Chegado a uma certa idade, como diz Eugénio Lisboa, sentiu uma vontade irresistível de escrever as suas memórias mais recuadas, para seu gosto pessoal, pelo puro prazer de o fazer e sem outros intuitos que este seu deleite, considerando, por isso, que poucos ou nenhuns se interessarão por este trabalho.
Penso que se engana.
Primeiro, porque é difícil ceder às memórias quando elas, com o tempo, se vão decantando, ganhando tanta nitidez que têm que se expressar de alguma maneira, de tal modo sentimos que, nelas, está mais do que a nossa vida, somos nós mesmo que pelas memórias se redime de qualquer coisa que toda a vida nos apelou, mas que acaba quase sempre por nos escapar. E, portanto, o sentimento que o levou a revivê-las será compreendido por todos os que passaram uma certa etapa da vida, e isso é já uma boa razão.
E em segundo lugar, porque elas acabam frequentemente por ser muito mais do que simples revivências pessoais, como é manifestamente o caso. Todos terão as suas, importantes e de muito interesse para a vida de cada um, mas algumas adquirem valor maior, ou pela riqueza própria ou pelo modo como são contadas. De facto, há muitos livros de memórias, mas mais do que o valor delas para o próprio, interessa a qualidade que alcancem. Felizes os que são capazes de as traduzir em formas de beleza ou de interesse suficiente para proveito próprio e alheio.
É certo que não se sente uma grande preocupação formal em Eugénio Lisboa, mas, mesmo que aqui e ali sejam algo coloquiais (em expressões a propósito, diga-se), sempre prevalece a qualidade e a riqueza a que nos habituou, o seu estilo rico, dinâmico, enredado e cativante. E que acaba por casar muito bem com o que nos quer contar, ganhando assim uma segunda razão a publicação delas.
Imagem retirada daqui |
Há um primeiro aspeto que vale a pena referir.
Eu não vivi na Lourenço Marques daqueles tempo (nem depois; nunca lá estive) mas consegui sentir e “ver” muito daquilo que nos relata: o clima, as cores, os cheiros, os mercados indígenas, o Índico e suas praias, os baldios do futebol, os dias imensos das férias, em suma, essa sedução de África, que sentiram todos os que por lá passaram, ou lá nasceram, e que lhes ficou para sempre na alma. Assistimos, por outro lado, ao seu despertar para a vida, ao nascimento da sua consciência crítica, às primeiras evidências da estratificação social, que ele (e família) sentiram, pertencentes a um estatuto algo ambíguo entre os africanos do musseque e os brancos da Polana, entre o povo e os snobs, sentindo-se por isso um pouco estrangeiro entre os meninos do liceu, algo tolerado pela sua modéstia económica.
Mas honrado e demasiado inteligente para ouvir o ímpeto da sua vontade e perceber a sua superioridade em relação a quase todos os colegas. Capaz, portanto, de desenvolver a força do seu sonho de futuro, intelectual, cultural e científico, numa Europa longínqua e então mítica, empolgado pela ideia de uma missão muito pessoal, embora indefinível, coisa corrente entre os adolescentes mais dotados.
Assim, a sua condição de branco com poucas posses, vivendo longe da zona fina da cidade, acabou por lhe proporcionar a sorte de uma multiculturalidade, intercultural e transcultural, digamos assim, com todos os ingredientes de uma formação vivida, e estruturante, porque sem ressentimentos nem invejas, que a própria inteligência e sucesso escolar impedem, proporcionando, ao mesmo tempo, a capacidade de tirar dos dois lados o melhor que cada um tinha e assim superar a ambos.
Mais interessante ainda é acompanharmos o itinerário humano e cultural de Eugénio Lisboa, até pelo grande ensinamento para hoje. Sobretudo seguir a galeria das suas personagens e a ordem de aparecimento dos autores da sua formação, e que, para sempre, lhe serviram de referência. Os personagens, para além de alguns familiares, que ele fotografa bastante bem em ângulos afetivos e críticos, os exóticos ou típicos, aqueles que habitam a nossa juventude e que, ao fim de muitos anos, nos parecem quase irreais, como se nunca tivessem existido.
