No "Público" de ontem, Luís Miguel Queirós escreveu um artigo sobre personalidades ligadas à Universidade de Coimbra, desde há poucos dias Património da Humanidade, para o qual fiz algumas declarações:
"A lista de personalidades da Universidade de Coimbra,
classificada património da humanidade pela UNESCO, dava um dicionário em vários
volumes.
Durante séculos, a Universidade de Coimbra (UC)
preparou, quase sem concorrência, as elites políticas, administrativas,
culturais e científicas do país. Este monopólio do ensino superior, atenuado
com as escolas politécnicas nascidas da revolução liberal, só veio a
desaparecer após a implantação da República, quando foram criadas, em 1911, as
universidades de Lisboa e Porto. Mas basta pensar na quantidade de governantes
do Estado Novo, a começar pelo próprio Salazar, que compulsaram as sebentas
coimbrãs, para se verificar que a influência da UC não abrandou com o fim da I República
e que o rol das personalidades de relevo da vida pública portuguesa que
passaram pela UC continuou (e continua) a expandir-se a bom ritmo.
Daí que o propósito deste texto - propor uma espécie
de galeria de ilustres da Universidade de Coimbra - seja bastante incompatível
com as limitações de um artigo de jornal. E não apenas pela previsível extensão
da lista, ou pela investigação necessária para se garantir que não haveria
ausências escandalosas, mas também pela complexidade dos critérios envolvidos.
Se a escolha dos nomes seria sempre controversa, a primeira questão a resolver
está a montante e pode formular-se assim: desde 1290, quando D. Dinis criou em Lisboa o Estudo Geral ,
a que exacta realidade foi correspondendo, em épocas sucessivas, a designação
Universidade de Coimbra? A resposta não é óbvia.
Ao longo da Idade Média, a Universidade andou, como se
sabe, a saltitar entre Lisboa e Coimbra. E quando D. João III a fixou
definitivamente junto ao Mondego, em 1537, estava já há 160 anos em Lisboa. Mas
pode argumentar-se que a instituição era a mesma e que o rei se limitou a
transferi-la. Ora, como essa espécie de "universidade portuguesa"
acabou por ser, e é ainda hoje, a Universidade de Coimbra, não é absurdo
propor, retrospectivamente, que a sua história integre o período lisboeta.
A aceitar-se o argumento, a lista de ilustres não
poderia dispensar nomes como o do poeta Sá de Miranda (1481-1558), que tendo
nascido em Coimbra e estudado Humanidades em Santa Cruz, cursou Leis em Lisboa,
ou o do médico, farmacólogo e botânico Garcia de Orta (1501-1568), que antes de
partir para Oriente, e de publicar o célebre Colóquio
dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia, foi professor de
Filosofia Natural em Lisboa.
Recuando ainda mais, poderíamos repescar Judá
Abravanel, dito Leão Hebreu, judeu nascido por volta de 1460, que cursou
Medicina em Lisboa antes de se envolver numa conjura contra D. João II, que o
obrigou a fugir para Espanha, e depois para Itália, onde publicou, em 1535, uns Diálogos de Amor que influenciariam Espinosa.
Século de ouro
Se pode ser discutível contabilizar a benefício de
Coimbra os períodos em que o suporte físico da instituição esteve em Lisboa, já
parece bastante legítimo assumir-se que, no século XVI, os colégios crúzios e o
Real Colégio das Artes eram parte integrante da Universidade de Coimbra. A
instalação de estudos de humanidades no mosteiro de Santa Cruz, a criação dos
referidos colégios, na Rua da Sofia, e a transferência da Universidade de
Lisboa para Coimbra são peças de uma mesma reforma.
E quase apeteceria ver como uma espécie de extensão da
universidade portuguesa o colégio parisiense de Santa Bárbara, dirigido por
Diogo de Gouveia, o Velho, que funcionou como um enclave luso na Universidade
de Paris, recebendo bolseiros portugueses, mas também alunos de outras
nacionalidades, como os fundadores da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola e S.
Francisco Xavier ,
ambos de Navarra.
Quando D. João III decidiu dotar Coimbra de um ensino
universitário de nível europeu, foi buscar um luxuoso elenco de professores
portugueses e estrangeiros. Muitos vieram do colégio de Santa Bárbara, outros
chegaram com André de Gouveia, que dirigia o colégio de Guyenne, em Bordéus, e
que o monarca convidou para organizar o seu novo Colégio das Artes.
O rei português espelhou as contradições do seu tempo.
