um reles biombo de papel atrás do qual se abrigam, julgam abrigar-se, os ineptos e os preguiçosos.”

perhaps disse...

Eh lá, Ildefonso! Bento de Jesus Caraça seria um sábio invulgar mas chamar preguiçosos aos fatalistas é não os conhecer. Fatalismo não é inanição. E há fatalistas muito activos.

Tem razão, em história não há fatalidade. Mas, individualmente, não estaria tão certa dos resultados da acção, da vontade e dessa treta toda que acompanha e se diz que define o homem há que séculos; e talvez defina, sobretudo porque “o homem” não existe. Mas a história não é do singular, andemos pois.

perhaps disse...

Oh! peço desculpa, não foi uma hesitação. Mais uma forma de dizer que discordo. E cada um, desde que não seja ofensivo (diz por aqui), pode tomar a que lhe aprouver para discordar. Ou concordar. Ou.
Digamos que o Rerum Natura se enquadra mais nos meus tempos livres. Não é abrasivo e tão pouco o necessito. Considero no entanto que tem artigos de interesse - alguns - e estando aberto a quem entra...entrei.E passarei quando quiser. Mesmo que o Ildefonso se importe. Olhe, vira a cara para o outro lado e pronto. Já não vê o girassol, que, não desfazendo, até é muito agradávelzinho. Nem lê as minhas palavras - reconheço, não têm a mesma graça - tão necessitadas de cultura e saber que todos vocês juntos não davam conta desta alma ensandecida de bravio e erva daninha.

No que respeita às minhas necessidades...ai, que são tantinhas como o Ildefonso nem calcula. Acontece que separo necessidade de tempo livre.

E. Porém. Quem sabe se ofereça os seus serviços junte uma chusma interessada.

Posto que defini os meus interesses e o consentâneo desinteresse pela hipotética e difícil tarefa que caberia não sei bem a quem, fique como estava antes de.
E não amofine.

Ildefonso Dias disse...

Caríssima perhaps;


Foi sempre uma preocupação do sábio Bento de Jesus Caraça, ao longo da sua vida, escrever de forma a chegar às inteligências médias.


Senhora perhaps, tente ler uma vez mais o que está escrito. Pode acontecer que numa outra leitura compreenda melhor o texto.


Oxalá a senhora perhaps consiga ultrapassar a dificuldade que tem. São os meus votos mais sinceros.


Cordialmente,

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Considerar um padrão tributário "comum" trata-se de pouco empreendimento.

O professor Desiderio leciona Filosofia no Brasil, tem formação em Portugal, mas elabora exemplo norte americano.

Anónimo disse...

Boas perguntas para o Dr. João Pires da Cruz. Vá lá Dr., o que di9z a "economia pura", a ciência natural de M. Friedman et al. sobre isto?

perhaps disse...

Chamar cordialmente burrinha a uma pessoa é de morte :)

Asseguro-lhe: em função dos seus pesares face ao diminuto do meu intelecto, vou gastar o subsídio de férias que não recebi, em explicações. De interpretação de texto. Quem sabe consigo chegar à hermenêutica. Termo que, é claro, utilizo a tacto, desconhecendo a profundíssima do seu significado. Mas, pela fonia, deve ser altamente.
Hummm...pelo sim pelo não, nos tempos livres - cujos me são necessários ainda que tal não passe necessariamente pelo Rerum Natura - vou talvez ler umas coisas, uns livritos de histórias; quem sabe o príncipe com orelhas de burro, a gata borralheira que também só tem gente palerma - à parte os bichos, que, efectivamente me parecem benzinho - . Começar com seres muito diferentes de nós, pega mal.

Lá para o fim da vida tenho esperança de chegar perto de Bento de Jesus Caraça. Em leitura, quero dizer. Ou talvez nunca consiga e leve a desdita até à eternidade. Mas nesse eterno penso depois. Por ser eterno.

E que os dias de calor nos protejam. À sombra.

PS: abstraia do significado, imagine que não é preciso tê-lo. Perhaps é uma palavra tão exoticamente bonita

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