quarta-feira, 31 de julho de 2013
O crescimento económico chegou ao fim?
O economista Robert Gordon pensa que sim, pelo menos no caso dos EUA.
segunda-feira, 29 de julho de 2013
Parabéns ao Projeto Delfos!
De 18 a 28 de Julho de 2013 realizaram-se em Santa Marta, Colômbia, as 54.ªs Olimpíadas Internacionais de Matemática. Portugal participou com uma equipa de jovens selecionados e preparados, em anos de trabalho intenso, pelo "Projeto Delfos". Desde há 11 anos que o Delfos faz a preparação técnica das nossas jovens equipas olímpicas, e não só; a chave do trabalho délfico tem sido entusiasmar o mais possível, por contágio, muito mais jovens pela Matemática.
Os resultados conseguidos na Colômbia foram os melhores obtido por Portugal e confirmam a tendência de contínua melhoria do nível dos estudantes participantes em competições internacionais de Matemática:
A equipa
era formada por David Martins (estudante do 11.º ano, em Mirandela), Francisco Andrade (estudante do 10.º ano, em Matosinhos), Luís Duarte (estudante do 12.º ano, em Alcains), Miguel Moreira (estudante do 11.º ano, em Lisboa), Miguel Santos (estudante do 12.º ano, em Alcanena) e Nuno Arala Santos (estudante do 10.º ano, no Porto).
Medalhas
De ouro para o Miguel Moreira,
De bronze para Miguel Santos, Francisco Andrade, Luís Duarte e para o David Martins
Menção honrosa para o Nuno Arala.
Classificação por países
Portugal destacou-se com o segundo melhor resultado de sempre, suplantado apenas pela participação em 2009 nas olimpíadas que se realizaram em Bremen, na Alemanha. Com 111 pontos (num máximo de 252), este ano Portugal ficou à frente da Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Irlanda, Luxemburgo, Noruega, Suíça e Suécia e ficou a 16 pontos da Alemanha e a 13 pontos do Brasil (para mencionar apenas alguns países).
Há um outro aspecto de que Portugal se pode orgulhar, que é ter de um português no lugar 76 da lista dos melhores participantes de sempre nas Olimpíadas Internacionais de Matemática (com duas medalhas de ouro e uma de bronze).
Ernst Jünger
Ernst Junger nasceu em 1895, em
Heildeberg; depois de passar pela primeira guerra mundial e pela segunda guerra
mundial (agora em campo oposto), dedicou-se à escrita. Escreveu entre muitos
livros, os romances Eumeswil e Heliopolis, e a novela Um Encontro Perigoso,
acabando por falecer já senil em1998.
O Coração Aventuroso é um dos
seus livros de viagens, crónicas e contos. Ele termina com este episódio
passado na ilha dos Açores, durante os anos de fascismo, que retrata
fidedignamente a personalidade do Português (e dos homens em geral) - a sua
tendência para revezar a euforia com a melancolia, tendência que as agruras da
vida e as crises acentuam. O escritor evidencia, neste texto, o seu
conhecimento no domínio da botânica.
«O vendedor de Peixe:
Os Açores - uma cadeia de vulcões
que se eleva no bordo extremo da Europa. Desde manhã cedo que ando – pelos
jardins, nos quais o olhar descobre flores de um mundo novo, pelos campos que
são circundados por muros de lava escura, e pela floresta alta de loureiros. Só
quando o sol se encontrava a pique, é que regressei ao porto.
As ruas encontravam-se
silenciosas à luz do meio-dia; só ao longe ouvi um chamamento repetido, e senti
vontade e o seguir. Em breve vi um homem andrajoso, que trazia uma carga de
peixes já completamente inertes pelos altos e baixos das ruelas estreitas e
adormecidas, que mal tinham uma sombra apesar de um dragoeiro e de uma
araucária. Aproximei-me por detrás, sem que ele me visse e senti prazer em
escutar o seu apelo magnífico e musical. Ele gritava uma palavra portuguesa que
me era desconhecida, talvez se tratasse do nome dos peixes que transportava.
Mas pareceu-me que ele acrescentava a esta palavra qualquer coisa em voz baixa;
e assim aproximei-me tanto dele, que era como a sua sombra.
Na realidade, depois e ele ter
acabado de lançar o seu apelo sonoro, ouvi-o murmurar ainda num sussurro
qualquer coisa que era talvez uma ejaculatória ou praga de cansaço. Pois
ninguém saía das casas, nem nenhuma janela se abria.
Andámos assim pelas ruelas
escaldantes durante bastante tempo, para oferecer peixes que ninguém queria. E
durante muito tempo, escutei as suas duas vozes, aquela que ressoava ao longe,
exuberante e apregoadora, e a outra, o monólogo baixo e desesperado. Segui-o
deste modo com uma curiosidade ávida, pois sentia bem que aqui já não se
tratava de peixes, mas sim que ouvia sobre esta ilha perdida o canto do homem –
a sua canção simultaneamente em voz alta vangloriando-se e em voz baixa
suplicando.»
E na crónica O Eco Das Imagens
encontramos, em sintonia, a poesia, a acústica, não ignorando que este eco das
imagens é um “eco lírico” na medida em regressa atrás, ao familiar.
«O Eco Das Imagens:
….Pareceu-me que existe um eco
não apenas para o ouvido, mas também para os olhos – também as imagens que nós
contemplamos evocam poesia. E como existem para cada eco relações especialmente
favoráveis, também é aqui que a beleza ressoa mais fortemente.»
No livro também há lugar para a
relação entre as cores e a sensação e imagem que temos delas:
«A Cor Vermelha:
….Entre as outras cores, o
amarelo é aquela que aumenta a inquietação causada pelo vermelho; a tonalidade
vermelha e amarela despertam uma sensação desagradável e fulgurante. Mas o
efeito do vermelho juntamente com o preto ainda resulta mais terrível, enquanto
é suavizado através da cor verde na maioria dos casos. Um fundo verde é mesmo
capaz de lhe conferir algo de alegre, como um relvado verde em relação ao tecido
vermelho das vestes de caça, embora esteja aqui presente a alusão ao sangue. O
dia cinzento tem igualmente o efeito atenuante, mas a cor do sangue acentua-se
através do contraste com o branco, tal como na relação entre o rouge e o pó de arroz. Se lhe juntar ainda o
branco, o aspecto é gracioso; o preto por seu lado dá-lhe um tom de orgulho e
melancolia. Os tons puros de escarlate evocam o vazio sanguíneo; como o
espectáculo dos fogos-de-artifício e das quedas d`água, torna o espírito cativo
do movimento. Notável é o esforço para cultivar flores pretas, das quais
através da selecção, deverá ser retirado o último indício de vermelho. É a
pedra filosofal da jardinagem, e de facto, a arte o saber deve ter aversão ao
vermelho….»
E, para terminar no começo do
livro, a sobreposição de ondas mecânicas e não periódicas em acústica,
originando o ruído (que me trouxe à memória o menino do O Tambor de Günter Grass ):
«O Terror:
Existe um tipo de placas de lata
fina e grande de superfície, por meio das quais nos teatros pequenos se tenta
simular o trovão. Imagino muitas de tais placas, ainda mais finas e ressonantes
colocadas umas sobre as outras com intervalos regulares, iguais às folhas de um
livro, que embora não se encontrem comprimidas, são mantidas à distância umas
das outras através de um dispositivo bloqueador.
Elevo-te para te colocar sobre a
folha superior desta pilha poderosa, e assim que o peso do teu corpo lhe toca,
rasga-se com ruído em duas; cais e continuas a cair sobre a segunda folha, que
rebenta igualmente com um grande estampido. A queda atinge também a terceira, quarta
e quinta folha e por aí adiante, e a aceleração da velocidade faz com que a
cadência das percussões se suceda cada vez mais rapidamente, igualando em ritmo
e violência o rufar de um tambor…»
Em resumo, eis um bom autor, para quem
tem afecto pela ciência, pela prosa e pela poesia.
domingo, 28 de julho de 2013
SOBRE O EXAME NACIONAL DE BIOLOGIA E GEOLOGIA
Imagem retirada de www.publico.pt |
O caso do referido exame, aberrante e lamentável, questiona, não só a competência do ou dos que, ao serviço do Ministério da Educação, elaboraram o dito questionário, mas também e sobretudo, o bom nome da respectiva hierarquia.
Numa longa caminhada, tão velha quanto a humanidade, a geologia, no seu todo, foi sendo descoberta pelo Homem, que tirou dos seus ensinamentos os proveitos que lhe permitiram progredir da simples busca do sílex à prospecção e exploração de fontes de energia e de minerais estratégicos essenciais às modernas tecnologias da sociedade do presente. Nesta caminhada, estabeleceu relações de causa-efeito entre os objectos e os mecanismos que lhe foram dados observar no mundo físico que foi o seu. Experimentou o que pôde experimentar, deduziu o que conseguiu deduzir, inferiu o que soube inferir e transmitiu, aos descendentes, o saber que foi acumulando, servindo-se para tal da linguagem de que dispunha, nos primeiros milhões de anos, o gesto e, só mais tarde e progressivamente, a fala.
Num muito rudimentar esboço de ciência, tudo isto o Homem fez antes dos sumérios, chineses e egípcios terem iniciado a arte de escrever. A história desta disciplina científica radica nas mesmas origens da de outros domínios da ciência. Temos de ir buscá-la às civilizações chinesa, babilónica, egípcia e outras. Mas é, sobretudo, nos filósofos, geógrafos, astrónomos e poetas gregos e latinos que encontramos os fundamentos que deram suporte à ciência e à tecnologia de que hoje, absolutamente, dependemos.
A geologia tem crescido nestes contextos, sendo hoje um dos pilares da sociedade moderna, constituindo alavancas poderosas para o bem e também, não o esqueçamos, para o mal, ao serviço da humanidade. A geologia foi um dos domínios do conhecimento científico cuja competição e cujos conflitos com a religião (em particular, com a Igreja católica) foram mais graves e violentos. Cultivar esta disciplina em moldes científicos, nos tempos anteriores ao iluminismo nascido da elite intelectual europeia de finais do século XVIII, teve os seus riscos. E não foram pequenos.
