sábado, 13 de julho de 2013

Demokratia

"Portugal's political crisis has taken a turn for the worst thanks to it's own President"
Reuters - 2012/07/11

A democracia é a solução óptima encontrada pelo desenvolvimento humano para a organização política das sociedade. As sociedades assim organizadas dominaram as outras porque são mais seguras do ponto de vista económico. É um facto bem conhecido que a único mitigante de risco efectivo é a diversificação e um regime que se organiza em função da diversificação e da pulverização das opiniões está muito mais protegido dos imponderáveis que um em que exista uma "unanimidade".  Desta forma, as democracias são entidades económicas muito mais eficientes e, daí, o seu sucesso na sociedade humana.

Como unanimidades não existem entre seres humanos, são unanimidades prácticas, isto é privam-se as pessoas de fazerem valer a sua opinião na prática. Ou com formas mais radicais em que existe a proibição de emitir uma opinião, ou, caso mais comum, todo o processo de decisão é cumprIdo mas sem consequências, como acontece em inúmeros países com eleições "controladas". Assim, economicamente, é fundamental que a opinião de cada um, por mais absurda que possa parecer ou menos informada seja, seja colocada como parte da decisão colectiva. A história está repleta de déspotas iluminados que arrastam países remediados para países paupérrimos.

Isto tudo vem na sequência deste post que fiz antes da abertura dos mercados e depois do discurso de Cavaco Silva. A resposta dos mercados ( recordava as pessoas que os mercados somos nós) não podia ser mais clara. Depois de uma incompreensão inicial devido à pouca clareza do discurso,  a perspectiva dos mercados face a Portugal tornou-se bem pior que a pior perspectiva da semana anterior. Não porque o estado português se torne de repente um estado rebelde que deixa de pagar a dívida porque lhe apetece, mas porque economicamente o país tem hoje menos valor hoje que tinha na passada quarta-feira à tarde. 

Porquê? A minha explicacao é que a democracia portuguesa tem uma falha na colocação da opinião de cada um nas decisões do colectivo. Essa falha está na possibilidade do presidente da república poder ultrapassar o âmbito da sua acção para condicionar as escolhas do colectivo em termos de governação ao ponto de, nem a respeitar, nem a devolver. Nem aceitar a escolha dos representantes do povo, nem devolver a escolha ao povo. Isso é uma forma de "unanimidade" escondida. Alguém que foi escolhido pelo voto, fazer da sua opinião a opinião do colectivo, embora não tenha sido para tal mandatado. Economicamente, isto é muito pior que qualquer uma daquelas hipóteses, muito pior que eleições legislativas antecipadas e, claro, muito pior que aceitar proposta dos representantes democraticamente eleitos.  Os mercados estão carregados de razão e muita gente deve ter desfeito os seus investimentos em Portugal e para os fazer em ambientes mais seguros. Tomara eu ter sido avisado antes...

Esta é a análise  mais fria que alguém que tem boa parte da sua vida investida em Portugal consegue ter nesta fase. Do ponto de vista económico, eu concordo com muita gente que diz que não se deve obedecer aos mercados, mas deve-se ouvi-los. E aquilo que os mercados nos disseram foi: não façam legislativas antecipadas, façam presidenciais!

29 comentários:

Anónimo disse...

"Tudo o que possa garantir estabilidade politica e social..."
Numa sociedade democrática qual é maior garante da estabilidade politica e social? Obviamente que são as eleições. É através das eleições que uma sociedade traduz asua opinião e o resultado das mesmas apazigua os diferentes blocos em confronto. Foi para isso que foram aperfeiçoada as sociedades democraticas como garante de estabilidade e bloqueio aos radicalismos. Não se percebe pois face a uma falta de clarificação das forças politicas intervenientes, ao recrudescimento da instabilidade social fruto das politicas adoptadas e sobretudo face á admissão por parte do governo do falhanço destas politicas e à incapacidade por levar por diante orestante programa, não se percebe este enrolar desta questão, que numa sociedade dita democrática só tem uma saida - recorrer a eleições. O que se passa está para além do compreensivel por mais justificações que se possam dar - os povos ainda são suberanos. Se este facto não é incontronável então o governo que nos trouxe até aqui não tem nenhuma legitimidade porque também se baseia no mesmo pressuposto. Se está em causa o crescimento dos partidos de esquerda na actual conjuntura esta é da responsabilidade directa dos partidos do arco da governação que não podem tomar constantemente medidas contra este mesmo povo.
Concluindo não existe nenhuma razão nem nenhum pressuposto que limite o curso normal de uma sociedade democrática na procura da clarificação do seu estado politico que não sejam as eleições. Elas são o suporte e o garante da estabilidade politica e social em que estas sociedades se baseiam. O resto é folclore para não lhe chamar outra coisa.

