quinta-feira, 3 de março de 2022

O que pode a educação contra a barbárie?

Exigir que a barbárie nunca mais se repita 
é a principal exigência de toda a educação.
Theodore Adorno, 1966.

Olena Kurilo no 1.º dia desta guerra, que não pode deixar de ser global (aqui)

Por palavras aproximadas, Adorno, expressou, por diversas vezes, uma inquietação antiga que no pós Segunda Grande Guerra ganhou um especial sentido: o que pode a acção educativa - mesmo sendo verdadeiramente educativa - contra a barbárie? Barbárie que insiste em ressurgir e instalar-se, que não está extinta nem aligeirada nas suas manifestações.

Lamentavelmente, estamos num momento em que não podemos virar as costas a esta inquietação, precisamos de nos deter nela ainda que com a consciência de que não encontraremos resposta que nos deixe tranquilos.

NotaConferência "Éduquer après Auschwitz" (1966), in Modèles critiques, Paris, Payot, 2003, pp. 235-251.

4 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Ricardo Soares disse...

Desde o topo do comando militar, que normalmente não puxa da espada ou da pistola senão para assassinar, cobardemente e a sangue frio, os seus servidores imediatos, até ao soldado mais iletrado e rude a quem parece honroso e valente o acto de matar em nome do grupo ou da bandeira, ou de uma religião, ou de um ódio, o fenómeno da educação não apenas não interfere no sentido de impedir ou evitar que esta estrutura funcione, como até reforça e reproduz e promove a hierarquia segundo a qual tudo o mais depende desta estrutura e, até ver, esta não depende nem da educação, nem da ciência, nem da música, nem da poesia, nem do desporto, nem da alegria, nem da tristeza, nem do optimismo, nem do pessimismo. Trata-se de máquinas em que as peças são humanos. Intrinsecamente não defendem nada, nem ninguém e existem centradas na sua própria sobrevivência, como instrumentos que podem ser utilizados para matar e destruir. Tudo o resto gira à volta e depende desta maquinaria. Se repararmos no discurso dos militares, até nos comentários de militares, dá para perceber isso. Não é uma questão de barbárie. É uma questão de civilização. A nossa civilização é toda voltada para a estrutura piramidal em que as máquinas de guerra subordinam tudo e todos, mesmo quando se afastam estrategicamente das luzes da ribalta. A nossa alegria e a nossa esperança, o nosso trabalho e o nosso sacrifício, a nossa fé e a nossa saúde, a nossa ciência e tecnologia, a nossa educação e cultura, são capitalizadas pelo poder político e militar para a possibilidade de colocarem essa máquina terrível e diabólica numa posição de supremacia contra o inimigo.

Anónimo disse...

Em Portugal, pelo menos, a educação escolar que está na moda é toda orientada, mas com muita hipocrisia à mistura, para a passagem de diplomas que atestam o sucesso académico e um bom perfil à saída da escolaridade obrigatória de todos os cidadãos que, um dia, foram obrigados a transpor os portões dos grandes armazéns EB 1,2,3 + S + JI. É a escola flexível das aprendizagens essenciais, em que os professores devem ensinar o mínimo possível para que os alunos aprendam o máximo.
Com a doutrina cristã que os portugueses e espanhóis espalharam pelo mundo, nos séculos XV e XVI, não conseguimos acabar com as guerras. Agora, na era pós-cristã, as escolas públicas laxistas que servem essencialmente para tomar conta de alunos vidrados em telemóveis, enquanto os seus encarregados de educação estão a trabalhar todo o dia em fábricas e escritórios, não são os lugares mais indicados para ensinar seja lá o que for, muito menos a fraternidade entre todos os homens.

Barriginha Pensadora disse...

É preciso NUNCA esquecer que, dentro de cada Ser Humano, existe um Australopiteco (ou algo parecido e potencialmente mais primitivo) e um Ser Racional, em doses variáveis e com diálogo "problemático" entre si.
Qualquer Sistema de Ensino, que ignore esta realidade, forçosamente gerará monstros e malformações em maior quantidade.
Já agora, o Sistema de Ensino deve ser avaliado:
1) Pela Qualidade do que ensina e como o faz, à Luz da Racionalidade;
2) Da Recuperação dos "chumbados";
3) Pelo encaminhamento para uma via válida, dos que, por limitações próprias, claras e Objectivas, não possam seguir na "principal".

CARTA A UM JOVEM DECENTE

Face ao que diz ser a «normalização da indecência», a jornalista Mafalda Anjos publicou um livro com o título: Carta a um jovem decente .  N...