sexta-feira, 5 de setembro de 2014

AS MINHAS BACTÉRIAS SÃO DIFERENTES DAS TUAS

Artigo primeiramente publicado na imprensa regional.



Durante milhares de anos desconhecemos que estamos rodeados de bactérias, que também colonizam o nosso corpo. Só depois da invenção do microscópio e nos finais do século XVII é que a existência de seres microscópicos foi descoberta. O holândes Antonie van Leeuwenhoek terá sido o primeiro ser humano a observar microrganismos. Mas ele estava longe de entender a relação importante que mantemos com eles.

Vivem dentro de nós, na nossa pele, na nossa casa. São milhões e milhões de bactérias que nos acompanham desde que nascemos, que influenciam os nossos estados de saúde, de doença, o nosso humor e relações afectivas.

Esta convivência com seres microscópicos foi alvo de um estudo agora foi publicado num artigo na revista Science. No geral, o estudo mostra que cada um de nós vive rodeado por um conjunto de bactérias que é característico de cada um de nós. É como se para além da nossa própria identidade tivéssemos um conjunto de bactérias que nos é característico e que se move connosco. 

O estudo mostra que os locais onde passamos mais tempo, casa, trabalho, estão povoados por um conjunto de bactérias específico a cada um de nós. Se mudarmos de casa, as bactérias também mudam! O nosso local de trabalho está repleto de bactérias que estão em íntima relação connosco. Se mudarmos de trabalho as nossas bactérias acompanham-nos.

O artigo também mostra que partilhamos com os nossos familiares um conjunto de bactérias semelhante. Quanto mais próxima a relação mais idênticas são as espécies de bactérias que partilhamos. Há assim, pode dizer-se, um conjunto de bactérias que fazem parte da nossa família!
A relação entre nós e as nossas bactérias é importante e decisiva no tratamento e transmissão de doenças. O estudo sugere que uma alteração no ambiente bacteriano com que vivemos pode influenciar o nosso estado de saúde. Assim, a caracterização das bactérias que nos acompanham é importante para uma melhor compreensão e gestão da nossa saúde no século XXI.

Depois deste estudo abrem-se as portas para que num futuro próximo passemos a possuir uma espécie de boletim microbiano que nos identifica, o nosso próprio microbioma. Um retrato das nossas bactérias.

António Piedade   

1 comentário:

Maria disse...

Achei interessante este cartoon que de alguma forma se relaciona com o tema:
http://www.beatricebiologist.com/2014/09/microbiota-attendance.html

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