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Ontem assisti à antestreia no cinema S. Jorge em Lisboa do último filme de António Pedro Vasconcelos "Os gatos não têm vertigens" com grandes interpretações de Maria do Céu Guerra e João Jesus. O filme pisca por vezes o olho à ciência, designadamente quando o marginal Jó (João Jesus) dá uma lição de química ao vilão (Ricardo Carriço) em cima do capô do BMW deste, explicando-lhe que, para além da meia dúzia de elementos mais comuns da matéria viva, ele possuía um outro: o arsénio. E, pouco depois,
quando a viúva Rosa (Maria do Céu Guerra), aproximando-se do fim, encontra descanso e algum consolo a ver um programa de televisão sobre o cosmos, onde é dito que "somos o pó da estrelas". E somos! Feitos nas estrelas, da matéria das estrelas, não somos mais do que combinações prodigiosas de átomos, cuja organização nasce, vive e finalmente morre, continuando os constituintes no vasto cosmos onde sempre estiveram. O filme, que recomendo vivamente, não é sobre ciência mas sim a história de uma improvável ligação (uma "química" especial) entre duas pessoas de gerações diferentes, mas ambas sozinhas e desorientadas, neste Portugal em crise.
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