Mas também, e sobretudo, a galeria dos seus professores. O rigor com que os descreve, mas de um modo muito humano e compreensivo chega a ser comovedor. E mostra-nos - como se o não soubéssemos ainda – como os grandes professores marcam a nossa vida de uma maneira indelével e são os esteios de muito do que de bom e de valioso podemos vir a ser mais tarde.
Há ali páginas muito belas, de ternura e agradecimento para alguns dos seus melhores professores da instrução primário e do liceu. E também outras muito críticas para com os maus, os balofos e os pérfidos, que também os havia, como se sabe.
Finalmente, é muito interessante seguir a descrição que nos faz do seu itinerário literário, o gosto pelos livros e o pouco dinheiro para os comprar, o “namoro” das montras das livrarias, a “Minerva Central”, a “Progresso” (ah, como eu o compreendo!) o aparecimento dos autores e as marcas que iam deixando numa personalidade em formação: Herculano, Garrett, Júlio Dinis, e depois e sobretudo Stendhal, e a perturbação dos americanos, Mark Twain, Hemingway, Faulkner, Sorayan e de novo os europeus, Óscar Wilde, Gide, Proust, Roger Martin du Gard, George Eliot, Dickens, Charlotte Brontë, e José Régio, claro! E doutros mais ligeiros, (por que não?) algum Emílio Salgari, Júlio Verne, Condessa de Segür, etc. E sempre novos autores, novas experiências e a consciência crescente desse campo riquíssimo, contraditório e inesgotável que é a grande literatura.
Eugénio Lisboa levou-me a sentir de novo, embora por outras paragens e a uma geração de distância, a sedução dos autores, o cheiro dos livros, certas palavras mágicas como “Portugália Editora”, “Editorial Gleba”, “Livros do Brasil”,“Editorial Inquérito”, “Romances Universais” e a perturbação de certas obras, a experiência funda e fecunda que causam numa personalidade em formação.
Por tudo isto é muito interessante ver como ele reconhece a importância determinante que os grandes autores tiveram na sua formação. Pudera! Todo o livro é a veemente afirmação disso.
Cito, a propósito (p. 142): «O 6. º ano do liceu começou, como de costume, em Setembro (de 1945). Encontrava-me mais forte, mais desenvolto. Ter passado incólume pelas tragédias de O’Neill tinha-me fortalecido. “Atravessar” aquilo, sem ficar chamuscado, pelo contrário, sentir que algo dentro de mim se “lavara” e me purificara e fortalecia - dava-me uma sensação de confiança e de força».
“Diz-me o que lês (ou leste) dir-te-ei quem és”, é uma das maiores verdades que se pode dizer sobre educação e formação em geral. Estranho é que haja gente, com responsabilidades educativas, que não o saiba.
A profundidade humana, a riqueza e a complexidade das pessoas e das situações, os dramas, a experiência condensada que proporcionam, a libertação pela imaginação, a fruição da beleza e a plenitude que as grandes obras proporcionam, como é que se pode formar um ser humano sem tudo isto?
E como é que esta riqueza inesgotável e esta experiência se podem substituir por resumos, súmulas, sinopses e outros miseráveis sucedâneos que por aí andam? E que até podem dar para tirar boas notas, mas que deixam pelo caminho seres planos, sem profundidade nem densidade, eternamente “inocentes”, mas convencidos, imaturos mas desde logo cediços, e acima de tudo indiferentes à beleza e sem perceberem o tudo que perdem.
Nada substitui a leitura dos grandes mestres, como é possível que tanta gente “responsável” o não saiba e o não pratique?
Como é possível que no nosso ensino se estejam a substituir os grandes autores pelos simulacros?
João Boavida
14 comentários:
Meu caro Professor,
Doce, e muito lúcido e comovente é também este seu texto. A um bom original (que não li, mas pela "aragem" se percebe o que vai na carruagem, como se diz) acrescenta uma boa e pedagógica opinião sobre ele.
Como andamos precisados de textos que desencadeiem textos assim!
Não porque não haja quem produza uns e outros, como se comprova.
Mas não pode nenhum Professor permitir-se não insistir, insistir, insistir... docemente. É a sua (deles) "obrigação".
Agradeço[-lhe(s)].
