Nós, portugueses, que tão impelidos somos a seguir modelos pedagógicos inovadores, a citar autores que não lemos, a dissertar sobre teorias exóticas, em vez de seguirmos critérios filosóficos racionais e conhecimentos científicos confiáveis, deveríamos pensar duas vezes antes de adoptarmos e insistirmos em medidas educativas que não oferecem garantia, por referência ao que é certo e justo. Estas características mas não exclusivamente nossas, bem sei, mas são muito nossas.
Uma das recentes modas que seguimos, muito acriticamente, é a de confiar a educação pública a empresas privadas e só encontrar nisso vantagens, desde as mais elevadas, como o direito de escolha da escola dos filhos e a melhoria da aprendizagem, até às mais pragmáticas, como as de uma gestão financeira mais benéfica e transparente (os exemplos não terão sido os melhores porque, bem vistas as coisas, ambos caem por terra).
Estados Unidos da América e Suécia adoptaram, em grande escala, o discurso e a estratégia da empresarialização da educação formal. Mas, ambos os países têm analisados resultados académicos e feito contas. Não, não resulta! E, estão a voltar à ideia de que ao Estado cabe proporcionar uma escola para todos.
Mas não são apenas os resultados e as contas que, nesta questão, têm sido destacadas pelos analistas. Assinalam um outro factor que faz toda a diferença: as empresas “não estão nisto por gostarem dos miúdos ou por estarem interessados na educação. Estão nisto porque querem fazer dinheiro rapidamente”.
Quem está na educação por outra razão que não seja a educação, não pode ser consentido na educação.
Sobre esta questão poderá ler-se o recente artigo Suecos decepcionados com o sistema de educação, da autoria de Helen Warrell (Financial Times) e traduzido para português por Ana Pina.
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3 comentários:
Leio muitas das suas mensagens mas geralmente não comento, essencialmente por falta de tempo mas hoje não posso deixar de a felicitar por esta mensagem que subscrevo inteiramente. Vou tomar a liberdade de a referir no meu blogue
Obrigada
Regina Gouveia
"Quem está na educação por outra razão que não seja a educação, não pode ser consentido na educação."
Gostei de ler, embora o texto contenha algumas "gralhas".
A educação não deve ser um negócio ou estar dependente de um negócio. Mas a educação também não deve estar ideologicamente e unicamente dependente das orientações doutrinárias de um Estado, de uma política partidária ou de uma religião.
Não há ciência, cultura ou arte e até desporto totalmente independentes de correntes ideológicas ou de outros poderosos interesses, mas é aí, na independência da educação, que reside o ideal educativo. Uma educação unicamente do Estado e para o Estado deseduca (basta que nos lembremos da educação que os nazis "ministravam" nas escolas e universidades - eram muito educados os nazis, não?!). Temos também universidades religiosas que educam à revelia da verdade, da verdade científica, e por isso não educam verdadeiramente. Deseducam.
Prezada Regina Gouveia
Agradeço o seu comentário. A falta de tempo também não me permite comentar o seu blogue, que sigo com grande interesse.
Cordialmente,
Maria Helena Damião
Regina Gouveia
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