terça-feira, 2 de abril de 2019

"Ciência e Religião : Deus ainda tem futuro?" Parte 2

4 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

É desconcertante, para não dizer desconchavado, que existam profissionais da apologia e defesa de Deus, como se esse fosse o produto com mais garantia de venda e de sucesso, pelas suas qualidades intrínsecas...Ou como se Deus fosse um coitadinho indefeso que precisa de imensos defensores...Ou como se Deus não tivesse quem o defenda...
Creio que este tipo de pensamento/procedimento é que Nietzsche denominou de niilismo.
A não aceitação do ser, da realidade, do que é, da natureza, de tudo o que existe ou se acredita que existe, incluindo Deus, é niilismo.
Então, tudo o que seja normativo, seja ou aspire à mudança da realidade, para se ajustar a algum ideal, ou, simplesmente, a algum interesse, é niilismo.
As religiões, e não só, laboram num processo de mobilização social para um dever-ser, como se o "ser" não bastasse e estivesse nas nossas mãos criar um outro "ser"... Talvez Deus.
Muito antes de haver uma preocupação com conhecer a realidade, o ser, já havia toda uma mobilização social e cultural, política e religiosa, no sentido do dever-ser.
Ou seja, ainda desconheciam o ser e já lutavam denodadamente pelo que devia-ser.
Mas essa mentalidade foi interrompida com o irromper do método científico, mais focado no ser.
Até dá a impressão de que o ser pouco importava, desde que fosse aquilo que aprouvesse aos sacerdotes do dever-ser.
Não é despiciendo considerar que os sacerdotes do dever-ser falassem em nome de Deus, do sagrado, desse poder das palavras (Deus, com quem tinham conversado e de quem tinham registado, por escrito, as falas, tendo-se investido do mérito da comunicação com o poder divino), enquanto os arautos do método científico falavam em nome próprio, sem recurso à autoridade de musas, divindades ou potestades mas, tão simplesmente, com recurso à racionalidade.

João Alves disse...

Já Tomás de Aquino recorria à racionalidade para explicar a Fé. Talvez que o dever ser nasça da necessidade de explicar o que a Ciência não consegue: por que razão consideramos mal que Hitler advogasse o extermínio dos judeus em nome de um apuramento da espécie? É a pergunta de Dostoievsky – Sem Deus tudo será permitido? – e porque não?

Carlos Ricardo Soares disse...

As razões para ter ou não ter Fé podem ser boas ou más. Quanto a explicar porque alguém considera ser mal ou bem algum comportamento humano, os juízos morais, éticos, jurídicos, têm explicação, não são é juízos de verdadeiro ou falso. De resto, com Deus ou sem Deus, permitir ou não são questões do domínio humano. A questão de Dostoievski, apelando embora para o foro íntimo da consciência moral, do ponto de vista da ética e do direito, já está respondida desde os primórdios da humanidade.

Ale lua disse...

A fé tem pouco de racional (por isso, não se explica), vivendo à margem dos abdicados Ratzingers de gabinete a escrever papiros estreitos sobre a moralidade. A fé é dominada pelo pensamento mágico que nos impele ao sonho e a uma meta premiada. Porta por onde cabem todos... Por que outra razão ajudaríamos o próximo, sendo irreversivelmente egoístas?
As sete virtudes só existem por causa dos sete naturais pecados. Vieram depois. Foram uma descoberta ingenuamente científica. Precisamos do racional, do jurídico, da legislação para impor o ético. Não falo de éticas partidárias. O ético que é puramente racional e, por isso, terá de ser altamente refletido e tecido. É trabalho para um Deus não religioso... A ética não existe nas castas biológicas do informe bom senso e da fé. Não acredito na fé como estrutura ortopédica das alminhas que nascem tortas e tarde ou nunca se endireitam. É só espreitar a arte para saber onde mora o humano e as guerras santas para compreender a fé e as paredes conventuais, não interessa de que templo, para perceber que os padres e outros precisam de ser convertidos como diz o Anselmo. A História dá-nos testemunho de qualquer tentativa frustrada.

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