Falar ou escrever sobre a origem da Terra e as suas transformações ou sobre o nascimento da vida e a evolução das espécies, incluindo o surgimento do homem, tinha limites impostos pelos zeladores da Fé. Fazê-lo à luz da razão e, inevitavelmente, em confronto com as “verdades” bíblicas e com os dogmas decretados pela Santa Sé, não foi uma caminhada fácil. Foi, sim, causa de perseguições, sofrimento e, não raras vezes, sacrifício da própria vida.
Basta lembrar Averrois, no século XII, Giordano Bruno, no XVI, e Galileu, no XVII, para nos darmos conta dos escolhos postos ao progresso desta e de outras ciências. Cautelosa e timidamente, os pioneiros do conhecimento geológico propunham as suas explicações, sujeitando-se ao risco de uma tal ousadia. Como é vulgo dizer-se, a ciência e a religião são como a água e o azeite. Não se misturam. Coexistem, mas cada uma no seu campo. É evidente que as atitudes de uma e de outra perante as entidades e os fenómenos naturais, são geradoras de confronto, hoje razoavelmente civilizado e pacífico nas sociedades democráticas, mas conflituoso e, tantas vezes, cruel e desumano no passado.
Na sociedade do presente a geologia já ganhou, em muitos países, estatuto de ciência de grandeza compatível com a sua real importância, o que não é o caso em Portugal, onde este ramo do saber permanece subalternizado nos currículos escolares e continua arredado da cultura geral dos portugueses, dos mais humildes e iletrados às elites intelectuais mais iluminadas.
A vida profissional permitiu-me, ao longo de décadas, conviver, algumas vezes de muito perto, com as mais altas figuras nacionais, dos chefes de estado aos dos governos central e local, com ministros da educação e outros, com parlamentares e figuras gradas dos partidos políticos, com os mais prestigiados jornalistas e comentadores dos jornais, da rádio e da televisão (quase todos gente do domínio das humanidades), e pude, salvo uma ou outra excepção, constatar esta triste realidade.
É, pois, este o panorama da geologia no nosso país, pelo que o lamentável caso do referido exame, deve ser considerado como uma consequência desta mesma realidade.
A. Galopim de Carvalho
Responsabilidade académica
Hoje um conhecido (popular) professor de Economia faz a capa de um semanário com uma ideia que tem vindo a defender há uns tempos, "Vamos sair do euro". E justifica-a dizendo que termos uma moeda em comum com a Europa que não permite ao país resolver os seus problemas estruturais. Sobre isto gostaria de adiantar duas ideias complementares.
Não compreendo a pessoa em causa porque, ao que sei, o seu ordenado é pago pelo estado português. O que significa que não precisa de estar no euro, pode pedir para receber o ordenado em título de dívida com juro reduzido. Quando precisasse de se relacionar connosco, aqueles que estão no euro, ia ao banco e trocava os títulos de dívida pela moeda que nós usamos. Por outras palavras, ele pode perfeitamente sair do euro sem que eu vá com ele porque quem recebe a quantia justa pelo seu trabalho não tem nenhum problema com o euro, nem pensa sair. Eu não vou sair, o meu banco não vai sair, a minha empresa não vai sair, os meus colegas não vão sair... O nós dele não nos inclui de certeza absoluta.
Por outro lado, não compreendo o que ele quer dizer com os problemas estruturais do país. Os últimos números do país são muito animadores, as exportações continuam a subir de forma admirável, a balança externa está como nunca esteve em décadas o que significa que a estrutura económica do país está, pela primeira vez em muitos anos, a corrigir-se (estrutural vem de estrutura...). Isto significa que, com o tempo, as demais dificuldades que a população está a ter, como o desemprego, se vão reduzir com alguma naturalidade.
Mas a insistência nesta ideia disparatada por parte de um professor de Economia deveria trazer também a discussão da responsabilidade académica. Se a pessoa em causa não fosse professor de Economia ninguém o punha na capa de uma revista a dizer isto. Por outro lado, ao dizer isto na capa de uma revista, não vai sair gratuito, nem a quem com ele ensina nem, principalmente, àqueles que vão usar o facto de terem sido seus alunos para obter emprego.
Como empregador que também sou, devo confessar que a escola em causa já não me diz grande coisa e este tipo de intervenção cava um buraco ainda maior relativamente às demais escolas de Economia de Lisboa, claramente a fazerem o percurso inverso e a tornarem-se referências na Europa que é rejeitada por estes terceiro-mundistas. Há boas razões para que a seriedade cientifica seja usada. Há o futuro de muita gente, mais merecedora que nós, a depender daquilo que dizemos.
sábado, 27 de julho de 2013
Ciência aos Quadradinhos
É urgente a construção de uma sociedade responsável, com capacidade de decisão matura/ fundamentada e detentora de um verdadeiro espírito de cidadania. Nesse sentido, é também obrigação de todos nós que nos movemos neste meio, mais que não seja responsabilidade moral, a implementação de uma série de práticas, desde a clarificação dos conceitos emergentes relativos aos avanços científicos/ tecnológicos que vivemos, à estimulação do pensamento crítico desde tenra idade, e ainda, ao favorecimento da proximidade entre os cientistas e o público em geral. E se colocar tudo isto em prática não é fácil, o grande busílis da questão está mesmo na linguagem a utilizar. Ora parece-me que a aliança entre a Ciência e a Arte in senso lato, duas formas de produção intelectual grandemente dependentes da criatividade, pode ser uma estratégia muito promissora para envolver o público e disseminar a “mensagem”. Adicionalmente, se a mensagem for passada a par de um suporte visual forte, assertivo, coerente e bem disposto, então teremos andado mais de meio caminho em direcção ao nosso propósito.
Foi com estas ideias em mente, foi também tendo em conta os resultados alcançados pelas experiências iterativas de muitos anos a partilhar Ciência às mais diversas faixas etárias e tipos de público, e ainda, revivendo boas memórias dos projectos em que congrego alguma forma de arte figurativa ao processo de comunicação de Ciência, que me decidi a dar este passo. A ideia consiste em utilizar a arte sequencial animada para transmitir, dentro de quatro linhas, conceitos associados a conteúdos de Ciência. Mais concretamente através de cartoons sob a forma de quadro único ou tira. Para titubear os primeiros passos decidi-me pela área da Microbiologia. E porquê? Por (de)formação e porque os microrganismos ou os processos microbianos estão por todo o lado, desde o ambiente às notícias que vemos/lemos diariamente. Bom, mas a razão principal, a razão que me levou mesmo, mesmo a escolher a "vida à escala micro", prende-se com o facto dos microrganismos estarem amarrados com nó cego, a muitos preconceitos e conceitos errados. Errados e perigosos. Consulte-se num qualquer dicionário a palavra microrganismo, micróbio ao termo afim e dá logo vontade de bater na madeira, ao mesmo tempo que se murmura um "vade retro Satanás".
Mas dizer coisas sérias a brincar não é fácil! E a imaginação, Senhores? Ai, a imaginação e a criatividade não aparecem assim à hora marcada com um estalar de dedos. Então lancei o desafio, sob a forma de uma ferramenta de avaliação, aos meus alunos das licenciaturas em Biologia–Geologia e Mestrado Integrado em Engenharia Biológica e ainda, como tema de projecto de licenciatura em Biologia Aplicada com o título de "Microrganismos ao Quadradinhos". Acontece que a motivação e adesão foram enorme e os resultados, grosso modo, muito gratificantes. O cartoon em cima é um dos elementos da colecção com o título supra-citado, da autoria do aluno finalista em Biologia Aplicada, Daniel Ribeiro. O objectivo agora é burilar e maturar esta ideia de modo a poder faze-la sair do quadrado onde está confinada, para um círculo de acção mais alargado onde muitos possam usufruir. Cá por mim, espero que o raio do círculo seja bem grande...
sexta-feira, 26 de julho de 2013
CRÍTICA A “SER ESPIRITUAL” DE LUÍS PORTELA
A Editora Gradiva publicou em Junho de 2013 o livro “Ser
Espiritual – da evidência à ciência” do médico Luís Portela.
Como sugere e pede Luís Portela ao leitor na sua introdução
ao livro, a minha leitura foi iniciada sem preconceitos e com a maior e
possível imparcialidade, com a maior abertura de espírito para descobrir
conhecimento novo, mantendo, contudo e como faço habitualmente, um espírito
crítico contextualizado na minha cultura e formação científica.
Partilho com o eventual leitor que a leitura progrediu
sobressaltada por contradições entre capítulos, pelo espanto de encontrar uma
mistura de temas que poderiam pertencer a livros de áreas distintas: história
da ciência; espiritismo; guia espiritual e moral, entre outros.
Na minha humilde opinião, esta mistura de assuntos
sem real relação causal entre si tornam a leitura deste livro confusa, e potencialmente causadora de mal-entendidos, para além de abrir as
portas às pseudociências.
Felizmente existe em Portugal e na mesma editora Gradiva uma
excelente e prestigiada colecção de boa divulgação científica dirigida ao
público em geral, a “Ciência Aberta”, que nos seus mais de 200 títulos inclui
dezenas de livros que desmascaram de forma convincente as falsas ciências ou
pseudociências que são virais ao longo da história da humanidade e que Luís
Portela acredita e divulga neste seu livro.
Coisa interessante é que Luís Portela consegue escrever um
livro que aparenta ser a favor do conhecimento científico e da importância que
a ciência tem no desenvolvimento de uma humanidade mais livre. O problema é que
o leitor menos atento pode iludir-se com a tentativa de Luís Portela
em afirmar que algumas teorias, utopias e imaginações são passíveis de serem
verificadas e validadas através do método científico. Mas ao mesmo tempo Luís
Portela afirma que “embora não demonstradas científicamente, estas conjecturas
[vidas passadas e futuras, por exemplo] fazem sentido”. O problema é que o
“sentido” e as realidades mentais em que Luís Portela é livre de acreditar não
são passíveis de serem verificadas, ou sequer experimentadas, pela ciência
moderna. A ciência moderna tem como objecto de estudo o que é e não o que nós
queremos, acreditamos ou desejamos que deva ser!
