O mundo avança "como sonâmbulo para a catástrofe climática"
Isto foi o que disse António Guterres, Secretário-geral da Organização das Nações Unidas, num recente fórum internacional sobre clima. Disse o que a maior parte de nós sabe muito bem, mas por se encontrar num inexplicável estado de sonambulismo continua em direcção ao abismo.
No rescaldo (ou ainda não) de uma pandemia e em plena guerra na Europa (sem contar outras que passaram para a penumbra), Guterres insistiu no pedido que tem feito muitas vezes a todos os países, com destaque para as potências económicas: que substituam as energias fósseis em prol da sustentabilidade da vida (de toda a vida, animal e vegetal) no planeta.
Sem desvalorizar as guerras, lembrou que, neste momento, os problemas relacionados como o clima provocam "três vezes mais" deslocados do que os conflitos.
"O problema está a ficar mais grave". "O Homem está a travar uma guerra contra a natureza. Isto é um ato suicida. A natureza ataca sempre de volta – e já o está a fazer com uma força e fúria crescentes".
E voltou a apelar ao compromisso político e individual:
“Vamos ser claros: as atividades humanas estão na raiz da nossa queda mas isso significa que a ação humana pode ajudar a resolver este problema. Fazer as pazes com a natureza é a tarefa definidora do século XXI. Deve ser a maior prioridade para todos, em todos os lugares.”
Mesmo aqueles que têm boa vontade, para assumirem a sua quota de responsabilidade nesse compromisso, precisam de sair do estado de torpor... E não é garantia que o consigam...
3 comentários:
O plástico já entrou na corrente sanguínea dos homens. A solução deve procurar-se algures entre a vida impoluta das aldeias de Salazar dos anos trinta (século XX) e o consumismo desenfreado nos centros comerciais do século XXI. Por outro lado, a população mundial não pode continuar a crescer "exponencialmente". Infelizmente estas simples ideias, quais pedras angulares da construção de uma Terra sustentável, só terão pernas para andar quando os chineses, os russos, os norte-americanos, os indianos, os ingleses, os alemães, os japoneses, os judeus, os franceses, os paquistaneses, os norte-coreanos e os sul-coreanos, todos juntos, quiserem. Os outros todos, sem acesso à bomba H, ou sem dinheiro, pouco ou nada podem fazer.
Acordar, tanto no sentido de sair do sono, como no sentido de chegar a acordo. Este acordar, porém, não é viável sem que, previamente, saiamos do sono ou do sonambulismo. O estado de vigília e de consciência parece estar a atingir um estado de alerta e de alarme. Já não nos é possível viver na ignorância dos efeitos, consequências, resultados, que os nossos actos têm nos ecossistemas de que dependemos, porque são efeitos desastrosos e insustentáveis. A nossa relação com a natureza (não humana) que nos rodeia é mais estreita, imprescindível e simbiótica do que a nossa relação com a natureza humana. A natureza, entendida como mãe natureza, mantém com cada um de nós uma relação íntima tão forte e inseparável que se diria sermos um só corpo, não fosse o facto de cada um de nós depender absolutamente da natureza, ao passo que a natureza prescinde absolutamente de nós. E tudo isto tem a ver com o facto natural de, para vivermos, termos de, por diversos modos, tirar da natureza, agredir a natureza, interagir com a natureza, transformar a natureza, utilizar a natureza, mesmo sem darmos muita importância ao facto de estarmos, assim, a ser transformados por ela.
O ponto a que chegou, porém, o poder e a capacidade dos humanos tranformarem e explorarem a natureza, em todos os aspectos da sua utilidade egoística e de curta visão, coloca-nos perante um cenário desolador e desmoralizante de destruição da natureza de que abusamos. E, o que é mais grave, dando-nos conta, sem tomarmos medidas colectivas adequadas a evitar mais destruição irrecuperável e a tentar recuperar ou reparar os danos causados.
As principais vítimas, feitas as contas, são os humanos e isso devia ser um motivo acrescido de especial preocupação em reverter processos de exploração económica e de comportamentos cujas externalidades negativas já foram devidamente identificadas e avaliadas.
Mas os humanos não têm um fértil historial de aceitarem restrições e limitações por causa dos outros.
As democracias aparecem como tentativas excepcionais e não muito generalizadas pelo planeta.
Ainda há quem pense que os problemas da corrida para o abismo ambiental e da destruição da biodiversidade sejam problemas dos outros e continue a espreitar aí mais uma oportunidade para fazer dinheiro.
E há quem não tenha sequer a noção daquilo que verdadeiramente está em causa, tal é o modo como tudo continua a ser vendido e propagandeado, como sempre, como se na nossa função de consumidores residisse alguma soberania individual.
Já não é suficiente invocar os direitos humanos para mover a humanidade.
Aliás, a Declaração Universal dos Direitos Humanos talvez devesse ser simplesmente Declaração Universal dos Direitos, incluindo aí os dos outros seres vivos.
Ainda assim, e pelo que vem acontecendo nos dias de hoje, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é maior afronta e ameaça, para a Rússia ou a China e outros Estados antidemocráticos, que a temem muito mais do que a eventualidade de serem bombardeados.
E é sobretudo neste poder e nesta força dos princípios e do Direito que devemos apostar.
É uma dor d'alma!
O ministro da educação indigitado, João Costa, é um sequaz da "recuperação das aprendizagens", da melhoria das aprendizagens, da flexibilidade curricular, da aprendizagem por domínios e subdomínios, das grelhas para tudo e para nada e do perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória. Portanto, vai estraçalhar o papel central dos professores na escola: ensinar.
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