quarta-feira, 3 de julho de 2013

Greve

 


Nas últimas semanas, muitas foram as reflexões políticas sobre a Greve. A direita radical vê-a de soslaio, e até questiona o direito à sua existência. Os neoliberalistas e os socialistas discutem, entre si, a percentagem de adesão. Por fim, os radicais de esquerda fazem, dela, uma das suas bandeiras. 

É sabido que Trotski e Estaline romperam por causa das suas desavenças e dissensões em relação aos sindicatos. Trotski queria que eles fossem armados, de modo a manter a revolução permanente, facto que Estaline não aceitava; para Estaline o poder tinha que estar, por inteiro, na famosa Troika. Um outro ponto, que os afastava, era a expropriação de terras nacionalizadas. Trotski não via uma União Soviética, mas uma Rússia Grande. A luta do judeu Trotski, conhecido por estratega de Lenine, acabou da pior forma, para ele.
Eu não penso, de forma alguma, na hipótese de armar os sindicatos. Todavia, eles e as Greves são necessárias nesta sociedade, cada vez mais instável e corrupta, em que vivemos.

Os acontecimentos das últimas semanas levaram-me a Os Thibault de Roger Martin du Gard, e ao discurso inflamado de Jacques:

«A sala, suspensa, quis aplaudir. Mas Jacques não lhe deu tempo:

- A greve é o único acto que ainda nos pode salvar a todos! Pensai nisto! A um simples apelo lançado por nossos chefes, no mesmo dia, à mesma hora, em toda a parte ao mesmo tempo, a vida do país pode parar de repente!...Uma ordem de greve e num instante todas as fábricas, todas as lojas, todas as administrações se esvaziam! O pão, a carne, o leite são racionados pelo comité de greve! Nada de água, nada de gás, nada de electricidade! Nada de trens, nada de eléctricos, nada de táxis! Nada de cartas, nem jornais! Nada de telefone, nem de telégrafo! A paragem brutal de todas as engrenagens sociais! Nas ruas, uma multidão errante, tomada de angústia! Nem motins, nem tumultos: o silêncio e o medo!...O que poderia, o governo, contra isto? Como, com a sua polícia e seus poucos milhares de voluntários, poderia enfrentar esse assalto? Como improvisaria armazenamentos? Como distribuiria víveres à população? Incapaz até de alimentar seus soldados e seus regimentos, premido pelo pânico daqueles mesmos que apoiavam a sua política nacionalista, que recurso lhe restaria senão capitular?....Quantos dias…- não, digo mal, quantas horas poderia lutar contra esse bloqueio, contra a paralisação total de toda a vida pública? E, diante de semelhante manifestação da vontade das massas, que homens de Estado se atreveriam ainda a encarar a eventualidade de uma guerra? Qual o governo que se arriscaria a distribuir fuzis, munição, a um povo em rebelião?
(…)

- A hora é grave, mas tudo depende ainda de nós! O instrumento de que dispomos é tão terrível que creio até que não teríamos necessidade de utilizá-lo! A simples ameaça de greve, se o governo tivesse a certeza de que a unanimidade dos trabalhadores a ela recorreria, bastaria para mudar, da noite para o dia, a orientação de uma política, que nos leva para o abismo!...Nosso dever, meus amigos? É simples e é claro! Um único objectivo: a paz! União acima de todas as lutas partidárias! União na resistência! União na recusa! Agrupemo-nos em torno dos chefes da Internacional! Exijamos deles que se mantenham em actividade para organizar a greve e preparar esse grande assalto das forças proletárias, do qual depende a sorte do país e da Europa!»

Se o actual governo e o senhor Cavaco Silva lessem mais e ouvissem mais o povo, o meu país, hoje, estaria numa posição mais cómoda da que se encontra. Caminhamos para um segundo resgate e os ratos já começam a saltar do barco.

10 comentários:

Anónimo disse...

