Meu artigo sobre exames saído na última revista "Século XX: Ter Opinião" (Auário da Fundação Francisco Manuel dos Santos). Os gráficos estão na revista, num quiosque perto de si.
Os exames nacionais são um termómetro indispensável em qualquer sistema de ensino. Na avaliação dos alunos não são apenas estes que são avaliados, mas também os professores, as escolas e o sistema educativo no seu conjunto. Os exames no final do ensino básico e no final do secundário (ficam aqui de lado os exames no final dos 1.º e 2.º ciclos do ensino básico) estão já consolidados entre nós, sendo aceites como uma boa prática, apesar de ainda aparecerem algumas vozes que os criticam, saudosas da menorização que eles sofreram num passado recente. As provas públicas nacionais colocam os alunos em condições de igualdade, permitindo conhecer quem mais progrediu e, com alguma análise, perceber como se poderá melhorar o sistema educativo.
Porém, se os portugueses estão satisfeitos com a institucionalização dos exames, já não estão contentes com os resultados. Os exames foram este ano de novo razão do nosso descontentamento, por ter havido diminuição de médias na maior parte das disciplinas. No ensino básico, em Português, na 1.ª fase, a média desceu de 54 para 48%, a mais baixa nos últimos nove anos, e em Matemática desceu de 54 para 44%, uma das mais baixas nos últimos seis anos (consideram-se aqui apenas os alunos internos, que frequentaram a escola e tiveram nota para ir a exame, e não os alunos externos, que, embora em menor número, fazem baixar bastante a média). Por seu lado, no ensino secundário, em Português a média desceu de 52 para 48% e em Matemática A desceu de 52 para 49%, nos dois casos a mais baixa nos últimos seis anos. No ensino básico não há exames de Ciências Físico-Químicas e de Ciências Naturais. Mas há-os no secundário e os resultados foram piores do que em Português e Matemática, como aliás tem sido usual. Em 2013 a média do exame de Física e Química A foi de 41%, um valor negativo semelhante ao do ano passado, e a de Biologia e Geologia foi de 42%, também negativo mas neste caso a média mais baixa dos últimos seis anos. Só não há mais chumbos porque as notas internas contrariam de forma gritante as notas externas (que no secundário só contam 30% para a nota final).
Poder-se-á pensar que este panorama corresponde à resposta do sistema à introdução de maior rigor no sistema de ensino, uma ideia advogada pelo ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato. Mas o Gabinete de Avaliação Educacional - GAVE daquele Ministério veio, num relatório de Julho deste ano, esclarecer que variações na média menores do que 7% (1,4 numa escala de 0 a 20 valores) são normais por serem diferentes as coortes de alunos. No seu entender, não se pode falar de declínio da qualidade das aprendizagens. De facto, não custa a aceitar que haja algumas oscilações atribuíveis à circunstância invocada pelo GAVE. Os gráficos na PORDATA da evolução das médias nacionais do básico, em Português e Matemática, e do secundário, em Português, Matemática A, Física e Química A, e Biologia e Geologia mostram as subidas e descidas, registando-se em geral uma descida muito ligeira ao longo do tempo. Contudo, ao referir-se apenas a diferença dos alunos, supõe-se que as provas têm o mesmo grau de dificuldade, o que não está demonstrado. Não é fácil fazer provas públicas de igual dificuldade e deve louvar-se o esforço do GAVE nesse sentido. Mas há alguns picos naqueles gráficos que talvez se expliquem pela maior facilidade das provas em certos anos. Por exemplo, em 2008 e 2009, quando era ministra Maria de Lurdes Rodrigues, verificaram-se alguns máximos absolutos das séries: 63% em Português no básico em 2008, 58% em Matemática no básico em 2009, 59% por cento em Português no secundário em 2009, 70% em Matemática A no secundário em 2008 – um resultado estranhíssimo, por destoar demasiado – e 48% em Física e Química A no secundário em 2008. É dificil escapar à suspeição de existência de ciclos políticos nos resultados escolares.
Os enunciados das provas causaram controvérsia neste ano tal como noutros. A Associação de Professores de Português – APP criticou fortemente a prova de Português do 9.º ano, na qual surgia um trecho de Os Lusíadas. A apreciação daquela associação pecava, porém, no português, como mostra este excerto: “Quanto às estrofes de Os Lusíadas apresentadas na Parte C, afigura-se como lacunar a ausência de um momento que confira contornos mais nítidos ao episódio, atendendo a que os alunos estudam diversos episódios da epopeia, entre outras obras que integram o programa e que é, o 9.º ano de escolaridade, o momento de, pela primeira vez, contactarem com textos e autores distantes no tempo.“ A APP quererá dizer que Os Lusíadas são difíceis para os jovens do 9.º ano, mas a sua redacção atropela a sintaxe. Também a Associação de Professores de Matemática - APM, numa linguagem mais clara do que a sua congénere, considerou inadequada a prova de Matemática do 9.º ano. De qualquer modo, as duas associações parecem incapazes de uma apreciação isenta das provas, envolvidas como estão numa querela com o Ministério, que será mais político-ideológica do que científico-pedagógica. A decisão governamental, tomada em Junho, de transferir o GAVE para fora da tutela do Ministério, mudando-lhe o nome, é decerto um passo no bom sentido, esperando-se que essa alteração não seja meramente formal.
