segunda-feira, 1 de julho de 2013

Da toxicidade dos swaps(I)

Quando ouço falar em contratos "tóxicos" vem-me sempre à ideia aqueles actos de fé em que um bando de ignorantes que falava alto condenava alguém por "bruxaria" só porque não compreendia o que se passava. Por isso, vamos começar por estabelecer, a bem da compreensão, que não existe tal coisa, só existem contratos que não entendemos. Adicionalmente, face às inúmeras explicações que foram sendo dadas desde que alguém embirrou com os swaps feitos por empresas públicas, vou pedir que esqueçam aquilo que ouviram, até porque parte do que ouviram era realmente muito mau.   Isto para que possam ler a minha explicação e compreenderem os motivos da minha preocupação.

Toda a economia é feita de trocas. O economista teórico Lionel Robbins enfatizava a ideia dizendo que o maná divino com que a fuga judaica do Egipto foi alimentada teria grande valor, mas não representava economia porque era dado a partir do nada. Em cada ligação económica existe uma troca de "valores" (acho que podemos aceitar o termo sem fazer mais duas páginas de explicações). A passa um valor a B e B passa outro valor a A que, obviamente, não são iguais senão não era uma troca. Por exemplo, num empréstimo A passa dinheiro presente a B e B passa dinheiro futuro a A. Outro exemplo, A passa dinheiro presente a B e B passa trabalho passado a A na forma de uma maçã.

Este tipo de ligação económica é aquela em que pensamos quando pensamos em economia. Tem uma característica escondida que é a de nenhum dos intervenientes pensar em desfazer a transacção. A não pensa em devolver a maçã depois de a comprar tal como B não pensa desfazer o empréstimo à partida. Existem, no entanto, transacções que são contratadas logo com a intenção de serem desfeitas no futuro, vendas que faço e pensar comprar mais tarde. No jargão financeiro esta descrição direcciona-nos para instrumentos chamados "repos" (de "repurchasing") mas há toda uma classe de instrumentos que funciona desta maneira: os swaps. Porque é que eu faria tal coisa? Imaginem que emprestei dinheiro ao Zé e, passados uns dias, preciso de dinheiro para emprestar à Maria por 10 dias porque a Maria até paga um juro porreiro. Então vou ter com o Miguel e vendo-lhe o empréstimo que fiz ao Zé com o compromisso de voltar a comprar daqui a 10 dias. Em contrapartida o Miguel empresta-me dinheiro e eu empresto à Maria. O Miguel fica com o juro que o Zé paga e eu com o juro que a Maria paga. Passados 10 dias, a Maria paga-me, eu pago ao Miguel e volto a ficar com o empréstimo que fiz ao Zé. Todos ganhámos na história.

Eu fiz negócio com o Miguel porque precisava de dinheiro. Mas poderia ser por milhares de outras razões, porque tenho euros e precisava de dólares, porque tenho taxa variável e preciso taxa fixa, porque tenho risco de crédito de Portugal e preciso ter dos USA, ou porque tenho um swap e precisava de outro swap (e faço um swap de swaps). Resumindo, porque tenho uma coisa que quero e preciso de outra durante um período limitado no tempo. Por exemplo, se tenho um empréstimo indexado à euribor e o meu negócio é petróleo, se calhar vendo a prazo o empréstimo à euribor e compro um indexado ao crude. E, claro, como tudo na vida que alguém precisa, aparece sempre alguém que os faz porque quer especular com isso, como especula com maçãs.

Isto para dizer que fazer swaps deveria ser a coisa mais natural deste mundo, principalmente para empresas da dimensão das empresas públicas portuguesas. Mas se forem falar com donas de casa brasileiras que tenham passado pelo tempo da inflacção a 300% levam um "baile di swapi, né!?". Pelo que a primeira toxicidade que vejo em toda esta telenovela mexicana dos swaps é a percepção da ignorância  nos vários níveis de poder envolvidos. A segunda, é que, a continuar a telenovela, nunca mais ninguém vai fazer um swap numa empresa pública o que, como devem perceber, é tão mau como andar a especular porque estou a especular com os riscos que já tenho e não cobri. E só isto é suficiente para me trazer a este tema.

Por isso, seria conveniente que os vários responsáveis envolvidos trouxessem a público os detalhes dos swaps que foram feitos. Primeiro porque ameniza o triste espectáculo que estão a dar, depois porque dá para que os seus patrões (nós) possamos entender se estão bem ou mal feitos, independentemente da forma como estão a consolidar na conta do estado. E é por este detalhe que o título tem um (I), porque já lá vamos a este "pequenino detalhe" que não está a bater nada certo...

3 comentários:

Anónimo disse...

O que interessava era saber como estavam e como ficaram, do ponto de vista económico-financeiro, aqueles que assinaram os swaps. Ora isso jamais se saberá, entre outras razões porque existem milhares de "ecomunistas" ávidos de nos dar extensas e incompreensíveis lições "técnicas" sobre o assunto. O crime é um assunto para a Justiça^, não para a dita "ciência" económica.

João Pires da Cruz disse...

Será? Eu não sei e não queimava bruxas com aquilo que sei

Anónimo disse...

Nem eu João, nem eu, mas lá que muitas vão arder, lá isso vão...

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...