João Pires da Cruz disse...

Eu concordo com quase tudo, como deve imaginar, tirando o facto de achar que existem deputados para cumprir os mandatos que receberam, mas essa é uma questão de opinião. Eu não quis centrar a questão na estabilidade porque tem um valor questionável. Estável era o regime de Salazar e não valia nada. Nem acho que seja de estabilidade que os mercados querem ouvir falar, os mercados querem ver pujança económica, querem ver exportações, querem ver consumo e produção. Isso não depende do estado. Do estado só depende um comportamento civilizado, no sentido em que é respeitado o princípio da soberania popular. Respeite-se esse princípio e não há problemas com os mercados.

Anónimo disse...

Os mercados dizem aquilo que queremos ouvir. Por exemplo, o mercado dos meus ouvidos dizem-me que, o desaparecimento do Estado e a criação de um sistema regido por comunidades seria bem mais interessante e lógico neste momento.

João Pires da Cruz disse...

E o que o impede de seguir a sua lógica? Precisa de nós?

Anárquica salazarista disse...

“A democracia é a solução ótima encontrada pelo desenvolvimento humano para a organização política das sociedades.”
Parti-me a rir...

Não sei o que é a democracia. Mas solução não é. Como se chega à forma democrática? Desconfio que por uma abstração ideológica definida por uma autoridade racional que impõe uma igualdade teórica diante das estruturas de poder.
O que é ordem social? Como se consegue? Não é algo uniforme? – Por isso, tanta legislação no sentido de resolver tanto caso especial, tanta abstração… Se numa democracia são assumidas e aceites todas as diferenças, contradições e antagonismos, logo, a superestrutura política tem todas as condições para ser rejeitada. Mas, se o povo fosse verdadeiramente soberano, não haveria governo. O Estado não teria a mínima razão de ser. Não somos democracia. Estamos numa plataforma híbrida, instável, de coerção económica, crescendo na passividade ativa dos cada-vez-mais-pobres e dos cada-vez-mais-revoltados que gritam mudos pelas galerias da assembleia e pelas ruas onde moram; continuam as assimetrias entre governantes e governados; continuam as cada-vez-mais diferenças sociais; continua a dependência ao Estado (numa base rebaixada); continuam os poderes ocultos a criar unanimismos sub-reptícios que pastoreiam o povinho para um dos lados ou só para o lado; continua a censura, pelo bullying... Proliferam ideologias e opiniões numa lógica de confusa e labiríntica diversidade, sem fio de saída, e entra-se num processo complexo de seitas, partidos que pretendem ter o monopólio da Razão. Uma “ideologia da não ideologia”… Depois então, “nem Deus, nem Mestre”! O nada – ordem social paralela à ordem rejeitada (roubalheira política e económica, parasitismo, criminalidade, impunidade, sem obra, nem herói). Temos uma sensação de democracia por uma realidade quase caótica de revolução permanente onde tudo se pode dizer e ouvir de forma amplificada… por ser um justo e democrático protesto contra a vida democraticamente desumana.
Economicamente, as democracias reforçam o poder dos países dominantes. De facto, um sucesso, mas não para os países dadores, completamente explorados e manietados, esvaziados do poder de decisão, configurados em planos de equilíbrio provisório que conduzem a configurações sociais e governamentais de instabilidade como é o nosso caso. Como resolver? Igual! Qualquer plano diferente do que existe é uma resposta democrática… geralmente longe da qualidade e perto dos interesses das relações de compensação que dizem ser de salvação nacional.
Sobre o altar da Liberdade, assobie-se em harmonia o hino da bandeira esfarrapada pela pauta da harmonia universal e mude-se a letra consoante as divagações poéticas ou os delírios demenciais de quem canta dissimetrias aos solavancos pelo refugo das notas musicais e falhas vocais de toda a ordem.

