domingo, 2 de abril de 2023

Envolvimento dos alunos na escola

Em resultado de mais um congresso sobre o "envolvimento dos alunos na escola", saiu há pouco, com edição da Universidade de Castilla-la-Mancha o livro Engagement de los alumnos en la escuela: perspectivas sociales y psicológicas, coordenado por uma professora espanhola - Isabel Martinez - e um professor português - Feliciano H. Viega.

Tal como o título esclarece, os muitos trabalhos, devidamente organizados em sub-temas, que são também áreas de investigação, constituem um importante contributo para se compreender o papel da escola num momento em que se lhe nega a relevância, bem como as funções dos professores e dos alunos. Partindo de análises sociais e psicológicas, os contributos têm em vista a educação e a pedagogia.

O acesso é aberto:
ISBN: 978-84-9044-581-5 (Edición electrónica). 
DOI: https://doi.org/10.18239/jornadas_2023.41.00

4 comentários:

Faraday disse...

Começo por confessar que ainda não li o livro proposto. No entanto, deixando-me guiar livremente pelo título, atiro uma ou duas impressões, amassadas no terreno feito da
minha experiência docente:
As crianças, de agora, tal como as de antanho, são muito arteiras. Em Portugal, analisando inquéritos dirigidos a alunos de escolas EB 2,3 +S, em que se abordava seu empenhamento na vida escolar, chegou-se à conclusão de que, para a grande maioria, as aulas eram uma seca severa e o convívio com os colegas, através dos telemóveis, nomeadamente nos intervalos entre as aulas, sem professores à vista, a motivação mais forte para frequentar a escola.
Quanto às evidências da moda, diria, para este tema, que a maior parte dos alunos vão à escola porque são obrigados a ir e, uma vez lá entrados, sentem-se à vontade para pouco mais fazer do que dar azo à expansão das suas arteirices.
Há, em Portugal, cientistas da educação com autoridade para, perante humildes professores dos ensino básico e secundário e educadores de infância, imporem o dogma do sucesso escolar para todos, sejam os alunos muito, ou pouco, empenhados!

Helena Damião disse...

Prezado Leitor
No livro, se o consultar, encontra diversas abordagens do tema.
Tal como diz, as crianças são crianças e a escola, pelo esforço que o trabalho que nela acontece (ou deveria acontecer) implica, não consta propriamente (porque não pode constar) entre as suas prioridades. O mesmo acontece com os jovens e até com os adultos. Explico: o nosso cérebro não está, à partida, configurado para gostar de pensar sobre aquilo que temos alocado à escola: trabalhar conhecimento secundário e estimular capacidades cognitivas superiores. Logo, precisa de ser "ensinado" a gostar de o fazer. O seguinte texto incide neste assunto: https://dererummundi.blogspot.com/search?q=c%C3%A9rebro+pensar+escola
Assim, é compreensível que os alunos digam, como refere, que as aulas são uma seca, etc... E mais compreensível é se atendermos que essa é a mensagem que a sociedade lhes transmite, incluindo alguns educadores... Nada de preocupante, portanto, se os alunos disserem o que dizem, preocupante é mudar-se a escola em função do que dizem. Ou, querendo-se desescolarizar a escola, diz-se que são os alunos que dizem.
Quanto à autoridade de certos "cientistas da educação", vai-me desculpar a discordância. A autoridade dos professores é equivalente. Se a autoridade deriva da competência, assente no saber profissional, uns não têm mais autoridade do que outros, logo, uns não podem ser vistos como mais humildes do que outros.
Cumprimentos, MHDamião

Faraday disse...

Quando critico os cientistas da educação, estou a referir-me aos que conheci pessoalmente, nomeadamente em contexto de aulas teóricas e teórico-práticas na Universidade - de ir às lágrimas, de tanto rir - e aos famosos, pelas "suas" teorias delirantes, entre o professorado do básico e do secundário. A lúcida Professora Helena Damião está claramente num nível muito superior ao daqueles que se limitam a papaguear as "inovações educativas" da moda, muitas vezes sustentadas pelo último grito da filosofia ubuntu!
Muito embora a autonomia cientifica e pedagógica continue em vigor, conforme o articulado no estatuto da carreira docente, é muito difícil a um professor opor-se ao chorrilho de disparates debitados numa ordem de trabalhos de reunião de avaliação, por exemplo, que extravasam, e muito, a ordem racional. O professor é constrangido, no âmbito da sua autoridade de educador, a identificar e justificar, por escrito, de preferência no formato de grelhas digitais, a qualidade do sucesso escolar de todos e de cada um dos seus alunos. Há que desconfiar das capacidades de entendimento dos professores quanto às ordens que as chefias intermédias lhes dão sobre a obrigação de facultarmos a cada um, e a todos os alunos, o sucesso escolar a que têm direito. Vale mais um lindo diploma na mão do que saber o teorema de Pitágoras e outras inutilidades do género.
Assim, na sua justificação detalhada e por escrito o professor deve referir:
- Estudo diário, organização dos materiais pedagógicos, capacidade de concentração e de trabalho na sala de aula, autonomia, curiosidade…- se as classificações são boas;
-Ausência de estudo diário, desorganização dos materiais pedagógicos, falta de concentração e de trabalho na sala de aula, pouca autonomia, pouca curiosidade, pouca corresponsabilização do EE - quando as classificações são más;
Quanto às faltas dos alunos:
- Devem especificar-se casos particulares de alunos que já tenham atingido metade ou o limite de faltas injustificadas, referindo as respetivas disciplinas;
- Devem especificar-se quais os alunos que ultrapassaram o limite de faltas injustificadas e quais as atividades de recuperação a que foram sujeitos;
- Salientar casos de alunos com muitas faltas (pelo menos um terço), mesmo que justificadas, referindo o motivo;
- Caso algum aluno esteja em situação de ser excluído por faltas, devem ficar registadas todas as diligências anteriormente efetuadas, bem como a decisão tomada pelo conselho de turma. Se houver alunos maiores de 18 anos que tenham ultrapassado o limite de faltas por disciplina o conselho de turma deve propor a sua exclusão.
Se o professor, com hipocrisia, cumprir todas estas ordens, abrangendo também todo o trabalho de avaliação, registado por escrito, em todas as aulas, assim como que fazendo um TAC psicológico a cada um dos seus alunos, está tubo bem!
Mas, e se o professor não gostar de participar em farsas montadas pelas chefias intermédias?!

Helena Damião disse...

Percebo o que me diz, caríssimo Professor, mas devemos pensar: como chegámos aqui? Como é possível o professor (falo do professor em sentido geral, não deste ou daquele), um profissional qualificado (porque pautado pelo melhor conhecimento disponível) e, por isso, autónomo e responsável, ver-se (e, sobretudo, sentir-se) dependente de múltiplas instruções externas, algumas das quais provêm da tutela mas outras não? Mesmo sendo pertinentes (vamos admitir que o possam ser), muitas dessas instruções não podem ser atendidas por uma simples razão: o professor é humano e, como tal, tem limitações quanto à possibilidade de observação, de registo, de tratamento de dados, do seu uso, etc. Isto para não falar da legitimidade de tudo controlar... A minha pergunta é, retomando-a: como chegámos aqui? A esta aflição, a esta falta de sentido, a esta impossibilidade? E como vamos sair daqui? É que tanto os mais novos como os mais velhos precisam de ser ensinados... Essa é a nossa função, estar com eles, ensinando-os para que possam aprender... Cumprimentos, MHDamião

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