sexta-feira, 25 de abril de 2014

"Tudo pode acontecer"

Pensava eu numa forma de expressar a minha apreensão acerca da possibilidade de liberdade neste "caldo de pensamento social" em que vivemos (que dada a sua estranheza e mistificação, não sei se consigo entender bem) quando vi uma pequena entrevista a Luísa Costa Gomes, realizada em 1994. As suas palavras são obviamente mais esclarecedoras do que as minhas poderiam ser, aí ter optado pela sua transcrição:
"Os 20 anos do 25 de Abril são uma época de plena reacção ao 25 de Abril, que começou em plenos anos oitenta (...) o sistema em que vivemos agora instalou-se nessa altura.
Tenho uma certa dificuldade, para ser inteiramente sincera, de falar do 25 de Abril. Porque acho que é uma coisa muito vaga, aconteceram muitas coisas, aconteceram muitas coisas antes, durante, depois. O 25 de Abril é uma coisa que cristalizou num conceito que, para mim, é bastante vago, o conceito de liberdade.
Cada vez mais a História me demonstra que não há progresso, que há avanços e recuos permanentes. Não sei porque razão. Neste caso, eu acho que não se trata de regressão, no sentido que, bem ou mal, nunca vamos regredir para o pré 25 de Abril, vamos provavelmente, progredir para uma coisa talvez bastante pior.
Não me parece uma coisa muito fora da realidade. Se (...) me disserem que amanhã irá haver uma revolução e em que as pessoas se recusam a ser não-valores e em que tudo isto vai ser alterado também acredito, não ponho absolutamente nada de lado, não há razão nenhuma para isso. Tudo pode acontecer."
Maria Helena Damião

1 comentário:

Anónimo disse...

"[...] um conceito que, para mim, é bastante vago, o conceito de liberdade"?!
Aconselho as senhoras doutoras a lerem o artigo de Luís Marques no Expresso desta semana (A sombra do passado) que talvez tenha a resposta às vossas angústias. Ele sabe do que fala: entre 1972 e 1974 conheceu a prisão e as garras da PIDE, privado de liberdade.
No mesmo dia, João Duque, no seu artigo de opinião, refere um outro caso interessante que ilustra bem o conceito que muita gente tem de liberdade: tendo escolhido "O seguro morreu de novo" como mote para uma palestra cujo tema era o envelhecimento da população, viu o mote vetado por um dos membros da equipa camarária, pessoa influente do Partido Socialista.
Será que sou eu que estou de passo trocado?!

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...