Apesar da abertura de espírito que o autor requere para uma
mais proveitosa leitura deste livro, é no mínimo espantoso o facto de o médico
e psicofisiologista de formação se esquecer de mencionar factos científicos que
a biologia e as neurociências modernas têm disponibilizado a todos para explicar
um sem número de ilusões neuronais e fisiológicas. Fenómenos que durante
séculos foram domínio do desconhecido recheado de medos, das crenças baseadas
em explicações erradas do funcionamento do corpo humano e das leis da natureza.
Este é o oitavo livro de Luís Portela. Conhecido pela
empresa familiar que dirigiu, presidiu e de que hoje é chairman, Bial, a
principal indústria farmacêutica portuguesa, Luís Portela publicou o seu
primeiro livro “O Prazer de Ser”, pela Edições ASA, em Março de 2008. Este reúne diversos textos em que o autor expressa a sua experiência humana.
Enquanto presidente da companhia farmacêutica Bial,
saliente-se o desenvolvimento e produção do que foi considerado o primeiro
medicamento português: o Zebinix. Sendo um fármaco dirigido ao tratamento de
doentes com distintas epilepsias, foi aprovado pela FDA norte-americana para
ser comercializado neste país. Hoje em dia está comercializado em muitos outros
países, constituindo um sucesso incontornável na história da indústria
farmacêutica e das ciências da saúde portuguesas. Refira-se que o
desenvolvimento deste fármaco envolveu dezenas de investigadores de várias
universidades e de várias especialidades científicas durante mais de uma década.
Luís Portela teve assim oportunidade de dirigir e viver a produção de
conhecimento científico de excelência, publicado em revistas científicas da
especialidade com revisão pelos pares, com resultados científicos
reprodutíveis, validados e aceites pela comunidade científica internacional
relacionada com a interdisciplinaridade que envolve as doenças epilépticas (o
plural indica a variabilidade da perturbação neuronal).
Esta referência ao conhecimento e proximidade de excelência
de Luís Portela com o método experimental científico moderno e com aquilo que
ele implica de liberdade, probidade e honestidade intelectual, à universalidade
da verificação da realidade factual, permite compreender a tentação do autor do
livro “Ser Espiritual” em querer validar cientificamente uma realidade em que ele
acredita. Luís Portela conhece bem o que é e como se faz ciência de excelência.
Mas para as crenças, legítimas de autor, ainda não há qualquer consenso
de que possam sequer ser alvo de experimentação pelo método científico, como já se
disse. Estou a referir-me concretamente aos casos da reincarnação, da telepatia,
da psicocinese, da vida para além da morte entre outros aspectos de uma
realidade muito espírita que Luís Portela defende, legítima e livremente,
existir. Acredita que existe e quer que essa existência seja demonstrada e
verificada cientificamente. O problema, e tal como o próprio autor refere,
contradizendo-se, é que todas as tentativas para as provar experimentalmente
não produziram resultados reprodutíveis e credíveis.
De facto deve ser difícil provar cientificamente que uma
galinha dobre objectos com a força do seu pensamento, como refere Luís Portela
na página 89! O que é isto senão a mais ingénua pseudociência. Ou então a
possibilidade de gravar vozes e imagens de pessoas que já morreram! Gravações
que, por aquilo que afirma Luís Portela, são muito famosas e credíveis, feitas
através de uma “transcomunicação instrumental” entre realidades distintas! Isto
está mais próximo do melhor ilusionismo espírita do que da má ciência.
Neste livro Luís Portela indica e cita vários estudos
efectuados em diversas universidades internacionais sobre estes assuntos e
refere o envolvimento de investigadores que tentaram estudá-los
cientificamente. Contudo os resultados divulgados não são reprodutíveis, como o
próprio Luís Portela afirma e conclui em alguns capítulos.
O autor parte mais de uma vez do conhecimento e da história
da ciência para dela tentar contextualizar e fundamentar as realidades em que
acredita. É o caso da teoria física das “supercordas” (página 23 e seguintes) à
qual o autor recorre para tentar sincronizar as vibrações das cordas,
partículas lineares fundamentais e constituintes de todo o Universo, com as “vibrações
do pensamento humano” emanado e em sintonia com uma Harmonia Universal. O que
Luís Portela não diz é que a Teoria das Cordas ainda não encontrou demonstração
experimental científica. É uma teoria física ainda “à espera” de ser confirmada
cientificamente.
Outro exemplo de pseudociência no livro “Ser Espiritual” é o
da extrapolação descontextualizada de conhecimento científico para explicar vários
aspectos espíritas como são os casos da existência da alma e o da “força do
pensamento humano”. O autor considera que esta é uma força que tem a mesma
validade de qualquer uma das outras quatro forças físicas, como seja a da
gravidade. Considerando o pensamento humano como uma força, Luis Portela
aplica-lhe a 3ª lei da mecânica Newtoniana, geralmente conhecida por lei
da acção – reacção (que diz que para toda e qualquer acção há sempre
uma reacção oposta e de igual intensidade), e uma certa “lei da
causa e do efeito” (página 31), para assim fundamentar a existência da
telepatia e da influência que podemos ter uns sobre os outros através da
transmissão de pensamentos positivos e negativos. E isto ocorre à velocidade do
pensamento, velocidade essa que Luís Portela não diz qual é!
Confrontado com o cepticismo e desinteresse da comunidade
científica internacional sobre estes assuntos, o autor repete várias vezes um
apelo para que esta considere efectuar mais investigação científica nos
domínios da parapsicologia. Isto porque a que foi e tem sido feita não tem
obtido resultados reprodutíveis, não são credíveis, e são de difícil validação
científica. Uma vez que a ciência moderna e o seu método científico não se
adequam aos objectos de estudo da parapsicologia, Luís Portela desafia a
comunidade científica a mudar de paradigma, a mudar de metodologia (páginas 46,
49 e 114, por exemplo).
Um facto real é o de que este novo livro de Luís Portela é
centralmente sobre espiritismo, dedicando-lhe vários capítulos com seja o
intitulado “Corpo anímico”. Isto, apesar de noutros capítulos, diga-se em abono
da verdade, serem dele libertos e dedicados a uma exposição, sugestões,
indicações do autor, fruto da sua intensa e rica experiência pessoal, sobre a
melhor conduta humana, sobre a defesa do ser sobre o ter, sobre a necessidade
da aproximação do Homem a uma sensibilidade espiritual que estará actualmente
muito deficitária, principalmente no mundo ocidental e desenvolvido,
exactamente naquele em que a ciência moderna se desenvolveu.
Este livro não é um livro anticiência. Aliás, reconhecendo a
importância da ciência moderna para o desenvolvimento livre e democrático das
sociedades humanas, faz, como disse, um apelo a um maior envolvimento da
comunidade científica aos assuntos ditos paranormais e mediúnicos, espíritas. Contudo,
Luís Portela, com um discurso científico presente em momentos chave do livro, põe
ao mesmo nível do conhecimento científico as inverdades divulgadas pelas pseudociências.
E é também por isso que este livro pode iludir o leitor menos informado,
confundindo-o com relações que nada têm de científicas.
O leitor, assim como o autor, são livres de acreditar nas suas crenças, mas é importante denunciar mais um livro que vem
alimentar o rio secular das pseudociências.
António Piedade
O GATO DE SCHRÖDINGER
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”Podemos mesmo
considerar casos muito ridículos. Um gato é colocado numa caixa de aço,
juntamente com o seguinte dispositivo diabólico (com o qual o gato não pode, de
modo algum, interferir): num contador Geiger há uma pequena quantidade de
substância radioactiva, tão pequena que a probabilidade de decaimento, durante
uma hora, é apenas de cinquenta por cento. Se um átomo decair, o contador
dispara e liberta um martelo, que parte um pequeno frasco com ácido cianídrico.
Se não tocarmos no sistema durante uma hora,
diríamos que, se nenhum átomo decaiu, o gato ainda está vivo. O primeiro
decaimento atómico teria envenenado o gato. A função de onda para o
sistema global deveria expressar este facto, contendo em si as componentes gato vivo e gato morto (perdoem a
expressão) misturadas ou sobrepostas em partes iguais. É típico, destes casos,
que uma indeterminação originalmente restrita ao domínio atómico se transforme
numa indeterminação macroscópica, que pode então ser resolvida pela observação
directa. Em si, não contém nada de contraditório ou pouco claro."
...
Este e muitos outros
mistérios e paradoxos do mundo quântico são discutidos de modo acessível no
novo livro da Gradiva O DIABO NO MUNDO QUÂNTICO de
Luís Alcácer.
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Cadavre exquis
(1948 Fernando de Azevedo, António Domingues,
António Pedro, Marcelino Vespeira, João Moniz Pereira)
Houve uma moda, há tempos, de trazer finlandeses a tudo quanto era
sítio, e de olhar com curiosidade para o simpático país que nos ajudava a falar
ao telefone uns com os outros. O milagre finlandês na educação era muito
referido.
Um dos termos de comparação que temos entre diferentes nações é, como
se sabe, o relatório periódico do PISA (Programme
for International Student Assessment), da OCDE e mais
alguns países aderentes. E quem, na Europa, mais tem dado nas vistas nestes
relatórios é, justamente, a Finlândia.
Um amigo envia-me, ocasionalmente, provocações e bons conselhos. Os
nossos interesses são variados. Por exemplo: dia 6 de abril—vídeo de um estudo
de Harvard sobre a educação na Finlândia; 13 de abril—clara de ovo frita reduz
tensão arterial; 16 de abril—os políticos e as fraldas (devem ser mudados
frequentemente e pela mesma razão, segundo Eça de Queirós).
Achei sensato, dos três assuntos, deixar aqui a ligação ao filme de
Harvard; vem legendado em castelhano (¡olé!), para quem quiser complementar com
umas legendas o inglês variável das pessoas que vão falando. O tom de voz do
homem de Harvard tem qualquer coisa do Kermit,
the Frog, e o filme é interessante.
