Quem passa na zona da Porta Férrea nota que está em obras, mas é curioso que o tapume com a imagem da zona intervencionada não pareça, à primeira vista, tão falso como numa fotografia. 
A nossa visão é selectiva e incompleta e o nosso cérebro tem de fazer uma operação de engenharia inversa, procurando resolver em pequeníssimas fracções de segundo um problema com mais variáveis do que dados, preenchendo as lacunas e resolvendo as incoerências, a partir de imagens familiares ou plausíveis. Por isso somos muitas vezes enganados, mesmo achando ter claramente visto. 
A Lua junto ao horizonte parece muito maior, mas se a fotografarmos ou se medirmos o seu diâmetro acaba-se a ilusão (embora no segundo caso o nosso cérebro se recuse a mudar de opinião). Há dezenas de ilusões ópticas que nos enganam, confundem ou que nos conduzem a  imagens ambíguas sobre as quais não conseguimos decidir algum aspecto. Distâncias iguais que nos parecem diferentes, relevos que não existem mas que vemos, volumes que variam entre côncavos e convexos, olhos que nos perseguem, cores enganadoras, e tantas outras ilusões que são exploradas pelo acaso, pela arte e pela publicidade, muitas vezes para nos enganarem. 
O céu é mais violeta que azul, mas nós vemos melhor o azul. Uma cor que julgamos ver poderá afinal ser outra, ou porque o nosso cérebro se enganou ou porque fomos enganados. O nosso cérebro gosta de regularidades e narrativas com pormenores. O 
catálogo das ilusões cognitivas é enorme. A nossa percepção dos riscos é
 enganadora.  Uma memória pode formar-se a partir de uma ilusão. O inverossímel impostor Tom Castro de Borges pode não ser assim tão inverossímil. E as primeiras impressões são frequentemente as melhores porque o nosso cérebro, provavelmente, não quer mudá-las. O testemunho é a prova rainha em direito, mas também a mais falível. As evidências podem ser muito fortes, mas podemos continuar a acreditar nos nossos preconceitos. 
 Nalguns caso a nossa visão e percepção da realidade melhoram com a consciência da ilusão e com o treino, noutros não. Quando voltarmos a olhar o painel este vai parecer-nos mais falso, mas a Lua junto ao horizonte não muda de tamanho.  
 
 
 
1 comentário:
Não creio que nos enganemos ou nos deixemos enganar... Construímos passo a passo uma hipótese de realidade, em contextos muitas vezes improváveis, e eu digo que devemos festejá-lo
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