Parabéns pelos dois textos.
O livro exige-nos um frente a frente; dizia alguém que li, a propósito do Dia Mundial do Livro, que "não podemos ler de esguelha".
Creio que tal frontalidade afronte.
Concordo, o professor tem que conseguir "by example"; e dar a provar por sugestão e aroma.
"seres planos, sem profundidade nem densidade, eternamente “inocentes”, mas convencidos, imaturos mas desde logo cediços, e acima de tudo indiferentes à beleza e sem perceberem o tudo que perdem."
Quem é que nós conhecemos assim?
Professor João Boavida;
No post “Voltando a nós próprios” deixei-lhe uma pergunta para esclarecimento.
E se aqui volto a falar no assunto é porque as considerações que o senhor deixa na parte final deste seu post, também não são, para mim, suficientemente esclarecedoras... penso até que podem ser confundidas, na falta de um esclarecimento, com a ideologia do senhor Guilherme Valente que está bem patente no vídeo que poderá ver neste link http://dererummundi.blogspot.pt/2012/12/os-anos-devastadores-do-eduques.html
Se é notório que o senhor Guilherme Valente lhe falta a “arte e o engenho” para esconder uma ideologia ultrapassada, ao senhor Professor João Boavida não, se para isso o quisesse fazer...
Professor João Boavida se a literatura erudita, a poesia, etc. são importantes, se “afinam” a inteligência, aceito isso perfeitamente, mas há que cuidar, primeiro, que esses cérebros dispõem dos nutrientes indispensáveis, do pão, do ambiente... sem isso nada feito, e é neste particular que eu não encontro nada nos seus dois textos.
Cordialmente,
Em virtude de um lapso, o comentário que aqui tinha escrito foi removido. Este, não sendo igual, penso contudo não se afastar muito do espírito do anterior.
Não quero, nem quis, "esconder" ideologias. Nem penso que as ideologias devam ser para aqui chamadas. As ideias sim. O que quis dizer é que nada de facto substitui, em termos de formação humana, a usufruição das grandes obras e o convívio com os grandes autores, assim como, obviamente, a ação, a prática e o exemplo dos grandes educadores. É o que o livro de Eugénio Lisboa vem dizer de muitas maneiras.
Quanto às grandes obras, aquilo que elas proporcionam (das mais variadas maneiras) em experiência qualificada e decantada, em informação, em conhecimento, é tão rico, variado e denso que nenhuma vida, por muito longa e intensa que seja, poderá alguma vez alcançar. Além disso há a usufruição da beleza estética que nada pode substituir. Penso que há livros que, lidos em certas fases da nossa vida, são estruturantes de uma inteligência e de uma personalidade, sobretudo se estiver em formação. Não há súmulas ou resumos que possam pois, substituir essa experiência única e pessoal. Por outro lado, as boas práticas educativas, o saber e o exemplo sempre foram as grandes qualidades dos professores. E isto é válido para a educação "moderna" e para outra que seja considerada mais antiga. Não vou entrar pela querela dos antigos e dos modernos. Não é que não haja muito para dizer, e não haja imensos erros e disparates por aí à solta, mas aqui só serviria para nos desviar do que agora interessa: o valor inestimável, em termos humanos, formativos e estéticos das grandes obras. E, já agora, o fator de felicidade que podem ser.
Professor João Boavida;
Eu nunca disse que o senhor quis esconder ideologias ou sequer que elas deviam ser aqui chamadas... apenas disse que os seus textos abordam o “discurso” de outros, ideologicamente bem marcados, e os seus textos não tem uma demarcação nesse particular.
Mas ainda bem que as ideologias ficam de fora, é mais fácil conversar.
Eu não adivinho, trabalho... e porque as coisas não são tão lineares quanto o senhor nos mostra nos seus textos, deixo-lhe uma lição, uma aprendizagem, certo de que dela tirará tanto proveito quanto eu. Deixo uma transcrição do grande Mestre, o Professor Sebastião e Silva.
“Ensino idêntico para todos, é um principio talvez muito cómodo para o professor; mas, para bem de todos, há que substitui-lo por este outro: ensino que favoreça, tanto quanto possível, as aptidões de cada um.”
