quinta-feira, 14 de abril de 2022

UMA HISTÓRIA DE GUERRA VERDADEIRA

1
Era uma vez uma inglesa,
com um filho, na Inglaterra.
Ora o filho da inglesa
foi chamado para a guerra.

2
Era ele muito novo,
sendo então uma tristeza
ir matar-se pelo povo
o filho da tal inglesa!

3
Nem sequer inda provara
o sabor duma mulher
e nem sequer beijara
doces lábios a arder.

4
Foi e a guerra o levou,
logo no começo dela.
A mãe pra sempre o chorou
um choro que se rebela.

5
E se ela muito chorou
a morte do seu menino, 
nem por isso rejeitou
prevenir iguais destinos.

6
Comprou um belo teatro,
que pudessem frequentar
os que iam, noutro teatro,
a morte experimentar.

7
Pró teatro contratou
dançarinas mui escorreitas:
com empenho lhes rogou
seguissem suas receitas:

8
Aos jovens que iam morrer,
desvelarem lindos seios,
que fizessem acender
um acinte aos seus anseios.

9
As pernas esculturais,
em doce provocação,
aquecendo, naturais,
do instinto, a vocação! 

10
Nos jovens que iam morrer, 
 sem a vida ter provado,
fazerem elas viver
um momento exaltado.

11
O que o seu filho não teve
(provar os frutos da terra)
deu ela, em momento breve, 
a outros mortos na guerra!

Eugénio Lisboa

1 comentário:

Ildefonso Dias disse...

"É absurdo não aceitarmos a vida como ela é, deixarmo-nos dominar pelo passado. Há que lutar para viver melhor, muito melhor."

Leon Tolstói

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