(Em defesa de um
mestrado em Fisiologia do Exercício a ser criado na Faculdade de Ciências do
Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra).
Com este texto, dou
por terminada uma série de seis artigos. Nele dou conta de exercícios de
musculação na terceira idade. que, há anos, era havida como a recta final da
vida (50-77 anos), ampliada hoje para uma quarta idade de 78-105 anos, para já
não falar de hipotéticas promessas de vida eterna!
O conceito de idade, dos
meus tempos de adolescente, traz-me à memória a lembrança de meu Pai, então cinquentão, que,
quando se referia à rapaziada do seu
tempo, despertava em mim uma sonora gargalhada
acompanhada do comentário: “Rapazes do seu tempo? Velhotes do seu tempo, isso
sim!”
Com o aumento de
número da anos de vida, a preocupação da sociedade não pode descurar a velhice
desamparada de meios que retardem várias doenças.
Consequentemente, tenho
como urgente a criação de um mestrado (sem subdivisão de uma licenciatura) em
Fisiologia do Exercício, na Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação
Física da Universidade de Coimbra, que faça frente a uma sociedade hipocinética
responsável pela sarcopenia (diminuição da massa muscular e concomitante perda
de força).
Segundo o Doutor José Maria Santarem, em colaboração com dois
colegas: “A piora da capacidade funcional dos idosos, que compromete a
realização de tarefas simples do cotidiano, pode ser explicada, em grande parte, pela
redução dos sistemas cardiorrespiratório, ‘sacopenia’, diminuição força muscular,
redução do equilíbrio e alterações ósseas degenerativas que diminuem a
flexibilidade articular".
Vai para meio século,
a este propósito, no meu livro, “Educação Física- Ciência ao Serviço da
Saúde Pública” (1971); no capítulo
“Educação Física e Gerontologia”, depois de tecer considerações de
natureza científica e da minha experiência de vida de
quarentão, escrevi:
“Reporto-me ao envelhecimento “não como
fenómeno essencial do que é normal, mas de aparecimento
insidioso por fora de tempo", como escreveu alguém.
Para as doenças tendo
como etiologia o sedentarismo dos nossos dias, considero tão importante, no que
respeita à saúde dos cidadãos, a construção de uma pista de
atletismo como a construção de um hospital;
de uma piscina como de uma casa de saúde; de um campo de jogos como de um posto
sanitário”.
Encontro nisto o
desejo de que na velhice, como diria Bulhão Pato, “o ardor da adolescência
corra nas veias”, através de um vigor físico devidamente conservado pela
prática de exercícios físicos que faça
esquecer a idade cronológica avançada nos anos quando confrontada com a dade
fisiológica retardada no tempo. Por outras palavras, ao processo de
envelhecimento deverá contrapor-se não cómoda renúncia, mas um combate sem tréguas de todo o organismo a um
quadro de velhice precoce.
Na minha senda em defesa do
exercício físico contribuir para saúde pública, pela minha experiência
pessoal da influência dos pesos e halteres poderem contribuir para este desiderato,
publiquei um livro baseado na minha conferência, proferida na Sociedade de
Estudos de Moçambique (1973), que mereceu, do meu ‘compagnon de route’ engenheiro Rogério de Carvalho, o posfácio que
reproduzo, em homenagem póstuma, mais de que merecida, por motivos vários, de
entre eles a nossa amizade e a notável, eficaz e de bela forma literária da sua prosa:
“Se as conferências sobre
pesos e halteres, do Dr. Rui Baptista, tiveram o êxito assegurado, pela
autoridade do conferencista, a publicação deste livro, nem por isso, deixava de
se impor como primeiro contragolpe em defesa da caluniada ginástica com pesos,
como concreto e valioso passo para retirar a modalidade do campo sempre
impreciso do empirismo e como meio de libertar os cultores mais timoratos da
preocupação subconsciente pelo futuro dos respectivos e preciosos sistemas
cardiovasculares.
Ainda que
circunscrito, quanto mais não seja pelo título, o estudo do Dr. Rui Baptista
atinge o “coração” do problema. Este mais um dos seus inegáveis merecimentos: a
reputação dos pesos e halteres, aliás como muitas outra reputações, anda entregue
ao virulento boato e a imprecisões tendenciosas; dir-se-ia mesmo que o cultivo
dos “ferros”, imerecidamente rescendendo a brutalidade e à origem plebeia dos
hércules de feira, se opõe, no consenso
burguês, herdado do século XIX, ao cultivo das coisas do espírito que,
por sua vez, e não se sabe bem porquê, se associa à palidez e à debilidade do
corpo.