De resto, a especialização devia começar, a meu ver, já nos dois últimos anos do liceu, como se fazia antes de 1936; conviria mesmo ir mais longe do que então, estabelecendo maior número de ramificações. Esses dois últimos anos teriam portanto um carácter pré-universitário.
Não quer isto dizer que se deva desprezar a cultura geral. Convém estimular, em certa medida, o interesse por questões de ordem geral, e, sobretudo, favorecer hábitos de leitura. Mas não exageremos! Subsiste entre nós um culto perigoso do enciclopedismo, e da multiplicidade de aptidões – como se fossemos felizes contemporâneos de Descartes ou de Leonardo da Vinci. Será preciso lembrar que não é esse culto a maneira mais adequada de evitar o acréscimo de incompetência?
Eis como penso a respeito do problema do ensino liceal, e da posição que nele deve-se atribuir à Matemática. E é pensando assim que julgo ser homem do meu tempo, virado para os problemas do meu tempo e do meio em que vivo.”[Sebastião e Silva – Textos Didácticos vol III pag.261]
NOTA: É o senhor Professor João Boavida que apela às pessoas responsáveis no ensino, e que sabe que o maior dever dessas pessoas é precisamente o “de evitar o acréscimo de incompetência”.
Só parece esquecer que a realidade da vida, deste mundo global em que vivemos, é mais complexa do que aquela que nos apresenta (é menos erudita e menos poética!!!).
Cordialmente,
Professor João Boavida;
E no entanto nada referi acerca da rica personalidade e Obra de Eugénio Lisboa; cujas qualidades já por diversas vezes nos foram aqui dadas a conhecer pelo Professor Rui Baptista;
Mas é o problema que o país têm em mãos que deve ser o mais rapidamente debelado, se possível, repare-se nele, por exemplo neste post do Professor Rui Baptista.
http://dererummundi.blogspot.pt/2012/09/o-ensino-profissional-na-ordem-do-dia.html
Eu tenho a ideia que o pensamento do Professor Rui Baptista se identifica muito com as palavras do Professor Sebastião e Silva “... ensino que favoreça, tanto quanto possível, as aptidões de cada um.”
Repare que no texto do Professor Rui Baptista não existe nada de ideologia escondida acerca da “Natureza do Trabalho”.
Devo dizer que existem no DRN inúmeros posts do Professor Rui Baptista em que ele critica as universidades privadas de “vão de escada”, que servem para diplomar a incompetência daqueles que podem pagar...
Aliás, em tempos citei o Professor Bento de Jesus Caraça, em que escrevi “todos devem ser obrigados a frequentar a escola e a ir nela até onde as suas capacidades o permitam” e veja neste link a opinião do Professor Rui Baptista.
http://dererummundi.blogspot.pt/2012/05/cursos-tecnicos-x-bobagens-academicas.html
P.S.: Contudo é minha convicção desde o inicio que os dois textos do Professor João Boavida, defendem uma posição que é a de outros discursos marcadamente ideológicos.
Meu Caro Ildefonso Dias
Está enganado quanto à ideia de que os meus dois textos «defendem uma posição ... marcadamente ideológica», como diz. E quanto ao texto do Prof. Sebastião e Silva, que me proporcionou, e que agradeço, estou inteiramente de acordo com ele, e podia apresentar-lhe páginas e páginas onde escrevi coisas muito próximas disso. Isso em nada altera o valor dos grandes autores, que não são para decorarmos, mas para nos perturbarem , nos fazerem pensar, nos amadurecerem, nos desenvolverem o sentido crítico, a capacidade de pensar, o sentimento de admiração e o desejo de fazer igual ou melhor, se possível. Os grandes mestres são aqueles que levam os discípulos a ultrapassá-los. Os grandes mestres são os que personalizam e libertam os seus discípulos.
