quinta-feira, 8 de julho de 2021

"TRABALHO FELICITÁRIO" NA FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES CREDITADA

No sítio online da Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE) está assim anunciada uma acção de formação destinada a professores e lideres escolaresTornar a Escola numa Organização (ainda mais) Feliz

A modalidade é "curso de formação" e o título “Ferramentas para construir uma “Happy School”: docentes, lideranças e organizações educativas”. Tendo sido acreditada pelo Conselho Científico e Pedagógico de Formação Contínua (CCPFC), é de pressupor que tenha... qualidade científica e pedagógica!

Registei a admiração por parte de quem me falou do assunto, semelhante à minha quando, por volta de 2015, percebi que o superior desígnio dos sistemas educativos públicos passava a situar-se na felicidade "alegreta" e no "bem-estar" hedonista. E que esse desígnio iria ser objecto de aprendizagem e de formação de professores.

A verdade é que o relatório anual World Happiness Report, que promove o desconcertante ranking de felicidade, tem produzido os seus efeitos: são cada vez mais os países que assumem a tarefa de aumentar o índice de felicidade das suas populações. Referindo-se às organizações, adianta esse relatório que a felicidade está na agenda mundial. E que ela pode ser construída.

Em paralelo, há que considerar o Happy Schools Project da UNESCO, que também apresenta um relatório anual, com visibilidade crescente. Nele se explica que a escola quer-se “happy". A Europa tem assumido, de modo empenhado, esse desígnio e Portugal não pode ser excepção.

Assim se justifica a função daqueles que se têm tornado especialistas no "trabalho felicitário", expressão que só agora aprendi. É nesse trabalho que a acção em causa se foca, no sentido de tornar cada escola, mais ou menos tristonha, numa “happy school”:
"O domínio do bem-estar pessoal e profissional docente, bem como o da felicidade organizacional, integram atualmente o leque das preocupações dos sistemas educativos na Europa e no mundo, tendo começado a ocupar alguma centralidade na investigação em educação a partir do momento em que se começaram a recolher evidências sobre o impacto da felicidade nas práticas dos docentes e no sucesso académico dos seus alunos".
No final, os participantes na acção estarão aptos a "criar materiais de suporte a uma intervenção sustentável de felicidade nas organizações educativas dirigidas a resultados, como sejam, aumento de sentimento de pertença, comunicação, diminuição do absentismo, fixação do pessoal, entre outras".

O sentido que estas palavras têm para mim é, por certo, muito diferente do sentido que têm para quem se inscreve na acção, pois, diz-se no mencionado sítio, o interesse pela acção justifica a sua repetição no próximo ano lectivo.

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