Também houve críticas aos enunciados das provas do secundário, por exemplo da socióloga Maria Filomena Mónica, que arrasou a prova de História A sem ter recebido uma reacção satisfatória, e do geólogo Fernando Ornelas Marques, que atacou a prova de Biologia e Geologia, tendo o GAVE respondido que o seu autor usava conceitos de nível superior ao exigido. A conclusão destas e de outras polémicas só pode ser que todos os cuidados são poucos na preparação de provas nacionais. As questões dos exames deviam ser à prova de bala e ainda aí não chegámos.
Seja quais forem os defeitos das provas, tudo indica que o nosso sistema educativo continua enfermo, estando ainda longe do de outros países europeus. Se, na educação, não pode haver medições com grande precisão, informações como as fornecidos pelos exames nacionais são com certeza úteis e deveriam mover-nos. Por exemplo, um relatório recente do GAVE associa os resultados dos exames de 2012 às regiões do país, concluindo que o Baixo Mondego é a melhor zona do ponto de vista educativo (seguido pelo Grande Porto e pela Grande Lisboa), em nítido contraste com os Açores ou o Alentejo. Como fazer com que todo o país seja mais parecido com o Baixo Mondego, que não é das regiões mais ricas de Portugal? Por outro lado, as enormes discrepâncias entre as notas dos exames externos e as notas internas deveriam fazer-nos pensar. Uma vez que a generalidade das escolas inflaciona as suas notas porque não diminuir o seu contributo para a nota de entrada no ensino superior? E porque não deixar que as escolas superiores tenham um papel, pelo menos parcial, na escolha dos seus alunos?
Muito há ainda a fazer para melhorar a nossa educação. A austeridade que estamos a viver não deveria impedir o investimento em experiências inovadoras, ainda que em escala limitada. Mas o Ministério parece andar mais preocupado com os cortes orçamentais do que com a promoção da qualidade. Esta promoção terá de passar não só por uma libertação do sistema, que continua centralizado e monolítico, mas também pela valorização dos professores, em especial aqueles que, em condições difíceis, têm dado o seu melhor.
terça-feira, 29 de outubro de 2013
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6 comentários:
Senhor Professor Carlos Fiolhais;
Diz o senhor que “As provas públicas nacionais colocam os alunos em condições de igualdade, ...” e mais adiante escreve “um relatório recente do GAVE associa os resultados dos exames de 2012 às regiões do país, concluindo que o Baixo Mondego é a melhor zona do ponto de vista educativo (seguido pelo Grande Porto e pela Grande Lisboa), em nítido contraste com os Açores ou o Alentejo.”
Ora, assim sendo, eu pergunto-lhe como pode, o senhor Professor Carlos Fiolhais, escrever que as provas públicas nacionais colocam os alunos em condições de igualdade!? Não será essa igualdade um acentuar da desvantagem!?
Por outro lado, ainda que assim fosse como o senhor Professor Carlos Fiolhais nos quer fazer crer, fica esta outra pergunta: Nunca se deu conta, enquanto Professor deste pormenor de que nos fala o Professor José Sebastião e Silva, e cito:
“Sem esquecer que, muitas vezes, o exame faz uma selecção errada, colocando em primeiro lugar o aluno mais espectaculoso, mais expansivo, que não é geralmente o mais concentrado, o mais profundo.”[JSS]
Certamente que o Professor Carlos Fiolhais já se deu conta disso, mas então, porque é que defende que, as provas públicas nacionais colocam os alunos em condições de igualdade, sem nem sequer numa mesma turma a selecção pode ser acertada!?
Ou não terá razão o Professor José Sebastião e Silva, quando diz que "Todos nós sabemos que os exames são a parte ingrata (de certo modo negativa) do ensino; praticada em excesso, acaba por massacrar docentes e discentes, fatigando-os inutilmente, tirando-lhes a vontade para o trabalho construtivo, levando-os por vezes a execrar a ciência e os cérebros que a geraram (1). É evidente que se trata de um mal necessário, mas, por isso mesmo que é um mal, conviria reduzi-lo ao mínimo necessário."
Eu considero que sim, que o Professor Sebastião e Silva tem razão no que se refere aos exames, o Professor Carlos Fiolhais, não.
