quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Erros de colocação de professores e outros estão a destruir o sistema público de ensino

Estou cada vez mais convencida de que uma parte substancial do conhecimento científico que se conegue na área da Pedagogia, e com ampla divulgação entre os mais diversos parceiros educativos, é ignorado ou desprezado. Esses parceiros até poderão estar a par do que se publica e concordar com os resultados veiculados mas isso não faz qualquer diferença nas suas opções práticas

A verdade é que há conhecimento que não interessa a ninguém: não interessa a departamentos universitários porque têm as suas linhas de investigação traçadas e mudá-las está longe dos seus horizontes; não interessa a decisores políticos porque conflitua com os modos estratégicos de tomar medidas; não interessa a escolas e professores porque destoa da "tradição" que, acriticamente, seguem.

Como em tudo, há excepções, mas, entendo eu, são excepções. Refiro-me, em concreto ao nosso país.

Dou um exemplo que se tornou recorrente na comunicação social (e bem porque dá conta de uma situação absolutamente intolerável no sistema público de ensino): os erros na colocação de professores e as injustiças que acarretam.

Erros que se afiguram cada vez mais graves e que são descaradamente desvalorizados por parte de quem os comete ou dá a cara pelas instituições. A sua não correcção é o desfecho lógico desta atitude. Infelizmente.

Infelizmente por causa da falta de credibilidade que esses erros acarretam ao sistema público de ensino; infelizmente por causa dos prejuízos que trazem a muito professores competentes; infelizmente sobretudo por causa dos seus efeitos na aprendizagem dos nossos alunos. Cada um deles só tem uma vida e é no início dessa vida e na escola que se joga muito do futuro dessa vida.

Isto deveria preocupar muito, muitíssimo o país inteiro e não só os directamente visados: alguns professores que não ficaram colocados, que ficaram com horário zero, que foram deslocados das suas escolas a contragosto, que se sentiram impelidos para uma reforma antecipada... Muitos desses professores são profissionais de excelência, mas é como se não fossem. Tratados como números, submetidos a fórmulas esquisitas; ou como objectos, tirados daqui para colocar ali.

Efectivamente, o modo como os professores são tratados deveria preocupar-nos como país, pois, e voltando ao princípio deste texto, sabemos que um dos factores que mais relevância tem no sucesso da aprendizagem é o ensino.

E ninguém com responsabilidades educativas poderá alegar desconhecer isso, pois num dos vários documentos que mais presença têm ganho nos sistemas educativos - Education at a glance - publicado pela OCDE - tem destacado isso de modo muito claro:
"... os professores são fundamentais para os esforços de melhoria da escola. Melhorar a eficiência das escolas depende, em grande medida, em garantir que pessoas competentes queiram trabalhar como professores” (Relatório de 2012, página 489). 
"... para garantir o trabalho docente qualificado, devem ser feitos esforços não apenas para recrutar e selecionar apenas os professores mais competentes e qualificados, mas também para reter professores eficazes." (Relatório de 2013, página 380).
"Os professores são um recurso essencial para a aprendizagem: a qualidade de um sistema de ensino depende da qualidade de seu professores. De acordo com os resultados do PISA, as escolas em que os professores são menos qualificados tendem a ter menor pontuações nos resultados da aprendizagem. Assim, atrair e reter professores eficazes é uma prioridade para as políticas públicas e o desafio é maior nas escolas públicas (sobretudo nas escolas desfavorecidas)" (Relatório de 2014, página 410).

Sem comentários:

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...