Quando acabei de ver procurei mais coisas. Já na década passada
assistira a uma conferência sobre a educação na Finlândia, mas não ficara muito
esclarecido.
Topei com três palestras de um responsável finlandês: Pasi Sahlberg,
diretor-geral de uma instituição dependente do MEC da Finlândia (CIMO: Centre
for International Mobility and Cooperation). São palestras muito
parecidas: uma também é na América: 9 dez.º 2011, Vanderbilt University,
Nashville, Tenessee; outra passa-se entre Letões: março 2012, Riga, Letónia;
pelo caminho, 24 fev.º 2012, Melbourne, Austrália. São equivalentes, mas segue
o link da de Melbourne, porque me foi dito que no meio está a virtude: http://www.youtube.com/watch?v=YoMzsaRTW5U
Um dos pontos fortes da conferência é sobre o ponto forte de partida do
sistema finlandês: a selecção de professores é tremendamente exigente, porque
só entram os melhores, suficientemente remunerados, presume-se, e
suficientemente considerados. Claro que, depois, prescindem de avaliações
regulares e exames nacionais: a exigência, e a amostragem, revelam-se
bastantes.
Isto foi em Abril; veio-me agora à memória por causa dos últimos exames
que classifiquei.
Qualquer ser inteligente que queira enfrentar a tarefa magna de arrumar
peúgas—ou, convenhamos, livros numa biblioteca—tem pela frente grandes
desafios: quais são os critérios mais adequados, mais gerais, mais abrangentes,
que melhor contornam empecilhos, excepções, particularidades, feitios?
Qual é a gaveta ideal? Como é que se apresenta, idealmente, a peúga?—ou,
convenhamos, a lombada na prateleira?
Quem fabrica exames nacionais tem este género de problema: como é que
se disseca o material da prova, e como é que se atribuem cotações parciais, de
forma a cobrir todas as eventualidades de resposta, e a classificar geralmente
com adequação salomónica?
O Leitor há-de reparar que estou a deixar de parte a feitura da prova
propriamente dita: há prova, como havia peúga; e é a classificação da prova que
me importa abordar, porque aqui residem, normalmente, armadilhas escondidas.
O assunto preocupa o Gave, evidentemente: quem fabrica itens de exame
tem de cuidar da sua classificação, organizando critérios gerais, e desmontando
os itens por pontos, para organizar critérios específicos. Tem de considerar
uma tarefa de âmbito nacional, e critérios de regularidade, equidade, justiça.
Igualdade de tratamento.
A tendência actual parece ser a atomização: o Gave pretende deixar o
menor número de pontos ao critério dos professores classificadores,
desmanchando os itens em pequeníssimas partes, de forma a simplificar a tomada
de decisões na classificação de cada uma dessas partes.
Isto, que parece correcto, tem um inconveniente: mesmo nos exames de
disciplinas de resposta dita objectiva, toda a análise do problema parte do
mesmo pressuposto, que é a metodologia de quem fez a dissecção do item. Os
passos do método ditam a quantidade e a qualidade dos pontos atribuídos, que
podem revelar-se inadequados a um caminho muito diferente, embora com o mesmo
resultado: distintos métodos de resolução levam a resultados bons, e iguais.
Então, o professor classificador vê-se na obrigação de—sem rede—montar
um esquema alternativo de arrumação das partes, já que estas não são as mesmas
que o Gave previu.
Isto parece abstracto, mas corresponde, grosso modo, ao seguinte: se os
exemplos de resolução apresentados não forem em quantidade suficiente para
cobrir todas as eventualidades—e dificilmente o são—, haverá um momento em que
tem de se confiar nos conhecimentos e no bom-senso dos professores
classificadores para resolver dilemas.
Há alguns anos, muita da confiança era posta numa correcta
interpretação de critérios gerais; ela é hoje mais posta numa correcta
aplicação de critérios específicos, acompanhada de um acréscimo de itens de
resposta objectiva, fechada.
A visão de pormenor é melhor que a visão global?
Os problemas que vinham a ser detectados prendiam-se com a capacidade
infinitamente variada de abordagem de critérios gerais, por professores que os
consideravam elásticos.
Ora os critérios não eram, em geral, elásticos. Os padrões de
preparação dos professores, esses sim, é que eram bastante elásticos.
Afinal, o problema (que está longe de ser nacional), prende-se com a vocação
e a preparação científica e profissional dos professores.
Esta, que é a primeiríssima peça desse puzzle que é um ensino nacional—e que a Finlândia aparentemente
resolveu—, tem vindo a ser tratada com negligência por sucessivos ministérios,
e com maior negligência pelos próprios professores, habituados a exigir pouca
coisa de sistemas, acomodados com sindicatos que os representam mediocremente,
e pouco interessados numa ordem que os represente exactamente.
Aqui, como noutros países europeus, pensa-se que a adaptação de medidas
avulsas de países bem sucedidos poderá ser uma boa ideia.
Ora um dos sublinhados nas palestras de Pasi Sahlberg é este: não
imaginem que é possível copiar isto ou aquilo da experiência finlandesa
(enfim…: de qualquer experiência, dir-se-ia), colar noutro país, e fica tudo
muito melhor.
O que há a reter do discurso de Sahlberg é, justamente, o carácter
orgânico do que o seu país fez: obteve um consenso nacional; fez, daí, emergir
um sistema de educação pública.
É o sistema que faz a força da educação finlandesa, já que impõe
critérios de qualidade metódicos,
persistentes, integrados—o que torna as coisas sólidas.
Olhemos para a esquerda baixa: para a Holanda. É um ensino subsidiado, praticamente
privatizado, em que as instituições fazem o que muito bem entendem em matéria
de método de ensino (nem sequer são, maioritariamente, laicas), em clima de
mercado livre e emulação.
O estado tem uma pequeníssima intervenção na matéria e encontramos,
lado a lado, os mais variados tipos de escolas: laicas e religiosas,
reformistas e conservadoras, cooperativas e não cooperativas, de certificado
internacional IB e europeias, escolas de curricula
melhorados nas «áreas da cultura», ou das TIC, educação especial, etc.
Estão nos antípodas, aparentemente, dos finlandeses, que têm uma
educação laica, pública, totalmente gratuita—mesmo no ensino superior. Mas funcionam
satisfatoriamente. É outro sistema, mas apresenta-se, sobretudo, como «um
sistema».
Em Portugal, parece ter saído gorada a mais recente esperança de ver
surgir «um sistema» (qualquer que seja). O ministério continua embaraçado em si
mesmo. Nuno Crato deitou para o lixo, no Natal de 2011, as Competências Essenciais do
currículo nacional do ensino básico. Fez bem. Esperou-se, naturalmente, a
espada e o corte do nó cego; mas, de seguida, apareceu de canivete suíço—pondo-se
a acrescentar metas curriculares a um circuito que parte de programas já
eivados de assimetrias, asneiras e bizarrias—, e de agulha e linha—a cerzir,
com pequenos arranjos, a carga horária, a frequência e exigência da avaliação
externa, e mesmo, recentemente, novas condições de profissionalização com uma prova
para os candidatos à docência nos estabelecimentos dependentes do ministério.
A discussão nacional do nosso projecto de ensino e a qualidade da
formação de docentes e do recrutamento para as escolas públicas permanecem uma
espécie de tabu—pelo que não consigo ver, em tudo isto, o desenho de um todo
coerente.
Os anos, esses, continuam passando.
Pode ser meu, o defeito. O meu amigo Carlos Fiolhais fala de revolução
tranquila. Olho lá para casa, e que vejo?: a minha escola passou a sede de
agrupamento, encaminha-se para a autonomia, e reforçou más práticas do
secundário com algumas más práticas do básico. A documentação fez o aggiornamento: as competências chamam-se
capacidades. É uma involução tranquila.
O sistema continua longe, longe…
Queremos pintar a Mona Lisa; está-nos a sair um Cadavre Exquis.
As pinceladas mais recentes são do pintor surrealista Nuno Crato.
António Mouzinho
quarta-feira, 24 de julho de 2013
AINDA AS SELVAGENS
Selvagem
Grande vista de sul. À esquerda, a oeste, o Pico da Atalaia, com 163m, e à direita,
o Pico do Tornozelo, com 137m (foto de Carlos Lopes) |
Na semana que passou, os portugueses foram bombardeados com a visita do Presidente da República à Reserva Natural das Ilhas Selvagens, criada em 1971. Estas muito nossas pontuações rochosas emergentes das águas do Atlântico, a cerca de 160 km a norte das Canárias, têm sido, de há muito, alvo da cobiça dos “nuestros hermanos y vecinos”, nesta Europa a 27, onde a solidariedade é palavra quase esquecida.
É um conjunto de três pequenas ilhas ou ilhéus rodeados de baixios que, para além do seu muito interesse nos domínios da bio e da geodiversidade, fazem aumentar consideravelmente a Zona Económica Exclusiva de Portugal.
Durante a curtíssima estadia do Presidente da República nesta parcela do território pátrio, falou-se da Estratégia Nacional para o Mar, falou-se de Mário Soares e de Jorge Sampaio, os dois presidentes que já ali se deslocaram em manifestações de soberania, e ali permaneceram apenas umas horas, e que foi o actual Chefe de Estado que, reafirmando a portugalidade da dita parcela, ali pernoitou; “uma noite tranquila”, no dizer do próprio, em contraste com a “noite mal dormida” a bordo da fragata Vasco da Gama.
Falou-se do ROV, o veículo de observação remota, capaz de mergulhar até aos 6000m, nas profundezas oceânicas, falou-se da casa dos vigilantes e da única casa particular, ali construída em finais dos anos 60 do século passado, propriedade do médico e ornitólogo de origem britânica, Francis Zino, e falou-se muito de cagarras e um pouco menos das outras aves ali residentes.
Entretanto, em Lisboa, prosseguiam as conversações entre as delegações do PSD, do PS e do CDS-PP, dizia-se que, com vista ao “compromisso de salvação nacional” proposto, dias antes, pelo ilustre visitante do minúsculo arquipélago.