Se o seu projecto original para a UC é influenciado pelos ideais humanistas e
laicizantes - o próprio Erasmo escreveu, em 1527, uma carta em louvor do
soberano português -, D. João III alinhará mais tarde com a ortodoxia da
contra-reforma católica, permitindo que vários professores sejam importunados
pela Inquisição e entregando o Colégio das Artes, em 1555, à Companhia de
Jesus.
Estes sobressaltos não impedem, todavia, que o século
XVI seja um período áureo da UC, que talvez nunca mais tenha voltado a dispor
de um elenco de professores com o prestígio internacional de que gozava a
generalidade dos seus mestres quinhentistas.
Para Carlos Fiolhais , professor catedrático de Física na
Universidade de Coimbra, o mais importante dos cientistas do século XVI que
passaram pela UC é um alemão: Christopher Clavius (1538-1612). "Foi o
astrónomo mais famoso do século XVI, muito mais conhecido do que Copérnico e
Galileu, que não teria sido quem foi sem o seu impulso", diz. O alemão
manteve-se fiel ao sistema de Ptolomeu, o que não favoreceu a sua glória
póstuma, mas deve-se-lhe uma reforma de consequências perenes: a introdução do
calendário gregoriano.
Entre os portugueses, Fiolhais propõe o matemático Pedro Nunes (1502-1578),
inventor do nónio e de outros instrumentos para uso náutico, cujos trabalhos
contribuíram decisivamente para o desenvolvimento da navegação e da
cartografia. Era quase certamente judeu, mas o seu prestígio junto de D. João
III era o bastante para que este lhe tenha confiado a educação dos seus irmãos
mais novos, e depois a do seu neto, e futuro rei, D. Sebastião.
"Foi professor em Lisboa, e quando a Universidade
se mudou, em 1537, veio ensinar para Coimbra", explica Fiolhais,
acrescentando que a fama do matemático se ficou a dever muito a Clavius, que
"fundou uma escola de matemática em Roma e ali propagandeou os escritos de
Pedro Nunes ".
Um dos alunos de Clavius no dito colégio romano foi
Matteo Ricci (1552-1610), um pioneiro do diálogo entre a Europa e o Oriente.
Veio a Coimbra para aprender português antes de partir para Goa, numa missão
jesuíta, e seguiu depois viagem para Macau e para a China, tendo compilado o
primeiro dicionário de Chinês-Português. O Museu do Milénio, em Pequim, só inclui
dois estrangeiros entre os "grandes da história da China": Ricci e
Marco Polo.
Parisienses vs. bordaleses
Recuando aos primeiros anos de instalação da
Universidade em Coimbra, não se pode esquecer o notável grupo de humanistas que
ali se reuniu, a começar pelo pedagogo André de Gouveia (1497-1548), que morreu
pouco depois de assumir a direcção do Colégio das Artes. O seu trabalho em
Bordéus fora tão apreciado que Montaigne o considerou "sans comparaison le plus
grand principal de France". Chegou a ser reitor da Universidade de
Paris. Quando D. João III o convida a dirigir o Colégio das Artes, o seu tio Diogo Gouveia opõe-se.
Já então se afastara do sobrinho, que acusava de luteranismo. Essa luta entre a
escola teológica de Paris e o erasmismo cultivado em Bordéus irá reflectir-se
em Coimbra, onde os professores "parisienses" se incompatibilizarão
com os "bordaleses" trazidos por André de Gouveia.
Um desses "bordaleses" é o humanista Diogo
de Teive (1514-1569), dramaturgo e autor de ensaios históricos e filosóficos,
que chegou a ser preso pela Inquisição, mas regressou depois ao ensino. Também
é certo que estudou em Coimbra o português Aquiles Estaço (1524-1581),
secretário do papa Pio V e autor de uma vasta obra em latim. E na UC se
doutorou em Cânones o grande discípulo de Sá de Miranda, António Ferreira
(1528-1569), autor da tragédia A
Castro.
Outro nome incontornável é o do dominicano e professor
de humanidades André de Resende (c.1500-1573), especialista na antiguidade
grega e romana e pioneiro da arqueologia.
Dobrada a metade do século, começa a impor-se a
influência dos jesuítas. Um dos homens que persuadiu D. João III a trazê-los
para Portugal foi o teólogo Jerónimo Osório (1506-1580), que alcançara grande
prestígio em França e que veio a ser professor de Sagrada Escritura em Coimbra.
Mas a grande figura da segunda metade do século XVI é
o filósofo jesuíta Pedro da Fonseca (1528-1599), conhecido como
"Aristóteles português". Professor do Colégio das Artes, os seus
comentários à metafísica aristotélica foram lidos por toda a Europa e
precederam o trabalho dos chamados Conimbricenses, redactores do Curso Conimbricense, que teve
sucessivas edições estrangeiras e foi lido por Descartes. "Leu, não
gostou, e se calhar foi por isso que fundou a ciência moderna", comenta,
com humor, Fiolhais.
