sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Quando as editoras de manuais escolares tomam decisões que cabem aos professores...


Uma editora de manuais escolares mandou, por estes dias, uma mensagem a professores de Filosofia com o seguinte texto:
Caro(a) colega [nome completo do destinatário]
As Nações Unidas assinalam o dia 27 de janeiro de cada ano como Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Esta data foi escolhida por coincidir com o aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz. Quisemos associar-nos a esta evocação internacional e, nesse sentido, enviamos-lhe duas propostas de trabalho que esperamos se revelem úteis.
Continuação de bom ano letivo!
[Assinatura de representantes da editora]
Não obstante a "sensibilidade" se quer fazer passar há, nestas linhas, duas coisas obviamente intoleráveis:

Uma é aproveitar a data em causa, com tudo o que ela representa, para publicitar o manual e os seus anexos (que aparecem numa destacada fotografia que antecede o texto).

Outra é ter a veleidade de fazer propostas didácticas a professores, que se pressupõe saberem como ensinar. Não precisam, nem devem aceitar, que quem não é do ofício lhes diga o que fazer. Isto não é novo, mas deve acabar sob pena de se acentuar a desprofissionalização docente.

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Nota: Presumo que não tivesse sido apenas uma editora a ter esta iniciativa. Práticas destas tenho-as visto a diversos propósitos e por parte das várias empresas instaladas. E não tenho dado conta de grande contestação por parte das escolas e dos professores. Infelizmente!
Acrescento, o que já escrevi por diversas vezes neste blogue: o problema não está na actuação das editores, que são empresas; o problema está do lado das escolas e dos professores que não percebem exactamente o que está em causa.


4 comentários:

Anónimo disse...

Os professores não só não contestam como querem. Do mesmo modo que não prescindem de planos de aula e planificações, respostas às perguntas do manual, etc.

Helena Damião disse...

Caro Leitor Anónimo
Ainda bem que diz o que diz. Situação que conheço muitíssimo bem. A pouco e pouco, com esta atitude, os professores, classe em que me incluo, vão perdendo a sua profissionalidade, a sua identidade. Mas isso nem sequer é o pior, o pior é o facto de os alunos precisarem de professores que, a partir dos programas, tomam decisões ajustas a cada circunstância.
Cordialmente,
MHD

Anónimo disse...

Senhora professora
Obrigada pelos seus textos sempre em defesa da educação. Isto que indicou só acontece dada a inércia e a ausência de espírito crítico da classe docente, que está mais preocupada com a avaliação e a burocracia do que com a sua verdadeira função.

Giovani Rodrigues disse...

Aqui no Brasil acontece a mesma coisa. Devido à "revolução cultural" baseada no gramscianismo e temperada pelo paulofreirianismo, ininciada na década de 1960. Hoje colhemos os "frutos". Triste.

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