Nesta visita, ninguém, nem o director do Parque Natural da Madeira (como era seu dever e da sua competência), explicou ao Professor, aos distintos acompanhantes e aos portugueses a natureza e a história geológica do local. Com alguma ligação a esse domínio do saber foram, contudo, ali proferidos dois temos: pedregulho, pela boca do Professor Cavaco Silva, ao aludir às irregularidades da vereda de acesso ao planalto, e ravina, pela voz do Dr. Alberto Jardim, no mesmo percurso, numa expressão, aliás, incorrecta, pois o que há ali é um escarpado ou, se quisermos, uma arriba. Ravina é um francesismo desnecessário, obtido por tradução de ravin, cujo significado é barranco.
Vista
aérea da Selvagem Grande (in
www.panoramio.com).
|
As Selvagens são a parte visível de um importante aparelho vulcânico edificado a partir do substrato oceânico (com 135 milhões de anos), a uma profundidade de 3000 a 4000 metros e quase completamente arrasado pela erosão na sua parte emersa. A Selvagem Grande, a maior destas emergências, corresponde ao que resta de um cone vulcânico no extremo nordeste de um alinhamento de orientação NE-SW, marcado pela isóbata dos 1000 m, cujo extremo SW corresponde ao outro cone do mesmo aparelho, testemunhado pela Selvagem Pequena e pelos ilhéus vizinhos.
No essencial e em termos muito gerais, a Selvagem Grande, com cerca de 5 km2, exibe uma superfície planáltica, a cerca de 100 m de altitude, terminada abruptamente sobre o mar, com arribas de 70 a 90 m de escarpado. Esta superfície, sub-horizontal e muito regular, é o resultado de erosão, por abrasão marinha, do relevo vulcânico primitivo, predominantemente construído por fonolito (rocha extrusiva rica de feldspatóides, equivalente vulcânica do sienito nefelínico, como o que temos na Serra de Monchique) durante o período Oligocénico, cuja idade isotópica foi avaliada entre 24 e 27 milhões de anos.
Sobre esta superfície, então submersa a muito escassa profundidade, formando um banco, depositou-se uma sequência de camadas sedimentares, com 5 a 10 m de espessura, com um conglomerado de cimento calcário, na base, a que se seguem níveis arenosos calcários com abundantes fósseis marinhos atribuídos ao Miocénico (Tortoniano inferior ou Serravaliano).
Esta superfície acabou por de elevar uma centena de metros, razão de ser da sua actual situação planáltica. Acima dela sobressaem o Pico da Atalaia (163m), o Pico do Tornozelo (137m) e o Cabeço do Inferno (108m), elevações correspondentes ao que resta de três cones edificados por actividade vulcânica mais recente, testemunhada por piroclastos e escoadas de lavas basálticas (cujo primeiro derrame sobre a camada sedimentar fossilífera data de há cerca de 11,5 milhões de anos), num conjunto que se prolonga pelo Pliocénico e, talvez, pelo Quaternário antigo, que cobre o topo da sequência sedimentar que, assim, apenas é visível na periferia da ilha, no topo da arriba, entre os 80 e os 100 m de altitude.
Parte do planalto está atapetado por areias calcárias organogénicas, para ali transportadas eolicamente, oriundas de um litoral arenoso entretanto desaparecido.
Como recursos hídricos, existem na ilha apenas três fontes de fraco débito e apenas em parte do ano: Fonte das Ovelhas, Fonte Salgada e Fonte das Galinhas, pelo que o abastecimento de água se faz com recurso a duas cisternas, a Velha, no centro da ilha, e a Nova, a SW do pico da Atalaia.
A. Galopim de Carvalho
A. Galopim de Carvalho
terça-feira, 23 de julho de 2013
Perpetuum Mobile
A ideia de moto perpétuo, a máquina que consegue funcionar continuamente sem necessitar de energia adicional, é uma das paixões dos inventores de garagem. De vez em quando, lá aparece mas um num jornal, reclamando o brilhantismo da invenção e dizendo que os americanos e os árabes lhe querem roubar a patente. Na verdade, o sujeito é um burro. Não porque a invenção dele viola as leis da termodinâmica(se produz trabalho, consome energia), não porque viola as leis do bom senso(há milhões de pessoas com mais educação que ele que poderiam ter chegado a essa invenção há séculos), mas porque o tema que escolheu foi claramente errado. Ele deveria ter-se dedicado ao perpetuum mobile económico que, com grandes possibilidades, poderia ter chegado a líder da oposição. Pelo menos a comentador televisivo chegaria com toda a certeza.
Voltando a um tema que já foquei, economia é troca de trabalho. Consomem-se recursos para produzir recursos que os outros consomem e assim sucessivamente. Como um universo em expansão. No sentido contrário vai dinheiro que paga a produção de um para este pagar os recursos que usou. Ponto fundamental para que a sequência não se quebre, é que os recursos que são consumidos sirvam para produzir recursos que serão consumidos para que o dinheiro que flui em sentido contrário não perca valor. Tal como a máquina, entre o consumo do recurso e o produto tem que se acrescentar trabalho para que o recurso não perca valor porque o agente económico vai consumir parte dos recursos para funcionar que não volta à economia. Quanto mais não seja, come. Se não produzir, o dinheiro perde valor.
Quando o estado cede dinheiro a alguém, esse alguém(*) deve produzir algo que entre na sequência, isto é, que produza algo que vai ser consumido para produzir algo que será consumido e que traga uma quantidade de dinheiro em sentido contrário sem que haja perdas. Senão entra em défice e vai ter que, ou imprimir dinheiro ou, se não puder, tem que ir buscar o dinheiro a outro lado. E é esta a história da República Portuguesa nos últimos 40 ou 50 anos.
Quando se diz que a austeridade é necessária, quer-se dizer que o dinheiro que o estado entrega a alguém entra numa sequência produtiva. Se não consegue, não entrega. Não é aumentar impostos, não é acabar com as PPPs, é não entregar dinheiro a quem não produz. Os 4.7 mil milhões de euros que alegadamente é preciso cortar são 4.7 mil milhões de euros que habitualmente o estado perde nessa sequência. Não é por causa do BPN, não é por causa das PPPs, é por tudo, todos os anos. E não podem ser tirados aos impostos, porque os impostos é o dinheiro que tem que vir em sentido contrário, não pode ser usado para compensar aquele que não vem. Essa conta só bate certo no perímetro do estado, no perímetro do país há destruição de riqueza, obviamente. Compensar esse défice com mais impostos só serve para aldrabar os eleitores.
A versão económica do moto contínuo é não cortar na despesa do estado para apostar no crescimento económico, como aparentemente boa parte dos políticos portugueses quer. Todos os recursos vão circular sem que as máquinas consumam nada e, ainda por cima, vão produzir sem consumir. A mesma magia dos últimos 50 anos. Por isso, cá vai a sugestão a todos os inventores de garagem, metam-se na Economia. Não só não aturam a arrogância de físicos armados em bons como, com alguma certeza, ainda vão ser aplaudidos por eles!
(*) Claro que reformas não entram neste racional porque estão a pagar trabalho já feito.
Os átrios-museus
Deve haver uma explicação perfeitamente razoável para o que vou escrever de seguida, mas não faço ideia qual seja. Apesar de ter falado com várias pessoas a propósito, o que encontrei foi um encolher de ombros ou conjecturas desgarradas.
Ora bem, quando vou a escolas que conheço há muito tempo, dirijo-me à porta, àquela que tinha na memória, vejo-a fechada e o átrio deserto e percebo que já não se entra por ali: entra-se mais adiante, lateralmente, ou nas traseiras.
Há escolas cuja porta deita directamente para uma rua ou estrada com movimento e, compreensivelmente, a protecção dos alunos passa pela abertura de uma outra que garanta segurança. Não é esse o caso a que me refiro. O caso a que me refiro é de escolas, sobretudo de liceus e secundárias, que sofreram, num ataque de megalomania empresarial e governamental, obras mais ou menos radicais.
A deslocação da porta e do átrio é sintomática. Em geral, tinham a sua dignidade, sobretudo os átrios davam alguns "sinais exteriores de riqueza" acumulados ao longo dos anos: um bom móvel, trabalhos excepcionais de alunos, algum tapete tecido à mão, um quadro realmente pintado por alguém, um painel de azulejos, uma obra em ferro forjado, taças e medalhas ganhas em campeonatos, potes e pratos de faiança...
Por ali passavam alunos, professores, empregados, pais e visitantes. Passavam e percebiam que a entradas das escolas são como as entradas das casas: sítios que se preparam para dar a melhor imagem a quem chega...
Ao que sei, algumas escolas, poucas, fizeram finca-pé e mantiveram a sua entrada e para toda a gente, mas outras deixaram que ela fosse substituída por uma portaria estreita e deprimente, com alguém a controlar quem passa, ao lado uma parede lisa onde conta o nome em letras uniformemente fabricadas.
Na última escola onde estive, a minha, levaram-me, no final da visita, a ver, de dentro, como curiosidade, o átrio, por onde sempre entrei e saí como aluna. Estava quase igual ao que era, foi, aliás, o único sítio que reconheci, tudo o resto branco, asséptico, moderno, liso...
Mas estava deserta o átrio. "Acho que se pensa fazer aqui um museu", disse-me que me acompanhava...
Imagem retirada daqui |
Há escolas cuja porta deita directamente para uma rua ou estrada com movimento e, compreensivelmente, a protecção dos alunos passa pela abertura de uma outra que garanta segurança. Não é esse o caso a que me refiro. O caso a que me refiro é de escolas, sobretudo de liceus e secundárias, que sofreram, num ataque de megalomania empresarial e governamental, obras mais ou menos radicais.
A deslocação da porta e do átrio é sintomática. Em geral, tinham a sua dignidade, sobretudo os átrios davam alguns "sinais exteriores de riqueza" acumulados ao longo dos anos: um bom móvel, trabalhos excepcionais de alunos, algum tapete tecido à mão, um quadro realmente pintado por alguém, um painel de azulejos, uma obra em ferro forjado, taças e medalhas ganhas em campeonatos, potes e pratos de faiança...
