terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Da actual Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física à futura criação de uma Ordem dos Professores de Educação Física (2)

(2.ª e última parte do artigo) 

Escrevi na altura: “A novel licenciatura conta já com uma massa crítica que só pode prestigiar a Universidade que a acolheu. Tem ela no seu corpo docente professores universitários oriundos da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa e professores de outras Faculdades de Coimbra, v.g. Medicina e Psicologia e Ciências da Educação. 

Desta interdisciplinaridade de saberes muito terá esta licenciatura a beneficiar na perspectiva de George Gusdorf “Da História das Ciências à História do Pensamento”: 
“A atitude do especialista, quer seja matemático ou botânico, filólogo ou historiador, que se debruce ciumentamente sobre o estrito compartimento da sua própria competência deve ser considerada uma demissão. Qualquer dissociação do conhecimento é uma negação do conhecimento. O dever presente é trabalhar para verificar, para dar corpo àquilo que um século de análise desmembrou. O pressuposto da especialização deve dar lugar ao pressuposto da convergência. Ciências e Letras, Ciências da Natureza e Ciências do Homem, que parecem votadas a caminhos distintos, devem tomar consciência, cada uma por seu lado, que são como paralelas que se afastarem da sua própria direcção encontrando-se no infinito”. 
Na sua abrangente dimensão de ensino, de investigação e de prestação de serviços à comunidade, apesar da sua condição de neófita já organizou ela alguns eventos em colaboração com sociedades científicas e associações profissionais nacionais e estrangeiras como, por exemplo, “V Jornadas de Psicologia Desportiva”, “V Fórum da EUPEA” e as recentes “II Jornadas de Análise do Ensino em Educação Física”. 

Para Março do ano que vem, tem agendado o “IV Congresso de Educação Física e Ciências do Desporto dos Países de Língua Portuguesa, em organização conjunta da novel Licenciatura de Educação Física e a Universidade de Coimbra. Injustiça seria não realçar o papel do Professor Francisco Sobral, professor catedrático que transitou da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa para a Lusa Atenas, para presidir à comissão instaladora da licenciatura de Educação Ciências do Desporto e Educação Física. 

Foi ele obreiro de todo um dinamismo que abriria as portas, no ano seguinte, à criação da oitava faculdade da vetusta e tradicional Universidade de Coimbra: a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física. Aliás, criação numa acção conjunta, coordenada e muito interessada do reitor da Universidade de Coimbra Rui Alarcão, seu vice-reitor Pinho Brojo e do presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Manuel Viegas Abreu como verifiquei nos encontros preliminares comigo havidos. 

Como as coisa felizes não têm história, como pontificou o historiador Lopes de Mendonça, não me detenho sobre a criação desta Faculdade – ela própria fará a sua história! Assunto arrumado, portanto!

Regressemos, assim, à desejada criação da Ordem dos Professores de Educação Física, fazendo uma resenha do acontecido na altura. Assim: “Aquando do “I Congresso de Educação e Desporto”, realizado na Figueira da Foz (1988), apresentei uma proposta, aprovada por esmagadora maioria, na reunião preparatória realizada em Coimbra, para a criação de uma Ordem dos Professores de Educação Física. 

Teve este congresso a duração de três dias, com a presença de cerca de 500 congressistas, oriundos dos diversos cantos de Portugal Continental e das ilhas adjacentes da Madeira e Açores. Só no último dia e ao cair do pano do proscénio do Congresso, foi a minha moção apresentada e votada tendo obtido os seguintes resultados: 79 votos contra, 54 a favor e 102 abstenções num total de 235 votantes. Ou seja, a votação foi realizada com a presença restrita, de mais ou menos, metade do número de congressistas por, entretanto, a outra metade ter já regressado a casa.

Passadas três décadas, a criação da Ordem dos Professores de Educação Física, curiosamente realizada, outrossim, na “Praia da Claridade, "conheceu novos desenvolvimentos de que tive conhecimento, através do actual presidente do Conselho Directivo, Professor José Pedro Leitão Ferreira, que há dias, me enviou uma missiva, que muito me sensibilizou e que transcrevo devidamente autorizado pelo seu subscritor. 

Num cartão escreveu ele (16.11.2019): 
“Caro Professor Rui Baptista: Junto anexo uma cópia do meu discurso de encerramento do 11.º Congresso Nacional de Educação Física, do passado fim de semana, na Figueira. Faço-o porque o mencionei a propósito de um assunto que sei ser-lhe muito querido. Saiba que foi objecto de enorme aplauso de todos os presentes logo que mencionei o seu nome. Votos de rápidas melhoras do amigo José Pedro Leitão Ferreira”. 
Nota: os votos de rápidas melhoras reportam-se uma queda que me obriga a permanecer em cadeira de rodas com um colete imobilizador durante 4/6 meses, por um fractura de vértebra lombar, graças a Deus, sem lesão medular. Quatro meses estão quase cumpridos! 

Transcrevo, agora, com natural emoção, o derradeiro parágrafo do discurso de encerramento do referido congresso, pronunciado pelo Doutor José Pedro Ferreira:
“Não poderia deixar de terminar esta minha breve intervenção prestando uma homenagem a um Homem de Coimbra que certamente estaria aqui entre nós se a saúde lhe permitisse, a um Homem da Educação Física – Professor Rui Baptista – que durante bem mais vinte anos se bateu por algo que hoje em dia se constata como uma necessidade – a existência de uma ordem profissional que regule e proteja os interesses da nossa área profissional, que possa dialogar em pé de igualdade com os diferentes intervenientes. Não o ouvimos com a devida atenção, deixámo-nos ultrapassar por ‘outros’ que chegaram de um passado bem mais recente. Talvez ainda estejamos a tempo de recuperar”.
Para os Colegas que me aplaudiram a minha muita gratidão acompanhada por um abraço “ex corde” para o meu estimado Amigo José Pedro Ferreira

Finalmente, “tout va bien quand finit bien!" Não é só nos livros infantis e de adolescentes românticas que existem epílogos felizes em que o príncipe casa com a gata borralheira ou o ricaço com a pobretana!

1 comentário:

Rui Baptista disse...

Numa das inúmeras reuniões sobre esta temática, realizada num jantar no Restaurante Tamoeiro (Coimbra), esteve presente um dos maiores apoiantes da criação da Faculdade e da Ordem - Professor Carlos Monteiro da Silva - belíssimo amigo e colega da Escola Secundária José Falcão a quem envio um abraço de grande Amizade das margens do Mondego à "Praia da Claridade". Boas pescarias, Carlos!

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