sábado, 22 de abril de 2023

DE QUE POESIA SE GOSTA? QUE POESIA SE ADMIRA?

Por Eugénio Lisboa

Haverá aferidores seguros para avaliar a qualidade da boa poesia? O que é um bom poema? Como se pode estar certo de que o nosso gostar é um bom indicativo de que o poema é bom? 

Fiz, um dia, parte de um júri de poesia e eu e outro membro do júri inclinávamo-nos claramente para um determinado livro. O terceiro membro pôs-se ao alto, de forma muito categórica, muito assertiva, de alguém que nunca tinha dúvidas e nunca se enganava e declarou alto e bom som: “Esse, de maneira nenhuma!” Confesso que, tendo alguma formação científica, tanta certeza me chocou. 

Um grande físico teórico do século XX (que alguns equiparam, em grandeza, a Einstein), costumava prevenir alunos e colegas que tudo quanto ele dizia, devia sempre ser tomado como pergunta e não como afirmação. Ora, sendo o território da ciência constituído por areias muito menos movediças do que o território da literatura, e tendo os cientistas tantas incertezas, que pensar dos literatos que têm tantas certezas?

As certezas bem marteladas, acerca da solidez de edifícios assentes em pilares de duvidosa resistência, inculcam sempre um défice de inteligência, nos portadores de tais certezas. Os poetas têm dito, ao longo dos séculos, as coisas mais diversas sobre o que faz a boa poesia, sobre o que é um bom poema, qual, para eles, é o poema favorito. Depois de uma viagem, sempre interessante, por esse território de definições e escolhas, fica-se no final, mais inseguro do que antes do começo da viagem.

O belo poeta brasileiro, Mário Quintana (que traduziu, para o Brasil, o grande romance de Proust), disse esta coisa intensa, sugestiva, mas que deixa de fora muita boa poesia que admiramos: que um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que é ele que nos está a ler e não nós a ele. Paul Celan diz uma coisa igualmente bela e sugestiva, mas que não cobre, nem de longe, muito boa poesia: “Um poema é uma espécie de regresso a casa.”

Cada vez mais, penso que ainda o mais adequado, nestas matérias, é a humildade. A alguém a quem perguntaram qual o seu poema favorito, respondeu: “Quando vier a primavera”, de Pessoa. Perguntaram-lhe porquê. Respondeu: “Não sei porquê.” A mim, muitas vezes, quando me perguntam o que é um bom poema, sou tentado a dizer: “É um poema que me deixa versos no ouvido”.

Pode ser um critério duvidoso, mas convivo bem com esta dúvida.

Eugénio Lisboa

6 comentários:

Werner Heisenberg disse...

A incerteza é um bom princípio.
Eugénio Lisboa pensa muito bem, o que se reflete na sua excelente prosa e poesia.

Anónimo disse...

Um mau poema é o que se gaba, o que diz 'olhem pra mim, todo poema'. É o que respeita todas as regras mas não comove ninguém. É o que desfila lugares comuns. É o que vai embandeirado com dogmas e procura o rebanho. Tirando estes, o poema, pelo menos, não é mau. Já é um ponto de partida.

Carlos Ricardo Soares disse...

Sobre a poesia dos outros, não sei se sei alguma coisa, ou saberei. Sobre a minha, só sei que não quero saber se sei.

Anónimo disse...

'O comentário anterior é um arrazoado difícil de perceber. É um discurso muito confuso sobre ideias ainda mais confusas.. É próprio de quem não percebe muito de poesia por não gostar muito de poesia.. E é um discurso cheio de ressentimento e o ressentimento é um mau conselheiro .Aquele que não é capaz de se comover presume que ninguém é capaz de se comover: julga que ele representa toda a gente.. Há nisto um toque de megalomania. Só tem medo das regras quem não percebe que elas não aprisionam: pelo contrário, libertam. Só sabe violar as regras quem as conhece bem. O resto é "estão verdes, não prestam"

Anónimo disse...

Correcção: o meu comentário das 23.33 refere-se refere-se ao comentário das 22.48 e não ao das 23.19.. As minhas desculpas ao erradamente visado(C. R. Soares).

Anónimo disse...

"O comentário anterior é um arrazoado difícil de perceber. É um discurso muito confuso sobre ideias ainda mais confusas." Refiro-me ao comentário das 23.33 /23.42.

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