Por ali passavam alunos, professores, empregados, pais e visitantes. Passavam e percebiam que a entradas das escolas são como as entradas das casas: sítios que se preparam para dar a melhor imagem a quem chega...
Ao que sei, algumas escolas, poucas, fizeram finca-pé e mantiveram a sua entrada e para toda a gente, mas outras deixaram que ela fosse substituída por uma portaria estreita e deprimente, com alguém a controlar quem passa, ao lado uma parede lisa onde conta o nome em letras uniformemente fabricadas.
Na última escola onde estive, a minha, levaram-me, no final da visita, a ver, de dentro, como curiosidade, o átrio, por onde sempre entrei e saí como aluna. Estava quase igual ao que era, foi, aliás, o único sítio que reconheci, tudo o resto branco, asséptico, moderno, liso...
Mas estava deserta o átrio. "Acho que se pensa fazer aqui um museu", disse-me que me acompanhava...
segunda-feira, 22 de julho de 2013
EINSTEIN E OS DADOS
"Deus não joga aos dados"
Mas há no MUNDO QUÂNTICO quem jogue aos dados e há coisas no MUNDO QUÂNTICO que não lembram ao DIABO.
Quando e em que contexto proferiu, ou escreveu, Albert Einstein a frase que lhe é atribuída de que "Deus não joga aos dados"?
Einstein contestava que a mecânica quântica fosse indeterminista. Mais concretamente, não aceitava a ideia de que tal teoria (a função de onda da equação de Schrödinger) nos desse toda a informação possível sobre um dado sistema e que as distribuições de probabilidades a ela associadas fossem aspectos fundamentais e irredutíveis da realidade, como Niels Bohr defendia.
Einstein acreditava que a aleatoriedade de certos fenómenos quânticos, como o instante em que um átomo radioactivo emite uma partícula, apenas reflecte a nossa ignorância sobre os aspectos fundamentais da realidade.
A célebre citação é de uma carta de Einstein a Niels Bohr, datada de 4 de Dezembro de 1926, como reacção à proposta de que a função de onda da equação de Schrödinger tinha um significado probabilístico.
A frase é a seguinte: "A mecânica quântica é certamente impressionante. Mas uma voz interior diz-me que ainda não é a última verdade. A teoria diz muita coisa, mas não nos leva mais perto do segredo do "old one" (o velhote). Eu, de qualquer modo, estou convencido de que Ele não joga aos dados. [The Born-Einstein Letters (trans. Irene Born) (Walker and Company, New York, 1971)].
Einstein estava convencido de que no Universo existe objectivamente lei e ordem, e que mesmo o grande sucesso da teoria quântica não o levava a acreditar que houvesse fenómenos naturais aleatórios, embora estivesse consciente de que havia colegas mais novos que interpretavam essas suas ideias como consequência de senilidade.
No fundo, Einstein acreditava que um dia viria em que lhe dariam razão. Einstein acreditava que, contrariamente à doutrina da mecânica quântica, as propriedades da matéria têm uma realidade independente das medições que são efectuadas. Que o electrão tem spin, posição, etc., mesmo quando essas propriedades não estão a ser medidas.
David Mermin diria, mais tarde, que gostava de pensar que a lua está lá no sítio dela mesmo quando não estamos a olhar. Einstein achava que a descrição da realidade física pela teoria quântica não podia ser completa e, em 1935, publicou na Physical Review, um artigo, juntamente com Podolsky e Rosen com o título “Pode a Descrição da Realidade Física pela Mecânica Quântica ser Considerada Completa?”, onde levantava essa questão, dando origem ao que é conhecido na gíria como o paradoxo de EPR, dos nomes de Einstein, Podolsky e Rosen.
Esse artigo motivou uma reacção de Bohr e um extenso artigo de Schrödinger, intitulado ”A Presente Situação da Mecânica Quântica” onde faz uma análise das implicações da teoria quântica e introduz o célebre paradoxo do gato de Schrödinger.
Luís Alcácer
Mas há no MUNDO QUÂNTICO quem jogue aos dados e há coisas no MUNDO QUÂNTICO que não lembram ao DIABO.
Quando e em que contexto proferiu, ou escreveu, Albert Einstein a frase que lhe é atribuída de que "Deus não joga aos dados"?
Einstein contestava que a mecânica quântica fosse indeterminista. Mais concretamente, não aceitava a ideia de que tal teoria (a função de onda da equação de Schrödinger) nos desse toda a informação possível sobre um dado sistema e que as distribuições de probabilidades a ela associadas fossem aspectos fundamentais e irredutíveis da realidade, como Niels Bohr defendia.
Einstein acreditava que a aleatoriedade de certos fenómenos quânticos, como o instante em que um átomo radioactivo emite uma partícula, apenas reflecte a nossa ignorância sobre os aspectos fundamentais da realidade.
A célebre citação é de uma carta de Einstein a Niels Bohr, datada de 4 de Dezembro de 1926, como reacção à proposta de que a função de onda da equação de Schrödinger tinha um significado probabilístico.
A frase é a seguinte: "A mecânica quântica é certamente impressionante. Mas uma voz interior diz-me que ainda não é a última verdade. A teoria diz muita coisa, mas não nos leva mais perto do segredo do "old one" (o velhote). Eu, de qualquer modo, estou convencido de que Ele não joga aos dados. [The Born-Einstein Letters (trans. Irene Born) (Walker and Company, New York, 1971)].
Einstein estava convencido de que no Universo existe objectivamente lei e ordem, e que mesmo o grande sucesso da teoria quântica não o levava a acreditar que houvesse fenómenos naturais aleatórios, embora estivesse consciente de que havia colegas mais novos que interpretavam essas suas ideias como consequência de senilidade.
No fundo, Einstein acreditava que um dia viria em que lhe dariam razão. Einstein acreditava que, contrariamente à doutrina da mecânica quântica, as propriedades da matéria têm uma realidade independente das medições que são efectuadas. Que o electrão tem spin, posição, etc., mesmo quando essas propriedades não estão a ser medidas.
David Mermin diria, mais tarde, que gostava de pensar que a lua está lá no sítio dela mesmo quando não estamos a olhar. Einstein achava que a descrição da realidade física pela teoria quântica não podia ser completa e, em 1935, publicou na Physical Review, um artigo, juntamente com Podolsky e Rosen com o título “Pode a Descrição da Realidade Física pela Mecânica Quântica ser Considerada Completa?”, onde levantava essa questão, dando origem ao que é conhecido na gíria como o paradoxo de EPR, dos nomes de Einstein, Podolsky e Rosen.
Esse artigo motivou uma reacção de Bohr e um extenso artigo de Schrödinger, intitulado ”A Presente Situação da Mecânica Quântica” onde faz uma análise das implicações da teoria quântica e introduz o célebre paradoxo do gato de Schrödinger.
Luís Alcácer
Novos livros da Classica Digitalia
Informação chegada ao De Rerum Natura.
O Conselho Editorial dos Classica Digitalia tem o gosto de anunciar 2 novas publicações da Série “Humanitas Supplementum” (Estudos), de parceria com a Imprensa da Universidade de Coimbra, a Universidade Federal de Pelotas e a Universidade Federal de Goiãs.
- Fábio Cerqueira, Ana Teresa Gonçalves, Edalaura Medeiros & José Luís Brandão, Saberes e poderes no mundo antigo. Vol. I – Dos saberes (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, Classica Digitalia, 2013). 282 p. PVP: 29 € / Estudantes: 23 €
- Fábio Cerqueira, Ana Teresa Gonçalves, Edalaura Medeiros & Delfim Leão, Saberes e poderes no mundo antigo. Vol. II – Dos poderes (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, Classica Digitalia, 2013). 336 p. PVP: 29 € / Estudantes: 23 €.
Todos os volumes dos Classica Digitalia são editados em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital. O eBook correspondente (cujo endereço direto é dado nesta mensagem) encontra-se disponível em acesso livre. O preço indicado diz respeito ao volume impresso.
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- Fábio Cerqueira, Ana Teresa Gonçalves, Edalaura Medeiros & Delfim Leão, Saberes e poderes no mundo antigo. Vol. II – Dos poderes (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, Classica Digitalia, 2013). 336 p. PVP: 29 € / Estudantes: 23 €.
Todos os volumes dos Classica Digitalia são editados em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital. O eBook correspondente (cujo endereço direto é dado nesta mensagem) encontra-se disponível em acesso livre. O preço indicado diz respeito ao volume impresso.
domingo, 21 de julho de 2013
O TEMPO DO FUTURO?
Artigo de Guilherme Valente (por lapso publicámos antes uma versão inicial, de rascunho):
Tenho, evidentemente, consciência da gravidade da situação que estamos a viver. E no entanto... Passei a tarde de domingo com uns amigos, num convívio que se prolongou até cerca das 23h. E aconteceu-me aquilo que a minha formação e tudo que o que estamos a viver deveria tornar inimaginável que me acontecesse: esqueci-me da comunicação do Presidente da República. Esquecimento que tem um óbvio, brutal significado.
Nos países que não têm regimes democráticos, ou nos quais o mecanismo das eleições não permite realmente que o povo escolha, que mande os maus governantes para casa, mas em que foi emergindo uma classe média e uma juventude instruída, que domina os novos meios de comunicação, rebentou a contestação política e social. É o caso da Tunísia e do Egipto. No Brasil, com um regime democrático eleitoral, o protesto centra-se na corrupção das elites e no gasto sumptuário, desviado da prioridade de investimento na educação e na saúde.
E em Portugal? Em Portugal alastrou e instala-se o sentimento, a evidência, quiçá, de que a democracia que temos funciona numa realidade cultural e petrificou numa realidade partidária que parecem tornar impossível a resolução dos problemas económicos e financeiros do País, garantir e aprofundar a liberdade.