Já na passagem para o século XVII, é ainda forçoso
lembrar o filósofo espanhol Francisco Suárez (1548-1617), que ensinou em
Coimbra a partir de 1597. Suárez foi uma figura central da chamada Segunda
Escolástica e uma autoridade em direito internacional, antecipando Grotius.
De cábula a reformador
No século XVII, marcado pelo domínio filipino e pelas
guerras da Restauração, os nomes mais óbvios são os dos professores de
Filosofia Francisco Soares (1605-1659), dito Soares Lusitano para se distinguir
do homónimo espanhol, e António
Cordeiro ( 1640-1722). Nenhum deles se afastou da tradição
aristotélica- -tomista, mas ambos acusam já a influência cartesiana.
Frei Francisco Brandão (1601-1680), cronista-mor de D.
João IV, o poeta barroco António Barbosa Bacelar (1610-1663) ou o diplomata D.
Luís da Cunha (1664-1773), cujo progressismo iluminista prenuncia Pombal, são
outras figuras seiscentistas que passaram pela UC. E pode ainda somar-se-lhes o
poeta satírico brasileiro Gregório de Matos (1636-1695), que ali se formou em
Cânones.
Dado que, muito antes de ostentar o título de marquês
de Pombal e de impor à Universidade a sua mais profunda reforma desde os tempos
de D. João III, o jovem e turbulento Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782)
ainda frequentou Direito em Coimbra, ao que parece sem grande aproveitamento,
não haverá escolha mais óbvia para abrir a lista de ilustres do século XVIII.
Na ciência, merece ser lembrado o italiano Domenico
Vandelli (1735-1816), fundador do Jardim Botânico da UC, que viria a ser
dirigido pelo grande botânico português Félix de Avelar Brotero (1744-1828),
autor de uma monumental Flora
Lusitânica.
O final de Setecentos é também um período em que
frequentam a UC muitos brasileiros e luso-brasileiros que se tornarão figuras
de relevo em diversos domínios, do poeta Tomás António de Gonzaga (1744- 1810)
ao estadista José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), patriarca da
independência, que cursou em Coimbra Direito, Matemática e Filosofia Natural.
O homem que imaginou a TV
No século XIX, não proliferam os grandes cientistas.
Devem mencionar-se, ainda assim, o matemático Francisco Gomes Teixeira
(1851-1933), catedrático de Análise Matemática em Coimbra e, mais tarde,
primeiro reitor da Universidade do Porto, e Adriano Paiva Brandão (1847-1907),
um sobredotado que, aos 20 anos, estava já formado em Matemáticas e doutorado
em Filosofia. Foi também um precursor da invenção da televisão. Acreditava ser
possível transmitir imagens animadas à distância e foi o primeiro a propor, em
1878, o uso de selénio para esse efeito.
Na área das humanidades, refiram-se Vicente Ferrer de
Neto Paiva (1798-1886), introdutor do krausismo em Portugal e referência para
sucessivas gerações de juristas, e a filóloga alemã Carolina Michaëlis
(1851-1925), primeira mulher a leccionar numa universidade portuguesa.
Pelos bancos de Coimbra passaram também muitos
políticos do liberalismo, como Mouzinho da Silveira (1780-1849), talvez o mais
importante legislador do seu tempo, ou Joaquim António de
Aguiar (1792-1884), dito Mata-Frades, três vezes chefe de Governo.
Mas o principal contingente de notáveis vem da
literatura. Ao longo de todo o século XIX, e a começar em Almeida Garrett
(1799-1854), não há quase escritor de mérito que não tenha frequentado a UC. E
alguns até exageraram, como o poeta João de Deus (1830-1896), que por lá andou
dez anos na boémia, até os seus colegas o obrigarem a concluir o curso de
Direito.
Em Coimbra estudaram os protagonistas da Questão
Coimbrã, Feliciano de Castilho (1800-1875) e Antero de Quental (1842-1891), e
também Eça de Queirós (1845-1900), que se matriculou em Direito aos 16 anos,
Guerra Junqueiro (1850-1923), o poeta mais popular da sua época, e o próprio
Cesário Verde (1855-1886), que durante alguns meses ali cursou Letras. E,
claro, António Nobre (1867-1900), que não se deu bem com a vida estudantil.