O saudável
desenvolvimento muscular é no vasto e alheado mundo dos que ignoram os
ginásios, indício de falta de sensibilidade e tacanhez de inteligência. E quero
lembrar que, de ente as acusações, já de âmbito académico, atribui-se a esta
ginástica o malefício de tornar mais ansiosos os tensos e mais neuróticos, os
deprimidos, graças a um qualquer e desconhecido processo de contracção
muscular. (1)
Mas onde a ré parece
não ter absolvição é no que respeita ao coração que “arruína” e aos pulmões que
“arrebenta”. Rui Baptista seu público defensor, faz mais do que atingir
tecnicamente o centro de gravidade dos meios de detracção. Opõe-se, com
ousadia, estribada no conhecimento e na investigação, ao doutor Cooper, estrela
de momento, formidável adversário dos pesos e halteres, pelos recursos à americana,
de que dispõe e pelo prestígio da astronáutica a que está indirectamente
ligado.
Este estudo permitirá,
mais do que conseguiram, sem dúvidas, esclarecedoras conferência sobre o
assunto, desfazer tabus e atrair à modalidade a legião de tímidos que a
maledicência arreigada dos tradicionalistas vem assustando.
Rui Baptista é, dada
a natureza da luta e dos adversários, mais do que um técnico - é um cavaleiro
andante de uma cruzada tão útil e nobre que todos nós, sectários inatos da
mesma seita, só lhe podemos louvar os justo e autoritários golpes de montante
que, com os riscos que correm todos o apóstata, vem desferindo por uma
causa que há-de vencer, através de todas
as modas, no fundamental campo da cultura física: a dos PESOS E Halteres!”
(1) É um facto que
todo trabalho muscular intenso e para
mais se associado a situações novas de
pressão como o acontecido nas competições
desportivas pode ser responsável pelo tensão nervosa Todavia, nos pessoa e
halteres (culturismo), mercê
de um automatismo de gestos promotora de uma economia do consumo de oxigénio,
ao nível do cérebro e do resto corpo, e de um aumento do fluxo sanguíneo, verifica-se uma eficaz
drenagem de produtos tóxicos motivados
pela da contracção muscular, como o ácido láctico.
Desse fenómeno nos
apercebemos quando após um dia intenso estudo, de trabalho extenuante, somos
assaltados por ligeiras cefaleias que, gradualmente, com o treino com pesos vão
desaparecendo dando lugar a uma salutar euforia psíquica “.
Premunição
de um saudoso amigo, Rogério de Carvalho, que só viria ecoar em granítico muro científico, passados 28 anos, quando enviei, o meu livro “Os Pesos e Halteres, a função cardiopulmonar e o
doutor Cooper”,ao Professor José Maria
Santarém, médico fisiatra e reumatologista de valioso e extenso currículo
científico, doutorado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (Brasil), coordenador do Centro de Estudos em Ciência da Actividade
Física da Disciplina de Geriatria da Faculdade de Medicina de São Paulo sendo
um dos pioneiros na utilização terapêutica dos exercícios resistidos e aplicação na promoção da saúde em geral,
etc., etc.
Como é natural, muito honrado e com grande júbilo, recebi, passado pouco tempo, a resposta seguinte:
“Com
muita alegria recebi o seu livro e a sua carta. Nossos ideais são comuns, e
nossas dificuldades históricas também. Felizmente hoje as evidências nos apoiam
e somos ouvidos, mas é sempre emocionante lembrar os tempos em que éramos quase
ignorados.
Gostei muito do seu texto que, naturalmente, deve se lido com a
lembrança do conhecimento de então. Como me pediu, segue, em anexo, um texto
meu actual que é um capítulo de livro de medicina do esporte, ainda a ser
editado.
Meu
desejo é que um dia nos possamos encontrar e rir bastante com as dificuldade do
passado Um abraço fraterno. Santarem.”
Com estes seis textos gostaria de tornar realidade o meu modestíssimo contributo para a necessidade da criação do mestrado em Fisiologia do Exercício na Faculdade de Ciências do Desporto da Universidade de Coimbra.
Com estes seis textos gostaria de tornar realidade o meu modestíssimo contributo para a necessidade da criação do mestrado em Fisiologia do Exercício na Faculdade de Ciências do Desporto da Universidade de Coimbra.
E
se é verdade, segundo Pessoa, que “homem sonha e a obra nasce”, tenho fé que o meu sonho passe a realidade!!
Sem comentários:
Enviar um comentário