O manual escolar constitui o principal instrumento de trabalho do aluno e um guia da prática docente, entre outros recursos didáticos, nomeadamente os digitais (mais dinâmicos), o caderno diário (manuscrito resumido), cadernos de atividades e livros diversos. Desempenha dupla função informativa e formativa para o estudante, quer como veículo dos conteúdos curriculares, quer como regulador da aprendizagem. Também cumpre função formativa para o professor, como base de orientação para preparar e ministrar as aulas, para além de desenvolver função cultural, como difusor de ideologias e valores dominantes.
Cabe ao professor preservar a sua autonomia profissional com atitude crítica na adequação do programa vigente. O manual adotado na escola, mediador do currículo nacional, traduz o ponto de vista do(s) autor(es), que juntamente com a perspetiva do professor da disciplina garante um melhor conhecimento do objeto do estudo. A disposição da matéria em unidades coesas e congruentes (representadas por capítulos) permite ao aluno apreender totalidades significativas da realidade. De forma pragmática, cada unidade/capítulo pode dividir-se em quatro secções: Recordar, Conhecer, Organizar e Aplicar.
A secção Recordar, quando necessária para compreender o novo conteúdo programático, remete-se para um apêndice. Consiste na revisão esquemática da parte respetiva da matéria do(s) ano(s) letivo(s) precedente(s) para acelerar a aprendizagem.
A secção Conhecer pode subdividir-se em Texto, Ilustrações e Atividades. Um texto estudado é um texto sublinhado, numerado e anotado, pelo que aconselhar a devolução do manual como novo significa um claro erro pedagógico. Os resumos como sínteses finais dos textos informativos facilitam a assimilação dos conteúdos. Há equilíbrio entre a informação icónica e a textual, quando as ilustrações (desenhos, fotografias, figuras, quadros, gráficos, mapas) correspondem ao texto, não interrompem a leitura nem são excessivas. As atividades experimentais, laboratoriais ou de campo e mesmo o aproveitamento de programas informáticos de simulação tornam o aluno protagonista da construção do seu conhecimento. As atividades práticas, tal como as imagens legendadas, referem-se ao texto e não devem funcionar como transmissores de mais matéria e elementos de dispersão.
Na secção Organizar, o aluno aprende a transformar o texto em esquema de ordenação ou de relacionação, quer compondo um índice pormenorizado, quer desenhando um mapa conceptual. Serve também de teste à coerência da exposição. Assim, enquanto, na secção Recordar, a informação está organizada para o aluno, o que abrevia o processo da aprendizagem, na secção Organizar, a informação é organizada pelo aluno, o que caracteriza uma etapa essencial do estudo autónomo. A organização forma a base duma boa memória, sistema de codificação, armazenamento e recuperação de conhecimentos, necessários para agir de modo eficaz e inteligente.
Na secção Aplicar, habitualmente colocada no fim de cada unidade/capítulo, o estudante avalia os conhecimentos, através de respostas a questões e de resolução de problemas, e pratica a produção de textos e o treino de exercícios. Também questionar ao longo do texto principal e nos títulos dos capítulos ou das atividades estimula o sentido crítico e a curiosidade.
Um manual escolar bem estruturado representa importante fator de êxito para o aluno e proveitoso modelo didático para o professor.
Nuno Pereira (psiquiatra)
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2 comentários:
Que bom seria que os meus colegas professores lessem e aprrendessem a essência deste texto! É que alguns (muitos?) por preguiça usam e seguem página a página apenas o manual escolar sem lançar mão de mais nenhum instrumento...
Interessante texto sobre o papel e funções dos manuais escolares. Bem haja!
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