Nascido no mesmo ano que Nobre, Camilo Pessanha (1867-1926), expoente máximo do
simbolismo português, também se formou na UC antes de rumar ao Oriente. Era
natural de Coimbra e deixou ao museu Machado de Castro uma importante colecção
de arte chinesa. Já o poeta Eugénio de Castro (1869-1944) chegou mesmo a
ensinar na UC, onde se formara.
E não se poderia fechar o século XIX sem lembrar Augusto Hilário (1864-1896), autor do Fado Hilário, que morreu antes
de concluir o curso de Medicina.
Escola de presidentes
Chegados ao século XX, há que apertar critérios ou a
lista nunca mais acaba. Desde logo, excluem-se os vivos, que tendem a ser
bastante mais susceptíveis do que os mortos, e assim se poupa espaço e
sarilhos.
Começando pelos políticos da I República, refiram-se
apenas alguns dos que chegaram à presidência da dita. Teófilo Braga
(1843-1924), presidente do governo provisório que saiu do 5 de Outubro, ainda
foi por um breve período Presidente da República (PR) em substituição de Manuel
de Arriaga (1840-1917), o primeiro a ser eleito para o cargo. Ambos estudaram
Direito e conciliaram a política com uma apreciável obra literária. Já
Bernardino Machado, que foi duas vezes presidente, cursou Matemática e Letras e
ensinou na UC. António
José de Almeida (1866-1929), o sexto PR, formou-se em
Medicina, e Sidónio Pais (1872-1918), o "presidente-rei", como lhe
chamou Pessoa, era matemático e ensinou Cálculo Diferencial e Integral.
Se este foi um período em que os presidentes da
República falavam em português escorreito e escreviam com desembaraço, o
sucessor de António
José de Almeida , Manuel Teixeira Gomes (1860-1941), autor de Novelas Eróticas, foi, ainda
assim, um caso excepcional de talento literário.
Saltando para o Estado Novo, a primeira geração de
dirigentes formou-se quase toda em Coimbra. A representar o regime, refiram-se
duas figuras-chave: o próprio António de Oliveira Salazar (1889-1970), que se
formou em Direito na UC
e ali veio a ser professor catedrático de Economia Política e Finanças, e o seu
amigo Manuel Gonçalves
Cerejeira (1888-1977), cardeal patriaca de Lisboa, que também estudou e ensinou
na UC. A Universidade pode ainda congratular-se por ter formado (em Direito) o
diplomata que não hesitou em desobedecer a Salazar para salvar milhares de
judeus, o hoje mundialmente célebre Aristides de Sousa Mendes ( 1885-1954).
O assistente de Mme. Curie
Dos cientistas do século passado que estudaram e
ensinaram em Coimbra, o mais conhecido é Egas Moniz (1874-1955), Nobel da
Medicina em 1949, que ensinou em Coimbra antes de se mudar, em 1911, para a
recém-criada Universidade de Lisboa.
Também médica, além de poetisa, professora e política,
Domitila de Carvalho (1871-1966) tornou-se, em 1891, a primeira mulher a ser
admitida na Universidade de Coimbra. Para a deixar passear-se nos varonis
corredores das instituição, o reitor impôs uma condição: que vestisse sempre de
preto e usasse chapéus discretos.
Na matemática, Carlos Fiolhais lembra
Aureliano de Mira Fernandes (1884-1958), que "introduziu a teoria quântica
em
Portugal". Outro matemático formado em Coimbra, Ruy Luís
Gomes (1905-1984), foi um destacado lutador antifascista. O regime expulsou-o
do ensino, mas após o 25 de Abril de 1974 regressou e tornou-se reitor da
Universidade do Porto. Outros cientistas foram afastados da universidade
durante a ditadura, como o brilhante Mário Augusto
Silva (1901-1977), que foi assistente em Paris de Marie Curie
e que, regressado ao país e perseguido pelo regime, chegou a vender vinhos para
sobreviver.
Lembrem-se ainda Aurélio Quintanilha (1892-1987),
professor de Botânica Médica, cujos trabalhos em torno da biologia dos fungos e
da cultura do algodoeiro lhe granjearam renome internacional, e o grande
renovador da geografia em Portugal, Orlando Ribeiro (1911-1997), autor de Portugal, o Mediterrâneo e o
Atlântico.
Na historiografia, citem-se Jaime Cortesão
(1884-1960), grande historiador dos Descobrimentos, que se formou em Medicina na UC , e o
organizador da monumental História
de Portugal dita de Barcelos, Damião de Barros (1889-1976).
