“No dia do pai fizemos um chegue que já não tinha validade e escrevemos que eram válidos abraços e beijinhos, no número que quiséssemos”.
“Se um sem-abrigo quando nasceu, e quando ainda tinha pais, poupasse mais dinheiro e não o gastasse todo ainda hoje o teria e não vivia na rua”.Esta duas frases foram ditas por crianças portuguesas do sexto ano de escolaridade e reproduzidas hoje, dia 31 de Outubro, declarado como o dia mundial da poupança.
Frases que aprenderam na escola, ou que derivam do que lá aprenderam.
Na escola, onde se espera (esperar-se-á?) que aprendam muito daquilo que contribui para o pensamento crítico. Na escola onde se espera (esperar-se-á?) que os valores humanos e que humanizam sejam respeitados e ensinados.
Na escola que deveria assumir a educação e não a deseducação, que deveria barrar a passagem a quem entra com intenção distinta desta.
4 comentários:
É verdade que a segunda frase é preocupante, mas que raios está errado com a primeira?! Até me parece uma ideia engraçada.
Quando estão em causa estereótipos, quem não declina a prerrogativa de emitir opinião, devia cuidar de ponderar muito bem os juízos de valor, em vez de nem sequer os fazer. Os juízos de valor apresentam-se como desafios que amesquinham quaisquer pretensiosismos de eliminar os problemas passando por cima deles como quem passa um rio sobre uma ponte.
Quem diz que os pobres são pobres porque merecem também o diz dos ricos e de outros mais, mas isso esvazia as palavras de todo o sentido, incluindo o conceito de merecimento, que tem tanto que se lhe diga, se é que alguém merece seja o que for.
Moralismos há muitos, o texto parece propor lavagens ao cérebro de acordo com certos padrões de moral. 'Não matarás' pode ser consensual, mesmo que em última instância injusto - matar ISIS em Mosul parece estar a ser bem visto. Mas 'não enriquecerás' é absurdo e idiota, 'não pouparás' idiota e absurdo. Ainda bem que há livres-pensadores, para o bem e para o mal.
Nesta questão da Educação Financeira como "disciplina" que se ensina nas escolas (como outras de "educação para..." agora tanto em moda), o problema principal está na forma como se introduzem conteúdos que depois são mal assimilados pelos alunos (crianças, principalmente). Quando eram os pais que iam ensinando aos filhos que não era bom gastar tudo, que o dinheiro era pouco e tinha que ser gasto nas coisas essenciais, as crianças assimilavam, naturalmente, essas ideias. Quando se quer transformar isso em "disciplina", com conteúdos, objectivos, competências a observar, etc. ... as coisas ficam mais complicadas. Os "conteúdos" são recebidos pelas crianças e jovens como "matéria" a fixar para o teste, são apresentados como "ciência" que só traz verdades e não são, se calhar, devidamente relacionados com outros valores fundamentais. A resposta da criança sobre os "sem-abrigo" demonstra a forma como ela assimilou o que lhe foi dito, sabe-se lá como o foi..., e revela que a questão financeira lhe foi apresentada como algo "milagroso", que a poupança resolve todos os males. Não houve, neste caso, uma abordagem humanista, uma referência a problemas sociais, psicológicos, morais, etc.; pela forma como a criança "avalia" os sem-abrigo, só vê a questão financeira, porque assim foi ensinada (?). Ponho sempre um ponto de interrogação, porque não sabemos como as coisas se passam nessas "aulas" de educação financeira. São consequências.
Depois, há aqui outro problema: por que razão a jornalista inseriu a resposta desta criança e não outras? Foi propositado? Ou também ela não viu o problema?
Há, ainda, outra questão: as "entidades" que "financiam" esta "disciplina"... São só generosidades? Filantropia?
Quando os que mais se deviam empenhar na educação de uma criança se distanciam dessa obrigação, todos querem substitui-los e desempenhar um papel nessa educação, e isso vai causar problemas, certamente.
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