Não há praticamente ninguém que não tenha pisado a areia numa praia, numa duna litoral, nas margens de um rio ou de um ribeiro.
O que é a areia e de onde vem? Serão iguais todas as areias que já pisámos? São perguntas que se fazem e cujas respostas estão ao alcance de qualquer um.
Do latim arena (areia), usado como étimo de palavras portuguesas como: areeiro, local onde se extrai areia a céu aberto; arena, que tanto significa saibro como o redondel de circos e touradas e, ainda, arnela, diminutivo de arena e arenoso, local marcado pela presença de areia. Chamamos arenito a uma rocha formada por grãos de areia unidos entre si por um cimento que os aglutine. Os topónimos Arnado, Arnedo e Arneiro significam, todos eles, terreno muito arenoso ou areento, em geral, estéril. Equivalem à Gândara da Beira Litoral. Restringindo-nos, por agora, à areia, diremos que as respectivas partículas são, no geral, detritos, clastos ou grãos arrancados às rochas expostas à superfície da Terra e, como tal, sujeitas aos agentes de alteração e de erosão.
Na origem, uma areia é uma população de partículas, no geral, detritos, clastos ou grãos arrancados às rochas expostas à superfície da Terra e, como tal, sujeitas aos ditos agentes de alteração e de erosão. Pode permanecer no local e, neste caso, ainda associada à componente argilosa (resultante da alteração dos feldspatos), pode ser chamada de “saibro” ou “arena”. A transformação do saibro em areia, no sentido petrográfico do termo, como é aqui usado, tem lugar durante o transporte, em que se faz a selecção granulométrica (separação dos calibres acima e abaixo dos limites convencionados (0,064 e 2mm) e a selecção mineralógica (destruição dos mais frágeis e quimicamente instáveis e persistência dos mais duros, tenazes e quimicamente estáveis).
E
stas são as areias ditas terrígenas ou siliciclásticas. Terrígenas porque têm origem nas terras emersas, siliciclásticas porque a grande maioria dos minerais que a integram são minerais siliciosos como o quartzo (dióxido de silício) , os feldspatos e as micas (silicatos de diversas composições).
Mas há outras areias formadas por trituração de conchas, corais e outros restos esqueléticos de natureza carbonatada (geralmente carbonatos de cálcio) apelidadas de bioclásticas, sobre as quais nos debruçaremos mais tarde.
Fixando a nossa atenção nas areias do presente e do passado, em todas as situações das suas ocorrências em praias, cursos de água, dunas litorais e do deserto, em todas as latitudes do planeta, sem esquecer as associadas às moreias glaciárias, podemos distinguir diversos tipos ditados, sobretudo, por situações locais no que se refere à natureza geológica dos terrenos que, por erosão, fornecem os clastos ou grãos que as alimentam por via detrítica, mas também, pelo tipo de clima sob o qual evoluíram, desde a origem à deposição final.
Areia é um substantivo colectivo que define uma população de partículas, na grande maioria dos casos, minerais e/ou rochosas de diâmetros compreendidos entre 0,064 e 2mm, valores estes estabelecidos convencionadamente entre os que investigam os sedimentos (sedimentólogos) e os que investigam os solos (pedólogos). Em determinados estudos separam-se - areia muito fina (0,064 a 0,125mm), areia fina (0,125 a 0,25mm), areia média(0,25 a 0,5mm), areia grosseira (0,5 a 1mm), areia muito grosseira (1 a 2mm) e areão (2 a 4mm).
Acima deste intervalo dimensional consideram-se, sempre, por convenção, vários calibres de cascalho, desde a gravilha (4 a 8mm) aos blocos (com mais de 25 cm), e abaixo dele, distinguem-se o limo ou silte (0,0004 a 0,0064mm), relativamente mais fino, e a argila, ainda mais fina (abaixo de 0,0004mm), com a aparência de um pó.
O quartzo e os feldspatos são as espécies mais comuns e abundantes entre os minerais detríticos da generalidade das areias. O quartzo, bastante estável quimicamente, e duro, resiste aos agentes de alteração, erosão e transporte, predominando sobre os feldspatos. Estes, não obstante serem mais abundantes do que aquele no contexto das rochas ígneas e metamórficas (granitos, sienitos, dioritos, gabros, gnaisses, etc.) são frágeis e facilmente alteráveis na presença de água, pelo que a sua representação entre as areias diminui com o transporte, primeiro, pelas águas correntes e caso chegue ao litoral, pelo vaivém do espraio e da ressaca próprios da rebentação das vagas.
As areias que chegam às praias do Minho, provenientes da erosão das arribas graníticas locais ou das linhas de água e barrancos que os entalham, são mais ricas em feldspato do que as da Beira Litoral e de todas as outras que lhes ficam a sul, cuja evolução por transporte foi muito superior. No primeiro caso, o elevado teor de feldspatos é revelador de imaturidade e fala-se, então, de areias imaturas. No segundo caso a pobreza ou ausência destes indica a sua maturidade.
Numa areia imatura, para além do quartzo e dos feldspatos é frequente, mas não abundante, a mica branca (moscovite). De grande estabilidade química, esta espécie mineral ocorre aqui, geralmente, sob a forma de finas lamelas ou palhetas. Esta característica, decorrente da sua clivagem basal muito fácil, dá-lhe uma mobilidade no seio das águas em movimento, equivalente às dos grãos de areia de muito menor calibre, pelo que tem melhor representação nas areias de granulometria mais fina. A mica preta (biotite) tem as características hidráulicas da moscovite. Porém, a sua muito menor estabilidade reduz consideravelmente a sua participação como componente detrítico do domínio sedimentar.
As areias das regiões continentais, de maior maturidade, contêm, geralmente com carácter acessório, grãos de minerais de maior estabilidade química, com destaque para zircão, turmalina, rútilo, granadas, estaurolite, andaluzite, distena, silimanite, magnetite e ilmenite. Estas duas últimas espécies abundam em especial nas areias negras fluviais marinhas (incluindo as de praia), muitas vezes, a par de olivina, augite e horneblenda. Todos eles de densidade superior a 3,85, convencionou-se chamar-lhes “Minerais Pesados”).
Não deve esquecer-se, porém, que em certas circunstâncias, algumas destas espécies, nomeadamente, magnetite, ilmenite, cassiterite, olivina e granada podem estar presentes em quantidades significativas.
A. Galopim de Carvalho
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