Com o pedido de publicação, do meu querido Amigo Professor Eugénio Lisboa, recebi um mail com um comentário ao admirável "post" do Professor João Boavida. Tem o seguinte teor o referido comentário:
"Só hoje - dia 28 - li o belíssimo comentário do Professor João Boavida ao meu livro ACTA EST FABULA. Como é muito elogioso, quase me sinto retraído em relação a comentá-lo. Mas revela uma tal compreensão e inteligência profunda do que para mim foi importante recordar, uma tal sensibilidade empática em relação ao texto de "outro", que não resisto a dizer que quase me vieram as lágrimas aos olhos. Uma das maiores alegrias na vida é sentirmo-nos compreendidos. Claro que eu não digo - e o Prof. João Boavida bem o nota - que os professores eram todos igualmente bons e que o sistema de antigamente é que era bom, por comparação com o de hoje. Nada disso. De resto, a maior parte dos livros que então li, li-os fora do liceu e sem que o liceu tenha tido que ver com isso. O que digo é que, mesmo num sistema muito discutível, aparecem professores excepcionais e que esses nos marcam para sempre. E não era só em Moçambique: por cá, havia, como professores do liceu, Mário Dionísio, Vergílio Ferreira, Joel Serrão e muitos outros. E alguns dos meus professores até me deram palpites de leitura, embora eu tenha lido também e sobretudo, independentemente desses palpites, como conto, com certa minúcia, no meu livro.
Quero mais uma vez agradecer do coração ao Prof. João Boavida, o seu elegantíssimo e galhardo texto! Vou guardá-lo comigo, dentro de um exemplar do ACTA EST FABULA!
Eugénio Lisboa"
Eu li o livro mal saiu e já escrevi sobre ele, mas fiquei longe de conseguir expressar-me tão bem como o autor deste texto.
Aplausos.
onésimo
Professor João Boavida;
Há 80 anos o Professor Bento de Jesus Caraça escrevia o seguinte:
“Há alguns séculos, os destinos de um agrupamento social jogavam-se no próprio local em que o agrupamento vivia. Hoje, o futuro de nós, portugueses, joga-se tanto em Portugal, como em Nova York ou nas planícies do norte da China”.[Cultura Integral do Individuo]
Hoje essas palavras já serão triviais para o cidadão comum.
A senhora Merkel já nos fez o enorme “favor” muito recentemente, de nos avisar atempadamente que podemos perder a soberania.
O século XXI inicia-se, para nós portugueses, como sabemos... já não estaremos aqui para saber como ele vai terminar, mas podemos tentar imaginar!!
O problema, de que nos fala Bento Caraça na “Escola Única” em toda a sua extensão e compreensão está ainda muito longe de ser sequer compreendido, tal é ainda a nossa realidade.
Eu já escrevi muitas vezes aqui no DRN sobre a “Escola Única” como condição necessária ao progresso da civilização.
Logo o termo foi deturpado, achincalhado por um individuo ocioso.
Senhor Professor João Boavida, o que eu lhe quero dizer é que tudo o que o senhor diz é importante, mas primeiro, e repito, primeiro, no nosso país temos de nos concentrar em agarrar as correntes fecundantes, aquela necessidade humana, que como escreve BJC … “Dos confins da história caminham, ao encontro do homem de hoje, aquelas grandes correntes fecundantes – laicismo, interesse colectivo, democratização integral da cultura – que hão-de fazer dele o homem novo, criador da cidade nova.
Essas grandes correntes confluem na organização escolar da Escola Única que, como tal, constitui, não uma varinha mágica, como alguns supõem, nem uma obra diabólica, como outros pretendem, mas sim, uma necessidade humana, uma etapa histórica.”
Tudo isto está por fazer. Talvez não venha sequer a ser feito porque entretanto definhamos enquanto país.
É isso que no essencial eu tentei dizer-lhe, da forma que pude, com todas as minhas limitações.
P.S.: A Eugénio Lisboa quero felicitar. E dizer-lhe que sem dúvida o seu talento natural fez dele um homem de cultura, superior em qualquer parte do mundo, talento natural que me parece que emergiria e revelaria também em qualquer lugar, quaisquer que fossem as condições.
Meu Caro Professor
Eugénio Lisboa
Não tem nada que me agradecer o texto que escrevi sobre o seu livro, eu é que tenho que agradecer o prazer que me proporcionou ao lê-lo. Mas foi sobretudo o exemplo que nos deu sobre o muito que os grandes autores podem ajudar os jovens a crescer, que me obrigou a chamar a atenção sobre a sua experiência e o livro em que a relatava.
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