Imagem recolhida aqui |
O eterno e omnipresente director para a Educação da poderosíssima Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) segue de perto cada reforma curricular que tenha a sua marca (e há cada cada vez mais países a tê-la). Foi assim com a Finlândia, foi assim com Portugal, está a ser assim com Espanha. O que este director disse para a Finlândia, disse-o para Portugal, está a dizê-lo para Espanha. As mesmíssimas palavras, as mesmíssimas metáforas, os mesmíssimos slogans”. A imagem acima é de uma intervenção sua em Portugal na qual se projecta um slogan que reproduziu múltiplas vezes, incluindo, agora, numa entrevista que deu a Ignacio Zafra publicada no jornal El País no passado dia 18 (ver aqui).
Maria Helena Damião e Isaltina Martins
P. O que se lhe oferece dizer sobre a reforma educativa espanhola?
R. A orientação que está a adoptar está muito na linha do que vemos em muitas partes do mundo. Hoje a avaliação dos jovens não consiste simplesmente em pedir-lhes que reproduzam o que sabem, mas em dizer-lhes: podes dar sentido ao que sabes? Podes aplicar os teus conhecimentos?
P. Em Espanha prevê-se uma grande mudança do actual currículo (sistema de aprendizagem e avaliação) que é costume descrever-se como enciclopédico, com centenas de aspectos muito específicos de cada disciplina que os alunos devem aprender e os professores avaliar.
R. O actual currículo em Espanha tem, digamos, um quilómetro de comprimento e um centímetro de espessura, e penso que isso não é bom para os alunos. O futuro deveria passar por ensinar menos coisas mas de forma mais profunda gerando mais compreensão. Empilhar, por exemplo, muitos conteúdos de Física e Química por si só não se traduz numa grande ajuda. A questão é: podes pensar como um cientista, planear uma experiência? Entendes o conceito de causa-efeito? Isso é o mais importante. E o mesmo acontece com a História. Recordar todos os nomes e lugares não te ajuda. A questão é: podes pensar como um historiador, compreender como emergiu e evoluiu a narrativa de uma sociedade? O maior sucesso da escola é dar aos jovens estratégias e atitudes para que todos os dias possam aprender e também desaprender e reaprender quando o contexto muda.
P. Em Espanha, uma parte da sociedade teme que a reforma empobreça a educação dos alunos.
R. Mudar o currículo exige sempre muita coragem. Todos ficamos muito ansiosos quando os nossos filhos deixam de aprender o que costumava ser importante para nós. E ficamos ainda mais ansiosos quando começam a aprender coisas que já não entendemos. É um fenómeno habitual. Mas o mundo à nossa volta está a mudar. As coisas que eram fáceis de ensinar e avaliar são também fáceis de digitalizar, automatizar e revelar, e estão a desaparecer do nosso contexto..
P. Uma das críticas à mudança defende que prejudicará especialmente os alunos de famílias que não têm a cultura e o dinheiro necessários para lhes proporcionar os conhecimentos adicionais fora da escola.
R. Há muitas pessoas em Espanha com diplomas universitários que têm dificuldade em encontrar um bom trabalho. Ao mesmo tempo, os empregadores espanhóis dizem que não encontram as pessoas com as habilidades de que necessitam. Esse é um problema fundamental. O sistema educativo está preparado para um mundo que já não existe e não para o mundo que vemos emergir. É duro para os pais aceitarem que o mundo dos filhos é diferente da imagem que temos do nosso. Mas é nisso que consiste a educação. Em preparar os estudantes para o seu futuro, não para o nosso passado.
P. Uma parte dos professores também rejeita o novo modelo educativo.
R. É duro, se sempre ensinaram de determinada maneira, mudar os hábitos, abordagens e crenças. Creio que é muito importante apoiar bem os professores na mudança. Não se pode dizer simplesmente: mudámos o currículo. O sistema deve ajudá-los e prepará-los. De outra maneira, as mudanças não ganham raízes profundas.
P. Algumas regiões autónomas implementaram a aprendizagem por áreas de conhecimentos, misturando disciplinas, por exemplo Língua e História ou Matemáticas e Tecnologia, para que a aprendizagem seja menos compartimentada e mais aplicada. Qual a sua opinião?
R. É muito importante que os alunos sejam capazes de pensar além dos limites das disciplinas. A inovação hoje não consiste em ser muito, muito bom num aspecto muito particular, mas em ser capaz de ligar aspectos (…). Se quisermos que os estudantes pensem além dos limites das disciplinas, os professores têm de colaborar além desses limites (…).
Este texto tem continuidade aqui.