Para dizer a verdade, eu não gosto muito de greves. Costumam ser ajuntamentos de gente com pouca educação que dizem palavrões frequentemente impróprios para os ouvidos de uma senhora. E cartazes!! Há dias li uma palavra num que nem me atrevo a repetir aqui porque sou educada. Gosto de gente com educação coisa pouco frequente entre assalariados (que constituem a maioria dos grevistas, suponho)). Gosto de gente fina.

MM disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
MM disse...

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Um clister tb pode ajudar a sua condição.

As melhoras

Unknown disse...

Sr. Miguel Pessoa,

"Se o actual governo e o senhor Cavaco Silva lessem mais e ouvissem mais o povo, o meu país, hoje, estaria numa posição mais cómoda da que se encontra."

Diz isto como se fosse uma auto-evidência, que obviamente não é. Já agora diga lá o que é que o povo diz, enfim qual é a tal "sabedoria popular", a que o governo (ou o Sr. Cavaco Silva, que nem sei por que o chamou para a conversa) é alheio.

E, já agora, o que é que as greves tem a ver com o assunto (qual é o seu problema com as greves?).

E a que propósito do que diz: "Eu não penso, de forma alguma, na hipótese de armar os sindicatos. Todavia, eles e as Greves são necessárias nesta sociedade, cada vez mais instável e corrupta, em que vivemos.", será que se dá conta que estamos em 2013. Nesta altura, já não existem revoluções Marxistas-Leninistas, essas ocorreram tipicamente há mais de 60 anos e os regimes daí saídos têm vindo a colapsar ao longo do tempo (por elevado desajuste com a realidade) e com a excepção dos chineses, hoje em dia já ninguém leva essas coisas a sério (nem mesmo os chineses), mesmo os mais enquistados dos saudosistas, já se deram conta que isso não faz qualquer sentido.

Rui Baptista disse...

Só me espanta ainda poder haver saudosistas a exaltarem as virtudes do comunismo numa altura em que ele colapsou em todo o mundo com excepção da Coreia do Norte. Será o povo do mundo, que deixou de acreditar no comunismo, masoquista?

Ildefonso Dias disse...

Professor Rui Baptista;

Uma frase da conferencia -As Universidades Populares e a Cultura- do Professor Bento de Jesus Caraça, que o senhor publicou aqui no DRN, vou buscar a seguinte frase: "O coração do homem é grande e nele cabe bem o amor da sua nacionalidade ao lado do amor de toda a humanidade." Grande verdade.
Mas o problema são sempre os «ismos», são eles o problema e o entrave à formação dessa grande pátria - a humana. Não concorda?

Cumprimentos Cordiais,

Rui Baptista disse...

Engenheiro Ildefonso Dias: Claro que concordo consigo. Dos "ismos" (v.g., comunismo, nazismo, fascismo) ressalvo o Humanismo. Um Humanismo que constatei em dois comunistas. Um deles, homem de leis, de que fui amigo pessoal. Outro, que conheci de perto, que pautou a sua vida pela doação ao próximo (dando consultas médicas “pro bono” aos mais necessitados) .

Ambos defenderam, a seu modo, a justiça social e nortearam a sua vida por princípios éticos sem discriminarem o seu semelhante por convicções políticas. Por outro lado, conheci pessoas com quem me identifico politicamente (Direita Democrática) que nunca me mereceram a mínima consideração.

Cumprimentos cordiais,

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

contigo parece não resultar pá

és con do sul?

do sul do quê?

da Pessoa Alves Alves?

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

o jean bedel bokassa também era um grande humanista

já o idi amin gostava dos humanos com ismos ou sem desde que bem temperados

humanista que pega briga em fila de trânsito é fogo

tem um que na avenida da república humanamente eutanasiou outro menos humanista a chumbo quente

Anónimo disse...

Para falar verdade, não percebo o que diz o senhor Excelsior. Não me parece que sejam palavras próprias para dirigir a uma senhora ( nem a um homem com educação). Provavelmente o senhor é um dos tais grevistas, isto pelo palavreado. Gostei muito do que disse o Senhor Professor Carlos Fiolhais, um homem de outra estirpe. Um verdadeiro catedrático de Coimbra.
Cumprimentos. Da primeira vez esqueci-me de assinar.
Antónia Cunha

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