quinta-feira, 7 de abril de 2022

UMA PEQUENA CONFUSÃO


 Texto de Eugénio Lisboa:

Há uma grande expectativa – que espero venha a ser confirmada – quanto à nova Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato. Ela é, consabidamente, uma investigadora de reputação internacional, facto de que todos os portugueses devem sentir-se orgulhosos. Por ser uma grande investigadora, acaba de ser escolhida para aquele Ministério. Será o ministério uma consequência lógica do talento de investigadora de Elvira Fortunato? Será aquilo que faz de uma pessoa um grande pesquisador o mesmo que faz dele um grande gestor? 

O Professor de Física, Robert Oppenheimer, era conhecido como um grande Professor de Física, mas, como investigador, nada que se comparasse com outros físicos que ele dirigiu e coordenou, no laboratório de Los Alamos, para a produção da primeira bomba atómica. O talento que se exigia para a gestão daquela empresa não era o mesmo de que necessitava a investigação. Enrico Fermi era muito maior físico do que Oppenheimer, mas, naquele projecto, era seu subordinado, porque o que ele sabia fazer – investigar – não era aquilo de que a direcção do projecto necessitava: capacidade de gestão e de delicado diálogo com as autoridades políticas. Oppenheimer foi o talentoso gestor e coordenador de talentosos investigadores, nesse campo, infinitamente acima dele. 

De igual modo, Robert McNamara, quando era vice-presidente da FORD, não sabia nada de mecânica nem de automóveis, mas sabia imenso de gestão e de como tomar decisões. Depois disso, foi ministro da defesa de Kennedy, sem ser militar nem saber grande coisa de guerras nem de táctica ou estratégia, mas, mais uma vez, sabia gerir e tomar decisões. A seguir, foi dirigir o Banco Mundial e não consta que a sua especialidade fosse a vida bancária. 

O nosso saudoso Ministro Mariano Gago não valia, como investigador, o mesmo que vale Elvira Fortunato, mas foi um grande Ministro da Ciência e Tecnologia, que deu um notável pontapé de saída à investigação, em Portugal. Um investigador é uma coisa e um gestor é outra coisa muito diferente.

 No caso de Elvira Fortunato ter, em si, a dupla vocação de grande gestora e de grande investigadora, tudo bem. Mas não se lhe pode exigir as duas vertentes ao mesmo tempo, nem isso costuma acontecer. Nas decisões dos nossos políticos, há, muitas vezes, algum provincianismo e uma grande incapacidade de saberem separar as águas. Não me consta que algum nadador tenha jamais sido Ministro do Mar. DISTINGUO! 

 Eugénio Lisboa

1 comentário:

Mónica disse...

Como leitora, ignorante dos meandros científicos e políticos, acho o artigo triste (nada de novo, irrefutável, a piada do nadador/ministro do mar), ainda a mulher não fez nada e já há altas e baixas expectativas sobre o seu desempenho como ministra. Esperar para ver. Sem ratoeiras. Com esperança. Peço desculpa mas o provincianismo também mora aqui: já está com um pau à saída do ministério atento para ser o primeiro a dar a cacetada, "eu bem avisei"?

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