João Pires da Cruz disse...

Admito que tenha razão, mas tem dados que sustentem isto?

Anárquica salazarista disse...

Sou uma mente holística. Racionalidade intuitiva.

José Batista disse...

Torrencial, cara anárquica, e demolidora.
Receio que tenha razão maior ainda e mais profunda do que parece.
O bicho homem é como é, por mais que (à força de barrelas mentais) nos tenham prometido "o homem novo". E se a versão preferida for "a mulher nova" e se ela for personificada por aquela "cozinheira-mor" que nos vai frigindo, e que veio do regime que era para ter dado "o homem novo", então bem podemos evitar saltar da frigideira que o tridente da chefa em breve nos devolverá ao óleo fervente, onde carneiralmente nos havíamos imergido.
Posso pedir-lhe um favor, a mim, a quem, obviamente, não deve (rigorosamente) nada? Era só para me confirmar que aquele "salazarista" no seu pseudónimo é apenas uma ironia chocante, como eu creio que seja. Porque os salazarentos são o reverso dos que prometem "homens novos". E eu sou dos que mando ao diabo uns e outros: nem a "madrassa" dos primeiros nem o escrever e contar dos segundos (e ler pouco, por ser perigoso).
E obrigado pelo discurso honesto e frontal, apesar de doloroso.
Já agora justifico-me: em minha opinião, a marcha histórica do ser humano é bastamente horrorosa, apesar de muitas e belas realizações e de no meio da miséria humana haver também muita coisa bonita, como seja o arrojo de se ser verdadeiro e amar a liberdade nossa e alheia. Ora, se não pudermos começar por aí sem que nos rilhem os ossos, nada feito.
Queira desculpar se a incomodei.

maria disse...

muito bem. ele há quem precise de dados para isto e para aquilo , os tais de especialistas de visão turva e parcial , e há quem olhe e veja tudo claro e límpido , como você. pena não haver muitos mais assim.

Ildefonso Dias disse...

Tome lá nota Senhor José Batista;

"Para vos dar um exemplo bem do nosso tempo - considerai um homem, como conheceis muitos, cheios de coragem, abnegação e bondade, na sua vida normal de família, um homem capaz de arriscar a vida para salvar uma criança em perigo; pois bem, colocai esse aparentemente o mesmo homem num bombardeiro e vê-lo-eis descarregar friamente, tecnicamente, uma bomba de milhares de quilos que ele sabe que vai possivelmente matar centenas de crianças; pergunto-vos: onde está aqui o homem-em-si? no primeiro comportamento? no segundo? na contradição dos dois? Parece-me mais simples responder - o homem é definido pelo seu contexto; o contexto mudou, o homem mudou."

Não concorda com estas palavras do Professor Bento de Jesus Caraça, Senhor José Batista? Se concorda, como pode escrever tanto disparate!?

Cordialmente,

perhaps disse...

Ildefonso, e se amenizasse "o homem é definido pelo contexto" com um termo que ali falta; bastaria colocar um "também". E logo outra coisa.

Ildefonso Dias disse...

Caro João Pires da Cruz,

Que pode dizer acerca deste dilema que nos formula o Professor Bento de Jesus Caraça [extraído da conferencia 'Algumas Reflexões Sobre a Arte']. Certamente que já se apercebeu da existência do dilema?
Talvez possamos apartir dele melhor entender o modelo e o significado daquilo que hoje reclamam, no mundo, os povos da América Latina (o Mercosul, etc..)? Qual a sua opinião também acerca disto?

