terça-feira, 5 de abril de 2022

A BANALIDADE DA MORTE

Nós, depois de mortos, ficamos corpos
e em vez de florescer, apodrecemos.
Contra este horror, não há anticorpos,
somos lixo e desaparecemos.

Na morte não há qualquer transcendência,
não precisa de qualquer cerimónia:
a morte é uma vulgar ocorrência,
uma mera estatística, sem história.

Por isso, é melhor irmos vivendo
e não pensar no que virá depois;
o nosso fim nada tem de estupendo:

depois de embrulhados em lençóis,
tudo é nada e não há discussões,
porque o nada não tem opiniões.

Eugénio Lisboa

2 comentários:

cid simoes disse...

comentei muito respeitosamente. Onde está o que escrevi? Muito respeitosamente.

Carlos Ricardo Soares disse...

Não conheço maior maldade nem maior perversidade, pela monstruosidade dos intentos, mas mais ainda pela determinação e escolha do poder de causar dano e destruição e morte gratuita, sobretudo desencadeando um fenómeno de violência de imensas dimensões, antecipadamente admitido como possível e desejado e promovido, tendente a abalar os alicerces da organização social e política e económica, sem sequer ter o ensejo de tirar proveito disso, dizia eu, não conheço maior nojo do que alguém iniciar uma guerra.
E é-me tão odioso, tão revoltante e insuportável que alguém o faça que, enfrentar um tal inimigo, se torna o mais nobre e glorioso dos feitos.
Mas, até por assim ser, por a guerra desencadear mecanismos sociais de reorganização e de defesa e contra-ataque, que mobilizam grupos e organizações cada vez mais alargados, devendo atingir a eficácia necessária, desencadear uma guerra é uma decisão de incomparável responsabilidade e gravidade.
De positivo, ou tolerável, não tem nada. Censurabilidade máxima. Intolerância máxima.
Quem inicia uma guerra dá causa e terá que assumir a responsabilidade, não só da guerra que faz, mas também da guerra que lhe for movida. Esta sim, é uma guerra justa, honrosa e valente para os seus militares. E será gloriosa, ainda que não totalmente vitoriosa. Quando alguém inicia uma guerra, inicia uma guerra má, desumana, injusta, odiosa. Quando tocam os clarins dos exércitos de defesa e contra-ataque, o que acontece é uma grande epopeia, de inesquecíveis guerreiros, por uma causa sublime e magnânima, contra soldadesca desprezível, sem sentido de honra nem brio militar, cuja coragem e valentia é despejar explosivos a esmo sobre casas e gente desarmada, sem sequer pensarem nas consequências.
Mas, também por assim ser, quem inicia uma guerra não deixa de o fazer sob os auspícios de uma propaganda que apresenta a agressão como uma defesa ou legítima defesa, ou, no mínimo, de excesso de legítima defesa, para incutir ânimo aos profissionais do tiro a eito.
E isto agrava ainda mais a culpa de quem toma a decisão e dá as ordens com a coragem de quem está à distância, talvez acreditando que, quem começa a guerra pode pará-la quando quiser, como se estivesse num filme violento, em que tudo lhe corre mal e a violência se volta contra si.
E torna muito simples o trabalho de quem tiver de o julgar e de o condenar.
Mas a parte difícil de o combater, por fases, pacientemente, dolorosamente, com frentes e retaguardas sucessivas, sem perder a cabeça, essa parte é a que dá razão à história e pode dar sentido à vida.
Como um problema que não se pode deixar de resolver.

NO AUGE DA CRISE

Por A. Galopim de Carvalho Julgo ser evidente que Portugal atravessa uma deplorável crise, não do foro económico, financeiro ou social, mas...