terça-feira, 18 de abril de 2023

QUARENTA E DUAS PLATAFORMAS ou A VIDA ESCOLAR PLATAFORMIZADA

Quarenta e duas plataformas digitais para uso das escolas e dos professores! Eu sabia que eram muitas, mas quarenta e duas!!! António Carlos Cortez contou-as e deve tê-las contado bem. Nas suas palavras:
Sumários eletrónicos, portarias, horários, reuniões com colegas e com direções, com pais e com alunos, tudo passa pelo ecrã. Temos o GIAE, o SIGAE/ IGA; ele há o site da DGE, o Extranet e o IAVE; ele é o MEGA (manuais escolares) e o portal dos Recursos Humanos; temos o DGEST/Recorra e o DocGest; não faltam o SIIESTE (edifícios escolares) e o SISE (Segurança Social); e para assuntos relacionados com o acompanhamento psicológico dos alunos, vamos ao Psicólogos POCH e para matricular os estudantes vamos ao Portal das Matrículas; para compras públicas o VORTAL e, se ainda se lembram de bibliotecas, temos o SIRBE... 
 Conclui dizendo:
Enfim, a lista é longa, o tempo para ensinar, de facto, é pouco.
Concordo por inteiro. De resto, seria difícil não concordar. O tempo na escola, para professores e alunos, deveria ser, para ensinar e para aprender, no contexto da relação pedagógica ou fora dela, individual e/ou colegialmente. Mas não é assim que acontece, o tempo tem sido aprisionado pela burocratização e pela plataformização, que se associam para perturbar e controlar o trabalho escolar.

Além disso, faz-se crer aos professores que as plataformas são formidáveis e que eles têm de ser ágeis no seu uso. Qualquer dificuldade deriva de uma incompreensível falta de destreza, da falta de capacidade para entender e memorizar caminhos e veredas, possibilidades e truques.

A quem interesse esta questão, recomendo vivamente a leitura do texto indicado ao lado, bem como o relatório que incluo nas referências. Os professores, têm o dever de se informar para reivindicarem o tempo de que precisam para estudar, planificar,  ensinar, orientar os alunos e avaliá-los.

Referências
  • Cortez, A. C. (2023). O digital no ensino: uma fábrica de cretinos. Público, 16 Abril (ver aqui).
  • Fernandes, P. & Leite, C. (Coord.) (2022). A utilização das plataformas e tecnologias digitais em escolas/ agrupamentos de escolas: contributos para reflexão. Centro de Investigação e Intervenção Educativas, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. ISBN 978-989-8471-45-1
  • Lima, L. (2021). Máquinas de administrar a educação. Dominação digital e burocratização aumentada. Educação e Sociedade. Campinas, v. 42, e249276. 

6 comentários:

Schrödinger disse...

A forma e o conteúdo em contexto escolar

Restringindo âmbito da plataformização digital ao processo de avaliação dos alunos, diria, para começar, que estamos perante uma fraude. O ministério da educação está sobretudo interessado no sucesso escolar de todos os alunos, e de mais alguns que ingressem no sistema de ensino no último mês de aulas, quer saibam ou não saibam articular uma única palavra em português. O que vai para as plataformas são as chamadas “evidências” que, só pelo seu texto digital, provam, à saciedade/sociedade, que o aluno, mesmo que pouco ou nada tenha aprendido nas aulas, é sempre um sujeito cheio de capacidades que não ganha nada em ficar retido, porque, no ano seguinte, vai muito a tempo de recuperar as “aprendizagens”, desde que no seu processo digital lhe prescrevam “medidas seletivas” que, infalivelmente, o farão progredir rapidamente até um “perfil de aluno à saída da escolaridade obrigatória”, pelo menos!
Resumindo, o aluno pode não ter aprendido a ponta de um corno, mas se na plataformazinha digital as suas “evidências” forem boas, ou muito boas, e as capacidades lá descritas forem muitas, ou, em último caso, estiver cheio de medidas seletivas, está de parabéns!
No nosso fraudulento sistema de ensino, a forma, de preferência digital, vale mais do que o conteúdo.
Os professores sentem-se presos numa camisa de sete varas. As bandeiras desfraldadas ao vento pelos sindicatos dos professores e educadores de infância não conseguem esconder o problema real da perda de autonomia científica e pedagógica dos professores, nem a indisciplina e violência nas escolas. Sem estes problemas resolvidos, só poderemos ir de mal a pior...

O gato Manolo disse...

Há alunos que não sabem uma palavra de português, mas sabem inglês e/ou a língua materna e são, de facto, inteligentes. Ninguém merece a retenção só porque é estrangeiro. Não sei se se referia a este caso...
Acrescento que, por vezes, há lindas meninas de saias curtas e movimentos circulares linguísticos a serem convidadas para assistentes de professores catedráticos, a passar nos exames porque sim e a terem brutas notas nos trabalhinhos que fazem... A vida é injusta, como as saias. Não sei se assim é, porque nunca tive evidências de tal. Ouvi dizer. Às vezes, há esposas que desabafam...
Também se dá o contrário: alunos capazes que, por não se submeterem a desígnios endeusados e vontades alheias, sendo críticos, não conseguem terminar os seus mestrados ou doutoramentos... É mau ter língua de gato. As pessoas grandes gostam de bajulação.

Anónimo disse...

Poema resumido

Está tudo a apodrecer.

Anónimo disse...

Isto é um poema? É. No âmbito de um relativismo anárquico.

Schrödinger disse...

Isto já lá não vai com paninhos quentes...Para começar, temos de acabar com evidências e medidas seletivas fictícias. Se querem o sucesso educativo universal e gratuito atirem mais dinheiro para cima da escola e façam leis onde até os professores dos ensino básico e secundário e os educadores de infância consigam ler que o sucesso na escola e no jardim de infância É OBRIGATÓRIO, e deixem-se de fantochadas cheias de evidências e medidas seletivas. A escola do faz de conta, que só serve para tomar conta de crianças e adolescentes, veio para ficar. Por favor, não compliquem mais a vida dos professores e dos seus colegas educadores de infância!

Anónimo disse...

Concordo plenamente. Por mim, chumbava mais de metade. Mas depois, internacionalmente, não ficaríamos bem vistos. Ninguém quer exigência, exames e o regresso da infelicidade. O Crato tentou e foi o descalabro. Por mim, está bem assim. Diferenciação pedagógica com medidas universais para todos, medidas seletivas com ou sem ACNS para muitos, medidas adicionais para alguns, RTP´s nos trampolins de acesso aos degraus de cima. A gravidade ou a gravitação traduz-se em movimento inerte. E, contudo, os planetas giram e nós vivemos por isso e com isso.

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...