“(...) temos que nos entender primeiro a respeito desta questão fundamental – como encaramos a posição do homem na sociedade? São possíveis dois caminhos: ou partimos do homem como entidade autónoma, portadora das suas qualidades, dos seus defeitos, dos seus interesses, e consideramos a seguir o agregado como uma soma dos homens que o formam, os conflitos e as leis de evolução das sociedades como uma consequência directa das individualidades em presença, e assim caminhamos do homem para o grupo; ou, pelo contrário, tomamos como realidade primária o grupo, com as suas necessidades colectivas, os seus conflitos interiores, e dele partimos para a definição e compreensão das entidades individuais. É, no fundo, uma questão de primado – primado do indivíduo, ou primado do grupo?
Que esta questão vos não pareça de somenos importância; quer nos coloquemos no ponto de vista da compreensão de certos movimentos sociais, quer no ponto de vista prático, da aquisição de regras de conduta, a sua resolução é de primacial valor. Em cada um dos caminhos indicados radica uma concepção fundamental quanto ao desenvolvimento do homem e progresso da civilização.
No primeiro, o do primado do indivíduo, fundamentam-se todas aquelas normas de actuação segundo as quais aperfeiçoamento e progresso hão-de seguir a linha de dentro para fora do homem; toda aquela orientação segundo a qual só o aperfeiçoamento interior dos homens, indivíduo a indivíduo, pode levar a um maior grau de perfeição social.
No outro, primado do grupo, tem a sua raiz aquela orientação segundo a qual só a mudança das condições exteriores ao homem, condições de meio e instituições sociais, pode levar ao aperfeiçoamento e progresso desejados.
São, como se vê, duas orientações antagónicas, fundamentadas em bases filosóficas opostas. E quer nós nos formulemos explicitamente este dilema quer não, no nosso procedimento em sociedade estamos sempre impulsionados por um ou por outro dos seus braços. Por essa razão talvez seja melhor que cada um de nós procure ver claro dentro de si antes de actuar, para assim evitar os equívocos que uma falta de reflexão necessariamente lhe acarretará.”


Cordialmente,

Ildefonso Dias disse...

perhaps, porque o que existe além do contexto, deve ser aquilo que não é ponderável.

José Batista disse...

Respeito com escrúpulo a fé de cada um. Mas não suporto o proselitismo intrusivo, para mais se o considero aberrante e ofensivo.
Em Bento Caraça respeito o matemático. Sobre as suas concepções sociológicas, biológicas e pedagógicas, tudo o que li, e foi pouco, considero lixo monstruoso (embora bem intencionado, mas de boas intenções está o inferno cheio) que a história não reconhece, razão por que nem sequer se pode dizer que ignore.

Então as limitações de uma "sindrome de Down", por exemplo, podem atribuir-se ao contexto? E durante o contexto do Estado Novo, todos foram/fomos simpatizantes e colaboradores do autoritarismo? E que dizer de certos comportamentos obsessivo-compulsivos com intenção (patológica?) ofensiva?

Repito, cada um com a sua fé, com os seus oráculos (que eu não tenho nem quero passar a ter) ou (mesmo) com as suas "fezadas".
Já as minhas asneiras, se o são, porque não hão-de elas merecer a indiferença de certos sabichosos? Porque as espreitam continuamente com a fúria e o ódio de mastim acirrado? Pergunto eu, que me sujeito respeitosamente ao juízo das pessoas normais, cuja crítica aprecio e agradeço.

Desculpe mais uma vez, cara anárquica, que me recuso a adjectivar como salazarista (quem escreve assim não poderia sê-lo, não poderia, nem Salazar, se vivesse, perdoaria...)
A perhaps e maria, peço também desculpa por me pronunciar assim, já agora queria que soubessem porquê: leio sempre os vossos comentários e agrada-me a vossa diversidade e originalidade de perspectivas, uma sensibilidade que acho sempre curiosa e um pensar pela própria cabeça, motivos que muito me agradam.