Cordialmente;
Uma vez que a generalidade das escolas inflaciona as suas notas porque não diminuir o seu contributo para a nota de entrada no ensino superior? E porque não deixar que as escolas superiores tenham um papel, pelo menos parcial, na escolha dos seus alunos?
Talvez fosse solução para igualizar mais as aptidões de exame que, como se sabe, são diferentes em todos os alunos e a preparação escolar não será neles a única influência. Os maus resultados continuariam sendo os do Alentejo e esses alunos seriam, na maioria, impedidos de prosseguir estudos. Isto, em prol da competência igualitária. E da justeza nos exames.
Quanto às Escolas Superiores terem uma palavra a dizer...têm mesmo. Devem. Porém, permito-me lembrar que em tempos assim foi. Cabia aos professores universitários ver as provas de acesso, cujas já não recordo se se chamavam aferição ou outro nome. Porém, os senhores professores universitários não gostavam talvez de realizar este trabalho, achá-lo-iam mal pago, ou simplesmente preferiam ir de férias sem o aborrido de tanta prova, cansados do ano lectivo que findava. E passaram as mesmas para os professores do Ensino Secundário. Porque eles não estão cansados no final do ano lectivo e aceitam tudo, até - como actualmente, suponho - ver as provas sem qualquer remuneração. Faz parte da sua prestação de serviço educativo.
Bem , eu penso exactamente ao contrário: o que o Professor Sebastião e Silva disse não faz o menor sentido nos dias de hoje.
Frequentemente venho ao DRN estudar e sempre com muito gosto pois atualizado estudo desde sempre digo - da altura que a Universidade de Coimbra é referência centenária! e diante da gratidão o prendado esforço que todos quê aqui estão a freqüentar seja para atualizar conhecimento, seja para participar de eventos ou até mesmo copiar tarefas escolares e que certamente estudantes tem acesso inclusive bilingüe com o correr da prática a língua estrangeira nem só, dimensão do aprendizado quê tornara referência também de modelo internacional.
Bom, costume é costume e quem estuda está a vir tomar parte, e parte de alguns ou outros assuntos relativos a história e quando destaco história entre tantas disciplinas para além do meu gosto está o esforço de compreender e compreendendo a dinâmica universal dos acontecimentos. Exactamente digo universal porque gosto de um pouquinho de cada assunto e sou assim, nem saberia ser diferente. Pois bem, quando leio também outras opiniões a respeito de assuntos distante do Brasil ou sem nenhum interesse acontece o estímulo, entusiasmo quê nem poderia deixar indiferente em sendo até mesmo por uma questão de carinho, de honestidade, de voluntariado etc., e poucos tem este luxo de prestigiar os professores (sei o valor de um feliz aprendizado). Eis que faz parte de minha gratidão prestigiar com pouco quê sei e compreendo de identidade compartilhada as palavras a simplicidade da palavra amor escrevendo. Professores e professoras deste sítio o meu carinho a simplicidade.
Caro Anónimo;
Infelizmente, não posso deixar de lhe dar alguma razão, quando refere “nos dias de hoje”...
...é verdade! “nos dias de hoje” não se ensina ou desenvolve os aspectos fundamentais como a intuição, a imaginação criadora, o poder de análise e o espírito critico, que eram muito caros ao Professor Sebastião e Silva.
Depois tudo é normal, e com grande pena e frequência se assiste a uma opinião vazia, mais ou menos desajeitada e pomposa como neste seu comentário.
… e depois “nos dias de hoje” o que temos!? E não serão os exames um bom reagente, o melhor aliado deste sistema!?
[…] “O que importa focar, sobretudo, é que estamos em presença de um sistema educacional que não ensina a observar, nem a experimentar, nem a reflectir, nem a raciocinar, nem a escrever, nem a falar: ensina apenas a repetir mecanicamente, a imitar e, por conseguinte, a não ter personalidade. É um sistema. É um sistema que reprime o espírito de autonomia e todas as possíveis qualidades criadoras do aluno, nas idades decisivas em que essas qualidades deveriam ser estimuladas ao máximo: um sistema feito à medida da mediocridade obediente, que acerta o passo enquadrada em legiões de explicadores. É, portanto, um ensino em regime de desdobramento: professor-explicador (e o mais grave é que o professor já conta com o explicador). É, portanto, um ensino que favorece os passivos, os superficiais e os privilegiados economicamente, em prejuízo dos autónomos, dos inteligentes e dos economicamente débeis. Em conclusão: é um ensino capaz de atribuir 20 valores ao Conselheiro Acácio e orelhas de burro a Einstein!”[JSS]
Cara senhora Tomazi:
Ou está a gozar com quem lê este blogue ou algo de muito grave se passa com o seu equilíbrio cognitivo.
Uma outra hipótese é não ser brasileira, nem falante de português, e utilizar um sistema de tradução automática, sobejamente inadequado e hilariante.
Desculpe-me a franqueza mas nunca vi nada assim.
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