3 comentários:
Diz que o que agora está a dar é o Coaching Educativo, em “contexto escolar de sala de aula”. Por exemplo, aprender conceitos de Física e Química, como são a gravidade, a impulsão, a força, o momento linear, o átomo, o eletrão, a massa, o peso, os reagentes e os produtos da reação, já não leva a lado nenhum. O que interessa agora é que os alunos, principalmente os mais pobres, bem estribados nas suas experiências de vida, boas ou más, cheguem por si próprios, apenas com uma pequena ajuda do Coaching proporcionado por Mentores qualificados, às maravilhosas Teorias e Leis das Ciências.
Assim, e só assim, todos, e cada um dos alunos, serão verdadeiros cientistas que poderão entender o mundo e transformá-lo num autêntico lar feliz de toda a Humanidade, livre para sempre do espetro acabrunhante do aquecimento global provocado pela queima intensiva dos combustíveis fósseis.
O Senhor Schleicher certamente terá um bom coacher! Disso não tenho a menor dúvida.
Quando se faz propaganda, é porque se tem alguma mercadoria para vender. E se a propaganda é feita junto de governos de países - apesar de alguns, como o nosso, estarem endividados mais acima do que o pescoço - é porque irá haver venda de mercadoria em quantidade muito grande. Essa mercadoria, se fosse muito boa, não precisava de publicidade. Que eu saiba, a mercadoria de Galileu ou de Descartes, de Newton ou de Einestein - e outros do género - se foi feita, foi pelos seus detratores. E quando uma propaganda é feita exigindo mais responsabilidade, mais trabalho ou até mais sacrifício aos destinatários, os publicitários não costumam ter muito sucesso. Quem costuma ter sucesso nessas circunstâncias são alguns corajosos que, à custa do sua persistência, tenacidade e até sacrifício da vida, apelam para um mundo mais humano e exemplificam-no com a própria existência pessoal.
Há na propaganda destes organismos internacionais e pessoas ou ignorância ou má-fé. Se é ignorância, foi porque não aproveitaram do passado. Ora, o saber e tudo o que lhe possa associar foi construído pelos nossos antepassados, a quem nós tentamos dar continuidade acrescentando, com curiosidade, esforço e sentido de gratidão o que eles construiram para nós. E nós deixaremos para os vondouros isso que recebemos e mais o que de melhor lhe conseguimos acrescentar. Se estes propagandistas acham que estão a dizer alguma coisa de validade, será que se julgam sumidades a ponto de inventarem do nada as informações de que dispõem? Ou querem sóencobrir um passado de que se não gloriam ou de que se julgam tão superiores que todos os demais oss devem seguir? Aqui, já estaríamos a entrar no domínio da má-fé, porque uma pessoa 'cresccidinha' tem obrigação de justificar bem o que diz e o que faz e tentar ao máximi prever as consequências do que publicita. Se é má-fé, ela pode assentar ainda num num logro intencional de conseguir superioridade á custa da falta de desenvolvimento dos outros.
O ser humamo procura responder a desafios e, se tiver oportunidade, responde a desafios cada vez mais complexos e não se inclina para o que não exige atenção, esforço, risco e hipótese de diferenciação. Se eu apresentar a alguém uma tarefa que qualquer outra pessoa faria sem o mínimo esforço, estou não só a desmotivá-la como a considerá-la incapaz de realizar uma tarefa 'à sua altura'. E mais ainda: em educação, não se trata só de deafiar o aluno a superar a informação recebida, mas a criar o gosto por essa superação. E não é sem o desenvolvimento do maior número possível de capacidades que se prepara uma pessoa para o que pode vir de novo. E esta história de preparar para o futuro é uma falácia total. Primeiro, porque esse novo ou futuro só existirá se houver quem se esforce para que ele apareça. Segundo, porque nem todo o futuro que pode vir a acontecer é bom em si mesmo. A segunda guerra veio a acontecer a seguir à primeira, dependeu de pessoas concretas e não foi nada benéfica - a anão ser para quem não deu o corpo às balas e vendeu material de guerra. E, terceiro, ele pode nem sequer existir se a atuação humana em diversos domínios não for eticamente ponderada. O que acontece ou pode vir a acontecer não depende só de mim, nem , muito menos, só do meu consentimento. Ora, estar a usar a escola e o dinheiro público para construir 'capital humano' disponível sem qualquer garantia de dignidade, para as empresas ptrivadas é estar a preparar ideologicamente as pessoas para abdicarem da sua especificidade, para darem consentimento ao seu uso e legitimar a exploração laboral e desconhecerem ou abdicarem do espírito crítico - que é uma das grandes dimensões humanas com a qual os homens recusam a tirania e com a qual 'inventam' as utopias saudáveis.
Os pobres irão ser as maiores vítimas deste crime de não educar. Não educarnão só prejudica os educandos, como manifesta menoridade ou incapacidade nos que deviam realizar essa tarefa - que é a amis huma de todas.
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