E pronto, vim apenas ver se a "anárquica" me tinha ligado alguma coisa, o que me deixa a fazer beicinho. Como agora é possível que se siga o "vómito" costumeiro sobre o meu nome (consequência da infeliz importância que insistem em dar-me...) já não volto a escrever nada nesta caixa de comentário.

João Pires da Cruz disse...

Caro Ildefonso,

Não posso dizer nada. Tempos houve em que ser heliocentrista ou geocentrista poderia ser uma questão ideológica. Entretanto, "alguém" viu as fases de Vénus que mostravam que, contra todas as esmagadoras evidências empíricas, o Sol estava mesmo no centro do sistema solar. Este tipo de reflexão pode ter feito muito sentido num tempo em que não havia internet, não havia materialização informática das relacções humanas. Hoje não faz sentido nenhum. Tal como acredito que durante muitos anos houvesse quem achasse que a Terra orbitar o Sol fosse uma questão ideológica, mas as coisas acontecem independentemente dos errso de percepção.

só mente anárquica disse...

Caro José Batista

peço desculpa pelos meus disparates. Não foi minha intenção ofender ninguém. Digo o que penso e, portanto, procurarei outro lugar para o fazer.

Um abraço a todos e continuação de bons comentários.



José Batista disse...

Preciso abrir uma excepção, preciso muito. De resto, quando escrevi "já não volto a escrever nada nesta caixa de comentário" não afirmei que era uma decisão "irrevogável". O motivo é simples:

Caríssima "mente anárquica" não peça desculpa de nada. Pelo menos a mim. Olhe que aqui há quem se dedique a fazer ofensas mas termina-as com um... "cordialmente". Ora, no seu caso, é impossível que tivesse ofendido alguém. E eu gostei muito da autenticidade da sua escrita. É claro que isso pode ter um preço, porquanto, nestas caixas, há quem se dedique ao que se classifica por "bulingue" ou lá o que seja ou exercendo, insistentemente, um certo terrorismo (patológico, creio) sobre o que seja opinião livre. Mas acredite, este sítio, em minha opinião, vale a pena. Vale muito. E fica muito enriquecido, a meu ver, quando aparecem meteoros a riscar o universo das hipóteses formais em presença. Quase me apetece pedir-lhe que não se vá embora, ou que volte depressa.

Ou então diga(-me) para onde vai escrever o que pensa.
Vou tentar fazer(-lhe) um sorriso :-)
[não sei se é assim...]

E pronto, não sou mais maçador, deixo definitivamente esta caixa.

Carlos Ricardo Soares disse...

É de grande importância que o nosso discurso não durma na cama das ideias feitas e se levante, não como um sonâmbulo retórico, que só pelo movimento mostra que está vivo, mas como um sem abrigo, que não tem para onde ir, mas vai. Eleições (há outras palavras maravilhosas, como liberdade, democracia, solidariedade...)que, infelizmente, não são mágicas. Por exemplo, se as eleições resolvessem os problemas, bastava fazer eleições, todos os dias, todas as horas... Eleger quem? Quem "ontem" foi derrotado? Os mesmos de "hoje"? Outros? Que outros? E as políticas? Os programas? A exequibilidade? E quais são os problemas? Alguém, de algum partido sabe quais são os problemas que é prioritário resolver? Que problemas eleger? Há os eleitos e os não eleitos. Aqueles, quando lhes convém dizem "fomos eleitos". Os outros dizem "não fomos eleitos". Uns e outros são "uns eleitos". Como ter uma organização política transformadora e inclusiva, em vez de extrativa e "recoletora"?

Ildefonso Dias disse...

Caro João Pires da Cruz;

Pese embora não possa dizer nada, e para finalizar, gostaria apenas de lhe deixar o seguinte (que retirei da conferencia de BJC que lhe referi). Pode até acontecer que alguém com curiosidade intelectual pretenda saber mais sobre o assunto, e que pense sobre ele.


"O que fica afinal, de irredutível ao conceito de progresso? As condições pessoais, de inteligência ou de capacidade de criação."

Ildefonso Dias disse...

