segunda-feira, 29 de agosto de 2016

AINDA O CASO DAS VIAGENS PAGAS PELA GALP

Porque, para mim, este assunto não está encerrado e porque quero ver no governo de António Costa algo muito diferente, para melhor, do sufoco que foi o anterior de má memória, insisto em manifestar o meu repúdio à solução “caso encerrado” no que se refere ao escândalo das viagens pagas pela Galp a ilustres membros do governo para assistirem a jogos do Euro 2016, no passado mês, em França.

A minha opinião vale o que vale. É apenas uma entre as muitas que tenho lido e é muito clara. No meu entender a política é um um ramo importante e respeitável das ciências humanas, que se estudam e ensinam nas universidades, da qual não tive escola.

No que diz respeito à política partidária, entendo-a como habilidade que visa manipulá-la ao sabor dos interesses, nem sempre confessados, dos grupos que a cultivam ou dela se servem. Nesta convicção nunca por esta me senti atraído nem nela me deixei envolver. E foram vários os convites que tive.

Foi como cidadão independente dos aparelhos partidários que, durante a campanha eleitoral das últimas legislativas, me pronunciei publicamente a favor de uma união do PS com os partidos à sua esquerda, que sempre vi como a única possibilidade de pôr fim à política de empobrecimento e de submissão a uma Europa dos mercados e do insaciável mundo do dinheiro, levada a cabo pelo governo PSD-CDS. Foi e é público o meu apoio a António Costa, que conheço pessoalmente há muitos anos e por quem tenho a maior estima, e à solução que com o PCP, o BE e o PEV, inteligentemente, souberam criar e que, como é bem visível, felizmente, funciona.

Não esqueço, pois, a desastrosa intervenção televisiva de ontem, do ministro Augusto Santos Silva, defendendo o indefensável. Com esta solução de dar o caso por encerrado, o Primeiro Ministro, ao não desautorizar o seu substituto em tempo de férias, chama a si a lamentável decisão, o que belisca a seriedade que lhe reconheço.

Mas esta situação tem, em minha opinião, implicações políticas na relação institucional do Primeiro Ministro com o Presidente da República e está ainda por resolver. Com toda a certeza, este ”deixa andar” no interior do Governo, desagradou a Marcelo Rebelo de Sousa, deixando-o numa situação deveras desconfortável. E, das duas, uma, ou o Presidente “olha para o lado” e desilude, assim, todos quantos, e são muitos, têm dele uma ideia de seriedade e rigor ético, ou insiste na demissão dos secretários de estado envolvidos, dando concretização a um imenso clamor que então se levantou, criando um primeiro grande problema a António Costa no relacionamento com o seu número dois.

Tudo isto se tinha resolvido a bem de todos e da dignidade do Estado, se os Senhores
Secretários em causa tivessem, oportunamente, pedido a demissão.

A. Galopim de Carvalho

1 comentário:

sapin disse...

Venho propor para possível reflexão o seguinte :
Porque é que assunto não foi levantado em plena euforia pelo êxito alcançado ?
Porque é que este caso não é discutido no âmbito de ser ou não como costume
visto tratar-se do patrocinador da selecção nacional ?
Porque se insiste em considerar este caso como individual quando o convite para a dita viagem foi colectivo ?
Onde estavam os defensores da ética em questões que tem envolvido pessoas ligadas à direita ?
Porque é que a direita marca a agenda política e a esquerda cai na armadilha ?

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