Isto é, petrificou na instalação e no domínio blindado do Estado por partidos autistas aos interesses do País, logo, por governos que, em vez de servirem o interesse do povo que determinou a sua designação, reproduzem o que não pode deixar de ser visto como uma manifesta recorrente incompetência, irresponsabilidade, mentira, frequentemente ligadas à grande ou pequena corrupção, à incapacidade ou falta de vontade para as enfrentar. Tudo isto e o medo, o medo que a referência lamecha, muito «estado novo», ao «respeito devido às instituições», parece visar induzir.
Uma situação cujas dramáticas manifestações tornam cada vez mais cívica e moralmente intolerável o alheamento ou a indiferença daqueles que materialmente não são, ou sentem não vir a ser, afectados por ela.
Que fazer quando os que ocupam as instituições às quais caberia liderar o desenvolvimento do País e promover a liberdade, as tornam em sede de obstáculo a esse desenvolvimento, de ameaça ao florescimento da liberdade? Há excepções, claro, excepções de boas intenções, mas que rapidamente são vencidas ou desistem, são honrosas, mas quase não contam.
Que mecanismos, de equilíbrio e controlo, será necessário conceber e lutar para impor? Mecanismos que enfrentem esta cultura e esta realidade partidária, que impedem a construção de um futuro finalmente autónomo e continuada e sustentadamente livre dos Portugueses?
Será preciso inventar? Importar, sim, será preciso importar mecanismos e atitudes. Mas também inventar, criar em função de uma realidade cultural nossa, para responder a mecanismos de identidade, a atitudes (ou vícios) muito próprios e persistentes. Projecto que o círculo vicioso, a blindagem do sistema, imposta pela cumplicidade de todos os senhores de todos os partidos, parece tornar impossível ser realizável sem rupturas. Realização que parece cada vez mais inatingível, nestes dias dramáticos que temos vivido, que tudo indica se perpetuarão, dias que por isso mesmo se poderão tornar em dias da ira.
Está a circular na net uma cópia do Diário da República que refere algo que sendo aparentemente irrelevante é evidência expressiva do despudor político do costume. Apesar do apregoadíssimo excesso de funcionários públicos, o Governo (quem no Governo?) acaba de contratar, de colocar na função pública, na carreira técnica, dois recém-licenciados, com currículo vulgaríssimo, aliás. Para quê? Para -- imagine-se! - acompanhar as negociações com a troika. O que podemos fazer?
Tudo a traduzir a indiferença chocante de quem sentirá ter absoluta impunidade, política e civil. A lembrar, não fora a formalidade, recorrentemente inútil, aliás, das eleições, a realidade de algumas sociedades latino-americanas.
Mas então, se é assim, porque não assistimos ainda em Portugal ao levantamento de protesto que se verifica no Brasil ou na Turquia, apesar, de serem países com um crescimento económico significativo?
Porque em Portugal a confortável situação económica das elites e um estado social -- artificialmente sustentado com parte da dívida astronómica contraída (a outra levou-a a corrupção), têm «pago» a cumplicidade, o alheamento, o conformismo, a aceitação dos que poderiam revoltar-se. E enquanto o pau vai…
Por outro lado, a crescente degradação da educação promovida irresponsavelmente pelos sucessivos governos nos últimos trinta anos, dando diplomas, mas semeando a ignorância, a indiferença cívica, o desinteresse político, o consumismo e a frivolidade (que a situação nas universidades, a resistência acéfala a uma exigência escolar mínima, as reivindicações egoístas, documentam), privaram o país, na dimensão necessária, da juventude informada, crítica, generosa, inconformada e exigente que naqueles outros países esteve na origem e é uma componente liderante da mobilização social e da mudança política.
Mas também em Portugal, num quadro de determinações que, curiosamente, se aproximam das do brasileiro e do turco, mas, porventura, também do egípcio e do tunisino (apesar das enormes diferenças, claro), também em Portugal parece inevitável que a degradação crescente da situação económica, o desemprego dos jovens (o fim da ilusão facilitista em que viveram durante todos estes anos de devastação educativa), a impossibilidade do sistema pôr fim à sua própria reprodução, isto é, por razões materiais, mas, enfim, também por razões intelectuais e morais, parecem inevitáveis a explosão social e a contestação política que determinarão, enfim, a mudança da nossa endémica cultura, atitudes, realidade partidária e política.
Depois de tantas outras crises, resolvidas pela humilhação ou por soluções providenciais temporárias (comércio dos escravos, especiarias da Índia, oiro do Brasil, remessas dos emigrantes, dinheiro da Europa), crises que, por isso, não mudaram a cultura de dependência do Estado e de subserviência aos políticos, por ele e eles sempre encorajada..., parece, parece, anunciar-se agora, induzida pela crise material e a humilhação nacional, a crise de consciência que, finalmente, fará dos súbditos cidadãos.
Guilherme Valente
Tenho, evidentemente, consciência da gravidade da situação que estamos a viver. E no entanto... Passei a tarde de domingo com uns amigos, num convívio que se prolongou até cerca das 23h. E aconteceu-me aquilo que a minha formação e tudo que o que estamos a viver deveria tornar inimaginável que me acontecesse: esqueci-me da comunicação do Presidente da República. Esquecimento que tem um óbvio, brutal significado.
Nos países que não têm regimes democráticos, ou nos quais o mecanismo das eleições não permite realmente que o povo escolha, que mande os maus governantes para casa, mas em que foi emergindo uma classe média e uma juventude instruída, que domina os novos meios de comunicação, rebentou a contestação política e social. É o caso da Tunísia e do Egipto. No Brasil, com um regime democrático eleitoral, o protesto centra-se na corrupção das elites e no gasto sumptuário, desviado da prioridade de investimento na educação e na saúde.
E em Portugal? Em Portugal alastrou e instala-se o sentimento, a evidência, quiçá, de que a democracia que temos funciona numa realidade cultural e petrificou numa realidade partidária que parecem tornar impossível a resolução dos problemas económicos e financeiros do País, garantir e aprofundar a liberdade.
Isto é, petrificou na instalação e no domínio blindado do Estado por partidos autistas aos interesses do País, logo, por governos que, em vez de servirem o interesse do povo que determinou a sua designação, reproduzem o que não pode deixar de ser visto como uma manifesta recorrente incompetência, irresponsabilidade, mentira, frequentemente ligadas à grande ou pequena corrupção, à incapacidade ou falta de vontade para as enfrentar. Tudo isto e o medo, o medo que a referência lamecha, muito «estado novo», ao «respeito devido às instituições», parece visar induzir.
Uma situação cujas dramáticas manifestações tornam cada vez mais cívica e moralmente intolerável o alheamento ou a indiferença daqueles que materialmente não são, ou sentem não vir a ser, afectados por ela.
Que fazer quando os que ocupam as instituições às quais caberia liderar o desenvolvimento do País e promover a liberdade, as tornam em sede de obstáculo a esse desenvolvimento, de ameaça ao florescimento da liberdade? Há excepções, claro, excepções de boas intenções, mas que rapidamente são vencidas ou desistem, são honrosas, mas quase não contam.
Que mecanismos, de equilíbrio e controlo, será necessário conceber e lutar para impor? Mecanismos que enfrentem esta cultura e esta realidade partidária, que impedem a construção de um futuro finalmente autónomo e continuada e sustentadamente livre dos Portugueses?
Será preciso inventar? Importar, sim, será preciso importar mecanismos e atitudes. Mas também inventar, criar em função de uma realidade cultural nossa, para responder a mecanismos de identidade, a atitudes (ou vícios) muito próprios e persistentes. Projecto que o círculo vicioso, a blindagem do sistema, imposta pela cumplicidade de todos os senhores de todos os partidos, parece tornar impossível ser realizável sem rupturas. Realização que parece cada vez mais inatingível, nestes dias dramáticos que temos vivido, que tudo indica se perpetuarão, dias que por isso mesmo se poderão tornar em dias da ira.
Está a circular na net uma cópia do Diário da República que refere algo que sendo aparentemente irrelevante é evidência expressiva do despudor político do costume. Apesar do apregoadíssimo excesso de funcionários públicos, o Governo (quem no Governo?) acaba de contratar, de colocar na função pública, na carreira técnica, dois recém-licenciados, com currículo vulgaríssimo, aliás. Para quê? Para -- imagine-se! - acompanhar as negociações com a troika. O que podemos fazer?
Tudo a traduzir a indiferença chocante de quem sentirá ter absoluta impunidade, política e civil. A lembrar, não fora a formalidade, recorrentemente inútil, aliás, das eleições, a realidade de algumas sociedades latino-americanas.
Mas então, se é assim, porque não assistimos ainda em Portugal ao levantamento de protesto que se verifica no Brasil ou na Turquia, apesar, de serem países com um crescimento económico significativo?
Porque em Portugal a confortável situação económica das elites e um estado social -- artificialmente sustentado com parte da dívida astronómica contraída (a outra levou-a a corrupção), têm «pago» a cumplicidade, o alheamento, o conformismo, a aceitação dos que poderiam revoltar-se. E enquanto o pau vai…
Por outro lado, a crescente degradação da educação promovida irresponsavelmente pelos sucessivos governos nos últimos trinta anos, dando diplomas, mas semeando a ignorância, a indiferença cívica, o desinteresse político, o consumismo e a frivolidade (que a situação nas universidades, a resistência acéfala a uma exigência escolar mínima, as reivindicações egoístas, documentam), privaram o país, na dimensão necessária, da juventude informada, crítica, generosa, inconformada e exigente que naqueles outros países esteve na origem e é uma componente liderante da mobilização social e da mudança política.
Mas também em Portugal, num quadro de determinações que, curiosamente, se aproximam das do brasileiro e do turco, mas, porventura, também do egípcio e do tunisino (apesar das enormes diferenças, claro), também em Portugal parece inevitável que a degradação crescente da situação económica, o desemprego dos jovens (o fim da ilusão facilitista em que viveram durante todos estes anos de devastação educativa), a impossibilidade do sistema pôr fim à sua própria reprodução, isto é, por razões materiais, mas, enfim, também por razões intelectuais e morais, parecem inevitáveis a explosão social e a contestação política que determinarão, enfim, a mudança da nossa endémica cultura, atitudes, realidade partidária e política.