Aditamento: Infelizmente nas escolas deste país, impedem-se os jovens de pensar.
Estão ocupados com os examezinhos e as matérias para decorar.
E, se atendermos à fraca qualidade de alguns professores, como é o caso do senhor José Baptista (por demais evidenciada nos textos que aqui escreve), nunca o aluno será incentivado a pensar, a descobrir por si, a reflectir, a ter personalidade.

João Pires da Cruz disse...

E precisamos, Carlos? De uma organização política transformadora e inclusiva? O meu ponto é que as sociedades economicamente mais poderosas acabam por seleccionar a sua organização política e a dos outros. A liberdade, a democracia, a solidariedade não são características impostas por uma pessoa ou classes de pessoas, são o resultado de um "mean-field" de um agregado de opiniões que não resulta de umas eleições, resulta de um conjunto delas. O que estiver errado hoje vai sendo corrigido com o tempo.

Quanto às políticas, são cada vez mais não-políticas, à medida que o território físico vai perdendo valor a favor do território virtual e mental. Ninguém sabe que problemas resolver porque esses problemas ainda não surgiram, mas uma estrutura flexível resolve de certeza.

voltagem disse...

Ó José Batista

"...autenticidade da escrita...","... meteoros a riscar o universo..." Que bonito! Fiquei tão sensibilizada que resolvi reentrar para lhe agradecer a cósmica flor.

O sorriso devolvido :o)


perhaps disse...

Ó extraordinárias escolas que impedem o pensamento, banalizam o saber e propõem exames! Para que existis vós? E os professores? e os alunos? e o mais que seja educação? Malala, que andas falando tu nas Nações Unidas?

Vêde o Ildefonso que aprendeu sozinho. Não foi aluno. Não teve professores. Não perdeu tempo na escola. Nunca decorou. E pensa qb.

A memória também se treina. E cedo deve acontecer. o pensamento e a fluência verbal precisam dela. Pois que venham os exames. Que não aferem apenas a memória como saberá. Embora disfarce.

Os alunos não aprendem a ter personalidade na escola. Felizmente, não é uma espécie de diploma que a escola certifique.

Ok, Ildefonso, pode bater.

Carlos Ricardo Soares disse...

E não precisamos, João? Precisamos? Quem? Não precisamos? Quem? Há pelo menos dois níveis de respostas, um de carácter subjectivo e outro mais de ordem geral e abstracta. Há que perguntar às pessoas do que é que precisam. E há que observar se as políticas que têm sido seguidas (adoptadas não me parece)servem mais os interesses de uns quantos e se, até, não estarão a ser altamente penalizadoras para uma maioria (esmagadora)a quem o poder (o poder como instrumento) não serve. (Por ex., a liberdade dos esclavagistas não é boa para os escravos). E quando sentimos que a democracia está completamente adulterada pelo sistema da representatividade em 2º ou 3º ou nenhum grau, que se traduz pela política do facto consumado, que uma teia de "usurpação/ocupação" do poder pretende que o silêncio/impotência dos eleitores legitime, impõe-se a pergunta: para que servem os partidos políticos que temos e quem representam eles, se não servem para ultrapassar a pobreza e o desemprego e se não representam quem trabalha e paga sempre tudo. Quanto às "sociedades economicamente mais poderosas", direi, pois, "mais poderosas". Mas onde está o poder do povo? Por que não substituem a palavra democracia, por outra? Quem teima em invocar certas palavras? Infelizmente, há palavras que são como areia para os olhos e parece haver quem se compraza com elas e faça disso mester. Para que serve o poder? A quem o poder serve? Não é preciso inventar, nem puxar muito pela cabeça, basta observar o que se passa, por ex. com as desigualdades na repartição do rendimento, entre países e dentro dos próprios países. Depois, bem, depois é só tentar explicar.

Quântica Anarquia disse...