Joaquim de Carvalho (1892-1958), professor de
Filosofia na UC e mestre de Eduardo Lourenço, Paulo Quintela (1905-1987),
docente de Filologia Germânica e grande tradutor de Rilke e de outros poetas
alemães, o linguista Rebelo Gonçalves (1907-1982), autor do Vocabulário da Língua Portuguesa,
e o recém-falecido linguista e historiador da literatura Óscar Lopes
(1917-2003), que se formou em Histórico-Filosóficas
em Coimbra , são outros nomes óbvios nas Letras.
Duas excepções
Como no século XIX, a selecção mais complexa é a dos
escritores. Seguem os nomes de alguns que, pela sua qualidade, pela sua
notoriedade, ou por ambas, não destoarão nesta lista: Teixeira de Pascoaes
(1877-1952), fundador da Renascença Portuguesa; o poeta Afonso Duarte
(1884-1958), formado em Ciências Físico-Naturais; Mário de Sá-Carneiro
(1890-1916), que ainda frequentou o 1.º ano de Direito antes de transferir o
seu desespero para Paris, onde sempre se podia ter "um fim mais
raffiné"; o injustamente esquecido António de Sousa
(1898-1981), poeta portuense de origens açorianas que se perdeu por Coimbra e
que é o autor dos célebres versos "Do Choupal até à Lapa/ foi Coimbra os
meus amores"; Vitorino Nemésio (1901-1978), outro açoriano, foi professor
em Lisboa durante quase toda a vida, mas ficou de tal modo preso a Coimbra que
ali quis ser enterrado; José Régio (1901-1969), fundador da Presença, licenciou-se em
Filologia Românica, em 1925, com uma tese que valorizava dois autores então
nada reconhecidos: Fernando
Pessoa e Sá-Carneiro; Tomaz de Figueiredo (1902-1970), cuja
passagem por Coimbra lhe deu material para o notável romanceNó Cego;
Miguel Torga (1907-1995), pseudónimo do médico Adolfo Rocha, que publicou o
primeiro livro de poemas,Ansiedade, no mesmo ano (1928) em que se
matriculou na UC; Vergílio Ferreira (1916-1996), que ali se formou em Filologia
Clássica; Fernando Namora (1919-1989), cujos livros foram muito populares no
pós 25-de Abril; o original prosador de A
Torre da Barbela, Ruben A. (1920-1975); o poeta e ficcionista Carlos de
Oliveira (1921-1981), nome cimeiro do neo-realismo; Ruy Belo (1933-1978), que
iniciou os seus estudos de Direito na UC; Fernando Assis Pacheco, natural de
Coimbra, que ali se formou em Filologia Germânica, e sem excessivo entusiasmo:
"(...) eu estava farto daqueles alimões quaisqueres/ ilustres por coisa
nadíssima nas antologias"; ou ainda o poeta Manuel António Pina
(1943-2012), prémio Camões em 2011, que era formado em Direito por Coimbra.
E feche-se esta nada canónica galeria de ilustres com
José Afonso (1928-1987) e Adriano Correia de Oliveira (1942-1982), em
representação da riquíssima tradição musical associada à UC.
Ou talvez não se feche ainda. Rompendo a promessa
inicial de ignorar os vivos, há dois de que esta lista não lhe apetece, afinal
prescindir. Mas os méritos de ambos são tão consensuais que a excepção à regra
não escandalizará ninguém. O primeiro é o filósofo e ensaísta Eduardo Lourenço,
que se licenciou em Histórico-Filosóficas, em 1946, e foi depois assistente de
Joaquim de Carvalho. Antes de partir para França, onde conciliaria o ensino com
a criação de uma das mais singulares obras do pensamento português
contemporâneo, ainda publicou em Coimbra o seu livro de estreia: Heterodoxia. A segunda é a
grande classicista Maria Helena da Rocha Pereira, incansável tradutora e
comentadora de autores gregos e romanos, e professora, durante décadas, da
Universidade de Coimbra, onde foi catedrática de Literatura Grega."
Luís Miguel Queirós
3 comentários:
ide ver se o Luís antoino verney andou lá...
e isso só prá lista de egas monizes que nunca cursaram o observatório do risco ao meio da lusa de ténis....
ou ténias uma dessas
só saem sara magoos
A Eduardo Lourenço e a Maria Helena da rocha Pereira todos nós devemos alguma coisa que não é pouco.
Para eles o meu obrigada sincero. Precisamos portugueses contemporâneos de valor e não vaidosos, trabalhadores esforçados e honestos. Que coloquem a sua inteligência a uso, como bem comum. Julgo que lhes devemos ao menos a delicadeza de os lembrar.
Um obrigada a quem não os deixou de lado:)
Ao Marques de Pombal devemos a destruição do ensino básico em Portugal e o atraso que ainda hoje não recuperamos em relação ao resto da Europa.
xyz
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