Depois de tantas outras crises, resolvidas pela humilhação ou por soluções providenciais temporárias (comércio dos escravos, especiarias da Índia, oiro do Brasil, remessas dos emigrantes, dinheiro da Europa), crises que, por isso, não mudaram a cultura de dependência do Estado e de subserviência aos políticos, por ele e eles sempre encorajada..., parece, parece, anunciar-se agora, induzida pela crise material e a humilhação nacional, a crise de consciência que, finalmente, fará dos súbditos cidadãos.
Guilherme Valente
sábado, 20 de julho de 2013
Ah, não vi!....
Há cerca de uns 13 anos, o Banco Comercial Português, hoje Millenniumbcp, entendeu fazer um aumento de capital por emissão de acções. Os gestores de conta telefonaram aos seus clientes com linhas de crédito especiais para quem quisesse comprar as acções e o banco chegou mesmo a mandar uma carta junto com o extracto informado os clientes disso mesmo.
Qual o problema? Os bancos aumentam capital para poderem emprestar mais dinheiro. Emprestar dinheiro para o cliente entrar no capital do banco é um truque, porque o cliente não tinha esse dinheiro, esse dinheiro veio do próprio banco, ou melhor dos depositantes. É pedir emprestado ao banco para comprar o banco. Se o cliente der as acções como colateral, como aconteceu no caso BCP, então a coisa passa do ilícito para o ridículo. Como o dinheiro sai do banco e volta a entrar com soma nula, mas o capital é aumentado, esse montante pode ser multiplicado por 12.5 em termos de autorização para ceder novo crédito.
Outro truque, bem conhecido por envolver figuras importantes do regime, prende-se com o fingir que se está a entrar no capital quando, no fundo, se está apenas a depositar lá dinheiro. O banco vende as suas acções a alguém com o compromisso de as recomprar por um montante pré estabelecido. Obviamente, o dinheiro não está a ser investido, está a ser depositado sem risco. O caso aconteceu no BPN, como sobejamente noticiado.
Em ambos os casos, o Banco de Portugal a quem cabe a fiscalização deste tipo de irregularidades apareceu anos depois a dizer que não viu. O governador da altura até chegou a meter a culpa nas auditoras, com alguma infelicidade porque estas tinham expresso a sua preocupação durante anos sem que o regulador ligasse nenhuma. O caso do BPN chega a ser caricato por alegadamente envolver um alto funcionário do BdP, hoje presidente da republica.
Porquê trazer este problema nesta altura? Porque o fenómeno se está a repetir. Um accionista entrou no capital dos bancos para lhe pedir emprestado mais dinheiro. E entrou com o compromisso de tirar de lá o dinheiro, uma combinação dos dois truques. Esse accionista é o estado português. Que, curiosamente, tem a esmagadora maioria do capital de outro banco, que procedeu recentemente a um aumento de capital e que, segundo informações que tive, tinha os comerciais a venderem linhas de credito aos clientes para comprarem as suas próprias acções....
Alguma coisa destas foi escondida? Não, este post também não. Por isso, estou curioso para ver que desculpa vai ser dada desta vez.
Qual o problema? Os bancos aumentam capital para poderem emprestar mais dinheiro. Emprestar dinheiro para o cliente entrar no capital do banco é um truque, porque o cliente não tinha esse dinheiro, esse dinheiro veio do próprio banco, ou melhor dos depositantes. É pedir emprestado ao banco para comprar o banco. Se o cliente der as acções como colateral, como aconteceu no caso BCP, então a coisa passa do ilícito para o ridículo. Como o dinheiro sai do banco e volta a entrar com soma nula, mas o capital é aumentado, esse montante pode ser multiplicado por 12.5 em termos de autorização para ceder novo crédito.
Outro truque, bem conhecido por envolver figuras importantes do regime, prende-se com o fingir que se está a entrar no capital quando, no fundo, se está apenas a depositar lá dinheiro. O banco vende as suas acções a alguém com o compromisso de as recomprar por um montante pré estabelecido. Obviamente, o dinheiro não está a ser investido, está a ser depositado sem risco. O caso aconteceu no BPN, como sobejamente noticiado.
Em ambos os casos, o Banco de Portugal a quem cabe a fiscalização deste tipo de irregularidades apareceu anos depois a dizer que não viu. O governador da altura até chegou a meter a culpa nas auditoras, com alguma infelicidade porque estas tinham expresso a sua preocupação durante anos sem que o regulador ligasse nenhuma. O caso do BPN chega a ser caricato por alegadamente envolver um alto funcionário do BdP, hoje presidente da republica.
Porquê trazer este problema nesta altura? Porque o fenómeno se está a repetir. Um accionista entrou no capital dos bancos para lhe pedir emprestado mais dinheiro. E entrou com o compromisso de tirar de lá o dinheiro, uma combinação dos dois truques. Esse accionista é o estado português. Que, curiosamente, tem a esmagadora maioria do capital de outro banco, que procedeu recentemente a um aumento de capital e que, segundo informações que tive, tinha os comerciais a venderem linhas de credito aos clientes para comprarem as suas próprias acções....
Alguma coisa destas foi escondida? Não, este post também não. Por isso, estou curioso para ver que desculpa vai ser dada desta vez.
sexta-feira, 19 de julho de 2013
DEZ LIVROS IGNORADOS
Minha crónica publicada no último JL:
Em Portugal publica-se um livro em cada
meia hora. Há cada vez mais títulos novos, embora as tiragens médias estejam a
descer. Como os negócios da distribuição e comércio tradicional do livro estão
em declínio, há muitos livros que não chegam aos leitores. Dou conta de dez
livros mais ou menos recentes, sobre ciência ou à volta de ciência, que valem a
pena serem lidos, mas que não tiveram grande difusão. A ordem é a alfabética do
apelido do autor.
- Jorge de Alarcão, As Pontes de Coimbra que se afogaram no rio, Coimbra: Ordem dos
Engenheiros, 2012.
Da autoria de um dos maiores arqueólogos
portugueses, especialista do romano, um livros sobre as antigas pontes de Coimbra,
numa edição muito cuidada e de formato original.
- Miguel Soares de Albergaria, Condições de atraso do povo português nos últimos
dois séculos, Lisboa: Palimpsesto, 2012.
Um ensaio, muito bem fundamentado e
arguido, sobre o famoso problema do atraso português, a “ferida” onde Quental pôs
o dedo. Neste livro, duas causas sociológicas são apontadas para o declínio
económico: a temporalidade tradicional e a desvalorização do realismo. Isto é,
nem lidamos bem com o tempo, nem sabemos bem ver o real.
- João Maria André, Multiculturalidade, identidades e mestiçagem: o diálogo intercultural
nas ideias, na política, nas artes e na religião, Coimbra: Palimage, 2012.
Um filósofo da ciência da Universidade de
Coimbra e também encenador e autor teatral trata com erudição e profundidade o
cruzamento de culturas no mundo globalizado de hoje, num conjunto de textos.
- Cristina Brito e Inês Carvalho (editoras),
Cetáceos de Portugal: Passado,
Presente Futuro. Lisboa: Escola de
Mar, 2012.
Um livro em bom papel e muito ilustrado
sobre os mamíferos marinhos que habitam as nossas costas, que abrange, numa
‘pluralidade de registos de biólogos, oceanógrafos, e ecologistas, tanto os golfinhos do Sado como as baleias
dos Açores.
- Palmira Fontes da Costa, Manifesto para uma Nova Química, Caldas
da Rainha: Palavrão, 2011.
No Ano Internacional da Química, celebrado
em 2011, uma historiadora de ciência da Universidade Nova de Lisboa publica em
português. Devidamente prefaciado e comentado, num livrinho com muito bom design,
o Discurso Preliminar do Traité Elementaire de Chimie de Antoine-Laurent
Lavoisier, o “pai” da Química, que nunca tinha sido traduzido em português.
- Augusto José Fitas e outros (editores), A Actividade da Junta de Educação Nacional,
Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2012.
Historiadores de ciência da Universidade
de Évora publicam os resultados de um colóquio realizado naquela Universidade
em 2011 sobre o organismo, criado em 1929, que antecedeu a actual Fundação para
Ciência e a Tecnologia e o Instituto Camões.
- António Luís Isidoro, Histórias para um livro sem nome. Histórias
da vida clínica de um médico, Óbidos: Sinapis, 2011.
Uma adição à literatura sobre medicina por
um médico do Hospital de Aveiro que, formado em Coimbra, correu o mundo, incluindo
Macau,. S. Tomé e Príncipe e Timor (a experiência timorense deu um livro à parte:
Timor 1999). Em fotografias imagens
do 25 de Abril e do 1 de Maio de 1974 em Coimbra.
- Emídio Queiroz e Lopes (tradução e
notas), Tratado Elementar de Química de
Antoine-Laurent Lavoiser, Sociedade Portuguesa de Química, 2011.
No Ano da Química, e patrocinada pela
Sociedade científica que entre nós liga os praticantes dessa disciplina, eis
numa tradução muito cuidada, em dois volumes, um clássico da história da
ciência (o tradutor já nos tinha dado outros clássicos). E lá está o Manifesto ou Discurso Preliminar, que chegou portanto em duas traduções. Não há
mal que sempre dure.
- António Serralheiro, O Vulcão da Malveira, Lisboa: Chiado
Editora, 2012.
O autor, geólogo, publicou teses sobre
vulcões de Cabo Verde e o antigo vulcão de Lisboa. O subtítulo da capa é
convidativo: “Sabia que Lisboa e
arredores foram construídos sobre um complexo vulcânico?” Venha conhecer este
vulcão alfacinha ao pormenor”.
- Carlos Marques Simões, Giordano Bruno: O Filósofo Errante. Lisboa:
Vírgula, 2011.
Uma pequena biografia do teólogo e
filósofo que em 1600 foi queimado em Roma pela Inquisição, da autoria de um
professor de Psicologia, que trabalhou na Universidade do Algarve, e que hoje,
aposentado, preside ao Conselho de Fundadores do Instituto Giordano Bruno, com
sede em Faro e cujo fim é a promoção das ciências e das artes.
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