Pensei que a política/poder servisse a felicidade a partir do estatuto “Saber servir o Outro”. Mas não. Apresenta-se néscia, luxuosa, cheia de falhanços e traumas históricos, qualquer coisa que se vai implementando como nas telas de Pollock. Os sintomas agravam-se com as tentativas revolucionárias de responder ao sofrimento de ser salpicado por pincéis de parede e escovas de dentes num clima de caos colorido.
Eu sou pela Liberdade. Sou pelos atos que mudariam tudo, se fosse possível. Sou pela não-existência de tudo o que se encontra na frente de um SE... A Liberdade discorda da existência. O que ela faz é camuflá-la atribuindo-lhe mais espaço. Dá-lhe campo e dependura-lhe a tabuleta no portão “Faz o que quiseres” com os Direitos Humanos a servir de cadeado. O pior é que quando a Liberdade se ri (penso que de felicidade), vemos-lhe nos dentes o metálico e inibitório aparelho social e lá fica o sorriso estragado. Ao diabo Schelling que é eterna a Noite de Cristal! Ou será o contrário? Eu acho que todas as coisas não deveriam acontecer em lugar nenhum. Todos os lugares são decadentes até o perdão porque o perdão é feito de inimigos. Talvez a inocência seja o único Éden mas condenaram-na a empanturrar-se de maçãs e por isso cresceu e foi expulsa. A serpente foi o primeiro político. Velhaco. Dão cabo de tudo! Os israelitas liberais (ah,ah) é que têm razão: é preciso fazer alguma coisa, mas o quê? A expressão da impotência é proporcional ao tamanho da arma e a felicidade está sempre por vir.
Eu sou como o eletrão de Alcácer (o do Luís), a beber descafeinados, sem identidade biológica, sem ideologia humana, a fazer ondas sem volume por entre carneiros e caracóis, a discutir com os positrões que tanta positividade irrita e a aplaudir políticos com a bíblia numa mão e Nietzsche na outra.
Agora vou ouvir o anão branco do Wagner. Shiu!

João Pires da Cruz disse...

Caro Carlos,

Começando pelo fim, as desigualdades no rendimento são uma característica do sistema económico. É demonstrável a partir dos primeiros princípios da economia que essas desigualdades vão sempre existir em todas as condições, tirando em situações de não-economia (i.e., de autosuficiência resultantes de catástrofes naturais, por exemplo).

Depois a questão dos partidos. Todas as eleições concorrem uns 17 ou 18 partidos. Todos são colocados em pé de igualdade perante o eleitor e representam tudo e mais alguma coisa. Poderíamos ter 10 vezes mais se as condições de acesso fossem mais relaxadas, mas não me parece que o resultado final fosse substancialmente diferente. Isto para dizer que os resultados da eleições são aquilo que pedimos que sejam.

Finalmente, o estado, o cunjunto de serviços que julgamos fundamentais para o normal funcionamento da sociedade e da economia, não serve para ultrapassar a pobreza em termos gerais. Pode resolver problemas individuais de inclusão, mas não resolve nada em termos económicos. Portugal é, aliás, dos melhores exemplos disso.

Carlos Ricardo Soares disse...

Caro João,

As desigualdades existem. E daí?
É demonstrável que vão sempre existir? Vão?
Quanto aos partidos, até podiam concorrer um milhão. O problema não é esse. É?
O estado não serve para ultrapassar a pobreza, nem pode resolver nada em termos económicos?

João Pires da Cruz disse...

Daí nada, é como não gostar que haja noite.

Sim, desigualdade é uma medida relativa. Apesar de hoje as desigualdades nas sociedades mais evoluídas ser maior, os pobres vivem muito melhor.

O problema, ou está partidos, ou está nos eleitores. Se não está nos partidos, não existe porque, por definição, os eleitores não têm problemas.

O estado serve para resolver problemas individuais extremos, não resolve nada em termos económicos, tirando o óbvio, garantir educação, saúde e segurança.

Carlos Ricardo Soares disse...

Pois, as desigualdades... que é que importam? Pergunto eu a um escravo. Ou, pergunto eu a um esclavagista. É como não gostar que haja dia...ou, noite.

O estado? Olhando para a história...nem se dá conta que tenha existido...quer dizer, tem garantido educação, saúde e segurança.

Caro João, isto começa a ficar ridículo.

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